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3. METODOLOGIA DE PESQUISA

4.1. RESULTADOS DA PESQUISA QUALITATIVA

4.1.3. Case Welle Tecnologia Laser

A Welle Tecnologia Laser é empresa especializada em soluções de tecnologia laser para marcação e rastreabilidade em metais e polímeros. A empresa surgiu em 2008, fundada por dois irmãos ex-estudantes de engenharia da Universidade Federal de Santa Catarina, após retorno de intercâmbio de estudo no Instituto Fraunhofer Institut für Lasertechnik na Alemanha. Os fundadores perceberam oportunidade no mercado nacional para aplicação do conhecimento adquirido no exterior. O conceito inicial do negócio era trabalhar com soldas a laser, mas os fundadores optaram com sucesso pelo desenvolvimento de máquinas de marcação e gravação a laser.

A Welle surgiu também a partir do programa Sinapse da Inovação, da Fundação CERTI. Esse programa ajudou os fundadores no direcionamento inicial da empresa e proporcionou os recursos financeiros iniciais necessários à aquisição dos primeiros equipamentos. Em 2009, a Welle Tecnologia Laser se instalou na incubadora CELTA (Centro

Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas), com propósito de concentrar seus esforços na gestão do negócio (desenvolvimento de produtos) e de obter instalações a custo baixo e suporte em aspectos como segurança, limpeza e informações. Segundo dirigente entrevistado, esse período na incubadora contribuiu para a consolidação da organização, facilitou o acesso a outras empresas de base tecnológica e aproximou a organização da FAPESC, Fundação CERTI e dos incentivos de inovações do FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

Em 2011, a Welle recebeu investimento do Fundo de Capital Semente Criatec, um fundo de investimentos mantido pelo BNDES e destinado à aplicação em empresas inovadoras emergentes. Os dados indicam que essa parceria foi muito relevante para a organização e contribuiu para melhorar a estruturação do negócio, para definição dos valores culturais e para a consolidação do planejamento estratégico da organização. A Criatec participa hoje do conselho da Welle, com direito a voto e faz reuniões semanalmente com os dirigentes, auxiliando na consecução dos objetivos estratégicos estabelecidos pela organização.

A Welle Tecnologia Laser dispõe de 27 funcionários (se classifica como empresa de pequeno porte) e continua instalada na incubadora CELTA. A sua estrutura organizacional é composta por presidência, diretoria financeira, diretoria comercial e diretoria industrial. A diretoria financeira responde por compras, importações, administrativo-jurídico e relações com bancos. A diretoria comercial por vendas, BI (business intelligence) e marketing. A diretoria industrial por produção, assistência técnica, P&D (pesquisa e desenvolvimento) e pós-venda.

O mix de produtos da Welle é constituído por oito produtos de tecnologia laser, que fazem marcações permanentes, com precisão e repetibilidade, e destinados as áreas autopeças, médico, armamento, metal sanitário e linha branca, dentre outras. A empresa dispõe também de projetos especiais, produtos personalizados ligados à automação e estudos de interação entre materiais e laser. Esses produtos especiais são desenvolvidos para atender necessidades de determinados clientes e se tornam produtos padronizados quando atingem a escala de demanda desejada. Abaixo contém alguns trechos do depoimento sobre a história da organização.

A Welle nasceu de uma motivação minha e do meu irmão Gabriel [...] depois que a gente estava na faculdade de engenharia na Universidade Federal [...] no laboratório de mecânica de precisão coordenado pelo professor Valter, que hoje é nosso sócio [...] a gente foi para Alemanha [...] ficou dois anos e meio [...] quando voltou ao Brasil, a gente viu que tinha um conhecimento na área de tecnologia a laser [...]

muito incipiente no Brasil, tinha coisa para fazer [...] em 2008 (Fundador e

presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

[...] a Welle começou com uma salinha minúscula [...] dois computadores que a gente comprou com o dinheiro do Sinapse e mais dois estagiários que eram amigos nosso [...] e dali começou. [...] gente foi incubado aqui no Celta no final de 2009 e a gente fez a primeira venda naquele ano [...] assim começou a empresa (Fundador e

presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

O capital obviamente é importante [...] mas não é o principal [...]. Ele conseguiu fazer com que a empresa andasse com as próprias pernas e gerar lucro. Isso para nós foi muito importante [...] sem essa estruturação inicial seria bem difícil (Fundador e

presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

Processo de inovação. O desenvolvimento de equipamentos na Welle Tecnologia Laser apresenta diferentes tipos de inovação. A interação entre laser e material base é um exemplo de inovação e representa hoje um dos principais diferenciais competitivos da organização, segundo proprietário entrevistado. Mesmo no caso de produtos padronizados (produção não customizada), há design diferenciado que destaca os produtos da empresa junto ao mercado. A área de marcação faz periodicamente lançamento de novas linhas e produtos, geralmente baseados em tendências mundiais e ainda inéditas no Brasil. A grande maioria desses lançamento contém algum item de inovação ou ineditismo.

No processo de inovação, a Welle Tecnologia Laser possui plano de evolução dos produtos/inovações e procura estar à frente da concorrência. O desenvolvimento de inovações, a gestão ocorre por inovação, com cronograma financeiro e de execução previamente estabelecido e alinhado com o planejamento estratégico da organização e o time de mercado. Embora disponha de software especializado e ferramenta de auxílio na execução dessa tarefa, os dados coletados indicam que o processo de inovação da organização carece ainda de melhor estruturação, principalmente metodologia apropriada e pessoal especializado.

A Welle Tecnologia Laser utiliza diferentes fontes de ideias para inovação e para captação do conhecimento tecnológico necessário na melhoria e no desenvolvimento de novos produtos. Ela procura ouvir clientes, faz periodicamente pesquisa de mercado, analisa as tendências internacionais, coleta a opinião de consultorias especializadas e participar de feiras/congressos em âmbito internacionais. Ela também obtém informações com institutos de pesquisa tecnológica no mundo, como Instituto Fraunhoferc, Laser Zentrum Hannover e European Laser Institute.

O depoimento do dirigente indica que a Welle Tecnologia Laser costuma estimular a participação dos funcionários na melhoria dos processos, produtos e inovações da organização. A empresa disponibiliza caixas de sugestões, estimula a participação dos funcionários e está no momento criando política de bonificação para aqueles que contribuírem com boas sugestões.

O processo de inovações na Welle é financiado por recursos internos e externos. O lucro da empresa é reinvestido integralmente no desenvolvimento de inovações e atividades de P&D, equivalente a cerca de 30% do volume investido. A empresa obter também recursos externos de agências de fomento como BNDES, FAPESC, FINEP e CNPQ. No desenvolvimento de inovações, a empresa conta também com alguns parceiros externos ligados ao setor de ensino superior, incluindo a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Abaixo contém depoimentos ilustrativos sobre processo de inovação da organização.

[...] a gente conseguiu trabalhar com o material sem oxidar, várias empresas tentaram fazer isso e não conseguiram essa inovação. [...] o exemplo é a Trumpf que até então não detém essa tecnologia. Foi um grande passo na demonstração do nosso know-how (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica). O pessoal coloca a sugestão [...] melhoria de procedimento, de produto [...] a gente analisa para poder gerar novas ideias. Todo mundo, seja a faxineira até o presidente. Mas até então a gente nunca deu o prêmio para isso mas a gente está criando uma política de bonificação (Fundador e presidente, graduado em Engenharia

Mecânica).

[...] tudo aquilo que a gente parte como produto a ser desenvolvido tem uma definição clara do mercado [...] ou seja, a gente não desenvolve nada que a gente não tenha certeza que vá vender. Tem a elaboração de procedimento e construção desse produto, dessa inovação, que isso tem um cronograma dentro das prioridades da empresa (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

[...] até nossos produtos padrão tem design patenteado [...] vários conceitos e robustez. Com certeza se destaca no mercado por essa inovação [...] a concepção do produto tem inúmeras inovações que beneficiam o cliente [...] uma máquina mais rápida, eficiente, com menores variações ambientais [...] inovações de produção, facilidade de produção, diminuição de custos. Na parte para frente, a gente tem lançamento de novas linhas e produtos que não são da área de marcação e rastreabilidade que são baseadas em tendências mundiais inéditas no Brasil [...] isso a gente consegue de pesquisa de mercado, análise internacional, consultorias [...] (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

[...] toda vez que a gente queria um novo cliente, uma coisa diferente, a gente tinha que fazer um novo projeto. Então isso deu um custo gigante, aumentou muito o nosso tempo de prazo de entrega e isso dificultou bastante. Então uma grande inovação ali foi poder criar, esse produto modular, de fácil customização, ele atende de maneira padronizada 95% das aplicações do mercado. Dentre essas máquinas, que foi o mercado praticamente que moldou, porque eles que pediam e a gente desenvolvia, a gente criou aquilo que o mercado queria, a gente está investindo agora em design para poder melhorar a aparência do equipamento (Fundador e

presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

[...] uma participação do nosso, o nosso faturamento, o nosso lucro é tudo reinvestido hoje, não tem divisão de lucros pra sócios por enquanto, por norma da empresa, mas a gente tem, destina assim uma parte desse recurso para P&D e também busca novos recursos de outras fontes, como próprio BNDES, como editais e tudo mais para poder desenvolver (Fundador e presidente, graduado em

Engenharia Mecânica).

Avaliação do desempenho das inovações. A Welle Tecnologia Laser está relativamente satisfeita com o desempenho das suas inovações. Em 2012, a empresa cresceu 400% em relação ao ano anterior (meta de crescimento para 2013 é 165%) e estudo da

empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu deve apontá-la como uma das cinquenta empresas brasileiras que mais cresceram em 2012. Segundo o entrevistado, esse desempenho só foi possível graças aos investimento realizados nos últimos anos em inovações e no desenvolvimento de novos produtos. No entanto, a empresa reconhece que precisa melhorar o processo de inovação, pois já investiu em inovações que não deram certo e que redundaram em custo operacional considerável e prejuízo para organização.

Com relação a indicadores de desempenho, a Welle costuma utilizar o volume de vendas das inovações, a quantidade de replicação das inovações, o feedback dos clientes, os resultados dos serviços de pós-venda e o grau de adequação da inovação ao planejamento estratégico da organização. Na avaliação das inovações, a Welle realiza também benchmarking com os principais competidores em nível mundial. Essa avaliação, no entanto, não está sistematizado e o único procedimento estruturado é a análise financeira do desempenho das inovações. Ela faz anualmente essa avaliação do desempenho com base nos indicadores faturamento bruto e margem de contribuição, e considerando o faturamento e a participação em relação ao mix de produtos da organização.

Na avaliação das inovações, a Welle Tecnologia Laser também monitora proativamente erros e problemas dos produtos lançados, e faz teste de funcionalidade de protótipos das inovações em desenvolvimento. Nesse teste de funcionalidade, a empresa busca verificar antecipadamente necessidades de melhorias nos produtos em desenvolvimento e realizar a correção de problemas identificados. Abaixo contém alguns depoimentos sobre a avaliação de desempenho das inovações pela organização.

[...] sim estamos satisfeitos com o desenvolvimento de inovação mas, como eu falo, o cara que é satisfeito e acomodado não cresce. Então se tiver como melhorar é uma boa intenção e eu tenho a plena certeza que dá. A questão é que a gente está estruturando ainda a empresa em vários aspectos, principalmente a parte de marketing participação de novas feiras, workshops, eventos, toda a questão de BI, que é uma função que começou a pouco tempo (Fundador e presidente, graduado

em Engenharia Mecânica).

Tem documentos pra isso [...] vamos dizer documentos que especificam exatamente o que a gente tem que fazer [...] planilhas de reuniões de diretoria [...] mas falta muita coisa ainda. Eu não diria que a gente está nem perto de estar estruturado da maneira que eu vejo, da maneira que eu quero, que eu gostaria. Mas é uma questão de foco e atenção da empresa (Fundador e presidente, graduado em Engenharia

Mecânica).

[...] gente tem softwares que auxiliam no acompanhamento do cronograma de execução [...] se tem atrasos e imprevistos, a questão de gerenciamento financeiro também está envolvido nisso [...] existem softwares para gerenciamento do cronograma (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica). [...] existem vários que deram errado. A gente fez um produto no início da empresa que era lindíssimo, ele era maravilhoso, só que era um “camburãozinho”, ele só servia para uma aplicação. Então toda vez que a gente queria um novo cliente, uma coisa diferente, a gente tinha que fazer um novo projeto. Então isso deu um custo

gigante, aumentou muito o nosso tempo de prazo de entrega e isso dificultou bastante (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

[...] um novo produto, por exemplo, você vê a aceitação desse novo produto no mercado, então isso acho que é o principal mensurador [...] o primeiro fator é a mensuração do resultado de venda. Segundo é a questão do pós-venda, o feedback dos clientes [...]. E terceiro eu diria que é a adequação dessa inovação dentro do teu planejamento estratégico. Porque não adianta nada você querer desenvolver um produto que está totalmente fora da tua linha de atuação, você fazer um produto que está totalmente fora do teu planejamento estratégico (Fundador e presidente,

graduado em Engenharia Mecânica).

Na verdade formalizado está a questão de faturamento e a composição desse faturamento... seja isso projeto especial, projeto padronizado, produto padrão e dentro do produto padrão, quais tipos de produto padrão [...]. Agora se existem outras ferramentas para avaliar isso, eu não sei [...] as vezes até por desconhecimento, por ignorância a gente não acaba se aprofundando mais nessas métricas (Fundador e presidente, graduado em Engenharia Mecânica).

Facilitadores, dificultadores e sugestões. A Welle Tecnologia Laser tem facilitadores e dificultadores do processo de inovação. A empresa tem dificuldade para realizar a avaliação do desempenho das inovações, carece de tempo e conhecimento sobre o assunto, tem recursos financeiros para P&D limitados, tem dificuldade para contratar profissionais especializados e adquirir ferramentas que auxiliem no desenvolvimento e controle das inovações. A empresa sente também necessidade de melhorar o acompanhamento pós-venda das inovações e deseja aumentar a interação com os clientes e instituir novas rotinas de documentação das inovações.

Segundo depoimento do dirigente entrevistado, alguns facilitadores do processo de inovação na organização são: método de análise financeira das inovações (matrizes de valuation); possibilidade de aquisição de software de gestão do processo de inovação e pós- venda; existência de alguns procedimentos documentados; cooperação entre setores no desenvolvimento de tecnologias; realização periódica de reuniões de alinhamento das inovações; monitoramento periódico do mercado, com a identificação das tendências de mercado. Abaixo contém alguns trechos do depoimento da organização sobre fatores facilitadores e dificultadores do processo de inovação.

Na realidade para nós é a questão de investimento na melhorar os procedimentos de documentação, melhorar o investimento em equipe, para você poder ter uma equipe maior, uma equipe só de P&D por exemplo; você ter alguém no teu financeiro que seja responsável só por captação de recursos que não é exclusivo hoje aqui na empresa, poderia ser; o crescimento dela, poderia ter uma pessoa específica para fazer isso; e aumentar a interação com o mercado. Acho que são essas as principais ações. Agora para fazer isso tudo precisa de recursos, precisa ter um porte da empresa para poder fazer isso (Fundador e presidente, graduado em Engenharia

Mecânica).

A gente está agora estruturando uma divisão de projeto mecânico, projeto especial e uma divisão só de P&D [...] uma divisão no departamento que vai ser só P&D mesmo, que daí é só aqueles projetos que a empresa que está levando pro mercado e

não o mercado que está pedindo pra Welle. Então esse departamento está sendo criado agora na realidade. A empresa tem que conseguir um volume financeiro e de, volume de trabalho, de capacidade de desenvolvimento mínimo pra poder começar a atuar dessa maneira (Fundador e presidente, graduado em Engenharia

Mecânica).