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2.4 LMERT do membro superior

2.4.1 Caracterização

O envolvimento dos membros superiores em posturas de trabalho é muito comum em indústrias de manufatura, como fabricação de alimentos, indústria automóvel, indústria têxtil entre outras (Chen, McDonald, & Cherry, 2006; EUROFUND, 2012). Apesar dos distúrbios musculoesqueléticos serem considerados distúrbios multifatoriais, têm sido geralmente associados ao excesso de carga ocupacional. Os fatores de risco ocupacionais são intensificados por longas jornadas de trabalho e tarefas repetitivas (Nikpey et al., 2013).

Existem dezenas de lesões musculoesqueléticas que afetam o membro superior, como por exemplo, tendinites do ombro, tendinites do cotovelo punho/mão (Síndrome do túnel cárpico, Doença de De Quervain, Tenossinovite Punho/Mão), entre outras.

Na Figura 8 apresentam-se esquematicamente, as principais LMERT das regiões anatómicas contempladas neste trabalho.

De todas as disfunções do membro superior, a tendinopatia do ombro é a predominante na população ativa ligada a uma atividade laboral, seguida da tendinopatia da mão (7,5%), da tendinopatia do cotovelo (5%) e da síndrome do túnel (ou canal) cárpico (4,8%) (Bernard, 1997). A dor no ombro é muitas vezes um sintoma de lesão. A dor é causada pela compressão, e como resultado, as estruturas do ombro (rotador, tendões e ligamentos) ficam dolorosas, podendo conduzir a situações de bursite, tendinite e outros problemas do manguito rotador. Depois das dores nas costas, as lesões no ombro são os distúrbios musculoesqueléticos mais comuns entre os trabalhadores industriais (Grieve & Dickerson, 2008; Kolstrup, 2012).

27 Muitos estudos científicos analisaram o efeito da sobrecarga nos movimentos do músculo do ombro, tendo sido várias vezes analisadas dois tipos de tarefas: uma em que as mãos eram mantidas acima da cabeça (Nimbarte, Sun, Jaridi, & Hsiao, 2013; J. C. Rosecrance et al., 2001; Sood, Nussbaum, & Hager, 2007) e outra onde existiam movimentos de elevação (Yoon, Shiekhzadeh, & Nordin, 2012). No que se refere ao primeiro caso, a maior parte dos estudos observou que os movimento de abdução e flexão são os mais afetados pela posição da cabeça (Grieve & Dickerson, 2008).

Entre os distúrbios do ombro, a Tendinite da Coifa dos Rotadores é a causa mais comum de dor no ombro (van Rijn et al., 2010). Este tipo de lesão, pode ser causada fatores físicos externos. A realização excessiva e repetitiva de uma determinada tarefa pode conduzir à rutura muscular (Bey, Ramsey, & Soslowsky, 2002).

A zona da coifa dos rotadores é a porção da articulação do ombro onde a cápsula articular é reforçada externamente pelo ligamento coracoumeral e, internamente pelo ligamento glenoumeral posterior. Funciona como uma convergência de tendões, em redor da cabeça do úmero. De acordo com De White et al. (White et al., 2003) a síndrome do ombro doloroso define- se precisamente, por uma irritação sintomática da coifa dos rotadores e da bolsa sinovial subacromial (Nimbarte et al., 2013). Os fatores mecânicos que se relacionam com esta síndrome podem ser o trabalho com os braços acima do nível da cabeça (braços elevados acima de 90 graus), principalmente nos maquinistas, mecânicos e pintores (Svendsen et al., 2004).

No que respeita a lesões na zona dos cotovelos, tem-se que as lesões mais prevalentes são a epicondilite a epitrocleite (Garg et al., 2014; Rahman Shiri, Viikari-Juntura, Varonen, & Heliövaara, 2006). A epicondilite define-se clinicamente como uma inflamação dos tendões extensores dos músculos do antebraço, na região do epicôndilo (Verhaar, 1994). Vários estudos, epidemiológicos e não epidemiológicos, estabeleceram que os distúrbios do cotovelo estão associados a atividades ocupacionais que requerem o uso repetitivo e vigoroso dos músculos extensores e flexores do cotovelo, levando a processos inflamatórios da articulação ou irritação da inserção no tendão (Vern Putz-Anderson et al., 1997). Atividades que envolvem esforços vigorosos frequentes, ritmos de trabalho rápido, movimentos repetitivos e posturas inadequadas durante longos períodos, como a indústria têxtil, a indústria automóvel, construção e indústria de processamento de alimentos são propensas ao desenvolvimento de epicondilite nos seus trabalhadores (Laura Punnett & Wegman, 2004; Werner et al., 2005). A epicondilite é a forma mais prevalente dos distúrbios musculoesqueléticos do cotovelo, com prevalências entre 1 e 5% na população em geral e 3% a 15% entre os trabalhadores ativos (Chiang et al., 1993; Roto & Kivi, 1984; Rahman Shiri et al., 2006; Barbara Silverstein, Welp, Nelson, & Kalat, 1998). Esta lesão musculoesquelética provoca comprometimento funcional e reduz a produtividade sendo que, em alguns pacientes, a incapacidade de trabalhar pode durar várias semanas (Rahman Shiri & Viikari-Juntura, 2011). Nas mãos há uma maior incidência na síndrome do túnel cárpico e tendinoptias (inflamação de um tendão que pode ser aguda ou crónica), doença de De Quervain e a “Trigger finger” ou dedo em gatilho. A síndrome do túnel cárpico (STC) é uma das neuropatias de maior incidência no membro superior e consiste na compressão do nervo mediano no interior do canal cárpico. Quando a

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Estado de Arte compressão é suficientemente elevada causa alterações na função nervosa, o que provoca adormecimento, parestesias e dor na mão e dedos (Vaz, Freitas, & Merlo, 2005). Por sua vez, a síndrome de De Quervain é uma inflamação que afeta os tendões do punho que se dirigem para o polegar, nomeadamente os tendões do abdutor longo e extensor curto do polegar, na zona onde atravessam uma bainha fibrosa espessa, que constitui o primeiro compartimento extensor do punho. Geralmente as lesões das mãos abordam-se juntamente com as do punho porque na maioria dos casos existe uma ligação clara das duas zonas, ao nível musculoesquelético, sendo ambas afetadas como no caso da síndrome túnel cárpico e da tendinite (Gangopadhyay et al., 2015; Wurzelbacher et al., 2010). Na grande maioria, as tendinopatias do punho são desencadeadas pela realização de movimentos repetitivos de flexão/extensão do punho e dedos, mesmo quando envolvem o manuseamento de pequenas cargas, ou pela manutenção de uma carga em postura inadequada (Frost et al., 2002; Ozdolap, Emre, Karamercan, Sarikaya, & Kokturk, 2013; Rafeemanesh, Jafari, Kashani, & Rahimpour, 2013; Violante et al., 2007).

Os distúrbios musculoesqueléticos do membro superior, à semelhança de todas as LMERT, são classificados pelas regiões anatómicas ou topográficas envolvidas, como o ombro, cotovelo, mão, ou pelos principais tecidos afetados, como os tendões e músculos. Deste modo, na Tabela 2 agruparam-se as principais patologias musculoesqueléticas dos três segmentos do membro superior considerados para este trabalho de investigação, segundo as categorias já referidas no ponto anterior.

Tabela 2– Patologias musculoesqueléticas mais comuns por região anatómica afetada (adaptado de Hagberg, 1995) Região

Estrutura

Ombro Cotovelo Punho/Mão

Tendões e Bainhas

Tendinite da coifa dos rotadores Tendinite bicipital

Tendinite do supraespinhoso

Epicondilite Epitrocleite

Doença de Quervain

Tenossinovite estenosante (dedo em gatilho) Quisto Sinovial

Tendinite dos flexores Articulações Bursite subacromial

Capsulite adesiva (ombro congelado)

Bursite do cotovelo Osteoartrite

Músculos Cãibras na mão

Nervos e vasos sanguíneos Síndrome do desfiladeiro torácico Síndrome do canal radial Síndrome do canal cubital Síndrome da vibração Síndrome do túnel cárpico (STC) Síndrome do canal de Guyon Fenómeno de Raynaud