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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.2 Prevalência

Os sintomas de LME MS foram avaliados através do questionário nórdico musculoesquelético (QNM) que se encontra validado e tem sido amplamente utilizado em contextos reais de trabalho. Um primeiro resultado importante, evidenciado em ambos os momentos de avaliação, é que dos trabalhadores que afirmaram ter queixas musculosqueléticas nos últimos 12 meses, a esmagadora

165 maioria, mais de 80 %, relacionou essas queixas com o trabalho, o que continua a ser revelador da magnitude deste problema no contexto profissional.

Da aplicação do QNM resultou uma prevalência de LME MS de 36,6% no primeiro momento de avaliação e de 24,6% no segundo momento de avaliação. Também Punnet (2004) apresentou valores de prevalência semelhantes de LME MS num estudo realizado num setor de montagem de peças da indústria automóvel. Todavia, Roquelaure (2006) encontrou valores superiores a 50% num estudo realizado em população trabalhadora não específica. A região mais afetada pela presença de sintomas, em ambos momentos de avaliação, foi o punho/mão com 23,9% e 18,7%, respetivamente no primeiro e segundo momento de avaliação, seguindo-se a zona anatómica do ombro com 18,7% e 17,2%, e por último a zona do cotovelo com 11,2% e 8,2%, respetivamente. Comparando estas percentagens com as do grupo de controlo, que apresentou uma prevalência de 13,5%, 3,2% e 8,2% para as regiões anatómicas do ombro, cotovelo e punho/mão, respetivamente, verificou-se que, todos os segmentos do membro superior apresentaram uma maior prevalência de queixas musculosqueléticas por parte dos trabalhadores fabris, em ambos os momentos de avaliação, o que sugere que as posturas e os movimentos exigidos neste tipo indústria, pode influir na génese ou agravamento das LME MS. De facto, na literatura está descrito que atividades que envolvam esforços vigorosos, movimentos repetitivos, ritmos de trabalho rápido e posturas corporais não naturais sustentadas por longos períodos de tempo são propensas ao desenvolvimento de LME MS (Costa & Vieira, 2010; Denbeigh, Slot, & Dumas, 2013; Fredriksson et al., 1999; Thomsen et al., 2007).

De salientar ainda que, no presente estudo, para todas as regiões anatómicas do membro superior se verificou que os sintomas são na maioria frequentes e muito frequentes e têm duração contínua. Relativamente à área do punho/mão ser a área com mais queixas dos trabalhadores inquiridos (ao contrário do grupo de controlo onde a região mais prevalente foi o ombro) deve-se provavelmente a ser a zona mais requisitada nos movimentos, em todos os postos de trabalho, neste tipo de indústria. Ainda que alguns estudos realizados em setores onde os membros superiores também são bastante requisitados, corroborem esta hierarquização de prevalências, como por exemplo o estudo de Alzharani (2016) realizado com médicos cirurgiões, o estudo de Amarasinghe (2016) realizado na indústria têxtil e o estudo de Sousa (2010) realizado numa indústria do mesmo setor do presente trabalho, onde também foi identificada maior prevalência de sintomas na região do punho/mão, este resultado é, no geral, substancialmente diferente de outros estudos, de áreas distintas, nos quais, genericamente, a maior prevalência se verifica na zona do ombro (Aweto et al., 2015; Subramaniam & Murugesan, 2015; Wang et al., 2017; Wu et al., 2012). O decréscimo das taxas de prevalência de sintomas, da primeira para a segunda avaliação, pode ser o resultado de novas estratégias de trabalho adotadas pelos trabalhadores, como diminuição da tensão muscular aplicada em tarefas, ou o resultado de algumas melhorias ergonómicas implementadas nos postos de trabalho entre os dois momentos de avaliação, bem como da automatização de algumas partes do processo produtivo. Uma das melhorias implementadas foi a rotação de tarefas nas estações de trabalho, para que cada trabalhador pudesse gastar menos tempo na mesma tarefa.

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Discussão de Resultados No que diz respeito aos fatores de risco individuais, observou-se uma relação estatisticamente significativa na ocorrência de sintomas de LME MS em geral, ou em particular, num dos três segmentos, com o sexo, idade, altura e realização de tarefas domésticas. Estes fatores foram já referidos por Serranheira e Uva (2009) e justificados pela razão da força muscular e da resistência do corpo ao desgaste diminuir com a idade, por a população feminina apresentar, no geral, menor força muscular e pela incompatibilidade dos indivíduos muito altos ou muito baixos, com os postos de trabalho considerados “standard”. De facto, no presente estudo, observou-se que, de uma maneira geral, maior prevalência de sintomas para os trabalhadores mais baixos, com altura inferior a 160 cm, o que vai de encontro ao referido pelos autores. Por outro lado, Fazi (2016) concluiu que para uma indústria de processamento de alimentos, a altura “ideal” para a prevenção de LMERT seria entre 155 e 160 cm.

No que concerne ao sexo, a esmagadora maioria das queixas de LME MS ocorreu na população feminina, em ambos os momentos de avaliação, o que é corroborado por outros estudos de investigação (Rocha, Glina, Marinho Mde, & Nakasato, 2005; Sutton et al., 2016; Treaster & Burr, 2004), todavia, esta tendência pode também ser reflexo da elevada percentagem de trabalhadoras na amostra. No que se refere à idade, na primeira avaliação, e para as regiões do ombro e punho/mão, a maioria das queixas verificaram-se entre os trabalhadores de 19 a 30 anos, enquanto que para a região do cotovelo se verificaram para o escalão etário dos 41 aos 50 anos. Já na segunda avaliação, a maioria das queixas foram apresentadas por trabalhadores da faixa etária dos 41 aos 50 anos, para todas as regiões anatómicas. Enquanto que a degeneração normal, fruto do processo de envelhecimento pode justificar, em parte, a maior ocorrência de sintomas destas afeções em faixas etárias mais elevadas, tal como referido em estudos prévios (Bernard, 1997; J. Malchaire, Piette, & Cock, 2001; Roquelaure et al., 2006; Roquelaure et al., 2009) a maior prevalência no primeiro momento de avaliação, para a região do punho, na população mais jovem, pode ser em parte justificada pelo facto de, para grande parte desses trabalhadores, ser a primeira atividade profissional que exerceram, e por isso estarem mais suscetíveis a lesões musculosqueléticas, o que já foi mencionado num estudo realizado por Hakannen (2001) em trabalhadores recém- contratados. Quanto às tarefas domésticas, não foram encontrados estudos comparativos, mas tendo em conta que a percentagem de trabalhadores do sexo feminino que afirmou realizar tarefas domésticas foi muito superior à dos trabalhadores do sexo masculino (78,4% vs. 21,6%), pode sugerir que este fator também contribui para a elevada prevalência de sintomas referidos pelo sexo feminino, para além de poder ser considerado um fator externo de confundimento.

Foram ainda detetadas relações estatisticamente significativas, apenas num dos momentos de avaliação e para alguns segmentos, entre a ocorrência de sintomas e a realização de trabalhos manuais, utilização de computadores, a prática de atividade desportiva diária e a medicação regular, que já têm sido referidos na literatura como fatores de confundimento, dado não decorrerem da atividade laboral (Fagarasanu & Kumar, 2003; Serranheira, 2007).

167 Importa agora analisar o fator de risco antiguidade na empresa, ainda que não tenha sido encontrada qualquer relação estatisticamente significativa com o mesmo. Verificou-se que quanto maior a antiguidade, mais prevalentes eram os sintomas, tendo sido observada a maior prevalência de sintomas em trabalhadores com mais de 5 anos de serviço, para todas as zonas anatómicas. Também Almeida (2012) e Harcombe (2014), encontraram um predomínio de sintomatologia musculoesquelética em trabalhadores com mais anos de serviço, o que pode indiciar que quanto maior o tempo de exposição ao fator de risco antiguidade, maior a propensão para o desenvolvimento ou agravamento das lesões-musculoesqueléticas. Esta conclusão vai de encontro à conclusão do estudo de Barr (2004) que refere que “a associação de lesão musculoesquelética e o trabalho tem provavelmente uma relação de causa-efeito”.

Considerando o fator de risco físico posto de trabalho, verificou-se que a maior prevalência de sintomatologia de LME MS ocorreu nos postos de trabalho da secção de “Embalamento”, para todas as regiões anatómicas e em ambos os momentos de avaliação. Ora, sendo esta a área considerada mais crítica, pelos métodos de avaliação de risco do posto de trabalho utilizados neste estudo, era expectável que fosse nesta secção que ocorresse a maior percentagem de sintomatologia de LME MS, o que na realidade se verificou (71,4%). Outros estudos de investigação em indústrias agroalimentares, comprovaram que as tarefas mais problemáticas foram identificadas na área da “embalagem de produto” cujas tarefas são cíclicas, com movimentos repetitivos e de força, com poucas pausas, e expondo os membros superiores dos trabalhadores a posturas não neutras e forçadas, acarretando consequentemente um maior risco para o desenvolvimento de lesão musculoesquelética (Murgia et al., 2012; J. C. Rosecrance et al., 2001; B. Sousa, 2010).

O exame médico detetou 51,5% trabalhadores com de sinais sugestivos de doença musculoesquelética no membro superior, no primeiro momento de avaliação, e 54,5%, no segundo momento de avaliação. Estes valores de prevalência apresentam-se superiores a outros estudos onde o exame clínico revelou que aproximadamente um terço dos trabalhadores apresentavam “sinais físicos” de lesão ou doença musculoesquelética (Laura Punnett & Wegman, 2004; Roquelaure et al., 2006). Na análise dos resultados por região anatómica do membro superior, verificou-se que o segmento onde houve maior prevalência de sinais sugestivos de doença musculoesquelética, em ambos momentos de avaliação, foi o punho/mão com 41,8% e 44,8%, respetivamente no primeiro e segundo momento de avaliação, seguindo-se a zona anatómica do ombro com 25,4% e 32,8%, e por último a zona do cotovelo com 14,2% e 8,2%, respetivamente. Verifica-se que os valores de prevalência encontrados para o punho/mão são consistentes com outros estudos realizados no setor industrial com reportes de prevalências de 15 a 40% %. (Hembecker, Reis, Konrath, Gontijo, & Merino, 2017; Kebede Deyyas & Tafese, 2014; Klussmann, Gebhardt, Liebers, & Rieger, 2008; Thomsen et al., 2007; Werner, Franzblau, Albers, & Armstrong, 1997). Já no caso do ombro os valores de prevalência de sinais de lesão musculoesquelética do presente estudo são substancialmente superiores a outros estudos (Bodin et al., 2012; Frost et al., 2002; Meroni, Scelsi, Boria, & Sansone, 2014) realizados em população ativa não específica, que não ultrapassam os 10% e concordantes com D Agostin (2017) realizado em enfermeiros. No caso

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Discussão de Resultados do cotovelo, os valores obtidos são superiores ao estudo de Kryger (2007) realizado numa população ativa não específica e ao de Lassen (2004) para operadores de computadores, mas substancialmente inferiores aos encontrados por Alzahrani (2016) em cirurgiões e Ozdolap (2013) em trabalhadores mineiros, que apresentam valores superiores a 50%.

Estes valores de prevalência encontram-se hierarquizados da mesma forma que para a sintomatologia, o que é expectável, pelas mesmas razões que foram referidas para a existência de mais sintomas na zona anatómica do punho/mão, no entanto, apresentam-se para as três regiões anatómicas, ligeiramente superiores àqueles. Os estudos realizados por Paarup (2012) e Mehlum (2009) corroboram esta tendência, porém os resultados obtidos contradizem os estudos de Punnett e Roquelaure (Laura Punnett & Wegman, 2004; Roquelaure et al., 2006), onde as prevalências encontradas através de exame físico objetivo são inferiores às dos sintomas. No caso do presente estudo pode ficar a dever-se à não perceção ou desvalorização dos sintomas por alguns trabalhadores, ou até à decisão de não reportar esses sintomas aquando da aplicação do QNM. Da primeira para a segunda avaliação verificou-se um aumento da prevalência de sinais sugestivos de doença musculoesquelética, o que pode resultar das exigências relacionadas com a atividade em termos de postura e movimentos, em conjugação com a antiguidade na empresa, que se verificou ter uma relação estatisticamente significativa com os sinais sugestivos de doença musculoesquelética detetados no exame médico objetivo. Ainda no que diz respeito a fatores de risco, observaram-se relações estatisticamente significativas com as variáveis antropométricas sexo, idade e altura, com a realização extraprofissional de tarefas domésticas e trabalhos manuais, e com o posto de trabalho. Com efeito, verificou-se que a maior frequência de positivos no exame médico corresponde ao sexo feminino, se situa na faixa etária de [41 – 50] anos para as regiões anatómicas do ombro e cotovelo, e na de [19 – 30] anos para a zona do punho/mão e cotovelo (1ª avaliação) e no escalão de altura entre [160 – 170] cm para os segmentos ombro e punho/mão e [< 160 cm] para o cotovelo. Quanto às tarefas domésticas também apresentaram uma relação positiva estatisticamente significativa com os “sinais” de doença musculoesquelética. Curiosamente, o posto de trabalho só apresentou relação estatisticamente significativa com a região do punho/mão, em ambos os momentos de avaliação, sendo que a maior prevalência se verificou, à semelhança da sintomatologia, para os postos de trabalho da secção de “Embalamento”, área que como já foi referido é considerada a mais crítica.

Considerando agora o tipo doenças musculoesqueléticas que foram detetadas através do exame médico objetivo, verificou-se que a tendinite, a STC e a epicondilite foram as principais doenças encontradas, apresentando a STC valores de prevalência de 28,4% e 12,7%, respetivamente no primeiro e no segundo momento de avaliação, seguida da tendinite com prevalência de 18,7% e 19,4%, e por último a epicondilite com 12,7% e 4,5%, respetivamente no primeiro e segundo momento de avaliação. Estas doenças são referidas como as mais prevalentes na maioria dos estudos de lesões/doenças musculoesqueléticas do membro superior. Por exemplo, Silverstein (2009) num estudo realizado com a população ativa de vários setores, refere a tendinite do ombro como sendo a mais prevalente, e o mesmo resultado foi encontrado por outros autores

169 (Muggleton, Allen, & Chappell, 1999; Roquelaure et al., 2006; Verónica, 2012). Por outro lado, Bujgajska (2013), também num estudo com população ativa, observou que a STC foi a doença com maior prevalência, e por sua vez a epicondilite é referida como a lesão mais comum relacionada com várias tarefas que onde se utilizam excessivamente os músculos extensores e flexores do cotovelo, como manipulação de cargas pesadas, atividades com uso de ferramentas vibratórias, tarefas de alta repetição e posturas inadequadas (Z Joyce Fan et al., 2009; Haahr & Andersen, 2003; Kryger et al., 2007; Mens, Stoeckart, Snijders, Verhaar, & Stam, 1999; van Rijn et al., 2009).

Verifica-se também neste estudo que, do primeiro momento de avaliação para o segundo, a percentagem dos sinais sugestivos das doenças mais prevalentes diminui consideravelmente, invertendo até a tendência no caso da região anatómica do punho e mão, cuja percentagem da síndrome do túnel cárpico deixa de ser maioritária. Considerando que apenas foram contabilizados como positivos às doenças específicas, os relatórios que faziam referência a essa doença específica, este facto pode ser justificado, pela menor especificidade dos relatórios médicos da segunda avaliação, onde em muitos casos apenas foi indicada a/as zona(s) anatómica(s) e descrito nas observações como “sinais poliarticulares”, sendo essa observação contabilizada como “outras síndromes”. Assim, possivelmente, e sendo este facto mais expressivo na segunda avaliação, muitos trabalhadores apresentando sinais sugestivos das doenças discriminadas neste estudo, foram contabilizados como “outras síndromes”.

Analisando agora a influencia dos fatores de risco nas principais doenças musculoesqueléticas identificadas neste estudo, e tendo em conta apenas as relações estatísticas significativas comuns aos dois momentos de avaliação, tem-se que, para a tendinite do ombro, relações estatísticas significativas apenas com fatores de risco individuais, nomeadamente com o “sexo”, “idade”, “altura” e “antiguidade na empresa”. Assim, observou-se que todos os trabalhadores que apresentaram sinais clínicos de tendinite no ombro eram do sexo feminino; que a categoria etária com mais casos de tendinite foi a dos 19-30 anos, ainda que não apresente uma forte evidência de associação (AR< 1,96) e que metade dos trabalhadores em que foi detetado sinais de tendinite do ombro eram de estatura inferior a 170 cm e trabalhavam há menos de 4 anos na empresa. No que se refere à epicondilite, verificou-se uma relação estatisticamente significativa com os seguintes fatores de risco: “idade”, “medicação regular” e “utilização de computador”. Observou-se que a maior percentagem de trabalhadores com sinais clínicos de epicondilite eram da faixa etária dos 19-30 anos e que a maioria dos trabalhadores com indícios de epicondilite não tomavam medicação regular nem utilizavam regularmente computadores. Foi ainda observado que a maioria dos trabalhadores afetados não utilizava o computador diariamente e que trabalhava há 3 anos ou menos, na empresa.

Para a Síndrome do túnel Cárpico (STC) verificou-se uma relação estatisticamente significativa com os seguintes fatores de risco: “sexo”, “idade”, “altura”, “tarefas Domésticas” e “posto de trabalho”. Foi constatado que a esmagadora maioria dos trabalhadores que apresentaram sinais clínicos de STC eram do sexo feminino; que todas as categorias da idade revelaram sensivelmente a mesma percentagem de indivíduos com STC e que a maioria dos trabalhadores em que foi detetado sinais de STC eram de estatura inferior a 170 cm, e realizavam diariamente tarefas domésticas. À

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Discussão de Resultados semelhança da sintomatologia, a maioria dos trabalhadores que revelaram sinais de STC, trabalhava num dos postos de trabalho da secção de “Embalamento”. Relativamente à população feminina apresentar mais sinais clínicos das doenças referidas, os mesmos resultados foram relatados noutros estudos científicos, (Bodin et al., 2012; Bugajska et al., 2013; Shafizadeh, 2011), em oposição, todavia, a outros estudos que não encontraram qualquer relação significativa com o sexo (Barbara Silverstein et al., 2009). De ressalvar que muitas vezes as tarefas mais “fáceis” ao nível de força são atribuídas a mulheres, contudo essas tarefas exigem um maior grau de motricidade fina e normalmente são muito repetitivas (Serranheira, 2007). No que diz respeito à idade o presente estudo, difere das conclusões de Bodin (2012) e Almeida ((2012) em que nos estudos de investigação realizados por cada um daqueles autores identificaram o aumento da idade como um fator de risco para o agravamento das doenças musculoesqueléticas.

Os resultados obtidos na ecografia revelaram que, no primeiro momento de avaliação, 50,8% dos trabalhadores apresentavam alterações ecográficas ao nível do membro superior, e 54,6% no segundo momento de avaliação. Estes resultados apresentam-se bastante similares aos obtidos pelo exame médico e superiores aos resultados da aplicação do inquérito de sintomas (QNM), o que reforça a aparente subvalorização ou não perceção dos sintomas pelos trabalhadores. O segmento onde houve maior prevalência de alterações no exame ecográfico em ambos momentos de avaliação, foi o ombro com 37,9% e 36,2%, seguindo-se a zona anatómica do punho com 21,2% e 26,2%, e por último a zona do cotovelo com 8,2% e 17,2%, respetivamente no primeiro e segundo momento de avaliação. Considerando ainda as regiões anatómicas, conclui-se que o exame ecográfico, para a região do ombro, revela a maior percentagem de lesões musculoesqueléticas comparativamente com a sintomatologia e o exame médico, em ambos os momentos de avaliação, o mesmo se verificando para a região do cotovelo (exceto na 1ª avaliação), enquanto que para o segmento punho/mão a ecografia apresenta a menor prevalência dos três métodos. As elevadas prevalências obtidas pela ecografia, podem ser justificadas por este método poder detetar uma grande variedade de alterações assintomáticas não relatadas ou percecionadas pelos doentes (Lento & Primack, 2008), ou ainda estágios iniciais de doença. No caso do segmento punho/mão, as prevalências inferiores aos outros dois métodos podem ficar a dever-se a que a ecografia foi feita apenas na zona do punho.

À semelhança dos outros dois métodos, analisando agora a influencia dos fatores de risco nos resultados obtidos através da ecografia, e tendo em conta apenas as relações estatísticas significativas comuns aos dois momentos de avaliação, verificou-se que, para as regiões anatómicas do ombro e cotovelo, apenas a idade apresentou uma relação estatisticamente significativa com as alterações ecográficas sendo escalão dos 41-50 anos o que obteve a maior percentagem de trabalhadores com alterações ecográficas. Todavia, e tendo em conta o aspeto laboral, importa ressalvar que o fator “posto de trabalho” se apresentou estatisticamente relevante com as alterações ao nível do ombro, mas apenas no segundo momento de avaliação, sendo a maior prevalência observada para os postos de trabalho da secção de “Embalamento”, o que está de acordo com os outros métodos. No caso do punho/mão, a única relação estatisticamente

171 significativa encontrada, foi com o “Posto de Trabalho” onde a maioria dos trabalhadores que apresentaram alterações ecográficas estavam colocados num dos postos de “Embalamento” ou “Abastecimento/Ingredientação”.

Ainda no que diz respeito à prevalência, verificou-se um número de casos considerável de trabalhadores que apresentaram alterações multissegmento no exame médico objetivo e na ecografia para os segmentos ombro e punho/mão. Este facto pode ser justificado por serem os segmentos mais requisitados no tipo de tarefas desta indústria. Já no questionário (QNM) o número de casos de queixas multissegmento, foi baixo e não seguiu um padrão.