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geral, se observa a correlação entre evento factual e emprego do modo

CARGA SEMÂNTICA DO PREDICADO MATRIZ

Freq. Apl./Total

% PR Verbo não-factivo não-volitivo (pedir, deixar) 10/10 100 − Verbo implicativo negativo (impedir) 01/01 100 − Verbo não-factivo volitivo (querer, esperar) 26/28 93 0,83 Verbo emotivo ou avaliativo (gostar) 01/02 50 0,48 Verbo bicondicional (duvidar, poder ser) 01/03 33 0,16 Verbo indiferente de opinião (acreditar, pensar) 09/24 38 0,13 TOTAL 48/68 71 − Fonte: (adaptada de SANTOS, 2005, p 77-78)

Dentre os resultados apresentados na tabela 10, destacamos a correlação entre verbos não-factivos volitivos e o uso do modo

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Dada a importância do predicado matriz, Santos (2005) utiliza duas formas para classificar os verbos: uma baseada na proposta de Givón (tipo de predicado matriz) e outra baseada na pesquisa de Rocha (1997) sobre o uso variável do modo subjuntivo (carga semântica do predicado matriz).

subjuntivo (93%), modo verbal que não se mostra sensível a verbos indiferentes de opinião (38%), resultados aproximados aos encontrados em outras pesquisas que controlam verbos volitivos e verbos epistêmicos. A segunda variável estatisticamente relevante no trabalho de Santos (2005), grau de certeza epistêmica, indica que o subjuntivo tende a ocorrer em contextos ‘irreais’ e ‘potenciais’(0,57 e 0,58, respectivamente), ao contrário dos contextos ‘reais’, em que o indicativo tende a ser usado (0,07 para subjuntivo).

Ao realizar um cruzamento entre o ‘grau de certeza epistêmica’ e a ‘carga semântica do predicado matriz’, Santos observa que o subjuntivo atinge o peso relativo de 0,58 em contextos potenciais, porém esse resultado é favorecido pelo verbo da oração matriz – 93% dos verbos não-factivos volitivos ocorrem com subjuntivo nos contextos potenciais, tipo de verbo que projeta um evento para o futuro, tornando- o potencial. O traço de futuridade também se mostra importante na pesquisa de Pimpão (1999c). Esse tipo de investigação criteriosa, além de precisar os contextos de variação do subjuntivo, torna a pesquisa mais confiável.

A despeito da relevância estatística da variável ‘tipo de oração subordinada’ e do elevado peso relativo das orações substantivas (0,91), para Santos (2005, p. 137) não se deve esquecer a importância da ‘carga semântica do predicado matriz’: “diante de predicados indiferentes de

opinião, bicondicionais e emotivos/avaliativos, a preferência é pelo

emprego do modo indicativo, enquanto predicados não-factivos volitivos são favorecedores do modo subjuntivo”.

Como síntese da pesquisa desenvolvida pela pesquisadora, consideramos importante destacar que um tratamento estatístico mais refinado dos dados, como fez a autora, promove uma interpretação mais segura. Nesse sentido, os cruzamentos realizados diminuem a probabilidade de uma leitura equivocada dos resultados, permitindo apontar, com mais propriedade, as variáveis, ou ainda, os fatores, que condicionam o uso do subjuntivo.

Almeida (2010)

A pesquisa desenvolvida por Almeida contempla a análise de dados diacrônicos. Como objeto de análise, a autora investiga o uso variável do presente e do imperfeito do modo subjuntivo em orações substantivas e em orações adverbiais concessivas em duas amostras: uma composta por textos escritos do século XIII ao século XX, e outra composta por dados de fala culta (NURC-RJ/SSA) e não-culta (PEUL), em duas épocas distintas – de 1970 a 1990 e de 1980 a 2000.

Conjugando os pressupostos da Sociolinguística Variacionista e do Funcionalismo Linguístico (GIVÓN; HOPPER; TRAUGOTT), para Almeida, o uso dos modos verbais não pode ser visto em termos de polos opostos; antes, a autora segue a orientação funcionalista da escalaridade, considerando um continuum no uso de subjuntivo e indicativo. Para a análise das ocorrências, Almeida controla as seguintes variáveis extralinguísticas: periodização e gêneros textuais (para os dados de escrita) e década, faixa etária, região e gênero (para os dados de fala).

Ao tratar das orações substantivas, as variáveis linguísticas controladas são: item verbal da oração matriz, tempo do evento – real ou referido em relação ao momento da enunciação (traço formal/semântico), grau de assertividade e pessoa verbal da matriz. Em se tratando de orações concessivas, os grupos de fatores constituídos são: modo de organização do discurso, posição da oração subordinada adverbial concessiva, tipo de conector introdutor da oração subordinada adverbial concessiva, presença (e tipo) de elemento interveniente entre o conector e o verbo, identidade entre os sujeitos da cláusula contrastiva (adverbial concessiva) e matriz, forma verbal da oração subordinada, modalidade, natureza semântica da oração concessiva, estatuto informacional dos segmentos concessivos e conteúdo da construção concessiva.

Considerando as orações substantivas no córpus diacrônico, Almeida procede a uma análise específica para cada um dos verbos identificados ao longo dos séculos, em virtude da expectativa de que haja variação diferenciada de acordo com o item verbal da matriz. A autora divide os verbos em dois grupos: no primeiro, estão incluídos aqueles que apresentam variação em um ou dois séculos; no segundo grupo, aqueles que manifestam variação em três ou mais séculos. Com relação ao segundo grupo de verbos, Almeida encontra 647 ocorrências com o modo subjuntivo num total de 3.483 dados, com um percentual em torno de 18,5%. Uma interpretação geral desse resultado pode sugerir um uso pouco expressivo do modo subjuntivo, entretanto, uma investigação mais detalhada, considerando o item verbal, mostra um outro cenário de variação. Segundo a autora, verbos como esperar e

jurar revelam um processo de variação estável ao longo dos séculos. Por

outro lado, “verbos como mandar – séculos XIV, XV e XVI – e querer – séculos XIV, XV e XVII – que permitiam uso variável, passam a apresentar uso categórico do subjuntivo, nas últimas três sincronias” (ALMEIDA, 2010, p. 148).

Dentre as orações concessivas, os resultados indicam 514 ocorrências de modo subjuntivo num total de 751 dados, alcançando um percentual em torno de 68,5%. Esse resultado sugere um uso produtivo do subjuntivo ao longo dos séculos. Uma análise mais refinada, considerando o conector concessivo, revela um processo de variação a depender do próprio conector. Por exemplo, todas as 15 ocorrências com apesar de (que) apresentam indicativo ou infinitivo na oração subordinada, mas não subjuntivo. Ao contrário, as 45 ocorrências de

sem que apresentam subjuntivo. Já com o conector embora, o subjuntivo

aparece em quase todos os dados: 22 ocorrências de 24.

Almeida apresenta resultados probabilísticos apenas para as orações concessivas introduzidas por ainda que, tendo sido selecionadas as seguintes variáveis: modalidade da proposição, estatuto informacional dos segmentos concessivos, época, tempo do evento em relação ao momento da enunciação e identidade entre os sujeitos da oração principal e da subordinada. Destacamos resultados para duas dessas variáveis. Segundo Almeida, a variável ‘modalidade da proposição’ indica que os fatores condição (0,85) e hipótese (0,67) favorecem o subjuntivo por apresentarem um maior grau de subjetividade. A segunda variável, ‘tempo formal/semântico’ revela que um contexto de futuridade favorece esse modo verbal (0,76), fator que também se mostrou relevante na pesquisa realizada por Pimpão (1999c). Para os dados de fala culta (NURC), são analisadas 248 ocorrências de variação entre subjuntivo e indicativo nas orações substantivas, tendo o subjuntivo uma aplicação de 23% dos dados. São três as variáveis selecionadas: pessoa verbal, assertividade e tempo verbal. Resultados indicam que o subjuntivo é favorecido pela primeira pessoa (0,76), pela presença da negação na matriz (0,92) e pelo tempo passado do verbo matriz (0,80). Para os dados de fala não-culta (PEUL), o subjuntivo apresenta um uso de 7% das 147 ocorrências de orações substantivas investigadas, sendo favorecido pelo ‘tipo de verbo da oração matriz’, pelo ‘gênero’ e pelo ‘tempo verbal da matriz’. O subjuntivo é, então, favorecido pelo verbo pensar (0,76), pelo gênero feminino (0,68) e pelo verbo da matriz no infinitivo (0,96).

Para as orações concessivas nos dados de fala culta e não-culta não há resultados probabilísticos. Entretanto, resultados percentuais mostram a importância do tipo de conector, conforme ilustra a tabela 11, exibida na sequência. Julgamos interessantes os resultados, especialmente no que diz respeito à faixa de variação em ambas as amostras: ocorrências com mesmo que e embora.

Tabela 11

Atuação da variável ‘tipo de conector’ sobre o uso do modo subjuntivo em orações concessivas nos dados do NURC e do PEUL

TIPO DE CONECTOR NURC PEUL