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geral, se observa a correlação entre evento factual e emprego do modo

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2.3 A demografia em Florianópolis e Lages

Florianópolis e Lages, duas cidades pertencentes ao mesmo estado e historicamente constituídas de forma tão particular. Uma pequena parte dessa história pode ser traduzida em números, índices que registram, de uma forma geral, o aumento da população e revelam o crescimento da cidade. No quadro a seguir, destacamos o contingente populacional a partir de 1940, pois, segundo Peluso Junior (1991), em Florianópolis, “o efetivo de sua população foi conhecido a partir de 1940, visto que desse ano em diante os censos demográficos passaram a ser feitos dentro dos perímetros urbanos e suburbanos das cidades”. A década de 2010 encerra o quadro. Conforme observamos no quadro 6, em Florianópolis, o número de habitantes cresce mais de 12 vezes no período de 1940 a 2010.

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Atualmente ainda se comemora a Semana Farroupilha em Lages (http://mtclages.blogspot.com).

Quadro 6

Densidade demográfica de Florianópolis e de Lages136

DÉCADAS CIDADES FLORIANÓPOLIS LAGES 1940 34.110 − 1950 48.264 − 1960 72.889 − 1970 115.547 99.910 1980 153.547 155.295 1991 − 151.235 2000 342.315 157.682 2010 421.240 156.727

Destacamos a década de 1960, com aumento da população em 24.625 pessoas, motivado provavelmente pela da implantação da UFSC e pela instalação da CELESC. É possível que a liberação da BR-101 e a transferência da ELETROSUL do Rio de Janeiro para Florianópolis na década de 1970 tenham contribuído com o incremento de mais 42.658 pessoas na cidade. E de 1980 até 2010, Florianópolis apresenta um crescimento constante, talvez reflexo da consolidação da UFSC, dos investimentos turísticos e da chegada de novos habitantes que procuram a cidade em busca de qualidade de vida. O índice demográfico de Lages, ao contrário, não aponta um crescimento populacional significativo de 1980 a 2010. A cidade, de uma forma geral, estabilizou em termos de migração. Provável consequência do término da tão desejada BR-282 em 1980, o índice demográfico de Lages mostra um aumento populacional de mais 55.385 pessoas em relação à década anterior. Nesse sentido, dentre os dados de que dispomos, Lages somente

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Os indicadores populacionais referentes aos censos de 1940 a 1980 de Florianópolis estão baseados em Peluso Junior (1991). O indicador populacional referente à cidade de Lages baseia-se em uma informação registrada no jornal Correio Lageano, de 13/10/1970, com relação ao censo de 03/10/1970. Os indicadores populacionais referentes ao censo de 1980 e 1991 de Lages foram

retirados do seguinte site: www.sebrae-

sc.com.br/scemnumero/arquivo/Lages.pdf. Acessado em 11 de junho de 2012. Para Florianópolis e Lages, consultamos o seguinte site: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/universo.php?tip o=31o/tabela13_1.shtm&paginaatual=1&uf=42&letra=L. Acessado em 11 de junho de 2012. Para Florianópolis e Lages, consultamos o seguinte site: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=sc Acessado em 11 de junho de 2012.

aumenta o contingente populacional na passagem da década de 1970 para 1980.

3.3VARIÁVEIS INDEPENDENTES

Para a investigação do uso variável entre o presente do subjuntivo e presente do indicativo, a seleção de variáveis independentes (linguísticas e extralinguísticas) baseia-se em três pontos: (i) consideração de algumas variáveis já testadas por Pimpão (1999c); (ii) revisão bibliográfica de pesquisas realizadas com dados do português do Brasil e de outras línguas românicas (cf. quadro 1, no capítulo 1); (iii) retomada das hipóteses apresentadas no capítulo 1. Acompanham as variáveis independentes as respectivas hipóteses que justificam seu controle. Reconhecemos, de antemão, a possibilidade de sobreposição de certos fatores, o que exigirá um cuidado especial na análise.

3.3.1 Variáveis linguísticas

A revisão bibliográfica das pesquisas sobre o uso do modo subjuntivo, apresentada no capítulo 1, constitui uma importante referência para a seleção das variáveis linguísticas, bem como para a elaboração de justificativas que amparam algumas das hipóteses apresentadas. A apresentação das variáveis obedece a dois momentos, o que requer diferentes rodadas estatísticas: inicialmente, são descritas as variáveis em comum aos cinco contextos de análise, e, em um segundo momento, são descritas as variáveis específicas a três desses contextos de análise, a saber: orações substantivas, adverbiais e adjetivas137. 3.3.1.1 Variáveis linguísticas em comum aos cinco contextos

O procedimento metodológico adotado para o controle das variáveis linguísticas em comum aos cinco contextos de análise compreende duas etapas: primeiramente, essas variáveis linguísticas compõem as rodadas gerais em que todos os cinco contextos são considerados em conjunto. O objetivo é, portanto, identificar grupos de fatores estatisticamente relevantes no condicionamento e na restrição de uso do presente do subjuntivo no conjunto dos dados analisados. A segunda etapa corresponde ao controle dessas mesmas variáveis

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Com esse controle diferenciado, será possível realizar rodadas estatísticas que contemplem ora o conjunto todo dos dados, ora os subconjuntos pertinentes a cada tipo de contexto, o que requer um tratamento metodológico bastante cuidadoso.

linguísticas (acrescidas de outras específicas a cada contexto – apresentadas adiante) em rodadas isoladas, realizadas por contexto de análise. Esse procedimento permite averiguar (i) se os grupos de fatores que atuam sobre a variável em estudo, independentemente do contexto específico, se mantêm atuantes quando testados em cada contexto particular; (ii) se há grupos de fatores que só se mostram estatisticamente relevantes em certos contextos; e (iii) em que medida grupos de fatores específicos de cada contexto apresentam-se significativamente atuantes. As variáveis controladas nesta pesquisa para todos os contextos são assim identificadas: submodos, valores dos submodos, projeção temporal da situação codificada, estrutura da assertividade da oração, tipo de contexto sintático, pessoa, morfologia verbal, saliência fônica e item verbal da oração do dado. Cada uma dessas variáveis é detalhada a seguir.

3.3.1.1.1 Submodos

O controle desta variável tem como objetivo verificar a atuação dos dois submodos considerados por Givón (1995, 2001, 2005) − deôntico e epistêmico – no uso variável do presente do subjuntivo (cf. capítulo 2). Nesta tese, a variável ‘submodo’ inclui dois fatores: submodo deôntico e submodo epistêmico.

Conforme já mencionado, o submodo deôntico envolve atitudes avaliativas de desejo, preferência, intenção, habilidade138, obrigação, manipulação (GIVÓN 1995, 2001, 2005). Durante a codificação, boa parte das ocorrências permitiu a identificação desse submodo a partir do próprio verbo/nome presente na oração matriz no caso das orações substantivas (cf. dado 1); para os demais casos, foi necessário identificar algum constituinte no contexto discursivo que assinalasse o submodo envolvido (cf. sublinhado no dado 2). A extensão do contexto discursivo varia de acordo com o dado em análise, dependendo da quantidade de informação necessária para caracterizar a ocorrência como pertencente ao submodo deôntico. Vejamos alguns exemplos.

(1) E ela manda chamar os pais pra reunião, manda chamar pra entrega de boletim e os pais não comparecem na escola. Então, muitas vezes, os pais colocam o aluno lá, na escola, e QUEREM QUE SAI de lá formado, sem nem conhecer a professora, sem [nem]- nem ir lá saber

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Nos dados analisados, não há casos de enunciados em que a habilidade, uma das atitudes da modalidade deôntica, faz-se presente, motivo pelo qual não a mencionamos no decorrer desta tese.

como é que o aluno está, né? Daí fica um trabalho difícil também, como a gente vê, que a gente fala com a professora, um trabalho difícil pra elas daí também, né? (LGS 17FAC, L395)139

(2) A FUCABEM [<s->]- só recolhe [o]- o menor quando ele já está perdido, quer dizer, então aí não adianta mais recolher. Então nós temos que ter, sim, uma casa de abrigados, mas QUE PEGUE a criança ou o garoto, [quando ele]- antes de ele cair no mal. (FLP 02MAP, L822)

Os julgamentos envolvidos no submodo epistêmico dizem respeito à verdade, crença, probabilidade, certeza, evidência140 (GIVÓN, 1993, 1995, 2001). A maior parte dos dados possibilitou a identificação do submodo epistêmico com valores de probabilidade a partir do verbo/nome presente na oração matriz no caso das orações substantivas e das orações com o talvez, constituintes esses que, inerentemente, portam a noção de probabilidade141 (cf. dado 3). Dados como (4) somente permitiram a identificação dos valores de crença e de probabilidade do submodo epistêmico a partir do contexto discursivo, cuja extensão varia de acordo com a necessidade de interpretação do dado em análise (cf. sublinhado).

(3) TALVEZ ESTÁ na hora de fechar a ponte ali, só sai, não entra. (FLP 40MBU)

(4) Pois olha, eu não sei. É, isso eu acho que vai [até]- ATÉ QUE ENTRE algum outro QUE VÊ que esse plano não está correto. É um que pode às vezes dar uma diferença, né? (LGS 07MBP, L458- 459)

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Como a análise auditiva da entrevista não nos permitiu identificar o uso do presente do subjuntivo ou do indicativo pelo informante, o dado foi investigado com mais cuidado no PRAAT (palavra que significa fala em holandês). Somente dessa forma foi possível afirmar com segurança o uso do indicativo nessa ocorrência.

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Considerando o fenômeno variável em estudo nesta tese, não trabalhamos com noções de evidência nem de verdade, principalmente porque o lugar mais provável de ocorrência do modo subjuntivo é em um contexto irrealis. Entretanto, na tentativa de explicar um pequeno grupo de ocorrências, conforme se verá adiante, trabalhamos com a noção de certeza, até mesmo porque contrasta com a noção de probabilidade.

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Verbos como acreditar, crer e pensar também expressam um valor de crença. Como o ponto em comum está na noção de probabilidade, é essa noção que consideramos na codificação e análise dos dados.

Tendo como referência teórica o Funcionalismo de Givón (1995, 2001, 2005), esperamos que o presente do subjuntivo seja condicionado pelo submodo deôntico, localizado mais à esquerda no continuum de modalidade (cf. capítulo 1). Reforçam essa hipótese os resultados encontrados em outras pesquisas que mostram, em geral, a preferência pelo uso do subjuntivo em contextos deônticos (cf. capítulo 1).

3.3.1.1.2 Valores dos submodos

Com esta variável, buscamos um controle mais fino dos submodos, partindo dos valores sugeridos por Givón (1995, 2001, 2005) − conforme descritos na seção anterior − e adequando-os aos nossos dados. Dos valores associados ao submodo epistêmico, consideramos

probabilidade/crença e certeza. Dos valores vinculados ao submodo

deôntico (desejo, preferência, intenção, habilidade, obrigação, manipulação) controlamos intenção e desejo − designados por nós como

volição; preferência – designada por avaliação142; e manipulação. Dada

a especificidade das ocorrências com traço de manipulação, essa atitude foi subdividida em quatro fatores: volição e manipulação143, manipulação, manipulação e avaliação144, situação desencadeadora (para aquelas ocorrências em que uma força externa pode atuar sobre uma situação145). A seguir, ilustramos, respectivamente, os seguintes fatores: volição, manipulação, volição e manipulação, avaliação, manipulação e avaliação e, por fim, situação desencadeadora.

(5) Pelo transcurso deste feliz evento, parabenizamos a direção e os funcionários, aos nossos cumprimentos acrescentamos os VOTOS DE QUE a caminhada gloriosa PROSSIGA com toda a força e garra próprias de nossa gente. (LGS jornal Correio Lageano de 25/10/1977) [volição]

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A preferência é designada por avaliação, mas a avaliação não é, necessariamente, uma preferência (cf. dado (8) adiante).

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O fator volição e manipulação conjuga duas atitudes, pois o indivíduo, ao atuar sobre o outro, frequentemente deseja, tenciona se impor ou impor algo.

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As ocorrências que conjugam os traços de manipulação e avaliação manifestam a atuação de um indivíduo sobre o outro e uma avaliação acerca dessa atuação.

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Dada a especificidade de algumas ocorrências, tornou-se necessário considerar um fator que abarcasse casos em que o traço de manipulação se manifesta por meio de uma força externa, de uma situação que pode desencadear uma outra situação (SWEETSER, 1990).

(6) Agora, hoje em dia não, [eles]- mais eles cortam gila e depois cozinha assim, os pedaços grandes, daí tiram tudo da casca, daí espreme bem ela, aquela água que tem, né? coloca na panela, coloca açúcar, vai mexendo ATÉ QUE FICA no ponto, né? no ponto do doce. (LGS 08MBP, L152) [manipulação]

(7) “(...) Eu vim saber pela boca dos outros, não que você tivesse me trazido o problema pra mim. Você (o informante refere-se ao seu

filho) tem que trazer pra mim o problema, não DEIXAR QUE os

outros SAIBAM primeiro.” Assim eu conversei. (FLP 04MAP, L1142) [volição e manipulação]

(8) Não é de ADMIRAR QUE o Snr. Ver.se OPPONHA ao uso livre da razão, porque a igreja romana sempre se oppoz a esta liberdade humana [...]. (FLP jornal Sul-Americano de 01 ou 02/1900) [avaliação]

(9) Meu pai- meu pai GOSTA QUE eu ESTUDE, minha mãe GOSTA QUE eu ESTUDE, não GOSTA QUE eu SAIA, assim, sábado e domingo, de segunda a sexta. (FLP 10 MJP) [manipulação e avaliação]

(10) [Eu tenho]- por exemplo, nós temos uma coisa que [é]- são normas. Existe um sinal vermelho PARA QUE você não AVANCE. Ele olha pro lado, não vê ninguém, [ele]- ele toca. (FLP 13MBG, L783) [situação desencadeadora]

Com relação ao submodo epistêmico, consideramos dois fatores: probabilidade/crença e certeza. Essa divisão interna ao submodo epistêmico constitui procedimento metodológico necessário a partir de uma análise preliminar dos dados que apontou contextos linguísticos epistêmicos de probabilidade/crença (11) e de certeza (12). A seguir, alguns dados ilustram esses dois fatores.

(11) CREIO mesmo QUE os artefatos nucleares é que SÃO os responsáveis por esta grande confusão climática. (FLP Jornal da Semana de 05 a 12/04/1980)

(12) NÃO QUE S. Exa. não MEREÇA a homenagem! (LGS jornal O Lageano de 23/03/1918)

Como os fatores considerados nesta variável estão atrelados a um dos submodos, há, evidentemente, uma sobreposição em relação à primeira variável. Nossa intenção é verificar (i) qual dos dois tipos de controle se mostra estatisticamente mais significativo − se o binário (deôntico e epistêmico) ou o enário; (ii) como se distribuem os dados no

continuum de modalidade, em conformidade com a hipótese geral da

de análise. Observe-se, ainda, que há fatores híbridos, i.e., que reúnem dois valores simultaneamente, o que é teoricamente previsto ao se trabalhar com a noção de continuum funcional.

Nesta tese, a expectativa é de que o presente do subjuntivo seja mais fortemente condicionado pelo valor de volição do submodo deôntico, localizado no extremo esquerdo do continuum, posição que agrupa as ocorrências cujas situações são menos prováveis de se realizar em virtude de estarem sob o escopo do desejo, da intenção. Em contrapartida, espera-se que o subjuntivo seja inibido em contextos que expressem valor de certeza do submodo epistêmico, localizado mais na extrema direita do continuum de modalidade.

3.3.1.1.3 Projeção temporal da situação codificada

Para Givón (1995, 2001, 2005), o subjuntivo é uma subcategoria do irrealis, modalidade caracterizada por proposições fracamente asseridas, seja por serem possíveis, incertas ou (in)desejadas. Para o autor, a possibilidade, a incerteza, o desejo, por sua vez, fazem parte do futuro, de um vir a ser. Decidimos, portanto, controlar ocorrências que apresentem uma situação projetada para o futuro e, em contrapartida, ocorrências em que a situação se espalha em um eixo temporal que contempla passado, presente e futuro. A projeção futura foi identificada no contexto discursivo mediante dois critérios: (i) presença de advérbios de tempo (cf. sublinhado em 13) ou (ii) indicação de um evento anterior à possível realização do evento apresentado na oração do dado em análise (cf. sublinhado em 14). Para identificar um evento caracterizado pela projeção espraiada, dois critérios foram considerados: (i) indicação de um advérbio, em geral de tempo (cf. sublinhado em 15); e (ii) identificação de um evento ocorrido no passado ou que ocorre de forma repetida no qual o evento da oração do dado pode estar ancorado 16). Vejamos alguns exemplos.

(13) É uma série de coisas que você tem no meio de um CTG, assim até era bom vocês participarem um dia, PODE SER QUE vocês PARTICIPEM, então você vê que vai ser ótimo pra vocês. (LGS 19MAC, L1373)

(14) Então eu estou pegando duro assim, estou fazendo rápido. O meu irmão também está se esforçando bastante, né? Então [<pa->]- parece até que tem trabalho pra mais um ano ali, ou até mais. Então depois de terminar essa fase, né? de eu ter que fazer a transcrição do texto, TALVEZ eu VÁ [pra]- pra ADN pra trabalhar com a criação de artes, né? alguma criação de alguma