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3. Apresentação de Casos Clínicos

3.1. Caso Clínico 1

3.1.1. Identificação do Animal

Na tabela 1 estão representadas as características que identificam o animal, no que concerne ao caso clínico 1.

Espécie Canis familiaris

Raça Labrador

Sexo Macho

Cor Castanho

Idade 6 anos

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3.1.2. História do Caso

O primeiro caso retrata um cão macho com 6 anos, de raça Labrador, que surgiu à consulta na sequência de ter sofrido um ataque por parte de um outro cão, um Pastor Alemão macho, não açaimado, que circulava na via pública. O motivo da agressão permanece desconhecido. O animal já apresentava ficha clínica no Hospital. De acordo com a mesma e com o testemunho do tutor, não se verificaram dados clínicos pertinentes passíveis de induzir a suspeita de um problema médico na base do evento agressivo.

Aquando do exame clínico, o animal apresentava uma lesão compatível com uma mordedura, na parede torácica esquerda, próximo à coluna vertebral, que abrangia a pele, tecido subcutâneo e camada muscular (Figura 1).

Figura 1 – Caso Clínico 1. É visível a área de mordedura localizada na parede torácica esquerda.

3.1.3. Resolução do Caso

Sempre que ocorra história de agressão com mordedura na zona torácica do animal, é recomendada a realização de exame radiográfico da região torácica, com o objetivo de avaliar a existência e extensão das lesões, nomeadamente de uma possível ocorrência de pneumotórax que, caso se confirme, poderá colocar em causa a performance cardiorrespiratória e, inclusive, comprometer a vida do indivíduo. Por conseguinte, procedeu- se à realização do referido exame, em vista ventro-dorsal, cuja imagem está representada pela figura 2.

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Figura 2 – Caso Clínico 1. Radiografia simples (pré-cirúrgica) da região torácica. Vista ventro-

dorsal (Fonte: Imagem gentilmente cedida pelo Hospital Veterinário da Póvoa).

Após realização de exame radiográfico simples da área torácica, verificou-se uma imagem compatível com um pneumotórax associado a atelectasia, localizado na zona latero-terminal esquerda da região torácica. No entanto, o indivíduo não reportava dificuldades respiratórias que presumivelmente pudessem ter origem nesta observação. Procedeu-se à preparação cirúrgica do animal (Figura 3) para limpeza, desbridamento e encerramento da ferida.

Figura 3 – Caso Clínico 1. Preparação pré-cirúrgica. Após tricotomia. É possível visualizar a

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A figura 4 ilustra a sutura da região lesionada, após procedimento cirúrgico.

Figura 4 – Caso Clínico 1. Imagem pós-cirúrgica da área de mordedura (lesão suturada).

Aquando da alta, foi prescrita antibioterapia, uma associação de amoxicilina com ácido clavulânico, e meloxicam. O animal regressou, após uma semana, para a consulta de controlo pós-cirúrgico.

3.2. Caso Clínico 2

3.2.1.Identificação do Animal

Na tabela 2 estão representadas as características que particularizam o animal, no que respeita ao caso clínico 2.

Espécie Canis familiaris

Raça Cairn Terrier

Sexo Macho

Cor Beje

Idade 5 anos

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3.2.2. História do Caso

O segundo caso, resultante de um conflito agressivo com um outro indivíduo da mesma espécie, Canis familiaris, refere-se a um Cairn terrier, macho, de 5 anos de idade, que se apresentava acompanhado pelo seu tutor. Segundo este, o animal pertence a uma raça de cães que são, por natureza, muito possessivos. Relata que a agressão ocorreu com um dos cães da casa, um Golden retriever macho. O mesmo sugere que poderá tratar-se de um caso de agressão por dominância. Segundo a sua perspetiva, o Cairn terrier seria o cão dominante uma vez que o outro cão envolvido se caracterizava por apresentar um temperamento pacífico. No entanto, é relevante referir que, após a agressão, terá sido a diferença de portes entre os dois animais que resultou no padecimento de lesões por parte do animal presente à consulta, uma vez que um Cairn terrier possui um porte consideravelmente inferior ao de um Golden retriever.

O animal já apresentava ficha clínica no Hospital, a qual não contemplava informação relevante favorável a especulação de um problema médico na origem do conflito agressivo. Face ao relato do tutor, neste contexto, também não se obtiveram elementos consideráveis.

Aquando do exame clínico, foi possível constatar a laceração dos tecidos cutâneos e camadas musculares da região articular do cotovelo, no membro torácico direito (Figura 5).

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3.2.3. Resolução do Caso

Procedeu-se à preparação do animal (tricotomia e desinfeção da zona de mordedura) para limpeza, desbridamento dos tecidos afetados e sutura das lacerações, sob anestesia (Figuras 6 e 7).

Figuras 6 e 7 – Caso Clínico 2. Área de mordedura localizada no membro torácico direito (imagem à

esquerda); Imagem pré-cirúrgica (após tricotomia e desinfeção) da área lesionada (imagem à direita).

É de salientar que durante o procedimento cirúrgico, após desbridamento da pele, foi possível observar a laceração do tecido muscular da área afetada, com exposição da cápsula articular.

O animal recebeu alta com prescrição de antibioterapia, enrofloxacina, durante 5 dias, e indicação de lavagem da área com uma solução equivalente de água oxigenada e povidona- iodada e aplicação de uma pomada contendo a associação de sulfato de polimixina B e bacitracina de zinco.

3.3. Caso Clínico 3

3.3.1. Identificação do Animal

Na tabela 3 estão representadas as peculiaridades relativamente ao animal do caso clínico 3.

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Espécie Canis familiaris

Raça Caniche

Sexo Macho

Cor Preto

Idade 15 anos

Tabela 3 – Identificação do Animal (Caso Clínico 3).

3.3.2. História do Caso

O caso clínico 3 considera um Caniche macho, de 15 anos de idade, que surgiu à consulta de urgência, acompanhado pela sua tutora. Segundo a mesma, o animal havia sofrido um ataque por parte de um cão Pastor Alemão, macho, que se encontrava com o tutor na via pública, sem açaime e sem trela. A motivação para o ato da agressão é desconhecida.

Trata-se da primeira consulta do indivíduo no Hospital Veterinário, razão pela qual não apresentava ficha clínica. De acordo com a tutora, não foram referidos aspetos suscetíveis de alertar para um provável cenário médico inerente ao episódio agressivo.

Aquando do exame clínico, o animal não apresentava lacerações visíveis mas manifestava dor à palpação da região torácica. Era evidente a presença de flail chest, ao nível do lado direito da região torácica.

3.3.3. Resolução do Caso

Após história de agressão, com mordedura a nível da zona torácica do animal, é crucial a realização de exames radiográficos desta região para averiguar a possível existência de lesões internas que poderão comprometer a vida do animal. O fato de se constatar o fenómeno de flail chest aquando do exame clínico, é, também, um forte indicador da necessidade de realização de exame radiográfico, com o propósito de apurar eventuais fraturas de costelas. Neste sentido, este é um caso que ilustra a importância do exame radiográfico nas situações de mordedura uma vez que, apesar da aparente ausência de evidências externas de lesões, é possível observar um moderado comprometimento torácico interno. A figura 8 resulta da imagem radiográfica do animal, em vista lateral direita. Na mesma destaca-se a zona de fratura de uma das costelas.

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Figura 8 – Caso Clínico 3. Radiografia simples pré-cirúrgica. Vista lateral direita. É destacada a

zona de fratura () de uma das costelas fraturadas (Fonte: Imagem gentilmente cedida pelo Hospital Veterinário da Póvoa).

Procedeu-se, igualmente, à realização do exame radiográfico do animal em vista ventro- dorsal, após o qual foi viável constatar a fratura de três costelas - a sétima, a oitava e a nona - do lado direito da região torácica. A posição corporal do animal não totalmente centralizada com a linha média, no momento do exame, aliada a uma imagem resultante que carece de detalhe radiográfico, torna intrincada a apreciação concisa da mesma, a qual parece ilustrar um presumível enfisema subcutâneo de localização direita. No entanto, é inconclusiva a presença de pneumotórax e consequente colapso pulmonar (Figura 15).

O indivíduo foi internado, para estabilização, e medicado (cefazolina, meloxicam e tramadol). As situações de fratura óssea são bastante dolorosas. Apesar de estar sob ação de analgesia, foi difícil a manipulação do animal durante o internamento, chegando mesmo a manifestar sinais de agressão, possivelmente motivada pela dor.

Após estabilização e devida preparação do animal (Figuras 9 e 10), iniciou-se o procedimento cirúrgico para resolução das fraturas observadas no exame radiográfico. A cirurgia consistiu na incisão da parede costal, músculos oblíquos, exposição e alinhamento das costelas, tendo-se seguido a osteossíntese das zonas de fratura, recorrendo ao uso de fios de cerclage (Figuras 11, 12 e 16).

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Figuras 9 e 10 – Caso Clínico 3. Preparação do campo cirúrgico.

Figuras 11 e 12 – Caso Clínico 3. Procedimento Cirúrgico (exposição das costelas, imagem à

esquerda; osteossíntese das zonas de fratura mediante fios de cerclage, imagem à direita).

O procedimento cirúrgico foi finalizado tendo-se procedido ao encerramento da parede costal através de sutura (Figura 13). Na figura 14 pode visualizar-se o animal em recobro.

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Figuras 13 e 14 – Caso Clínico 3. Após cirurgia (é visível a sutura da parede costal, imagem à

esquerda; no recobro, imagem à direita).

Figuras 15 e 16 – Caso Clínico 3. Radiografias simples pré (à esquerda) e pós-cirúrgica (à direita).

Vista ventro-dorsal. Na imagem da esquerda é visível a fratura de 3 costelas (sétima, oitava e nona, do lado direito). Na imagem da direita verifica-se a fixação das fraturas por meio de fios de cerclage (Fonte: Imagens gentilmente cedidas pelo Hospital Veterinário da Póvoa).

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Aquando da alta foi prescrita antibioterapia (cefazolina). Após uma semana, o animal regressou ao Hospital Veterinário da Póvoa para a consulta de controlo pós-cirúrgico.

3.4. Caso Clínico 4

3.4.1. Identificação do Animal

Na tabela 4 estão representadas as características relativamente ao animal do caso clínico 4.

Espécie Canis familiaris

Raça Indeterminada (SRD)

Sexo Macho

Cor Preto (Com manchas castanhas)

Idade Sem Informação

Tabela 4 – Identificação do Animal (Caso Clínico 4).

3.4.2. História do Caso

O caso clínico 4 é respeitante a um cão de rua, macho, sem raça determinada (SRD). O mesmo apresentou-se ao Hospital Veterinário da Póvoa acompanhado por um voluntário de uma instituição protetora de animais, após ter sido alvo de um ataque por parte de outros cães de rua. Tratou-se de uma consulta de urgência, uma vez que o animal se encontrava gravemente lesionado, essencialmente ao nível da área cervical. É importante ter especial atenção quando a mordedura surge ao nível da região cervical, uma vez que há elevadas probabilidades de afeção de estruturas vitais, nomeadamente grandes vasos e traqueia, podendo mesmo ocorrer rutura das mesmas.

O animal não apresentava ficha clínica no Hospital. De acordo com o indivíduo responsável pelo mesmo, não foram referidos aspetos passíveis de permitir conjeturar tratar-se de uma condição médica associada ao ato agressivo.

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3.4.3. Resolução do Caso

O estado do animal era bastante grave, tendo sofrido paragem cardio-respiratória, facto que motivou uma intervenção cirúrgica de emergência. Após preparação devida do animal, procedeu-se à cirurgia, a qual se iniciou com a incisão e desbridamento da pele e camadas musculares afetadas da região cervical, com revelação da área traqueal. Após exposição da traqueia, foi possível observar-se a sua rutura parcial, evidenciada pelo fato de ser possível a visualização do tubo endotraqueal no interior da mesma (Figura 17).

Figura 17 – Caso Clínico 4. Procedimento Cirúrgico (após exposição da traqueia é possível

observar-se a rutura parcial e destaca-se parte do tubo endotraqueal no interior da mesma).

A rutura traqueal foi resolvida recorrendo-se a anastomose mediante sutura de tensão da zona de rutura (Figura 18), permitindo, desta forma, o restabelecimento da via aérea.

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Figura 18 – Caso Clínico 4. Procedimento Cirúrgico (é visível a sutura ao nível da zona de rutura

traqueal).

Posteriormente, realizou-se o encerramento da pele e tecidos musculares mediante sutura (Figura 19). Na figura 20 é possível observar-se o animal em recobro. O animal foi internado e devidamente medicado (amoxicilina/ácido clavulânico, enrofloxacina e meloxicam). A manipulação do animal durante o internamento implicou o uso de açaime, uma vez que exibia sinais de agressão.

Figuras 19 e 20 – Caso Clínico 4. Após cirurgia (é visível a sutura da área cervical, imagem à

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Aquando da alta, foi prescrita antibioterapia (amoxicilina/ácido clavulânico e enrofloxacina) e indicação de especial cautela com a manipulação da região cervical.

O animal regressou ao Hospital Veterinário da Póvoa, após uma semana da alta clínica, para uma consulta de controlo. A figura 21 representa uma imagem do mesmo na consulta clínica de controlo e nesta é possível observar-se a sutura, na região cervical inferior, e ligeiras lacerações resultantes das mordeduras de que foi alvo, na região cervical superior.

Figura 21 – Caso Clínico 4. Consulta de controlo pós-cirúrgico no Hospital Veterinário da Póvoa.

3.5. Caso Clínico 5

3.5.1. Identificação do Animal

A tabela 5 reporta ao conjunto de dados referentes à identificação do animal do caso clínico 5.

Espécie Canis familiaris

Raça Rottweiler

Sexo Fêmea

Cor Preto fogueado

Idade Sem Informação

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3.5.2. História do Caso

O caso clínico 5 retrata uma cadela de raça Rottweiler. A mesma surgiu à consulta uma vez que evidenciava lesões, algumas com secreção purulenta (abcessos), essencialmente presentes na face interna dos membros pélvicos e área inguinal, resultantes de mordeduras consecutivas por parte de outros cães, machos, da mesma raça, que com ela coabitavam numa fábrica. A evidência de lesões antigas, cicatrizadas, e de locas subcutâneas sugerem, possivelmente, uma recorrência e cronicidade do problema.

Não foi fornecida nenhuma outra informação por parte dos tutores relativamente à motivação para a ocorrência dos ataques.

O animal já apresentava ficha clínica no Hospital. De acordo com a mesma e com o relato do tutor, não se verificou informação significativa que justificasse a admissão de hipótese de conceber um problema médico na base da ocorrência da agressão.

3.5.3. Resolução do Caso

Previamente ao início do tratamento, procedeu-se à contenção e sedação adequadas do animal, condutas realizadas com o propósito de garantir a prevenção da mordedura dos intervenientes, possivelmente motivada pela dor. A contenção do animal consistiu na colocação de açaime e ligadura na região do focinho (figura 22).

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Uma vez asseguradas a contenção e sedação do animal, procedeu-se à tricotomia das áreas afetadas, as quais apresentavam localização predominante na face interna dos membros pélvicos e área inguinal, tal como ilustrado na figura 23. Nesta são, também, evidentes cicatrizes sugestivas de lesões antigas. Seguiu-se o tratamento das lesões com uma solução de povidona-iodada (espuma cutânea, 40 mg/ml). Após tratamento, foi colocado um colar isabelino para evitar a lambedura das áreas tratadas (Figura 24).

Figuras 23 e 24 – Caso Clínico 5. Limpeza e desinfeção das lesões (imagem à esquerda); Após

tratamento, com colar isabelino (imagem à direita).

O animal ficou internado pelo período de uma semana e foi medicado com amoxicilina/ácido clavulânico, metronidazol e meloxicam. Aquando da alta foi prescrita antibioterapia, mantendo-se a mesma administrada durante o período de internamento.

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