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Sequelas Apresentadas pelos Indivíduos nos Casos Clínicos de Agressão

4. Discussão dos Casos Clínicos Apresentados e Considerações Gerais

4.6. Sequelas Apresentadas pelos Indivíduos nos Casos Clínicos de Agressão

No que se refere ao subcapítulo em questão, é importante demarcar que os animais apresentavam-se à consulta após o ato de agressão já ter sido consumado, com o propósito de receberem tratamento para as lesões resultantes.

Relativamente aos casos clínicos decorrentes de agressão entre cães que ocorreram durante o período de estágio curricular, é possível denotar as áreas corporais afetadas para os vários animais observados: a região cervical - caso clínico 4, os membros torácicos - caso clínico 2, a região torácica - casos clínicos 1 e 3 e, por último, a região inguinal e membros pélvicos – caso clínico 5. Apesar de reduzido o número de casos documentados, é possível inferir que há já uma determinada variedade no que respeita à circunscrição dos traumatismos infligidos. A região torácica é a zona que representa uma percentagem relativa superior – 40% - de entre as que foram assinaladas – 20% (Gráfico 8).

Gráfico 8 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa, com

origem na agressão entre cães, segundo a localização corporal das lesões decorrentes do conflito agressivo (RC (Região Cefálica) versus RCv (Região Cervical) versus MT (Membros Torácicos) versus RT (Região Torácica) versus RA (Região Abdominal) versus MPRI (Membros Pélvicos e Região Inguinal)).

É de notar que para as regiões cefálica e abdominal, em particular, não há registo de danos apreciados. No entanto, estas são, também, regiões que frequentemente constam das localizações documentadas na sequência de um episódio agressivo entre dois ou mais cães. A figura 25, respeitante a um caso subsequente de agressão entre dois pit bull’s – raça considerada potencialmente perigosa em Portugal – e um caniche, ocorrido no Hospital

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Veterinário da Póvoa, no período antecedente ao de estágio curricular, traduz a viabilidade de lesão da região cefálica num cenário de agressão entre cães.

Figura 25 – Lesão evidente da Região Cefálica de um Caniche

(Fonte: Imagem gentilmente cedida pelo Hospital Veterinário da Póvoa.).

Os animais assistidos exibiram traumatismos diversos, desde lacerações várias até casos de gravidade superior. Foram dois os casos em que ocorreu dano da zona torácica – casos clínicos 1 e 3. Sempre que ocorra história de agressão com mordedura da área torácica do animal, é recomendada a realização de exame radiográfico desta região, com o objetivo de avaliar a existência e extensão das lesões, nomeadamente de uma possível ocorrência de pneumotórax que, caso se confirme, poderá comprometer a performance cardiorrespiratória, colocando em risco a vida do indivíduo. A imagem radiográfica traduz compatibilidade com a presença de pneumotórax associado a atelectasia para o animal do caso clínico 1. Contudo, no que concerne ao indivíduo do caso clínico 3, não existe base concludente para tal observação. É legítimo afirmar que há uma gravidade superior no que importa ao quadro do animal referente ao caso clínico 3 pois, para além das lacerações superficiais dos tecidos da região torácica, tal como comprovado para o indivíduo do caso clínico 1, este apresenta, ainda, laceração profunda do tecido muscular e fratura de três costelas – costelas 7, 8 e 9 – facto este atestado aquando da cirurgia torácica. No que compete ao animal considerado era também evidente a presença de ’flail chest’, ao nível do lado direito da região torácica, condição esta que se caracteriza por uma respiração paradoxal do animal. É imperativo observar que, apesar de ter sido constatada, aquando da realização do exame clínico, a presença de ‘flail chest’ na parede costal direita e tendo-se confirmado, após exame radiográfico, a existência de apenas uma fratura por costela em três costelas subsequentes, a literatura refere que o fenómeno de ‘flail chest’ decorre de trauma torácico que contemple um mínimo de duas fraturas por costela de duas ou mais costelas adjacentes. No entanto,

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após consultar alguns especialistas, nomeadamente da área da cirurgia, foi-me exposto que o termo ‘flail chest’ traduz um cenário de ‘tórax instável’, não sendo requisito obrigatório a ocorrência de duas ou mais fraturas em duas ou mais costelas subjacentes para que se produza a condição referida. Um dano considerável da parede torácica, que compreenda mormente lesão significativa de tecido muscular aliado a fratura óssea (ainda que somente uma fratura contida em cada costela), poderá ser suficiente para originar uma aparência de movimento paradoxal respiratório pelo facto de ser gerada uma área particular em que se verifique insuficiência de suporte razoável da região contundida face aos tecidos contíguos.

Relativamente ao caso clínico 4, no que se refere à localização corporal das lesões, asseverou-se traumatismo significativo da área cervical. O animal apresentava rutura traqueal, realidade esta passível de ser certificada aquando da cirurgia da região cervical. Era evidente o posicionamento do tubo endotraqueal no interior da traqueia, previamente ao desbridamento das estruturas danificadas. É importante referir que é essencial ter especial atenção quando a mordedura surge ao nível da região cervical, uma vez que há elevada probabilidade de afeção de outras estruturas vitais, para além da traqueia.

Perspetivando a generalidade dos casos expostos, os casos clínicos 2 e 5 poderão ser individualizados como aqueles que supõem um menor comprometimento da integridade orgânica do animal. O caso clínico 2 configura uma situação de laceração de um dos membros torácicos, com exposição da cápsula articular, e o caso clínico 5 reporta um cenário de cronicidade de lesões cutâneas e musculares dos membros pélvicos e área inguinal.

Desta forma, é possível depreender que, no que concerne à severidade das lesões consequentes testemunhadas, existe uma considerável diversidade, nomeadamente: laceração de tecidos cutâneos e musculares, fratura de costelas (com indício de pneumotórax) e rutura traqueal.

É relevante a noção de que, por vezes, os animais que se apresentam à consulta são aqueles que poderão ter despoletado o ato de agressão. No entanto, os indivíduos de porte inferior são aqueles que, muitas vezes, apresentam as lesões mais graves, necessitando, por este motivo, da assistência médica.

Importa referir que nenhum dos casos culminou com a morte dos animais acolhidos (Gráfico 9).

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Gráfico 9 – Proporção de casos observados em consulta no Hospital Veterinário da Póvoa, com

origem na agressão entre cães, segundo a ocorrência de óbito do animal acolhido (COA (Com Óbito do Animal) versus SOA (Sem Óbito do Animal)).

A tabela 6 representa uma composição de todos os dados recolhidos no que respeita aos casos clínicos presenciados no âmbito do período de estágio curricular, no Hospital Veterinário da Póvoa.

4.7. Tratamento dos Indivíduos Acolhidos dos Casos Clínicos de Agressão