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5.2. RESULTADOS QUALITATIVOS DOS QUESTIONÁRIOS E DAS

5.2.2. CATEGORIA 2: A BNCC COMO DOCUMENTO ORGANIZADOR DO

Na categoria “A BNCC como documento organizador do currículo”, foi possível identificar alguns enfoques: os impactos causados pela BNCC; primeiras impressões; as críticas ao documento; os elogios ao documento e os indicadores do próprio documento que mostravam como o documento interferiu e influenciou no entendimento da organização curricular.

Considerando que perguntas abertas do questionário também foram categorizadas junto às narrativas das entrevistas, a pergunta “como a BNCC interfere sobre a organização curricular da educação infantil” também foi contemplada nesta categoria.

Nos impactos causados pela BNCC, que possuem relação com a organização curricular, as narrativas dos professores apresentaram as seguintes observações: dúvidas, confusões, medos e insegurança.

Medo! .... Parecia que ia mudar tudo ..., tudo muito diferente. Achei que a linguagem que ela veio parecia que era um Bicho de Sete Cabeças aquilo.

Parecia que nós até então tínhamos trabalhado errado, agora muda tudo de novo. Trabalhamos errado e agora? Muda tudo de novo. Essa era a impressão. Como é que nós vamos fazer? Qual é o campo? Qual é o objetivo?... Ah! Primeiro, ela desconcerta a gente, né? Sem saber se é certo, sem saber se é errado, o que que eu vou fazer? (LUMA PE)

Oh, assim... como professor foi medo. Porque a gente por mais que... pelo tamanho do documento que é, e a da importância que ele tem, e do jeito que surgiu, como surgiu, não houve... eu não recordo tá. Não houve nenhum tipo de... “Vamos conversar sobre isso? ” Lá em 2017, eu não recordo se houve, eu não fui chamado. Então causa um pouco mais de medo como surgiu; que eu acho que surgiu do nada e, a meu ver surgiu do nada, deveria ter sido chamado os professores...não sei quem chamou ou quem conversou. (LIAN PE)

A sensação é de que: quando a gente tá dominando uma forma de trabalhar, muda. E aí a gente tem que reaprender tudo de novo. Então é uma insegurança na verdade (BRUN PE)

Nesse recorte oferecido pelo primeiro item dessa segunda categoria, é possível observar com certa precisão os dilemas desorientantes vivenciados pelos professores, mostrando uma forte inquietação com a mudança proposta. Observa-se que até a nomenclatura utilizada na BNCC é considerada estranha e pouco usual aos professores, não fazendo parte do discurso profissional, que ainda confunde campo de experiências com campos de objetividade, que poderiam ser identificados como os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Como apresentado pela professora Lucia.

Era muito confuso esses campos de experiência com esses, campos de objetividade..., era muito confuso até entender como eu ia partir, iniciar para trabalhar as atividades, ...foi muito confuso. (LUCIA PE)

Assim, um discurso distante do usualmente conhecido e utilizado pelos professores

transmite uma estranheza no que se pretende como ação, sugerindo que a prática realizada não está adequada, enfraquecendo a experiência e os saberes construídos com o tempo de vida profissional dos professores causando insegurança, desconforto e angústias. Isso dificulta a reorganização curricular e como os professores se relacionam com essa nova proposta de conhecimento como reorganizador de sua prática educativa.

Também foi possível perceber um certo desconsolo e incerteza gerado por suspeita de que a atuação anterior não tenha sido adequada, acrescida de uma certa angústia sobre novas mudanças, gerando insegurança sobre o entendimento e a realização da ação até então, e desencadeando sentimento de que se estava fazendo tudo errado. Acrescenta-se ainda uma forte sensação de não conseguir atender as exigências reforçando e retomando o sentimento desorientante que pode potencializar o processo de reflexão e de esquemas já desenvolvidos ou pode gerar resistências.

Então naquele momento eu fiquei um pouco angustiada, por quê? Faz muito tempo que eu dou aula, então a gente passou por muitas coisas, construtivismo e tal.... Então assim, a gente passou por muitas fases, né?

Muitas mudanças. Aí o que veio na minha cabeça? Vai mudar de novo? Né?

Será que vai ser para melhor? Então foram esses questionamentos que vieram na minha cabeça. (GIRASSOL PE)

Foi essa sensação mesmo.... É agora vai ter que mudar tudo! Tudo o que eu faço então tá errado? e... Ainda além da gente procurar saber mais sobre a BNCC ainda veio “N” dúvidas, tá. Então na hora de preencher aqueles objetivos longos, .... Eu preciso colocar tudo isso? Mas isso que tá aqui: nesse objetivo, nessa descrição do objetivo, não se encaixa nessa atividade que eu quero dar. (LUMA PE)

Ah ... os primeiros contatos mais profundos dão uma sensação de... “Meu Deus não vou dar conta”. (BRUN PE)

Pensei que ia mudar de novo, tudo aquilo que a gente já estava acostumada.

E porque é um desafio né? Porque quando a gente está aprendendo muda.

Dominando, né? Quando a gente domina muda. (BRUN SE)

Mas no início assustei! Eu pensei: “Nossa, vai mudar muito meu jeito de trabalhar? Será que eu vou conseguir? Ai! Acho que vai ser meio

complicado…”, entendeu... no início a gente tem um choquinho… Eu achei que ia ser difícil. Para pegar... para tudo. (ANDREIA PE)

Os impactos iniciais também causam um certo descaso e indiferença por parte dos professores em relação à BNCC, por se sentirem sempre à parte das políticas educativas e também por considerarem as mudanças muito frequentes e sem continuidade. Também por entenderem que o processo, com o qual a BNCC está sendo implementada como organizadora do currículo, ignorou os conhecimentos e necessidades dos professores, dificultando a incorporação e a aceitação da mesma.

Estou sendo bem franca mesmo! Como início parecia ser apenas uma conversa, não era uma coisa que estava próxima, isso não mexeu muito comigo. Isso não vi… como dizer… mais ou menos assim… não imaginei realmente que isso fosse chegar, que isso fosse mudar a questão de educação infantil. (TINHA PE)

BNCC, de novo vai mudar a estrutura? Porque a gente começou lá atrás com o Profa., antigo Profa. Meu Deus vai mudar tudo de novo? Era isso que se perguntava.... Foi aquela angústia. Como eu vou enfiar na minha cabeça aquela... alfanumérica. A educação infantil numa sequência numérica e o que ela representava. Aí eu entendia de um lado, e a pessoa que passava a BNCC para a gente entendia de outro, aí... já viu né? (LUCIA PE)

A gente tinha saído do trabalho com o PNAIC44, lembra? E sinceramente eu achei que fosse também mais uma coisa assim que … quê … Não teria continuidade pensei que fosse uma... coisa de moda, que não teria..., a gente acaba até pensando nisso infelizmente né? Que seria uma mudança de governo e que não iria vingar, podemos dizer assim, que não iria para frente ... Pensei isso né, que não iria para frente. (MI PE)

A maior mudança de na educação infantil eu acho que a ideia seria de uniformizar o ensino. Em qualquer escola que a criança frequente ela vai ter a mesma oportunidade né? Só que eu não sei se isso na prática realmente funciona. Como eu te disse aqui, essa questão burocrática as vezes a pessoa faz muito bonito, né? O caderno, o planejamento, mas na prática nem sempre é assim. Então às vezes tentar forçar uma coisa nesse sentido não vai resolver de fato. (BRUN SE)

É possível identificar uma outra reação provocada por essa mudança curricular determinada, o descrédito. Pois, como as angústias iniciais foram ignoradas ou minimizadas com a ausência de discussões esclarecedoras e, com o oferecimento de materiais mais próximos

44 Programa Nacional da Alfabetização na Idade Certa - Projeto oferecido pelo MEC e desenvolvido em 2017/2018, nesta rede de ensino.

de orientação pedagógica, do que de reflexão sobre o processo que favorecessem o entendimento, muitos professores se reportaram a propostas acontecidas anteriormente na história da política curricular da educação infantil.

Mudanças como as provocadas pelas DCNEI, que trouxeram no bojo os RCNEIs propostas locais que incentivavam a utilização de projetos disciplinares, a transferência das crianças de seis anos da educação infantil para o ensino fundamental e o PNAIC para educação infantil, que por falta de uma maior clareza e reflexão chegaram muito timidamente na atuação dos professores, em sua prática educativa com as crianças na educação infantil.

Existe ainda um sentimento de relutância ou hesitação em acordar com as propostas da BNCC como organizadora do currículo, em consequência de toda uma história de reflexões e avanços e, até em alguns momentos, por não se ter clareza da proposta da BNCC.

Ah! Eu acho que desconstruiu um pouco. Desconstruiu um pouco daquilo que a gente já estava acostumada, ainda assim eu fico um pouco relutante porque eu não acho que tuuudo (escandindo a palavra quando pronuncia) tem que ser dessa forma, tem algumas coisas importantes que ficam perdidas na BNCC. É ...muito lúdico, lúdico, lúdico, mas eu acho que a criança também tem que aprender a escrever, a segurar no papel, etc. E parece que meio que tem uma abominação... “a criança não pode mais”... E eu acho que tudo é uma questão de equilíbrio. (BRUN PE)

Depois a gente vai se aprofundando, melhorando, por isso que eu acho legal estar sempre na mesma faixa etária. Só que a hora que a gente tiver assim, será que vai mudar de novo? Até porque a gente sabe que essas mudanças também é uma coisa bem política, né? Parece que cada um quer fazer do seu jeito pra mostrar que é melhor ou sei lá. É... (BRUN PE)

Então, a princípio eu não sou uma pessoa resistente a mudança, eu vou atrás, eu busco, coloco as vezes a minha posição: “Ah é legal” ou “não, tal...”, mas a princípio eu fiquei um pouco apreensiva. Pelo fato de estar muito ligada ainda as questões do que a gente vinha falando anteriormente do LAPEI45, do “Cresça e Apareça’’46, aquilo ... eu me identifiquei muito naquela questão do Cresça. A princípio eu já falava: “Como eu vou mudar? ”. Na minha cabeça eu teria que mudar completamente, né? Entendeu? Então, a princípio eu fiquei um pouco na defensiva, porque eu não queria mudar o que eu penso. Assim quando li eu entendi a BNCC como currículo, na hora que

45 LAPEI é a sigla do Laboratório Pedagógico da Educação Infantil, um grupo de apoio técnico de formação continuada.

46 A professora se refere ao trabalho formativo do projeto “Cresça e Apareça”, realizado entre 2013 e 2017 com a constituição do LAPEI – Laboratório de Práticas Pedagógicas da Educação Infantil. Esse trabalho foi realizado em parceria com a UNESP de Araraquara, sob a coordenação da professora Eliza Maria Barbosa e a equipe técnica de Educação Infantil. Esse laboratório contava com a presença de professores de educação infantil, com assistentes educacionais da creche e da recreação. Tendo como base a THC (Psicologia histórico cultural e Pedagogia histórico crítica), atuando também no levantamento e na avaliação das práticas educativas desenvolvidas nas instituições e educação infantil da rede municipal, com o desenvolvimento e a elaboração de atividades para serem desenvolvidas com as crianças nas instituições educativas, desenvolvendo novas práticas orientadas pelo princípio da intencionalidade, com orientações e formações continuadas para os profissionais e educadores da rede.

eu li a princípio pensei. “Mas como assim não é o currículo? Vai ter mais alguma coisa? Para eu...”. Talvez, eu não tivesse entendido, e agora com esse tempo maior, lendo mais sobre o assunto.... Não sei se foi só comigo esse espanto, mas a minha resistência veio disso, da falta de informação. (JULIA PE)

A gente trabalha dentro de uma faixa etária a gente está até fazendo a revisão disso nesse momento… Mas tá faltando alguma coisa, porque às vezes a gente vai trabalhar uma sequência de ... uma sequência didática de atividades, a gente começa a perceber... Então está um pouco ainda... Falta alguma coisa… Falta! Estamos percebendo isso agora que a gente tá assim ... que teve a prática de fazer essas atividades, que tem atividade que não se encaixam (ISADORA PE)

A relutância ou hesitação analisada leva a questionar se não está existindo uma dificuldade maior e anterior sendo que a dificuldade em pauta está em definir o que é o currículo da educação infantil. Pois, se a visão do currículo por parte dos professores ainda for a tradicional, a de listagem de conteúdo, tão propagada em momentos anteriores da história do currículo da educação infantil, entende-se a dúvida e o questionamento dos professores. Ainda é importante considerar quais espaços e que momentos de reflexão os professores da educação infantil pesquisados tiveram para discutir e refletir sobre o currículo dessa etapa educativa.

Será preciso ter clareza da definição de currículo que a rede e a escola adota. Gimeno Sacristán (2000) propõe a ideia de currículo como a de seleção em várias dimensões: cultural, social e política, e para fazer essa seleção precisa-se saber qual objeto e qual intenção. Tendo a percepção de que todas as intenções, organizações e ações fazem parte do currículo.

Outro fato desfavorável identificado é que nas orientações oferecidas aos professores, essas se traduzem em listagens de conteúdos com algumas outras informações, reforçando a visão tradicional de currículo. Fato agravado pela falta de discussão sobre o significado e a intenção da nova organização curricular.

É importante acrescentar que há sempre uma grande preocupação com a continuidade do processo e com o “dever” de ensinar. Os professores se sentem inseguros com as mudanças e temem pelo fracasso da atuação educativa na educação infantil.

Sentimentos diversos parecem aflorar nesse momento na prática cotidiana dos professores provocando tensões e aprendizagens em contextos não tão favoráveis. Nesse sentido, a possibilidade de discussão é restrita. No conjunto de sensações e necessidade de tomadas de decisões, os professores são cobrados a adquirir rapidamente novos conhecimentos profissionais e ainda tentar manter um equilíbrio profissional e pessoal num período de tempo exíguo.

Fica retratado o que Perrrenoud (2001) colocou em seu livro Ensinar, agir na urgência e decidir na emergência constatando a complexidade da profissão docente. Para Perrenoud (2001, p. 15-16);

Agir na urgência é agir sem ter tempo de pensar e, ainda menos, de pensar longamente os prós e os contras, de consultar obras de referência, de buscar conselhos, de adiar a ação para identificar melhor os parâmetros da situação e considerar melhor as diversas possibilidades. Decidir na incerteza significa decidir como se estivéssemos jogando pôquer, apenas com o feeling, pois não há dados nem modelos da realidade disponíveis para permitir calcular com certa certeza o que aconteceria se...

A definição apresentada sinaliza, objetivamente, que enfrentar a multiplicidade de questões do contexto atual exigiria, constantemente, dos professores a mobilização rápida e imediata de competências para a resolução de problemas sobre os quais não se tem nenhum controle prévio. Por isso, se faz necessário uma formação que proporcione reflexão e segurança aos professores, de como exercer da melhor forma sua ação educativa. É uma sociedade que exige dos profissionais permanentes atividade de formação e aprendizagem (MARCELO GARCIA, 2009).

Na sequência das narrativas, foi possível também identificar posições favoráveis a BNCC por considerar que o documento poderia proporcionar reflexões e possibilidades de avanço no atendimento à educação infantil para alguns municípios, estes que ainda prestam um atendimento a essa faixa etária, porém, com práticas voltadas ao modelo assistencialista (práticas de cuidado e com poucas preocupações educativas). A esperança é que a construção desse documento pudesse ser uma referência de iniciativas e de processos de construção de políticas curriculares de êxito contribuindo para a melhoria e a equidade da qualidade da educação infantil no Brasil, como aponta o relato da professora Laura no questionário.

A educação infantil ainda não se fortaleceu enquanto etapa de ensino. Desse modo, em muitos municípios as práticas ainda são assistencialistas e não intencionais, assim, um documento que traga orientações e apontamentos mínimos para os currículos desses municípios causará interferência.

Entretanto, há municípios, como o de AAA, que já tinham uma proposta curricular muito mais desenvolvida, de modo que a reorganização a partir da BNCC, significou um retrocesso, causando também interferência. (LAURA QUESTIONÁRIO)

Foi identificado que alguns professores expressaram sentimentos de esperança trazidos pelo início da divulgação da BNCC, como o reconhecimento maior da educação infantil dentro da política e do cenário educacional nacional.

A gente comentava que seria para melhor, um Norte melhor, uma maneira né de organizar mais… De... de uma maneira mais profissional, mais nesse sentido de toda educação estar... e as faixas etárias estarem trabalhando da mesma forma, o mesmo currículo, o mesmo direcionamento, então a criança não teria perdas se ela está num lugar e ela pede uma transferência ela não vai estar perdendo o conteúdo nem nada. E isso eu achei sensacional. Mas foi no início. (ANDREIA PE)

[...]eu até cheguei a pensar por esse lado assim, dessa maravilha de unificar porquê ... porquê ... eu já estava muito feliz trabalhando aqui. (AC SE) E finalizando o primeiro enfoque dessa segunda categoria sobre os impactos causados pela BNCC, os resultados indicaram ambiguidade. Por um lado, se reconhece a dificuldade e o desconforto da proposta, porém por outro também se identifica as necessárias mudanças e orientações que o documento preconiza. É importante destacar que a ambiguidade também é observada no próprio documento da BNCC. Quando aborda a ludicidade como desenho curricular e ao mesmo tempo apresenta os Campos de Experiência, como alternativa às áreas de conhecimento tradicionais, fica ausente uma explicação e reflexão mais aprofundada incluindo a relação entre ambos (Campos de Experiência e Ludicidade).

Outra incerteza é gerada quando se observa a asserção de que a BNCC não é currículo, mas sim um indicativo de conhecimentos e competências para a formulação do currículo. E também quando apresenta no final da parcela do documento destinado à educação infantil, uma síntese das aprendizagens para a transição para o ensino fundamental, uma síntese em relação aos direitos de aprendizagem (BRASIL, 2017, p.51-53).

Disso decorre que, mesmo propagando que a educação infantil não tem caráter promocional para o ensino fundamental, espera-se dessa criança e dessa etapa educativa as condições favoráveis para a transição. A proposta de que todo o processo educativo e de desenvolvimento e não somente a etapa de transição, seria necessária ao processo de continuidade educativa dessa criança, definiria melhor a função e a característica da educação infantil. Entende-se assim, a necessidade de reforçar as especificidades do processo educativo da primeira infância, como uma sequência educativa própria, e não subjugado às etapas subsequentes.

Ah! Primeiro, ela desconserta a gente, né? Sem saber se é certo, sem saber se é errado, o que que eu vou fazer? Mas, depois eu acho que ela ainda vai trazer essa mudança que deu aquela sacudida e isso fez também com que procurasse mais para amadurecer no trabalho para buscar mais informações.

(LUMA PE)

Eu fiquei até com uma impressão romântica quando eu ouvi pela primeira vez, por que fiquei imaginando: “Nossa quer dizer que a partir de agora acabou a bagunça. Então do norte do Brasil no Nordeste ou no Sul todo

mundo vai falar a mesma língua, não importa se eu tenho um filho que vai estudar numa aldeia ou dentro de uma sala de aula, ou no outro estado, eles vão aprender a mesma coisa, a base é a mesma, o que vai mudar é a parte regional”. Eu fiquei encantada com a proposta. Mas, foi assim... 15 minutinhos e só. Na prefeitura eu não cheguei a ouvir. Se eu ouvir não me lembro, para dizer a verdade. (AC PE)

Quando se falou em BNCC no primeiro momento, antes de conhecer o documento o que eu pensei: "É uma Base Nacional Curricular Comum para educação infantil" a gente tem um problema na educação infantil não ser vista como etapas escolar ainda então naquele primeiro momento me deu uma certa animação, “Olha que legal, vamos fazer um documento para todos os níveis e tão colocando a educação infantil aí” Olha, isso aí é legal. ” Só que quando eu vi o tamanho do documento eu pensei:" Como?" (Risos.) Como eles estão propondo uma base para educação infantil num documento tão pouco desenvolvido né. Então, foi um sentimento meio que ambíguo, ao mesmo tempo que eu fiquei empolgada porque estava vindo um documento para orientar, eu fiquei um pouco decepcionada com o pouco desenvolvimento do documento. (LAURA PE)

Essas ambiguidades descritas no próprio documento confundem. Porém, a ideia de responsabilidade profissional e de obrigatoriedade do documento leva os professores a terem diferentes formas de considerar as questões propostas. Isso faz com que os professores busquem ações anteriores que julguem se encaixar na proposta, em outros momentos abandonem as buscas, se fortalecendo em ações já conhecidas e experienciadas ou buscando novas propostas e novas formas de atuação.

Uma fala que se sobressai é a do professor Lian que traz a importância da BNCC como relevante, uma vez que atua como diretriz. Mas a ideia de ambiguidade está presente quando sugere que a própria BNCC pode ser um limitador, pela sua forma simples e elementar para alguns professores que já atingiram uma nova forma de atuação docente na educação infantil, entendendo a singularidade da ação educativa na infância.

E acho que ela (BNCC) é muito importante para dar uma diretriz aos docentes, ao mesmo tempo ela traz uma perspectiva muito mínima. Então tem muito professor que eu vejo, que faz muito mais do que pede lá, então pode se pegar ela de muleta, alguns docentes e podem se acomodar em cima do que pede, “Ah! Então pede isso? Eu vou trabalhar só isto” entendeu? Por um lado, eu acho que ela é uma base importante. Enfim, então ela é para mim uma balança (faz o gesto de dois pratos equilibrando numa balança): ela é importante se a gente olhar para uma escola mais... mais... que precisa desse referencial, e para uma escola que está a um nível acima, que a gente tem algumas aqui, né? Que a BNCC acaba trazendo para baixo, né.

Deu um Norte no sentido de temos que seguir isso. Porém que é uma perspectiva muito generalista e minimalista. (LIAN PE)

Ainda, ao que concerne a BNCC como documento organizador dos currículos, incluindo da educação infantil, várias críticas são feitas ao documento. Essas críticas se alternam entre os pressupostos de fragilidade do documento, como: texto muito reduzido, insuficiência de informações, falta de clareza, confusão entre o já existente e o proposto, assim como a forma impositiva de sua implementação. Ainda é possível salientar a ausência de informações ou orientações claras. Nesse sentido, destaca-se a narrativa destes participantes em relação à BNCC na educação infantil e as evidências de um documento mínimo, com fragilidade nas propostas e sem uma fundamentação clara. Ou seja, a indicação de se constituir em um documento resumido e econômico, que deixa a desejar.

É uma diretriz básica importante, porém muito distante de um diálogo com os docentes, e por vezes uma perspectiva muito mínima e generalista. Dando margem para um esforço mínimo do professor para atingir o solicitado pela BNCC. (LIAN QUESTIONÁRIO)

A única coisa que a gente tem de real é o documento do MEC, que é bem reduzido, restrito. E você tem que ir lendo aqui, buscando ali,... uma revista...

E tem muita pouca fonte sobre a BNCC. Hoje a única coisa segura que tem é o MEC, se tá no MEC é oficial, é deles, é do governo ... mas é muito pouco.

(LUCIA PE).

Se eu entrar na internet eu não consigo nada, não vejo nenhuma pesquisa sobre o assunto até hoje. ... Ah, eu acho que eles poderiam explorar melhor a parte da educação infantil, né? Porque ela é uma parte muito pequena diante do tamanho do documento.

Eu sei que na educação infantil também a gente tem alguns livros, os livros hoje estão voltados pra BNCC, mas mesmo assim eu acho que é... é muito pouco. Então eh... seria melhor se a documentação fosse um pouco mais completa nesse sentido. (AC SE)

Num tem um leque grande de opções então por mais que eu queira, por mais que eu queira entender mais do assunto eu não tenho onde procurar, é isso que eu me sinto, é essa angústia que eu tenho o documento da BNCC não fornece muitas informações. Ah eu acho que é muito amplo então... eu acho que ele é bem formulado, eu acredito nisso. Mas eu acho ele muito amplo, é muito abrangente. Então, eu gostaria que fosse uma coisa mais simples. Certo? (GIRASSOL SE)

A fala da professora Girassol parece colocar a questão da amplitude como algo genérico, sem definição e a sua expectativa em relação ao documento ser algo mais próximo da prática.

Já a narrativa da professora AC, no excerto abaixo demonstra que além da falta de informação, a possibilidade de ampliação do que se tem para consulta parece ser sempre a mesma mensagem que consta do documento original, sem um desenvolvimento maior dos conceitos trazidos pela BNCC:

Eu comecei a procurar, até pelo próprio documento, para ver se tinha alguma coisa além... que estava perdida.... Falei bom: “eles me deram um recorte.