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Os questionários eletrônicos (online) utilizados nesta pesquisa foram admitidos como uma proposta ao questionário presencial, situação que foi alterada por força da situação social e de saúde coletiva causada pela pandemia pelo COVID-19.

Os 42 questionários aplicados possibilitaram uma visão e detecção geral do tema pesquisado. Possibilitou também a escolha dos participantes, seguindo os critérios de inclusão.

Dessa forma, essa atividade realçou as impressões iniciais sentidas e percebidas pelos professores como: os aspectos positivos da BNCC, os aspectos negativos, as percepções conflitantes e angustiantes com a ação já desenvolvida e a falta de relação mais pessoal com a BNCC. Permitiu também uma identificação prévia das interferências provocadas pela BNCC na prática educativa.

Esse levantamento inicial foi fundamental para a organização posterior oferecendo um plano de fundo onde se sustentou a análise mais detalhadas dos dados. Os questionários aqui descritos, ou seja, derivam da totalidade dos questionários aplicados. Dos 42 questionários recebidos inicialmente, foram destacados 14 referentes aos sujeitos da pesquisa que pertencem as escolas selecionadas.

Os questionários destacados foram selecionados levando em consideração os professores que atenderam a solicitação de responder ao questionário e também realizar as entrevistas. Além de pertencerem a escolas selecionadas, uma vez que parte dos professores que responderam ao questionário pertenciam a outras escolas que, naquele momento, não possuíam os mesmos critérios de inclusão elencados anteriormente como, por exemplo, não possuírem a presença do professor coordenador ou a presença de um grupo de professores estáveis.

Os dados coletados, portanto, a partir do questionário geral serviram para um levantamento de como os professores percebem a BNCC evidenciando concepções e entendimentos gerais, que foram mais detalhados nas entrevistas.

De acordo com as narrativas dos participantes, não houve dificuldade no uso dos questionários eletrônicos durante a coleta dos dados. Algumas intercorrências foram apontadas,

como problemas em manter-se conectados à rede eletrônica em alguns locais ou a validação do link num primeiro momento, as quais foram sanadas e os dados coletados.

Vale destacar que a impessoalidade do uso de meios eletrônicos não impediu a possibilidade de contato entre o participante e o pesquisador, preservando o distanciamento social exigido na época e as devidas precauções, uma vez que a utilização dessa ferramenta foi apenas um meio de auxílio na obtenção de dados empíricos para a pesquisa.

O questionário foi composto por quatro seções (identificação, tempo de atuação, a BNCC como documento regulador e os saberes docentes). De início, foram coletados os dados de identificação pessoal (nome, e-mail, telefone para contato e escola em que atua).

Na segunda seção, referente ao tempo de atuação na educação infantil da rede municipal, obteve-se a seguinte informação:

Até 3 anos de atuação: 7,1%

Mais de 5 anos de atuação: 64,3%

Com mais de 15 anos de atuação: 28,6%

Esses dados possibilitam identificar que os professores participantes da pesquisa compuseram um grupo com experiência na atuação docente. Apresentando uma porcentagem significativa de professores com mais de cinco anos de atuação docente. Essa afirmação demonstra que grande parcela dos professores, pelo período de sua formação inicial – mais de 5 anos de atuação, teve pouca ou nenhuma oportunidade de discutir a BNCC em seus cursos de graduação provocando uma necessidade e dependência de formações e discussões em situação de formação continuada.

A posição da ANPED sobre o texto referência – DCN e BNCC para formação continuada de professores da educação básica, com o título “Uma Formação Formatada”

(ANPED,2019) destaca a necessidade de uma ação formativa continuada, além de outras necessidades. Apontando que a ausência de formações e consequentemente de reflexões é um reducionismo “da prática pedagógica e, se os resultados das pesquisas até aqui desenvolvidas estiverem certos, esse reducionismo coíbe o desenvolvimento da autonomia dos professores e seu desenvolvimento profissional.” (ANPEd, 2019, p.13)

Outra associação educacional do país, a ANFOPE – Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação se manifesta contrariamente e alega em sua Nota de Posição sobre a BNCC que, “rejeitamos a implementação de uma BNCC dissociada das demandas formativas e realidades locais’(2018, p. 3).

Essas posições somadas a autores como Nóvoa (2019) e Jacomini e Penna (2016) defendem a necessidade de uma formação continuada que atribua condições ao professor para

as novas funções da escola e dos movimentos educativos, num processo constante de desenvolvimento profissional. Oportunizando o aprofundamento de conceitos e conhecimentos que amplie a possibilidade de análise da prática educativa e, que contribua com o desenvolvimento profissional do professor e da escola em que está inserido.

A terceira seção do questionário inicia com a questão de como os participantes ficaram sabendo sobre a BNCC, quais as fontes iniciais de informação. Os resultados foram: “Na TV/Mídia”; “Na Escola em que trabalho ou trabalhava”; “Em cursos de formação continuada”;

“Em grupo de amigos do trabalho”. Essas informações somam-se às entrevistas e compõem a categoria de análise de conteúdo.

GRÁFICO 1. FONTES DE INFORMAÇÃO SOBRE A BNCC.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Pela informação coletada é possível identificar a força e a importância das discussões na própria escola pelo grupo de professores. Ressaltando que a escola é um espaço privilegiado de as discussões sobre a educação, a prática educativa e o desenvolvimento profissional dos professores. Como coloca Marcelo Garcia (1999),

Assumir com seriedade a relação intrínseca existente entre o desenvolvimento da escola e o desenvolvimento profissional dos professores leva a entender a escola (no sentido mais amplo do termo) como a unidade básica para mudar e melhorar o ensino. (p.141)

A seção seguinte do questionário apresentou questões referentes à BNCC e sua interferência na prática ou na percepção sobre a educação infantil.

Na pergunta referente ao conhecimento sobre o conteúdo da BNCC, o grupo se define entre “Conheço bem” (71,5%) e “Conheço pouco” (28,5%), sem apresentar respostas nas alternativas “Não conheço”, “Conheço muito pouco” e “Conheço muito bem”.

Considera-se que este documento, apesar da proposta, se deu com poucas oportunidades de discussões mais amplas de âmbito nacional, se reduzindo a pequenas discussões locais sujeitas a entendimentos próprios. Uma política educacional imposta que apresentou de acordo com Dourado; Oliveira (2018, p.11) “retrocessos na agenda educacional”, assim como nas políticas sociais mediante adoção de novas práticas, programas e ações do governo federal.

Entende-se, analisando essas respostas em relação com a questão anterior, que a escola foi o local de excelência da discussão trazendo para a equipe gestora, principalmente para os professores coordenadores a responsabilidade de ser a principal fonte de informações sobre a BNCC.

Essa discussão é feita por Souza (2018) e também por Aguiar e Dourado (2018), que em entrevista com representantes de associações educacionais apontam para o paradoxo que é responsabilizar quem não participou da elaboração. A BNCC colabora para o discurso de responsabilização docente, ao mesmo tempo que determina os conhecimentos que serão trabalhados sem a participação dos professores.

GRÁFICO 2. CONHECIMENTO SOBRE O DOCUMENTO BNCC.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Já na questão que verifica se as proposições da BNCC interferem no planejamento atual do entrevistado, manifesta-se a seguinte proporção: “Interfere muito” (35,7%), “Interfere totalmente” (43%), “Interfere um pouco” (14,2%) e “Não interfere” (7,1%).

Esses dados também mostram que, apesar da dificuldade dos professores em articular o planejamento na educação infantil, pela complexidade em organizá-lo nessa etapa educativa, situação já exposta por Ostetto (2000), os professores o reconhecem como parte integrante e articuladora das propostas curriculares.

GRÁFICO 3. INTERFERÊNCIA DA BNCC NO PLANEJAMENTO DO ENTREVISTADO.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Quando perguntados sobre a interferência da BNCC na própria prática educativa, tem-se uma ligeira modificação, levando a sugerir que, para alguns professores, o que está no planejamento não é, necessariamente, o que está na prática educativa: “Vai interferir muito”

(57,2%), “Vai interferir sim” (21,5%), “Vai interferir um pouco” (14,2%) e “Não vai interferir”

(7,1%). Destaca-se que a alternativa “Vai interferir muito pouco” não foi assinalada por nenhum participante.

Nesse sentido, identifica-se uma coerência entre planejamento e prática educativa, com pequenas divergências, porém destacando a interferência da BNCC no planejamento dos professores. Observa-se mais a frente, na análise das entrevistas, uma certa contradição quanto a essa certeza, quando se evidencia que as interferências causadas no planejamento são motivadas pelas novas determinações e orientações da SME do que pela BNCC.

GRÁFICO 4. INTERFERÊNCIA DA BNCC NA PRÁTICA EDUCATIVA DO ENTREVISTADO

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Quanto à compreensão do documento em si da BNCC, foi perguntado se ele é um documento de fácil interpretação para fundamentar a atuação educativa na educação infantil.

As seguintes respostas foram obtidas:

GRÁFICO 5. COMPREENSÃO DO DOCUMENTO BNCC.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Observa-se, nesse sentido, que a interpretação do que está no documento não é um dificultador para a maioria dos professores, porém as respostas são muito diferentes. O que leva

ao questionamento: os professores estão partindo do mesmo princípio de investigação e compreensão?

Como as discussões são realizadas apenas no âmbito da escola preocupa se as análises e os conjuntos de conhecimentos não estão se dando de forma muito particular de grupo a grupo, de escola a escola. Entende-se a importância em significar e subsidiar as discussões na escola para que se tornem efetivamente reflexivas, e não discussões de transmissão, indicação, registro e controle. Pois, como defende Freire (1996, p.18) “na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”.

Sobre a BNCC ser “Referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das instituições escolares” (BRASIL, 2017, p. 8), como aparece descrito no documento, tem-se: 43% responderam que “O documento apresenta referências essenciais”;

35,7% dos professores responderam que “O documento apresenta referências importantes”;

14,2% responderam que “O documento apresenta algumas poucas referências”; 7,1%

responderam “Tenho dúvidas quanto a essa questão” e nenhum dos participantes respondeu

“Não sei opinar a respeito”. Nota-se que, mesmo de forma frágil para alguns, a maioria dos professores tem uma opinião estabelecida sobre a referência dada pela BNCC a respeito da questão curricular da educação infantil.

GRÁFICO 6. BNCC COMO REFERÊNCIA PARA FORMULAÇÃO DE CURRÍCULOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Sobre o documento ser referência para a elaboração dos currículos de educação infantil, os resultados provocam uma reflexão sobre qual é a real concepção sobre currículo nessa etapa educativa. Questiona-se a compreensão que se tem do termo currículo, retomando Oliveira (2010) que aponta sobre a necessidade de discussão sobre conceitos essenciais para composição de uma ideia efetiva de currículo, como: as diferentes concepções de criança, os diferentes entendimentos de família e seus papéis, e os diferentes entendimentos sobre a função da creche e da pré-escola. Acrescentando que, ainda há muita resistência até na utilização do termo currículo na educação infantil.

Quando questionados sobre a interferência da BNCC na organização curricular geral da educação infantil, tem-se um grande número de participantes que acreditam que a BNCC interfere na composição dos currículos, uma porcentagem de 43,1%; 28,6% responderam que há pouca interferência; 7,1% acreditam em muito pouca interferência da BNCC e 7,1% alegam não acreditar haver interferência. Não houve resposta na alternativa “interfere muito, mudou muito”.

GRÁFICO 7. INTERFERÊNCIA DA BNCC NA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Esse aspecto da interferência na organização curricular geral da educação infantil traz aspectos importantes a serem analisados. Pois, no contato estabelecido com os professores nas entrevistas mostraram pontos de vista distintos, que alternam críticas e elogios. Sobre essa questão é possível perceber uma fragilidade na compreensão da proposta da BNCC desencadeando, como indicou Gariboldi (2021, informação verbal36) um “Dilema

36 Fala do professor Antonio Gariboldi no exame de qualificação dessa pesquisa, UFSCar, em 21 fev. 2022.

desorientante” que gerou nos professores angústias por não acompanharem e reconhecerem as propostas apresentadas pela BNCC desqualificando os saberes constituídos ao longo da experiência profissional. Ou como argumentam Reis, Nakata e Dutra (2010) que anunciam como “Dilemas Desorientadores”37. Essa ideia será novamente apresentada, pois adiante essa discussão foi explicitada nas entrevistas, quando disposto a interferência da BNCC na prática desenvolvida.

Já na seção que aborda os saberes docentes, quando perguntados se a BNCC influencia na organização da prática pedagógica como ponto de referência e de partida estimulando mudanças conceituais no currículo da educação infantil, as respostas foram: 43,1%

responderam que “Influencia muito”; 28,6% responderam que “Influencia um pouco”; 14,2%

responderam que “Influencia muito pouco” e 7,1% responderam “Não acho que influencia”.

GRÁFICO 8. SABERES DOCENTES: BNCC INFLUENCIANDO MUDANÇAS CONCEITUAIS.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Na questão que aborda diretamente se os professores consideram que houve contribuição geral da BNCC para os conhecimentos profissionais, aqui descritos como saberes docentes tem-se: 85,6% dos participantes que afirmam haver contribuição (85,6%), em contraposição a 14,4% que negam a contribuição da BNCC na ampliação de seus saberes docentes.

37Segundo REIS, NAKATA & DUTRA (2010), no universo organizacional, dilemas desorientadores são aqueles que colocam em xeque referências conhecidas e pressupostos, podem incluir elementos variados como: novos desafios, feedbacks recebidos, a entrada de novas tecnologias ou orientações e outras mudanças organizacionais. Especialmente relevante, nesses casos, é a dimensão motivacional, a mobilização emocional que a desorientação propicia.

GRÁFICO 9. CONTRIBUIÇÃO DA BNCC NA AMPLIAÇÃO DOS CONHECIMENTOS PROFISSIONAIS.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Quanto à contribuição e a ampliação dos saberes docentes impulsionados pela publicação e obrigatoriedade da BNCC, é possível considerar que por si só a terminologia apresentada pela BNCC na etapa da educação infantil, já é uma importante mudança conceitual que provoca a reflexão e incorporação das novas terminologias no cotidiano das práticas educativas, como os termos: Direitos de aprendizagem e desenvolvimento, campos de experiências e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.

E quando indagados sobre quais conhecimentos gostariam de aprofundar — a pergunta era de múltipla escolha —, obteve-se as seguintes respostas:

GRÁFICO 10. CONHECIMENTOS QUE GOSTARIAM DE APROFUNDAR.

Fonte: Elaborado pelo próprio autor, 2022

Quanto às questões abertas do questionário, elas foram contempladas nas categorias descritas a seguir nos resultados qualitativos.