• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E ANÁLISE DA PESQUISA

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO DESIGN THINKING NA PESQUISA

4.2.4 Centrado no humano

No estudo de caso objeto desta pesquisa, verificou-se a presença do elemento essencial do Design Thinking: centrado no humano, conforme segue demonstrado a seguir.

Desde a sua concepção a Mandalla já surgiu com foco nas pessoas, para as pessoas, e aqueles que foram se envolvendo e participando do projeto tinham essa mesma intenção de ajudar aqueles que eram mais humildes e tinham pouco acesso à informação, em especial o povo do campo que passava fome e vivia na miséria.

“Primeiramente a gente era cheio de esperanças, de sonhos, e achava que muita coisa estava sendo feito de forma equivocada, principalmente na área rural. Os agricultores trabalhavam sem orientação, sem informação, e de uma forma equivocada gastavam muito mais recursos naturais e financeiros para

fazer uma coisa que podia ser feito com muito menos. Pensamos em fazer um projeto que juntava várias empresas juniores, onde a habilidade de cada empresa júnior pudesse somar para trabalhar o desenvolvimento social e as comunidades rurais.” (Tadeu– entrevista 8)

O Sistema Mandalla DHSA é centrado no humano, na medida em que existe para melhorar a qualidade de vida das pessoas, oferecendo recursos mínimos e educação, informação e conhecimento para que sejam capazes de produzir o seu próprio alimento e da sua família. A partir da garantia do alimento e uma nutrição de melhor qualidade, com frutas, hortaliças, grãos e proteína animal, o ano todo, a família não passa mais fome. O trabalho na Mandalla pode também ser considerado uma fonte de emprego direto, dá ocupação e muita atividade para aqueles que a tem, sendo fonte de geração de renda na medida em que a produção excedente é comerciliazada. O agricultor torna-se independente, ganha autonomia e passa a ter poder de decisão para usar o seu próprio dinheiro, portanto, um processo de resgate da dignidade humana.

Na reportagem do Vídeo 1, a repórter entrevista seu Antonio e sua esposa, proprietários de uma Mandalla que ocupa menos de 2 mil metros quadrados, mas além da alimentação da família, já rende uns R$ 300,00 por mês com a venda de excedentes. Sr. Antonio: “A gente fez um curso, e nesse curso a gente aprendeu como fazer as Mandallas. E eu fiquei satisfeito, porque está aí produzindo, muito bom para a família e pra gente até vender a sobra que a gente não usa para comer”

(GLOBO RURAL, 2006a).

Com a vida mais fácil, e com mais qualidade, Sra. Lurdes afirma: “Aqui a gente come direto a verdura, vende, come. A gente tem comido o ano inteiro, melhorou muito”. Outra agricultora, Sra. Francisca Verônica Dias, também afirma (V11): “Sempre que eu preciso eu venho pegar aqui, antes era difícil, eu tinha que ir comprar na rua. Mas hoje graças à Deus, o que eu quero, eu venho pegar, aqui dentro eu tenho. Tenho a cebolinha, o cheiro verde, aí tenho a fruta, o mamão, a banana, tenho a macaxeira, o feijão, o arroz, o peixe, o que eu imaginar, que eu quiser, aqui dentro eu tenho. E não só eu, todas as famílias, e também os que vem comprar.” (AGÊNCIA MANDALLA, 2012c)

À serviço das pessoas, e buscando divulgar os princípios e conhecimentos da Mandalla, a equipe vai atrás de novas oportunidades, e se adapta aos desafios, como é o caso relatado em entrevista pelo Sr. Itamar:

“Em 2009 pegamos esse projeto do Pró-Jovem Trabalhador também em João Pessoa, pois a gente viu que era uma forma muito boa de chegar até mesmo em muitas pessoas que na própria Paraíba não conheciam a Mandalla, houve realmente uma forte divulgação do processo Mandalla, e surpreendeu muito, pois foi um projeto que a gente nunca tinha pego e acabamos nos saindo melhor do que várias outras instituições que já tinham até mesmo a prática de cursos. Na cidade de Bananeiras tinha formação de guias turísticos, administração, pedreiro e pintor também, e que aparentemente não tem nada a ver com o agro-extrativismo, nós faziamos um sucesso danado, pelas aulas de alimentação alternativa, pegava as turmas e levava para a cozinha para ter a aula, tanto para mostrar o tipo de alimentação mais saudável, como também para mostrar formas alternativas de ter uma produção melhor, como racionalizar aquilo que você tem. Desde bife de casca de banana a farofa feita com o coraçãozinho da banana que se joga fora.” Na prática, ‘educando a cidade para consumir’. (Itamar – entrevista 1)

De qualquer forma, “[...] grandes ou pequenos, os projetos têm de ser planejados levando-se em conta as capacidades e os objetivos dos agricultores que deles participam e que devem ser chamados a colaborar em sua administração”

(CMMAD, 1991, p. 148). Não apenas receber recursos e uma horta pronta, mas muito além disso, envolver as pessoas do campo em todas as etapas do projeto é fator de garantia de sucesso do mesmo, pelo aprendizado na prática, capacitação, empoderamento e comprometimento desses agricultores com a atividade que passam a realizar como fonte de alimentação e de trabalho, e com o uso de novas tecnologias. O elemento principal é incluí-los efetivamente, dando-lhes voz, e ao serem ouvidos, respeitados, somam-se as contribuições e experimentam-se as possibilidades alinhadas ao ‘como’ e ‘o que’ querem fazer de fato, o que faz sentido para eles, suas famílias e região, como por exemplo as escolhas pelas culturas que serão plantadas e os animais que serão criados em suas respectivas Mandallas.

Essa inclusão para a co-criação, é uma mudança de paradigma significativa e que faz toda a diferença para o sucesso no enfrentamento da fome global, cujas origens estão na pobreza e na degradação ambiental, e que requer justamente intervenções para mudanças de pensamento, elemento presente no estudo de caso, como mostra o entrevistado Itamar: “A gente está só, muitas vezes, ajudando a abrir a mente das pessoas que tem um pensamento muito fechado, e nós estamos ali para ajudar a abrir os olhos, e isso impacta muitas vezes nas políticas públicas, as vezes os prefeitos acham ruim que a porta da prefeitura está cheia de gente, mas também não quer esvaziar. E o processo Mandalla ajuda a esvaziar um pouco a porta da prefeitura, na medida em que as pessoas deixam de depender dos planos sociais. É um processo mesmo mais amplo de conscientização. Você vê um agricultor semi-analfabeto falando de empreendedorismo, isso é muito interessante, as vezes a gente fala de um jeito mais técnico e eles vem e falam a mesma coisa de uma forma mais prática da coisa” (Itamar – entrevista 1). A empatia é fundamental para que essa mudança de modelo mental e até mesmo de paradigma seja possível, trazendo crescimento e desenvolvimento para as pessoas envolvidas no processo.

Essa mágica que promove a transformação da realidade das pessoas está presente a partir da mudança de pensamento e abertura para outras possibilidades até então não exploradas por cada indivíduo e na medida em que há o empoderamento, há o desenvolvimento do capital humano e gera independência, evidenciado a seguir:

“Fazer com que as pessoas entendam e se apoderem do processo, se não houver esse empoderamento e não houver essa relação de envolvimento das pessoas com a tecnologia, a coisa não funciona, porque é o que a gente fala, o processo é seu, invente, mude, adapte. Então, agricultor mesmo dá treinamento para agricultor, isso é que é massa da coisa, porque você cria esse capital humano e gera independência.” (Willmar – entrevista 2)

Um outro fato que chamou a atenção na pesquisa e também está relacionado ao colocar o humano no centro do processo, é que no Unicenter, Willy fez uma proposta à sua equipe, “[...] aqui vamos trabalhar das 6hs as 10hs e eles gostaram.

Aí folga 4 horas na sombra, das 10hs às 14hs, e trabalha das 14hs às 18hs. Rende mais, estuda, vai no banco, descansa. Para trabalhar com as hortaliças e a irrigação tem de ser cedinho ou a tardinha. E rende muito mais” (Willy – entrevista 5). Um

modelo diferente e interessante que chama a atenção por respeitar e se adequar as características do clima da região e do processo, gerando mais eficiência para o agricultor. Ele agora que tem mais tempo durante o dia para estar com sua família e estudar, ler, respeitar a energia do corpo. Esse modelo é sugerido e explicado para todos que trabalham com as Mandallas, assim ninguém precisa trabalhar quando o sol é mais forte e até castiga, o que gera desperdício de energia desnecessariamente.

A natureza é fonte de inspiração para muitas soluções na Mandalla, mas também existem outros fatores que estimulam a fase de inspiração nas pessoas envolvidas com o processo Mandalla, conforme explora-se a seguir.