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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

2.2 FOME E MISÉRIA EM RELAÇÃO À AGRICULTURA

2.2.1 Panorama mundial

Os sistemas agrícolas estabelecidos nos últimos decênios contribuíram enormemente para aliviar a fome e elevar os padrões de vida. Atingiram seus objetivos até certo ponto, mas foram criados para um mundo menor e mais fragmentado. As novas realidades revelam suas contradições inerentes. Tais realidades necessitam de sistemas agrícolas que dêem atenção tanto às pessoas quanto à tecnologia, tanto aos recursos quanto à produção, tanto a prazos mais distantes quanto a mais imediatos. Só sistemas assim podem enfrentar o desafio do futuro. (CMMAD, 1991, p. 159)

“A agricultura é o maior setor econômico do mundo, empregando mais de 1 bilhão de pessoas e gerando anualmente não menos do que 1 trilhão de dólares em alimentos” (MITTAL, 2011, p. 201). Contudo, quase um bilhão de pessoas continuam a passar fome, ao mesmo tempo em que os impactos destrutivos da agricultura sobre o clima e a biodiversidade não param de se expandir. “Diante de uma crise humanitária e ecológica desta proporção, é necessário questionar o atual sistema do setor agroindustrial.”

Mittal afirma que

O problema reside na seguinte falácia: a fome mundial continua a ser encarada como uma crise de oferta e demanda que deve ser enfrentada, principalmente, com ações de aumento da produção agrícola e desenvolvimento. Essa visão coloca uma ênfase equivocada em soluções técnicas, como a engenharia genética e um maior uso de insumos químicos para aumentar a produtividade, ao mesmo tempo em que ignora questões de governança e responsabilização no que se refere a compromissos de ajuda, gastos públicos, parcerias público-privadas e recomendações das instituições financeiras e de países doadores a respeito das políticas a serem adotadas. (MITTAL, 2011, p. 201-202)

Recentemente no livro Full Planet, Empty Plates - the new geopolitics of food scarcity (Planeta Cheio, Pratos Vazios - a nova geopolítica da escassez de alimentos), o autor Lester Brown aponta com preocupação para o aumento dos preços dos alimentos, e destaca a situação inaceitável de que “[...] 27% das famílias Nigerianas e 24% das famílias Indianas passam por dias inteiros sem ter o que comer” (BROWN, L. R., 2012, p. 8). Para ele, a produção de grãos está a serviço de outros interesses que não o da alimentação das pessoas, mas sim para a produção de biocombustíveis (sendo que existem outras fontes de energia), e para alimentar o gado na produção de carne (cujo consumo aumentou exponencialmente

principalmente na China). Alerta para o fato de que essa excessiva produção de grãos em caráter de monocultura, maioria soja, está causando a erosão do solo e consequente desertificação, reduzindo as chances de produção agrícola para alimentar seres humanos no futuro. (BROWN, L. R., 2012)

Segundo estimativas do Banco Mundial, até 2015 a taxa global de pobreza (renda) é projetada para 15% da população mundial, um pouco acima dos 14,1%

previstos antes da crise financeira mundial, mas ainda superando a meta dos ODM graças a ganhos acumulados no passado. De acordo com o Banco Mundial, a crise teria levado um adicional de 64 milhões de pessoas para o grupo dos extremamente pobres ao final de 2010. Como resultado disso, estima-se que 53 milhões de pessoas não conseguirão sair da pobreza até 2015, como previsto anteriormente.

(PNUD, 2012)

Em Maio de 2012, o diretor-geral do Fundo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva alertava, que, naquele momento, aproximadamente 925 milhões de pessoas no mundo não comiam o suficiente para serem consideradas saudáveis. Isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a cama com fome todas as noites. (FAO, 2012).

De modo geral, mulheres e crianças representam a maior proporção de pessoas sofrendo de fome crônica. Os altos preços dos alimentos e a baixa renda colocam famílias pobres em maior risco de não conseguir receber alimentação adequada para gestantes, bebês e crianças. De fato, mais de um terço da mortalidade infantil no mundo está relacionado à nutrição inadequada. (HALWEIL; NIERENBERG, 2011, p. 4)

Segundo o diretor, o quadro atual tem de ser revertido e ações precisam ser tomadas para garantir a alimentação e atender às demandas de cerca de 9 bilhões de pessoas – população mundial estimada para 2050.

Em todo o mundo, a agricultura se depara com crises. [...] Felizmente, temos condições de produzir suprimentos adequados de alimento saudável e, ao mesmo tempo, promover regeneração ecológica, de modo a garantir justiça social e resfriamento do planeta. No entanto, colocar isso em prática em escala global exige firme compromisso e determinação política, calcados em uma compreensão clara das origens da pobreza e da fome e em uma disposição para mudar o rumo. Isso, por sua vez, requer que os políticos encarem com honestidade a economia política da fome e a ecologia política de um sistema alimentar em crise. (ISHII-EITEMAN, 2011, p.198-199)

Existe muito trabalho à ser feito. Porém, antes é necessário compreender alguns dos motivos do contexto atual para perceber a correta direção das melhores soluções que garantam a possibilidade das futuras gerações em atender às suas necessidades. Olivier De Schutter, Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação reflete:

Vivemos em um mundo em que produzimos mais alimentos do que jamais o fizemos e onde os famintos nunca foram tantos. [...] à medida que incrementamos de modo espetacular os níveis gerais de produção durante a segunda metade do século 20, criamos as condições para um desastre ecológico de grandes proporções no século 21. Esse pensamento é parte do motivo pelo qual a luta global contra a fome e a desnutrição vem se calcando cada vez mais, desde a Cúpula Mundial de Alimentação de 1996, no direito à alimentação adequada. [...] Entendemos agora que o aumento da produção de alimentos e a erradicação da fome e da desnutrição são objetivos muito diferentes – talvez, complementares, mas não necessariamente vinculados. Foi necessário que transcorresse o tempo de uma geração para se entender que o pacote da “Revolução Verde”

composto por irrigação, mecanização, variedade de sementes com alto rendimento e fertilizantes químicos talvez precise ser reconsiderado em termos fundamentais para que seja mais sustentável social e ambientalmente. Em 80% dos estudos sobre a Revolução Verde nos últimos 30 anos, os pesquisadores que levaram em consideração o aspecto da igualdade concluíram que a desigualdade aumentou em consequência da mudança tecnológica.[...] Algumas conclusões claras surgem de todas essas evidências. Precisamos aumentar a resiliência dos países – em particular, a dos países pobres e importadores de alimentos – em face dos preços cada vez mais altos e voláteis nos mercados internacionais.

Devemos estimular modos de produção agrícola que sejam mais resistentes à mudança climática, o que significa que precisarão ser mais diversificados e usar mais árvores. Precisamos de um tipo de agricultura que atenue a mudança climática. E precisamos desenvolver a agricultura de formas que contribuam com o desenvolvimento rural, criando postos de trabalho nas propriedades agrícolas, mas também fora delas nas zonas rurais, e proporcionando receitas condizentes para os agricultores. O reconhecimento de tudo isso transpõe, de modo geral, fronteiras ideológicas e geográficas. (SCHUTTER, 2011, p. XVII- XVIII)

"Nós não podemos chamar [o que ocorre] de desenvolvimento sustentável, enquanto essa situação persistir, enquanto quase um em cada sete homens, mulheres e crianças é deixado para trás, vítima de desnutrição" (ANDRADE, 2012), manifestou sua indignação Sr. Graziano. Para ele, “[...] o ideal é investir também nos sistemas agrícolas, que servem como base para a alimentação no mundo.” E “[...] a busca da segurança alimentar pode ser o fio condutor que liga os diferentes desafios que enfrentamos e ajudar a construir um futuro sustentável.” (ANDRADE, J., 2012)

No relatório Rumo ao Futuro que Queremos: Acabar com a Fome e Fazer a Transição para Sistemas Sustentáveis de Agricultura e Alimentação, o diretor do

FAO apela aos governos para que invistam nos sistemas agrícolas e em infraestrutura que sirva de base para a alimentação no mundo. A inovação agrícola pode contribuir ainda para a melhora da saúde humana, não apenas por alimentar os mais pobres do mundo, mas também contribui para reduzir inúmeras doenças que se alastram por todo o mundo, de ricos e pobres, como as anemias, os cânceres, os edemas, os enfartos, e tantas outras doenças que tem como uma das suas principais causas a má alimentação, nutrição de baixa qualidade, e a intoxicação por produtos químicos e metais pesados.

Nas ações do FAO também há recomendações sobre o estímulo à geração de empregos, para que as pessoas recebam salários adequados e consigam se alimentar de forma correta. Para Graziano, é fundamental apoiar a agricultura familiar, sobretudo, nos países em desenvolvimento. “Com isso, estaremos contribuindo para as nossas metas de desenvolvimento sustentável", disse ele.

(ANDRADE, J., 2012)

Muitos estão buscando caminhos para aumentar a eficiência do sistema alimentar mundial, já que cerca de um bilhão de pessoas passam fome diariamente no mundo atualmente. No entanto, o que parece mais inaceitável ainda, é que ao mesmo tempo, 40% do estoque mundial de comida é jogado fora antes de ser consumido. Isso demonstra que os rumos da produção de alimentos estão muito equivocados, pois enquanto sua finalidade maior deveria ser alimentar as pessoas, não está sendo cumprida, pelo contrário, muito alimento tem sido desperdiçado e jogado no lixo. Isso se explica pela visão de negócio, uma verdadeira indústria por trás dessa situação, interessada em obter apenas lucro e não em alimentar de fato a população.

Assim, para muitas comunidades, as soluções se encontram em fazer melhor uso do alimento produzido.

A quantidade perdida – por vezes a colheita é devolvida e usada para enriquecer o solo, mas quase sempre acaba sendo jogada em aterros sanitários ou depósitos de lixo. [...] Portanto, faria sentido que o investimento em um melhor uso daquilo que já é produzido fosse, no mínimo, tão alto quanto o que se investe no incremento da produção.

Correções simples e de baixo custo contribuem em muito para isso, como sacos plásticos baratos para manter o feijão-frade seco e afastar as pragas, melhor construção de silos para conservação dos cereais, e a preservação de frutas (e vitaminas) por meio de técnicas de secagem solar. (HALWEIL;

NIERENBERG, 2011, p. 9-10)

“O desperdício é hoje um infeliz e desnecessário corolário da profusão da oferta de alimentos nos países ricos” (STUART, 2011, p. 112).

Jogar fora hortifrútis cosmeticamente imperfeitos, descartar no mar peixe comestível, desconsiderar casca de pão em fábricas de sanduíche, abastecer em excesso os supermercados e comprar ou cozinhar comida demais em casa são exemplos da negligência perdulária em relação aos alimentos. (STUART, 2011, p. 112).

Um exemplo quantificado, é que no Brasil existe uma perda média do arroz pós-colheita de 22% (STUART, 2011, p. 113).

Logo, é mais sustentável aumentar a disponibilidade de alimento reduzindo o desperdício do que cortando matas virgens para obter maior área de terra cultivável – ainda o principal método empregado para expandir a produção mundial de gêneros alimentícios. “A ajuda para que mais alimentos cheguem às mesas sem a derrubada de nenhuma árvore está nas mãos das agências internacionais de assistência, governos, doadores individuais, empresas de gêneros de alimentos”

(STUART, 2011, p. 120) e também na dos consumidores de países ricos e de países em desenvolvimento.

O Worldwatch Institute, organização voltada para a sustentabilidade ambiental e o bem-estar social, lançou o relatório State of the World 2011: Innovations that Nourish the Planet, que ressalta sucessos recentes na inovação agrícola e delineia maneiras de reduzir a fome e a pobreza global e, ao mesmo tempo, minimizar o impacto da agricultura sobre o meio ambiente.

“A comunidade internacional tem negligenciado segmentos inteiros do sistema alimentar em seus esforços para reduzir a fome e a pobreza”, comentou Danielle Nierenberg, codiretora do Programa Nutrindo o Planeta (ERICKSON-DAVIS, [2011?]). “As soluções não virão necessariamente da produção de mais comida, e sim mudando o que crianças comem nas escolas, a forma como os alimentos são processados e vendidos e em que tipos de negócios na área alimentícia estamos investindo.” (ERICKSON-DAVIS, [2011?])

Num momento em que os investimentos globais em inovação agrícola caíram de 16% para 4% em apenas duas décadas e se calcula que a crise econômica vá reduzi-los ainda mais, o relatório propõe gastos inteligentes ao informar organizações e governos sobre os esforços que provavelmente trarão mais resultados positivos.

O relatório destaca as seguintes prioridades:

Aumentar a resiliência dos países – em particular, a dos países pobres e importadores de alimentos – em face dos preços cada vez mais altos e voláteis nos mercados internacionais. [...] Estimular modos de produção agrícola que sejam mais resistentes à mudança climática, o que significa que precisarão ser mais diversificados e usar mais árvores. Precisamos de um tipo de agricultura que atenue a mudança climática. [...] Desenvolver a agricultura de forma que contribua com o desenvolvimento rural, criando postos de trabalho nas propriedades agrícolas, mas também fora delas nas zonas rurais, e proporcionando receitas condizentes para os agricultores.

(SCHUTTER, 2011, p. XVIII)

Apesar da agricultura ser a atividade humana mais afetada pela mudança climática, secas, inundações e o extremo calor, cada vez mais frequentes, e que exercem enorme impacto sobre a lavoura e a pecuária, a agricultura é a atividade mais promissora – e a que pode trazer os maiores benefícios para mitigar esses efeitos – no curto prazo, “[...] já que dispõe de práticas que fixam o carbono no solo e minimizam a dependência de combustíveis fósseis” (NIERENBERG; HALWEIL, 2011, p. 93-96).

Um dos caminhos que oferecem soluções possíveis e que atendem às prioridades destacadas acima, está relacionado à prática da agroecologia que também apresenta suas vantagens e seus desafios:

A capacidade de os países em desenvolvimento proverem a própria alimentação pode ser aperfeiçoada com o respaldo à produção agrícola que respeita o meio ambiente e favorece os pobres em áreas rurais. As perspectivas agrícolas afastam-se da tendência do século 20 que reduzia a natureza a seus elementos separados e, ao contrário, passam a reconhecer a complexidade da produção de alimentos, enxergando a planta em relação a ecossistemas. Elas recompensam a inventividade de agricultores que agora deixam de ser beneficiários passivos de conhecimento cultivado em laboratórios, convertendo-se em co-inventores do conhecimento de que necessitam. A agroecologia geralmente se caracteriza por baixo uso de insumos externos, o que limita sua dependência de fertilizantes e pesticidas de alto custo. Insumos como esterco ou composto são, em boa parte, produzidos em âmbito local, e quando se usam plantas ou árvores leguminosas para fertilizar os solos, a diversidade no terreno ajuda a fazer com que esses sistemas sejam autossustentáveis. Quase sempre as técnicas agroecológicas impõem um vínculo estreito entre o agricultor e a terra e podem, assim, empregar mão de obra intensiva. Mas, trata-se de um ativo, e não de um passivo: a criação de postos de trabalho em zonas rurais pode beneficiar o desenvolvimento rural, especialmente se aliada ao incentivo de capacitação no processamento de alimentos agrícolas e ao aumento de trabalho fora das propriedades agrícolas. Contudo, sistemas que se amparam primordialmente em insumos produzidos em âmbito local, nos conhecimentos especializados de agricultores e em modos sustentáveis de produção não prosperarão sem políticas públicas fortes que estimulem esse tipo de mudança. Modos agroecológicos de produção podem ser

altamente produtivos por hectare e são bastante eficientes no uso que fazem de recursos naturais. No entanto, como em geral utilizam mão de obra intensiva, não têm condições de competir com facilidade com formas de produção em larga escala, altamente mecanizadas e com uso intensivo de capital. Sem um forte apoio do Estado, eles não se mantêm.

(SCHUTTER, 2011, p. XVIII-XIX)

A transição da atual agricultura convencional para a ecológica impõe melhor gestão dos recursos primordiais, como solo, biodiversidade e água, e incorporação de pesquisa e serviços de extensão rural. Essas práticas aumentam a produtividade, criam emprego e atenuam as emissões. Para que essa transição seja feita, mais do que capital e tempo, são necessários investimentos que contemplem a sinergia entre a agricultura e os sistemas hídricos e agroflorestais. De acordo com Hans R. Herren (2011, p. 192)

Os investimentos na agricultura devem ser divididos em quatro áreas:

redução de perdas antes da colheita, hoje estimadas em 30% do total da produção agrícola;

redução de perdas de alimentos após a colheita, por meio de melhores práticas de armazenamento e processamento nas áreas rurais;

práticas de manejo agrícola visando ao aumento da produtividade agrícola na transição para a agricultura orgânica, conservacionista e ecológica (custo médio de US$ 85 – US$ 100 por hectare); e

pesquisa, desenvolvimento, capacitação e conhecimentos práticos em agricultura sustentável.

O mesmo autor completa afirmando que os investimentos terão impactos significativos, setorial e intersetorialmente, e cita exemplos “[...] sustentando o crescimento econômico e a criação de empregos, melhorando a nutrição e reduzindo externalidades negativas, como consumo de energia e emissões de carbono.” (HERREN, 2011, p. 192)

Claramente os princípios da agroecologia e da agricultura orgânica, têm potencial para contribuir para sistemas mais produtivos, saudáveis e sustentáveis, na direção de acabar com a fome e a miséria.

O desafio da agricultura sustentável é elevar não só a produtividade e a renda médias, mas também a produtividade e a renda dos que dispõem de poucos recursos. (...) Tudo isso exige a promoção sistemática da equidade na produção e na distribuição de alimentos. (CMMAD, 1991, p. 155)

Assim, o desenvolvimento agrícola não diz respeito apenas ao incremento de produção e resultado, trata-se de “[...] inovar na forma de produção, distribuição e

consumo de alimentos. [...] O desenvolvimento agrícola envolve também ações coletivas. No nível local, isso significa conferir às comunidades uma participação proprietária no processo de desenvolvimento” (SPIELMAN; PANDYA-LORCH, 2011, p. 15-16), é interessante expandir a consciência sobre o fato de que agricultores e demais membros da comunidade, incluindo inovadores locais, possuem riqueza de conhecimento e experiência que, poderiam estimular um desenvolvimento pilotado pela própria comunidade.

Agricultores e agricultoras precisam estar à frente do desenvolvimento, identificando suas necessidades, recursos, soluções possíveis e procurando respostas para suas próprias perguntas. Parcerias entre agentes de formação, cientistas e agricultores podem fortalecer e valer-se das experimentações destes últimos. O método de desenvolvimento que envolve inovações participativas vê os lavradores como o fator-chave na condução do processo, decidindo quando e como agregar outras pessoas:

agentes de formação, cientistas, empresários e assim por diante.

Felizmente, cientistas e técnicos em extensão rural estão começando a reconhecer as contribuições dos agricultores para o processo de desenvolvimento, e algumas instituições começam a mudar suas maneiras tradicionais de funcionamento. (LETTY, et al., 2011, p. 58)

Bem como, fazer uso do conhecimento local e envolver as comunidades nas consultas sobre os projetos, deliberações de políticas e em pesquisa científica.

O desafio de aumentar a produção de alimentos para equipará-la à demanda, ao mesmo tempo mantendo a integridade ecológica essencial dos sistemas de produção, é um desafio formidável em magnitude e complexidade. Mas dispomos do conhecimento necessário para conservar nossos recursos agrários e hídricos. As novas tecnologias possibilitam o aumento da produtividade e, ao mesmo tempo, reduzem as pressões sobre os recursos. Uma nova geração de agricultores combina experiência com educação. De posse desses recursos, podemos satisfazer as necessidades da família humana. Como obstáculo temos o enfoque limitado do planejamento e das políticas agrícolas. (CMMAD, 1991, p. 159)

“A maioria dos países em desenvolvimento necessita de sistemas de incentivos mais eficazes para estimular a produção, sobretudo de culturas alimentares. Em suma, é preciso que as ‘relações de troca’ passem a favorecer o pequeno agricultor.” (CMMAD, 1991, p. 14)

Para que se ampliem os casos notáveis de sucesso apresentados no relatório Estado do Mundo e se chegue ao desenvolvimento justo e sustentável no século 21, é necessário um redirecionamento de grandes proporções no apoio institucional e político e nos investimentos. “Um planejamento participativo, por exemplo, poderia

gerar um modelo nacional coerente que servisse de parâmetro para uma transição do país para a produção agroecológica”. (ISHII-EITEMAN, 2011, p. 199)

Portanto, em última análise, “[...] o que se impõe hoje é nada mais do que a democratização do sistema alimentar global. O funcionamento pleno de uma democracia alimentar requer a educação alimentar de seus integrantes” (ISHII-EITEMAN, 2011, p. 200), ou seja, as pessoas precisam não apenas compreender as origens do alimento que consomem, mas também o contexto social, político e cultural de quem o produz e de todos os envolvidos na sua distribuição.