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4 RESULTADOS E ANÁLISE DA PESQUISA

4.1 SISTEMA MANDALLA DHSA

4.1.5 Situação atual

A Mandalla é uma ONG, uma organização não governamental, financiada por empresas e instituições nacionais e estrangeiras, e também é uma organização da sociedade civil de interesse público, uma OSCIP, com autorização do Ministério da Justiça.

A nossa missão, o nosso interesse como organização da sociedade pública sem fins lucrativos, é justamente ajudar aos governos, seja que governo for, seja que partido for, o partido que nos interessa é esse partido chamado Brasil, então começar a criar uma semente de que nós somos responsáveis por nós e pelos outros. (Willy - TV CÂMARA, 2005)

A Agência costuma trabalhar baseada na realização de projetos, com patrocinadores de empresas privadas ou do governo.

Um exemplo logo nos primeiros anos de funcionamento da ONG, foi a parceria com a Bayer Cropscience através de ajuda financeira para a compra de sementes, aves, peixes e caprinos e para o pagamento de um salário mínimo por família durante os primeiros seis meses até que as primeiras produções se iniciem.

O assentamento de Acauã criado pelo Incra em 1995, foi beneficiado com 63 mandallas. Desde o início da parceria com a Agência Mandalla o Grupo Bayer investiu cerca de R$ 500 mil. (MARIUZZO, 2007)

Porém, como os projetos tem um tempo de duração e terminam, a equipe está sempre em busca de novos desafios e em novos locais. Desse modo, hoje já existem Mandallas em quase todos os estados do Norte e Nordeste, em Mato Grosso e em Minas Gerais.

Além dos projetos regionais, existe também a captação de recursos para ações de auto-sustentação da Agência Mandalla, ações estratégicas para a promoção da Mandalla como marca conceito de credibilidade e ética, geradora de impactos sustentáveis e permanentes, tais como:

UNICENTER MANDALLA (parceria PepsiCo/ Bayer CropScience) – Centro de Planejamento, Pesquisa, Desenvolvimento e Difusão de Tecnologias Sociais, ferramenta pioneira para formação de Difusores do Processo Mandalla.

TEIA MANDALLA, teia de alimentação de redes sociais a partir da difusão do conhecimento, proporcionando a capilarização das atividades da Agência.

Produtos Mandalla, criação de uma Marca Conceito (Figura 10) para comercialização de todos os produtos da Teia Mandalla, utilização de ferramentas avançadas de gerenciamento mercadológico envolvendo as unidades familiares beneficiadas.

Figura 10 – Marca conceito da Mandalla

Fonte: Agência Mandalla (2010).

Uma das questões críticas do estudo de caso, verificada durante a pesquisa, é que existe pouca organização das informações do histórico e dos resultados dos projetos. De maneira geral, os registros são escassos e não priorizados, os recursos acabam sendo investidos em mais Mandallas para beneficiar mais pessoas, e a história vai se perdendo aos poucos, com a mudança do pessoal da própria Agência.

Quanto à mensuração dos impactos gerados, e dos resultados obtidos, há pouca atenção no pós-projeto. Acaba não havendo acompanhamento e nem continuidade nos locais aonde terminam os projetos, por parte da Agência Mandalla, que ficou sem recursos para isso e já está realizando novos projetos em novos locais. Assim, parte da ação investida e dos recursos acabam sendo perdidos, na medida em que alguns produtores acabam por desistir da sua Mandalla, alegando que é muito difícil, que dá muito trabalho, que a seca ou a chuva excessiva estragou tudo e ficaram com preguiça de arrumar, e que além do mais, nem precisam, eles recebem as bolsas de auxílio do governo, então, trabalhar para quê? “O produtor acaba recorrendo aos planos assistenciais que não oferecem mais do que imediatismo e, nesse processo, tem sua dignidade corroída”. (RODRIGUES, 2012a, p. 3)

A descontinuidade já foi percebida pela equipe da Agência como um ponto crítico, tanto que Willmar, coordenador de estratégia e operações, ressalta a importância de incluir em todos os novos projetos as ações de acompanhamento, como já está fazendo no atual projeto na Bahia, em parceria com a Fibria e a Suzano. Esse aprendizado é resultado da experiência e da vivência conquistada com o tempo, onde o sucesso de um dos projetos, realizado no Ceará entre 2007 e 2009, permanece bem sucedida até hoje em 2012. O projeto no Ceará caminha com suas próprias pernas, autonomia da equipe local capacitada nos anos 2008-2009 no qual a parceria com órgãos locais foi essencial e garante a sua continuidade. Esse compromisso assumido pelo outro lado do projeto, e não somente pela Agência Mandalla, é a essência do êxito ao longo do tempo, e explica o insucesso de outros projetos, justamente a falta de parceria, de responsabilidade e de vontade de trabalhar, da outra parte.

Segundo o Sr. José Ximenes, coordenador do SDA e da Emater no Ceará, e também coordenador do projeto Mandalla no estado, continuam sendo realizadas as capacitações conforme as adaptações co-criadas com a Agência Mandalla, ou seja, ao invés de acontecer em seis módulos, com um mês entre eles, ocorre com o foco na implementação, em apenas três módulos. O primeiro módulo tem de 4 a 7 dias (de acordo com a região, os participantes, as necessidades), mas numa média de 5 dias, e o segundo módulo com 4 dias, considerando um intervalo de 45 dias entre eles - pois do primeiro para o segundo módulo, é feita a estrutura de alimentação de nutrição animal e vegetal, e esse tempo garante que o material esteja em ótimas condições pra ser utilizado, independente da umidade e da região do estado. E o terceiro módulo acontece com 3-4 dias de duração. Todo o restante do conteúdo é passado aos agricultores através das ações de acompanhamento realizadas pelos técnicos locais. No início do projeto no Ceará, em 2007, o custo para fazer uma Mandalla era de R$ 2.800,00 agora em 2012, cinco anos depois, com a inflação e a inclusão de mais um saco de cimento e alguns pequenos equipamentos no projeto, já é de R$ 4.400,00 ainda considerado barato diante de todos os benefícios que ela proporciona.

Seu Ximenes, como prefere ser chamado, é bastante dedicado ao projeto Mandalla em seu estado, e explica algumas situações da sua realidade:

“A gente fez um levantamento antes de começar, e viu que a maioria deles faziam duas refeições, eles plantavam em média um e meio hectare por ano, agricultura de sequeiro (seca, verão-inverno) e tinham uma receita anual da ordem de R$ 4.000,00. Hoje, confrontando esses números com a atualidade dos que implantaram a Mandalla, eles fazem pelo menos 4-5 refeições por dia, o pior projeto hoje tem um salário mínimo por mês, se você multiplicar isso aí já vai passar de R$ 7.000,00 por ano e a média deles tá em um salário e meio a dois por mês fora a alimentação, e tem gente aí tirando R$ 3.000.00-4.000,00, quer dizer, com um investimento tão pequeno, a gente consegue fazer com que esse processo de desenvolvimento comece a acontecer em famílias que normalmente, por não ter possibilidade de fazer um investimento maior, não tinham nenhuma política pública que os beneficiasse. Então, é um salto de qualidade extraordinário do ponto de vista de desenvolvimento humano e um salto econômico também bastante expressivo.” (José Ximenes – entrevista 9)

E expõem alguns dos impactos que começam a ser observados:

“No depoimento do prefeito de Madalena, esse que tem os 27 projetos lá, ele diz e cita que hoje chega nas escolas, a cenoura, a beterraba, o mamão, o peixe, o ovo, e não sei o que, vindo das Mandallas, o que dá uma alimentação mais saudável e esse dinheiro passa a circular dentro município, e são pessoas que estão poluindo menos o ambiente. Então que ele tem essa série de impactos, tem, mas não existe nenhum estudo, mesmo com os números que a gente está falando, isso ainda é inexpressivo do ponto de vista de um município. Eu espero que isso venha a ter um impacto muito grande, isso daqui a 10-15 anos, se isso continuar, com políticas públicas e os futuros governadores e prefeitos, continuarem apostando nesse projeto.” (José Ximenes – entrevista 9)

V10 - Antonio Wilson de Pinho - prefeito de Madalena/CE

A pouco tempo, (com sorriso no rosto) eu cheguei num supermercado e tinha lá, a batata, a cenoura, e outros produtos, o coentro, a cebola, já do Mandalla, e chegando nas escolas, você começa a receber a notícia da qualidade da merenda. E o Mandalla veio como um exemplo. Porque hoje eu não vejo só a segurança que o Mandalla que está dando para aquela família que está trabalhando, mas é o exemplo que está sendo dado, colocando Mandalla em cada localidade, para que sirva de modelo aos agricultores em cada parte, e passem a ver e as famílias também, o resultado, a produção, o acompanhamento qualificado e orientado.

(AGÊNCIA MANDALLA, 2012a)

Na tentativa de registrar os resultados que estavam obtendo no Ceará, Seu Ximenes realizou algumas filmagens com uma equipe de jovens, e prepararam alguns pequenos documentários, que ele mesmo utiliza no processo de divulgação que continua ocorrendo. Ao final de um destes vídeos, deixa manifestada a expectativa com esse trabalho todo:

Os nossos agradecimentos e as nossas expectativas de que com isso nós estejamos dando mais um passo dentro do nosso objetivo do projeto Mandalla de ampliar esses conhecimentos, de divulgar essa metodologia, essa tecnologia, para que possamos cada vez mais, produzir com mais qualidade, com menos agressão ao meio ambiente e com mais lucro para os produtores. (AGÊNCIA MANDALLA, 2012a)

Além do caso do projeto no Ceará, foi possível pesquisar alguns documentos recentes da Agência Mandalla, de um projeto no Maranhão, aonde a apresentação do projeto aos parceiros, o levantamento do potencial de produção e de consumo, e o acompanhamento das atividades ficaram evidenciados.

O estabelecimento da parceria da Agência Mandalla com a Eletronorte/Eletrobrás no Maranhão, ficou incluido e alinhado ao planejamento estratégico da empresa cliente, para os anos 2010-2020, na medida em que esta possui como missão: “[...] atuar no mercado de energia de forma integrada, rentável e sustentável” (RODRIGUES, 2012c, p. 6); e tem como seu sétimo objetivo: “[...]

integrar e eficientizar a gestão de programas sociais e ambientais” (RODRIGUES, 2012c, p. 6). Ainda, caracterizando a importância de projetos como a Mandalla para as empresas, ele colabora no atendimento às políticas internas de responsabilidade social e de sustentabilidade, das mesmas.

No caso do exemplo citado, a empresa possui tanto a Política de Responsabilidade Social quanto a Política de Sustentabilidade das Empresas

Eletrobras, que visam a promoção do desenvolvimento sustentável nas áreas de convivência, sendo necessário, portanto identificar e atuar na situação sócio-econômica das comunidades situadas em áreas de convivência das instalações da Eletronorte. Por isso, o projeto proposto pela Agência Mandalla foi uma ação de responsabilidade social que visava promover qualificação, conscientização e geração de trabalho e renda nas comunidades dos municípios de Peritoró, Matões do Norte e Miranda do Norte - Maranhão, por meio da agricultura familiar sustentável, e da consultoria especializada no manejo e produção sustentável de hortaliças e frutas utilizando metodologia de Mandallas produtivas.

Alguns dos possíveis pontos de impacto do Projeto Mandalla foram destacados como: capacitação profissional, trabalho e renda, erradicação do trabalho escravo, promoção de equidade de gênero e raça, segurança alimentar, acesso ao crédito, saúde, educação ambiental, erradicação da miséria, combate a exploração sexual. E entre os resultados previstos estavam: “[...] pessoas capacitadas em técnicas agroecológicas de plantio e empreendedorismo, renda de R$ 350,00 a R$ 2.000,00 / mês para cada família beneficiada, minimização significativa das situações de vulnerabilidades sociais, contribuição para a otimização de processos de combate a fome e a desnutrição”. (RODRIGUES, 2012c, p. 11)

Atualmente a Agência conta com quatro principais programas: Teia Mandalla de Empreendedorismo, Geração Mandalla, Planeta Mandalla e Apoio ao Empreendedorismo Sócio- Ambiental.