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4 RESULTADOS E ANÁLISE DA PESQUISA

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO DESIGN THINKING NA PESQUISA

4.2.1 Desejabilidade

Esse critério relaciona-se principalmente ao elemento humano, neste estudo de caso, tem interface com pessoas enquanto: agricultor usuário final do projeto, membros da equipe da Mandalla, empresas patrocinadoras que investem recursos financeiros, governo local e secretarias. Todas essas pessoas buscam atender seus desejos, encontrar respostas na solução proposta, ao mesmo tempo, em que são convidadas a participar dando suas idéias e contribuições na medida em que vão participando e se empoderando do processo.

Enquanto usuário final que vai usufruir da Mandalla, seguem descritas, algumas das falas das entrevistas e vídeos que retratam essa questão. No vídeo 14 sobre um projeto desenvolvido no Maranhão: “Bom dia, meu nome é Maria da Conceição, eu sou uma das pessoas do projeto Linha Verde Mandalla, em Joaquim Maria, Miranda do Norte. Estamos gostando do projeto, que é muito importante para a comunidade, com certeza vamos ter uma alimentação melhor, uma renda melhor, que essa é a nossa intenção, estamos trabalhando para a melhoria da comunidade.”

(AGÊNCIA MANDALLA, 2012b)

Em entrevista com o Sr. José Paulo Santana, membro da equipe da Agência Mandalla, relata sobre um agricultor que passava fome junto com sua família e não tinha perspectivas até conhecer o projeto Mandalla:

“O Sr. Cardoso foi um exemplo que tirava uma renda razoável. A história dele foi que ele era um cortador de cana, e com a extinção da usina ele ficou sem terra, foi assentado na área dele e quando o projeto Mandalla chegou, ele ganhava R$ 25,00 por cabeça de gado que ele ajudava a engordar na propriedade dele, depois de 3-4 meses que o gado ficava comendo capim, somente no abate que ele ganhava, praticamente passava fome. Então quando chegou o projeto Mandalla ele acreditou, era ele, a esposa, a filha, o filho e mais dois sobrinhos, tinha uma renda de R$ 1700,00, vários animais de criação em casa, e ainda alimentava toda a família.” (José Paulo – Entrevista 1)

Complementa ainda afirmando:

“Vejo o impacto local, na pessoa, vejo famílias que mudam de vida, é muito emocionante, o Seu Cardoso por exemplo, que estava no campo sem perspectiva de crescimento nenhum, desanimado com aquela lida, e ver um sorriso, todo um jeito diferente de falar. Esse caso me toca muito, pois ele mesmo diz que sendo um analfabeto, o maior orgulho dele foi poder comprar um livro para a filha dele que estava dentro de uma faculdade, e poder formar a filha. “Pegar dinheiro do meu bolso e conseguir, essa é uma grande mudança.” Então para mim, saber que estou fazendo parte do processo que beneficia pessoas como ele, resgata a dignidade da pessoa, é a filosofia da Mandalla, resgatar a dignidade humana. A gente vê muitas pessoas desanimadas, desacreditadas. E uma das minhas grandes satisfações que mais me encanta é chegar a apresentar um processo Mandalla e a maioria quase não acredita que o processo pode acontecer e quando você vê a coisa acontecendo e a cara das pessoas olhando, aquilo ali é muito interessante.”

(José Paulo – Entrevista 1)

Fica evidenciado ainda a relação que se estabelece entre o que é desejável para um funcionário da Agência que trabalha na parte administrativa financeira, na medida em que se realiza ao perceber a função sócio-econômica-ambiental da Mandalla, atribuindo sendo de propósito ao seu trabalho como gestor e administrador.

Outro fator fundamental que evidencia a desejabilidade é justamente a apropriação do processo Mandalla, enquanto solução inovadora, pelos agricultores usuários. E, na medida em que isso acontece, vão fazendo escolhas para a sua própria horta, o que querem, quanto querem, aonde querem, como querem, plantar, colher, comer e vender. Nas entrevistas com mais dois membros da Agência, fica claro a presença destes aspectos descritos: “Fazer com que as pessoas entendam e se apoderem do processo, se não houver esse empoderamento e não houver essa relação de envolvimento das pessoas com a tecnologia, a coisa não funciona, porque é o que a gente fala, o processo é seu, invente, mude, adapte.” diz Willmar Pessoa Rodrigues, coordenador de operações, estratégia e projetos. (entrevista 2)

Para ele,

“Quem escolhe o que plantar é o dono da terra, ele que escolheu, com a esposa. Claro, em cima das regras do que pode ser ou não pode ser. A pessoa diz quero isso isso e isso, beleza, vai plantar isso, assim, nos espaçamentos e aonde, é a equipe da Mandalla que orienta o como plantar e aonde. Mas o que plantar ele que escolhe. Maçã não dá, precisa de frio.”

(Willmar – entrevista 3)

Outro colaborador da Agência, Itamar Medeiros da Silva (responsável pela logística, operacional e compras) também compartilha a sua experiência e ponto de vista a respeito do que plantar:

“O que é plantado em cada círculo depende do escalonamento da produção, pois tem o seu tempo para crescimento e consumo, normalmente faz um escalonamento para que tenha produção todas as semanas. Por exemplo, se plantar alface e coentro no primeiro círculo do primeiro delta, como são culturas que demoram cerca de uma semana para crescimento, é provável que no próximo delta também sejam plantadas essas culturas, para que tenham o mês todo.” (Itamar – entrevista 1)

Essa questão do escalonamento da produção, explica a equipe da Mandalla, está relacionada à vontade e disponibilidade de cada agricultor em plantar as diversas culturas, de acordo com sua região e potencial de consumo, tanto da família quanto da cidade aonde irá vender o excedente da sua produção.

Sobre o quesito da desejabilidade, existe um outro aspecto interessante de ser explorado. Na medida que a Mandalla tem um processo com muitos atores envolvidos, ou seja, além do usuário final, existe também a figura do que poderia ser chamado de patrocinador do projeto. Cada Mandalla tem um custo para ser implementada, portanto, o agricultor precisa contar com a ajuda e investimento de terceiros para iniciar sua própria horta. Assim, esse patrocinador, pode ser uma empresa privada que deseja realizar um projeto de responsabilidade sócio-ambiental, em qualquer localidade, ou mesmo aos arredores dela mesmo, junto às suas comunidades cincunvizinhas. E este patrocinador também tem o seu próprio

desejo que busca atender, normalmente relacionado à sua consciência de responsabilidade social associado à sua imagem no mercado.

Esse é justamente um dos exemplos citados durante a entrevista com Willmar, o caso da empresa Ypioca em Fortaleza no Ceará: “O instituto Ypioca conheceu o trabalho da Mandalla através de uma pessoa que veio fazer o treinamento aqui, [...] estavam procurando alguma coisa que realmente desse impacto. A gente fez o treinamento com 12 famílias em 2008” (Willmar – entrevista 7). Algumas empresas buscam investir em projetos que sejam auto-sustentados após o seu início, para não gerar dependência e não representar uma ação de filantropia pontual, mas sim de responsabilidade e desenvolvimento social. Portanto, um dos desejos das empresas privadas patrocinadoras de projetos é que o seu dinheiro gere retorno para a sociedade e autonomia das pessoas beneficiadas com o projeto, desvinculando da dependência de seus recursos financeiros no longo prazo, o que permite à empresa responsável, fazer novas escolhas para investimentos sociais.

Além disso, podem acontecer outros desdobramentos e envolver mais atores locais, no caso, o poder público, principalmente aquele relacionado com o desenvolvimento da agricultura. Neste mesmo caso que estava sendo relatado por Willmar houve uma interação positiva nesse sentido, continua ele seu relato:

“Disso aí, essa pessoa que fez o treinamento lá, teve um contato com o pessoal da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, SDA, que foi Ximenes, responsável pela supervisão das Emater, e estava buscando um projeto que fosse voltado para uma coisa que desse sustentabilidade de impacto. [...] E o que aconteceu, o foco principal que eles buscavam era como garantir sustentabilidade, se os produtores não tinham o entendimento de como produzir, quando produzir, o que produzir.” (Willmar – entrevista 7)

O governo federal, estadual, municipal e suas secretarias, por sua vez, também apresentam seus desejos de que os projetos nos quais trabalham, ofereçam impacto real, tragam retorno para a sociedade, respostas aos problemas que a esfera pública tenta solucionar, e para os quais é a sua razão de existir.

Sr. José Ximenes Faria Junior, engenheiro agrônomo, especialista na área de agricultura orgânica e proteção ambiental, funcionário da EMATER-Ceará e da secretaria de Desenvolvimento Agrário relata que:

“A gente há muito tempo que buscava encontrar alguma alternativa que fosse, fundamentalmente, de base agro-ecológica, e também, que fosse viável para a agricultura familiar, a gente tentou muito implementar algo, mas não tínhamos uma metodologia organizada da forma que a Agência Mandalla organizou. Então, no primeiro governo do atual governador, abriu um espaço pra gente dar este tipo de apoio, tanto do ponto de vista de menor consumo de insumos industriais como, realmente uma alternativa que fosse viável para os pequenos agricultores do estado.” (José Ximenes – entrevista 9)