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4 RESULTADOS E ANÁLISE DA PESQUISA

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO DESIGN THINKING NA PESQUISA

4.2.7 Implementação

Na implementação é o momento de tornar real na vida das pessoas o que foi idealizado, ou seja, está relacionado com o caminho e a estratégia para fazer acontecer no local aonde deve acontecer a solução de um problema desafiador.

Também pode acontecer prototipação, porém já bem evoluída e próxima à real solução, podendo acontecer a implantação na forma de teste ou piloto, que ofereça ainda condições para colher feedbacks. A escolha de como comunicar a solução encontrada para que os usuários finais possam se apropriar daquilo que é para eles, faz parte dessa fase também.

Referindo-se à estratégia da Mandalla para fazer acontecer o projeto no Estado do Ceará e torná-lo real para centenas de pessoas, segue relato de Ximenes na entrevista:

“O primeiro marco pra gente começar a tentar implementar o processo foi a gente desenvolver, selecionar uma organização que pudesse nos apoiar.

Essa instituição foi a Emater, que tem escritórios nos diversos estados, e até

pra fortalecer um pouco a credibilidade junto ao governo do estado, um órgão oficial, então, a Emater. Ao mesmo tempo a gente também fazia contato com as organizações não governamentais e as representações de produtores como sindicatos, federações de trabalhadores, e organizações não-governamentais, e também as associações. Secretarias de agricultura dos municípios. Isso genérico, pra primeira discussão. E aí a gente selecionou área geográfica; em princípio, em todo o estado. Então nós fomos aos regionais da Emater e levamos a idéia, e aí passou-se a delinear, mais ou menos, o público e a área. Como? À medida que a gente levava essa discussão para uma região e ela tinha melhor ou maior aceitação ela já ia sendo priorizada. O processo da seleção se deu durante o desenvolvimento da divulgação, de acordo com a aceitação dos públicos locais. Fizemos isso nas treze regiões do estado, essas reuniões, e após essa primeira visita, que durou mais ou menos uns dois meses nós selecionamos uma das regiões do sul do estado, o Cariri, a outra fica mais ou menos a noroeste, Baturité, e a Ibiapaba é no limite com o Piauí, ao norte. Depois, pra selecionar essas três regiões nós fomos e começamos a tecer com os extensionistas e com as organizações governamentais e não-governamentais e indo até a comunidade, e faziamos o contato com as comunidades. E aí divulgávamos e depois aguardávamos a digestão dessa coisa entre os extensionistas nos seus diversos níveis e as organizações e os produtores. Uma demanda totalmente desburocratizada, apenas diziam se queriam ou se não queriam o projeto. E a gente os agrupava em grupos de 10 e iniciava a capacitação.

Essa era, mais ou menos, a metodologia, e a coisa acontecia.” (entrevista 9)

Atualmente, segundo informações de Ximenes, já são mais de 400 Mandallas ativas, fornecendo alimentação e renda para muitas famílias que passavam fome e viviam na miséria no Ceará.

A atenção e a estratégia quanto a forma de comunicar aos usuários faz diferença e pode garantir o sucesso de implementação da solução no local, levando em consideração as características e a linguagem das pessoas. Ximenes conta como melhoraram essa estratégia e o efeito que percebe entre os beneficiários:

“Esse vídeo foi feito no fim de 2010. E é o nosso primeiro documento, primeiro registro que eu consegui fazer, foi esse aí. E para mim tem sido muito útil, porque

quando a gente utiliza ele nos cursos, na parte motivacional, ele é muito importante.

Porque a gente dizendo ele vê de um jeito, mas vê o companheiro dele dizendo é diferente, já dá um pouco mais de credibilidade. Ele vê o que vai fazer, na frente, é uma ferramenta muito motivacional, pois eles vêem pessoas já com um certo sucesso, e isso é muito importante nessa fase de implantação do projeto, logo no primeiro módulo.” (entrevista 9)

Portanto, mudanças ainda acontecem no projeto e fazem parte do processo de Design Thinking nessa etapa de implementação, onde novos insights podem surgir e inspirar alterações na maneira como vinha sendo feito. Itamar compartilha

“[...] um exemplo de coisa que mudou, é o processo de montagem e estruturação física. Por exemplo, uma mudança estrutural na Mandalla, foi que no início do processo eram feitas com círculos completos, e agora elas são feitas em deltas.

Deltas são pedaços, partes do círculo, fatias de pizzas, sendo que são 6 deltas separados numa Mandalla. Trabalha os deltas.” (entrevista 1)

Outra transformação significativa no processo de atuação do Sistema Mandalla DHSA, foi quando decidiram investir em um centro de formação, acreditando no impacto construtivo que traria para o processo de aprendizado dos agricultores quando são capacitados dentro de uma realidade prática, vendo e experimentando realmente o que estão aprendendo, além de ampliar o contato com outras tecnologias que não apenas a horta Mandalla. Tudo para facilitar o empoderamento e o sucesso de implantação das soluções. Nesse sentido, José Paulo conta: “Eu peguei justamente a fase em que a Mandalla estava ainda com parcerias da Bayer e da Pepsico, mas saiu da linha de beneficiar alguns poucos agricultores e foi para a linha de desenvolver o Unicenter, hoje a UniMandalla para poder ser realmente um centro de capacitação e desenvolvimento de novas tecnologias, foi quando toda a Mandalla foi para lá” (entrevista 1). Desde então, pessoas de todo o Brasil que querem aprender sobre a Mandalla, podem visitar o Unicenter, “[...] de 2008-2009 foi feito um projeto também em Belém do Pará, em 33 cidades [...] trouxeram pessoas para serem capacitadas aqui para depois aplicarem o projeto lá.” completa José Paulo. (entrevista 1)

Esse enfoque prático na implementação também é explorado por Willmar na entrevista 2: “Nós conversamos e explicamos que ninguém vai entregar uma Mandalla pronta, e que o processo é de capacitação e aprendizado prático. Vamos trabalhar para treinar e capacitá-los, para que você possa aprender como é o

processo e a partir daí se você quiser modificar, modifique, mas desde que você tenha entendido. Porque chegar lá com tudo pronto e não saber o processo de montagem do sistema de irrigação, do funcionamento da bomba, de fazer os canteiros, e nem de fazer adubação em nada, de que que adiantou? Então, ninguém tá aqui para tampar buraco, mas para fazer com que vocês possam aprender e nesse aprendizado se gabaritar para conseguir tocar o seu próprio futuro, independentemente da gente estar presente ou não, por isso que o processo é de treinamento contínuo. Todas as etapas dos treinamentos são feitos na prática.”

Assim, foi possível observar que o foco do caso estudado é mais do que apenas fazer funcionar uma horta Mandalla, a implementação do Sistema Mandalla DHSA está nitidamente relacionada ao fomento e desenvolvimento da atitude empreendedora como solução para o problema da fome e da miséria, conforme Willy afirma na entrevista 6: “[...] o mundo tem que ser de empreendedores” e Itamar comenta a filosofia Mandalla de com o mínimo “[...] fazer o máximo, é a visão do empreendedorismo”. Essa visão se torna real através do empoderamento das pessoas que participam das capacitações, Willmar comenta sobre a importância disso na entrevista 2: “Fazer com que as pessoas entendam e se apoderem do processo, se não houver esse empoderamento e não houver essa relação de envolvimento das pessoas com a tecnologia, a coisa não funciona, porque é o que a gente fala, o processo é seu, invente, mude, adapte.” O relato emocionado de Edinalva (filha de agricultores que passavam fome) a respeito da condição dos pais com a Mandalla, retrata o êxito nessa questão do empreendedorismo rural e familiar mesmo para aqueles mais destituídos de recursos: “[...] hoje eles tem a cabeça meio que empreendedora, tem uma visão empreendedora do que eles querem, e isso, é bonito de ver neles.” (Edinalva - TV CÂMARA, 2005)

O caso da Mandalla revelou diversas facetas do processo de Design Thinking bem como a iteração entre inspiração, idealização e implementação, demonstrando o quanto que a solução é possível de ser melhorada cada vez mais, com a escuta e participação de todas as pessoas envolvidas no processo e na utilização dessa tecnologia. É apresentado, por fim, um exemplo onde fica explicitada essa iteração, ou seja, mesmo depois de várias Mandallas implementadas no Brasil e no Ceará, seu Ximenes diz que recentemente modificaram o reservatório de água central da horta, com pouco recurso extra e conseguiram duplicar a capacidade produtiva de peixes, otimizando a produção e revelando a atitude empreendedora: “O volume de

água no reservatório, quando a gente começou o processo, era uma forma muito cônica que armazenava em torno de 20 mil litros de água. Nós fomos abaolando ao longo do tempo isso aí, vendo o custo-benefício disso e com o incremento de apenas mais um saco de cimento, nós conseguimos ampliar pra 42 mil litros de água, então, com um simples abaolado. Você viu aquele lá de Cuité, é como se fosse um funil, hoje nós estamos utilizando como se fosse uma antena parabólica, em vez de ser aquela coisa mais afunilada, a gente abaolou mais as suas vertentes e eles passaram de 20 pra 42 mil litros e nós tirávamos em torno de, que era a recomendação da Agência, 250 a 300 alevinos (filhote de peixe) por 6 meses, hoje nós estamos tirando em torno de 500 a 700 peixes no mesmo período. Então tudo isso são adaptações que a gente vai fazendo e testando, analisando, ou por conhecimento do produtor ou por experiência e colocação nossa dos técnicos.”

(José Ximenes – entrevista 9)

A observação e o cuidado com a natureza e o meio ambiente, estavam presentes na pesquisa das práticas do Sistema Mandalla DHSA, sendo possível verificar a perspectiva da sustentabilidade analisada a seguir.