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7 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ESTUDOS DE CASO

2.5 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

2.5.1 Certificação de edifícios

Segundo Silva (2007), como parte das estratégias para atender as metas estabelecidas na Rio-92, são desenvolvidos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, métodos para a avaliação ambiental dos edifícios. Tão importante quanto construir sustentavelmente é comprovar tal diferencial do edifício, fornecendo confiança ao cliente e tirando partido de tais ações para a publicidade da empresa. Segundo a mesma autora:

O primeiro sinal da necessidade de se avaliar o desempenho ambiental de edifícios veio exatamente com a constatação que, mesmo os países que acreditavam dominar os conceitos de projeto ecológico, não possuíam meios para verificar quão "verdes" eram de fato os seus edifícios. Como seria comprovado mais tarde, edifícios projetados para sintetizar os conceitos de construção ecológica frequentemente consumiam ainda mais energia que aqueles resultantes de práticas comuns de projeto e construção (SILVA, 2007, p. 06).

Segundo Fossati (2008), as certificações são desenvolvidas de modo a serem facilmente incorporadas por projetistas e pelo mercado em geral, tendo uma estrutura simples, geralmente formatada como uma lista de verificação (checklist) e vinculadas a algum tipo de desempenho. No entanto, alguns métodos fazem uma avaliação apenas da sustentabilidade ambiental do edifício, enquanto outros apresentam também critérios sociais e/ou econômicos, importantes em países em desenvolvimento, como o Brasil.

As certificações de edifícios popularizaram a expressão green building (edifício verde), representando as edificações cuja construção, uso e manutenção são mais eficientes. Segundo Silva (2003), os métodos de avaliação de edifícios em países desenvolvidos estão, prioritariamente, pautados em uma avaliação ambiental, justificando a popularização do conceito green building. Por outro lado, nos países em desenvolvimento, procura-se priorizar a avaliação da sustentabilidade, englobando fatores sociais e econômicos, além dos ambientais.

Nos países desenvolvidos, as maiores necessidades básicas humanas já foram satisfatoriamente atingidas, permitindo-lhes buscar a manutenção da sua qualidade de vida, aliada à redução do consumo dos

recursos naturais e seus impactos ambientais. Por outro lado, a qualidade de vida nos países em desenvolvimento é, normalmente, inferior à dos países desenvolvidos, não atendendo, muitas vezes, sequer as necessidades básicas. Deste modo, em países como o Brasil, as certificações devem buscar, além da minimização dos impactos ambientais negativos, o desenvolvimento social e econômico (FOSSATI, 2008).

A primeira certificação foi desenvolvida no Reino Unido, em 1990 e, é denominada de Building Research Establishment Environmental Assessment Method (BREEAM). Depois desta, várias outras certificações foram surgindo mundialmente, muitas delas tendo por base o BREEAM. Esta e outras certificações podem ser localizadas no mapa da Figura 21. Outras informações sobre estas certificações estão sintetizadas no Apêndice B.

Figura 21: Métodos de avaliação da sustentabilidade no mundo.

Fonte: SILVA, 2007, elaborado pelo autor. 2.5.2 Métodos brasileiros de avaliação da sustentabilidade

Mesmo com vários métodos de avaliação da sustentabilidade em todo o mundo, “não é possível copiar ou simplesmente aplicar um método

estrangeiro no Brasil com base no sucesso que tal método tenha obtido em seu país de origem” (SILVA, 2004, p.11). As peculiaridades de cada região precisam estar inseridas nestes métodos, definindo determinadas prioridades. Um exemplo disso, é a necessidade urgente de redução das emissões de CO2 para atender o Protocolo de Kyoto. Essa meta o Brasil não adota, mas pode ser exigida caso adotar normas americanas ou britânicas para a avaliação da sustentabilidade.

Dentro deste cenário, alguns métodos de avaliação da sustentabilidade foram desenvolvidos no Brasil, outros adaptados de certificações estrangeiras, tais como:

•AQUA (Alta Qualidade Ambiental): adaptação brasileira do HQE francês, desenvolvido pela Fundação Vanzolini para a certificação da sustentabilidade ambiental do edifício. Lançado no Brasil em 2008, o Processo AQUA possui 167 empreendimentos certificados (FUNDAÇÃO VANZOLINI, 2015);

•SELO SUSTENTAX: desenvolvido em 2006 pelo Grupo SustentaX, a certificação tem por base a NBR 14024, avaliando as características de salubridade, qualidade, responsabilidade socioambiental e de comunicação com o consumidor. Como resultado, tem-se um índice de sustentabilidade e inovação (HOFFMANN, 2014);

•ASUS: ferramenta desenvolvida para a avaliação da sustentabilidade no contexto do estado do Espírito Santo. Abordando as dimensões ambiental, social, econômica e cultural, essa ferramenta foi desenvolvida para a avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios em fase de projeto, servindo como instrumento de auxílio aos projetistas que visam edificações mais sustentáveis (UFES, 2015);

•Procel Edifica: programa brasileiro de etiquetagem da eficiência energética de edifícios residenciais, comerciais e públicos;

•SELO CASA AZUL: certificação brasileira para avaliação socioambiental de projetos habitacionais.

Além destas certificações, é importante mencionar a NBR 14040 (2001), que trata da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) como instrumento de gestão ambiental.

Dentre as certificações brasileiras, o SCA é o que apresenta uma avaliação mais abrangente, indo além da abordagem ambiental do AQUA e da avaliação da eficiência energética do Procel Edifica. Por esta razão, além de ser gerenciado pela mesma instituição responsável pelo financiamento de habitação do PMCMV, a Caixa Econômica Federal, este selo foi selecionado para o presente trabalho e é apresentado em maiores detalhes na seção 2.5.3.

Tabela 03: Números de edifícios certificados por diferentes métodos. Certificação Nº de edificações certificadas

Mundialmente Brasil Fonte

BREEAM 534.925 6 BREEAM, 2016

HQE / AQUA 380.000 167 HQE, 2016

LEED 42.543 317 USGBC, 2016

DGNB 535 0 DGNB SYSTEN, 2016

CASBEE 450 0 JaGBC, 2015

Procel Edifica 2.226 * 2.226 ** ELETROBRAS, 2015

SCA 10 * 10 CAIXA, 2015a

Obs.: * Todas os edifícios certificados são brasileiros;

** Valor incluindo as etiquetas para unidades habitacionais autônomas. Fonte: autor, 2016.

Com relação ao número de edifícios certificados, o SCA ainda é bastante modesto. Conforme indicado na Tabela 03, a certificação LEED, de origem norte americana, é o método mais presente entre as edificações certificadas no Brasil. O Procel Edifica, apesar de apresentar valores significativos, avalia cada uma das unidades habitacionais dos edifícios, gerando assim, várias etiquetagens em um mesmo empreendimento.

2.5.2.1 Procel Edifica

O Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações (Procel Edifica) foi lançado em 2003 em parceria com o Ministério de Minas e Energia, o Ministério das Cidades e universidades, sendo importante mencionar a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e seu Laboratório de Eficiência Energética (LabEEE). Por meio da etiquetagem de edifícios comerciais, de serviços, públicos e residenciais, o Procel promove o uso racional de energia elétrica no ambiente construído (INOVATECH, 2015).

Para auxiliar na avaliação, foi desenvolvido o Regulamento Técnico da Qualidade do Nível de Eficiência Energética (RTQ), a partir do qual é possível identificar os parâmetros, equações, tabelas e planilhas necessárias. A avaliação pode ocorrer pelo método prescritivo ou por meio de simulação, analisando, por exemplo, os materiais de coberturas e paredes, os materiais e tipos de janelas, além das características dos sistemas de aquecimento de água. Assim, classifica-se a eficiência energética do edifício de A (mais eficiente) a E, conforme Figura 22 (CB3E, 2014a).

Figura 22: Etiqueta de eficiência energética Procel.

Fonte: CB3E, 2014c.

A eficiência energética do edifício é avaliada por meio de quatro critérios: envoltória; iluminação; condicionamento de ar e aquecimento de água. Além destes critérios, a avaliação exige o atendimento de alguns pré-requisitos, bem como oferece bonificações mediante o atendimento de outros critérios, tais como: uso de dispositivos economizadores de água; ventiladores de teto com selo Procel; uso de refrigeradores com ENCE nível A, entre outros.

A Instrução Normativa nº 02, publicada no Diário Oficial em 04 de junho de 2014, tornou obrigatória a etiquetagem de edificações públicas federais, novas e retrofits, com área superior a 500m², devendo apresentar desempenho nível A (CBCS, 2014).