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7 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ESTUDOS DE CASO

2.3 TIPOLOGIAS HABITACIONAIS E A QUALIDADE DA HIS

2.4.1 Os impactos da construção civil

A construção civil é um importante setor da economia brasileira, representando em 2012, segundo Gonçalves (2012), 36,3% do PIB nacional. Considerando o PIB total da cadeia da construção civil, 64% está relacionado ao setor de edificações. No entanto, o segmento ainda apresenta baixa produtividade, com grandes desperdícios de insumos e elevados prazos de execução. A construção civil brasileira é caracterizada por técnicas e processos tradicionais, em que há a predominância de mão de obra pouco qualificada, mantendo-se baixo o padrão tecnológico no setor.

Segundo Agopyan (2014), “a construção civil é responsável pelo consumo de 40% a 75% da matéria prima produzida no planeta. Atualmente, o consumo de cimento é maior que o de alimentos e só perde para o de água”. O setor é responsável por gerar 500Kg de entulho por habitante a cada ano, o que equivale a 3,5 bilhões de toneladas por ano. Esses dados fazem da construção civil a indústria mais poluente do planeta.

Diante da crescente população mundial e das áreas urbanas, a construção civil é um setor com demanda contínua. Desta forma, não sendo possível parar de construir, é necessário aumentar a eficiência do setor por meio de novas tecnologias, materiais e sistemas construtivos que contribuam para diminuir o impacto ambiental e aumentar a justiça social dentro do orçamento disponível.

Dentre as principais causas dos resíduos gerados pela construção civil, o processo construtivo adotado é responsável por 36%. Na sequência, aparecem: a mão de obra (18%); os projetos (17%); a gestão de materiais (17%); outros (12%). Diante destes parâmetros, a busca por uma construção mais sustentável pode estabelecer suas prioridades que, como se percebe, a capacitação da mão de obra a e a adoção de processos construtivos mais racionais são essenciais para que se tenha uma maior eficiência do setor (MOURA, 2014).

Fazendo-se uma breve comparação com outros segmentos da economia, conforme pode-se observar no Gráfico 08, a produtividade atingida na construção civil é muito inferior. Esta diferença ocorre por uma série de fatores, entre eles pode-se citar: a baixa qualificação da mão de obra e o pouco interesse por parte das pequenas e médias empresas em proporcionarem esta qualificação; o baixo investimento em pesquisa e

desenvolvimento; os elevados índices de desperdícios de materiais e retrabalhos necessários pela ausência ou ineficácia do planejamento; ausência ou insuficiência de investimentos em técnicas de pré-fabricação, modulação, gerenciamento e uso de sistemas de TI, além da informalidade existente em muitas atividades relacionadas ao setor (CGEE, 2009).

Gráfico 08: Produtividades das indústrias brasileiras em R$ / trabalhador.

Fonte: CGEE, 2009.

Comparando com outras regiões do mundo, como os Estados Unidos (EUA) e a União Europeia (UE), a produtividade da construção civil brasileira é de apenas 15% da produtividade americana. Para se ter uma ideia, a produtividade média no Brasil é de US$ 6.177,76 por trabalhador, enquanto na UE é US$ 31.247,44 e nos EUA é de US$ 41.528 por trabalhador. Além disso, o prazo das obras no Brasil é em média três vezes o americano e duas vezes o europeu. No Brasil, o prazo médio de obras de edificações é de 30 meses, enquanto na UE e nos EUA são de 14,3 e 10 meses, respectivamente (CGEE, 2009).

Evidentemente, os impactos da construção civil não ocorrem apenas durante a construção, mas também em seu uso e manutenção ao longo de toda a sua vida útil. Segundo Lamberts (1997), 42% da energia consumida no Brasil é utilizada em edificações, sendo que o consumo residencial é de 23%. Além disso, “aproximadamente 26% da água retirada e cerca de 10% da água consumida são volumes utilizados no ambiente construído, excluída a indústria e o agronegócio” (CAIXA, 2010).

Segundo Edwards (2013), o consumo de recursos naturais é bastante expressivo na construção civil: cerca de 50% de todos os recursos mundiais destinam-se à construção; 45% de toda a energia gerada é utilizada para aquecer, iluminar e ventilar edifícios e, outros 5%, para construí-los; de toda a água utilizada no mundo, cerca de 40% é destinada

a abastecer as instalações sanitárias e outros usos dos edifícios; de toda a madeira comercializada mundialmente, 70% é empregada na construção de edifícios e 60% da melhor terra cultivável que se deixa de utilizar para a agricultura é ocupada pela construção civil.

Isto demonstra a grande contribuição que pode ser dada pela construção civil, à medida que esta incorpore ações mais sustentáveis. Segundo Coelho (2010, p.1), “empreendimentos verdes reduzem em até 30% o consumo de energia, em 50% o consumo de água, em 35% a emissão de CO2 e em até 90% o descarte de resíduos, além de garantir um ambiente interno mais saudável e produtivo. ”

2.4.1.1 Os impactos da construção civil em Criciúma

Segundo Vitali (2013), no Sul de Santa Catarina há 919 empresas no setor da construção civil, empregando 7.098 pessoas. No entanto, apesar da oferta de capacitação pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC) e Associação Beneficente Abadeus, há pouca oferta de mão de obra capacitada. Conforme estudo de Colares e Daré (2011), 75% dos pedreiros, serventes, mestres de obras e carpinteiros que atuam no município não possuem ensino fundamental completo.

Considerando uma produção de 150 Kg de entulho por metro quadrado construído, Cardoso (2011) estimou que a produção média de resíduos da construção civil no município é de 145,65 ton./dia, com valores crescentes, em razão das políticas públicas de acesso à moradia. Dos resíduos gerados, a maior parte são restos de argamassa, tijolos e outros produtos cerâmicos, utilizados como aterros e, o excedente, juntamente com papéis, plásticos e madeiras, são entregues para os tele entulhos, quando não depositado em um dos 436 pontos irregulares já identificados.

Em 2014, foi instalada em Criciúma a primeira usina para recebimento, triagem, tratamento e reciclagem dos resíduos da construção civil, cujo destino é obrigatório (BORGES, 2014).

Com relação ao potencial de reciclabilidade dos edifícios, Peterson (2013) avaliou os materiais que compõem dois conjuntos habitacionais construídos no município, verificando a energia incorporada e emissões de CO2 resultantes da produção de seus componentes. Como resultado, o estudo indicou que as habitações possuem índice de reciclabilidade igual a zero, visto que os estudos de caso utilizam apenas materiais virgens em suas construções. Deste modo, o consumo energético e emissões de CO2

na construção destes edifícios são significativas, podendo ser minimizadas com a incorporação de materiais reciclados ou reutilizados. Avaliando ainda os sistemas construtivos utilizados, o estudo de Peterson (2013) indicou que a alvenaria estrutural de blocos cerâmicos, quando comparada com o sistema convencional de pilares e vigas de concreto armado, possui um melhor desempenho quanto ao índice de reciclabilidade. A alvenaria estrutural possibilitou uma redução de 13% da energia incorporada e de 11% nas emissões de CO2, enquanto no sistema convencional a redução foi de 11% e 8%, respectivamente, caso seus metais virgens fossem substituídos por metais 100% reciclados.