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7 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS ESTUDOS DE CASO

2.3 TIPOLOGIAS HABITACIONAIS E A QUALIDADE DA HIS

2.3.8 Exemplos contemporâneos de HIS

Dentro da dinâmica das cidades, é comum que imóveis dotados de uma boa infraestrutura urbana e, portanto, economicamente valorizados, sejam renovados ou substituídos com o decorrer dos anos, dando espaço a novos usos e atividades. A especulação imobiliária e o preço do solo urbano são, assim, determinantes na definição dos locais de implantação de habitações de interesse social que, conceitualmente, estão associadas ao baixo custo.

Figura 14: Quinta Monroy – construção inicial e ampliada.

Com a responsabilidade de radicar 100 famílias que ocupavam, irregularmente, um terreno no centro da cidade de Iquique, no Chile, o escritório de arquitetura Elemental (2016), também chileno, sob a responsabilidade do arquiteto Alejandro Aravena, desenvolveu o projeto de Quinta Monroy, ilustrado na Figura 14. Para evitar a realocação das famílias para a periferia da cidade, o projeto buscou a ocupação eficiente do terreno, aliando o reduzido recurso financeiro disponível para a execução da obra à possibilidade de ampliação futura pelos moradores, já considerada em projeto. Com as ampliações, as unidades habitacionais podem passar dos 30m² iniciais para 70m² de área construída.

Figura 15: Projetos Elemental – a) Monterrey, México b) Villa Verde, Chile.

Fonte: ELEMENTAL, 2016.

Após o bem-sucedido projeto de Quinta Monroy, construído em 2004, o escritório Elemental desenvolveu outros projetos utilizando a mesma solução arquitetônica. Entre eles, estão os projetos de Monterrey, no México, e de Villa Verde, no Chile, ilustrados na Figura 15 e construídos, respectivamente, nos anos de 2009 e 2013.

Com um investimento de 17 milhões de euros, foi construído em 2002, ao Sul de Londres, o BedZed. Este empreendimento emprega uma variedade de tecnologias que buscam minimizar as emissões de gás carbônico, tornando mais eficientes o uso dos recursos materiais, o consumo de água, de energia elétrica e gás. Projetado pelo arquiteto inglês Bill Dunster, o BedZed trata-se de um conjunto de uso misto, abrigando além de 82 unidades habitacionais, salas comerciais, escritórios, centro de exposições e berçário. Deste modo, o uso misto agrega qualidade de vida aos moradores, reduzindo a sua necessidade de mobilidade (MURDOCH; FIGUEIREDO, 2008).

Conforme ilustrado na Figura 16, à medida que o empreendimento incorpora algumas soluções de arquitetura que contribuem para a sustentabilidade, é trazida também uma identidade aos edifícios. O BedZed possui diferentes tipos de unidades habitacionais, das quais, 1/4 são subsidiadas pelo governo e destinadas à população de baixa renda.

Figura 16: BedZed – Londres.

Fonte: ARAÚJO, 2013.

Dentre as diferentes ações adotadas pelo empreendimento, ilustradas na Figura 17, Murdoch e Figueiredo (2008) destacam:

•A realização de uma avaliação do ciclo de vida dos materiais a serem utilizados, selecionando materiais da região, com menor energia incorporada, reciclados e reaproveitados sempre que possível;

•O aquecimento passivo dos ambientes, aproveitando a luz e calor solar por meio de varandas envidraçadas voltadas para o sul (hemisfério norte), reduzindo assim, o consumo de energia elétrica para o aquecimento nos meses frios. Para os dias de calor, as esquadrias permitem a ventilação cruzada entre os ambientes, além de dispositivo móvel instalado na cobertura que, se posicionado passivamente conforme a posição do vento, leva ar fresco para o interior do edifício, ao mesmo tempo em que permite a saída do ar quente;

•Geração de energia elétrica por meio de placas fotovoltaicas instaladas nas coberturas e fachadas, além da queima de lenha, cuja central, além de gerar energia, aproveita o calor residual para o sistema de aquecimento;

•Aproveitamento de águas pluviais e de reuso;

•Implantação de um sistema de uso coletivo de carros elétricos. Figura 17: Esquema das estratégias adotadas no BedZed.

Fonte: MURDOCH; FIGUEIREDO, 2008.

No entanto, com tantas tecnologias empregadas, é fundamental que, assim como é exigido pelo SCA, ocorra a orientação dos moradores, permitindo-lhe o uso adequado destas tecnologias, explorando o potencial do edifício.

No Brasil, é importante mencionar os edifícios atualmente certificados pelo SCA, citando como exemplo o Edifício Hab2, na favela Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro, ilustrado na Figura 18.

Figura 18: Edifício Hab2 - Chapéu Mangueira / Babilônia - RJ.

Fonte: ARQUITRAÇO, 2016.

O empreendimento, de 2011, é projeto do escritório Arquitraço, possui 16 unidades habitacionais e, por ter atendido a 32 critérios, recebeu certificação nível Ouro pelo SCA. O empreendimento faz parte do Programa Pró-Moradia Urbanização de Favelas, da Prefeitura do Rio de Janeiro e está inserido em uma proposta de intervenção urbana, a qual inclui a implantação de redes de água, esgoto, drenagem pluvial e áreas de lazer (CAIXA, 2015a).

Com a edificação, pode-se proporcionar uma melhor qualificação urbana, preservando os visuais, os moradores locais e, com eles, as relações sociais existentes. Do mesmo modo, pode-se garantir o acesso a um edifício com várias preocupações socioambientais, como: o uso de estrutura metálica e pilotis, de modo a melhor se adequar a topografia existente e permitir uma obra mais rápida e limpa; o aproveitamento de águas pluviais e reuso de águas servidas, em bacias sanitárias e torneiras de jardins; a instalação de um sistema de aquecimento de água solar; a separação e coleta seletiva do lixo; o uso de lâmpadas LED, aprimorando a eficiência energética do empreendimento (ARQUITRAÇO, 2016).

2.4 SUSTENTABILIDADE

O mundo contemporâneo enfrenta hoje um processo de transição na forma humana de habitar. A busca por atitudes mais sustentáveis, em toda a complexidade que envolve este termo, está tornando-se, progressivamente, mais relevante e imprescindível em toda e qualquer intervenção do homem sobre o meio. Não há a necessidade ou a razão de se falar de meio ambiente com a veemência de discursos ambientalistas ou idealistas de um mundo perfeito. A ocupação humana, mesmo que em pequena escala, por si só transforma as características originais do sítio onde se instala, desencadeando uma série de impactos ambientais.

Embora sejam inegáveis os ganhos em qualidade e expectativa de vida proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico e científico do final do século XX, estes são também responsáveis por mudanças significativas no equilíbrio do planeta. A população mundial chegou a 7,2 bilhões de habitantes, com perspectiva de atingirmos a marca de 8,2 bilhões até 2025. Paralelo ao crescimento populacional, é também crescente a produção e consumo de bens e serviços, bem como a expansão das cidades, onde vivem 54% da população mundial (UNRIC, 2014). No entanto, não há como “aumentar indefinidamente o consumo de matérias- primas se a fonte, o planeta Terra, é um mundo finito” (CAIXA, 2010, p.12).

A produção destes bens segue um fluxo constante de materiais, onde os recursos naturais são extraídos, transportados, processados, utilizados ou consumidos e, posteriormente, descartados. Em todo o ciclo de vida destes produtos há o consumo de energias e a geração de impactos ambientais por meio de poluentes e resíduos. Estima-se que entre 55% e 75% dos materiais extraídos da natureza não são comercializáveis, como os resíduos de mineração, emissões de poluentes e erosão. Nos países desenvolvidos, o consumo de recursos naturais pode chegar a 80t/hab/ano (CAIXA, 2010).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, iniciou-se o período de reconstrução da Europa e do Japão, destruídos pelo conflito. Neste momento, com as políticas mundiais voltadas para a expansão econômica, os discursos ambientalistas eram vistos como entraves ao progresso, mesmo para os países não destruídos ou diretamente envolvidos na guerra. Esta recuperação visada pelos países do hemisfério norte, além do rápido crescimento econômico vislumbrado pelos países do hemisfério sul, contribuiu para intensificar os impactos ambientais deste modelo econômico (RADAR RIO+20, 2015).

Por outro lado, diante do crescente panorama de degradação ambiental, este crescimento puramente econômico passa a ser questionado, visto que não garante qualidade de vida para todas as camadas sociais, principalmente nos países subdesenvolvidos. Diante deste contexto, é realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano. Este foi o primeiro grande encontro em que a comunidade internacional se reuniu para discutir o atual modelo de desenvolvimento econômico e suas responsabilidades sobre os impactos ao meio ambiente (RADAR RIO+20, 2015).

Embora a Conferência de Estocolmo tenha contribuído para o surgimento de legislações ambientais em diversos países, na prática, o cenário político e econômico pouco contribuía para a sua efetiva implementação. Sendo assim, na década de 1980, a ONU, através da então primeira-ministra da Noruega Grö Harlem Brundtland, retomou os debates e estudos sobre os riscos do uso excessivo dos recursos naturais. Como resultado destes estudos, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, comandada por Brundtland, divulgou em 1987 um documento intitulado Nosso Futuro Comum, também conhecido como Relatório Brundtland. Nele é apresentado o conceito de desenvolvimento sustentável, como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Isto se traduz em um pensamento de desenvolvimento economicamente viável, fator este marcante em uma sociedade capitalista, mas que também seja socialmente benéfico e ambientalmente adequado (MUDANÇAS CLIMÁTICAS, 2013).

O Relatório Brundtland foi um marco na história do desenvolvimento sustentável. A partir de suas recomendações, foi realizado em junho de 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também chamada de Cúpula da Terra ou Rio-92, com a participação de 172 países. Um dos documentos aprovados na Rio-92 foi a Agenda 21, que estabelece ações para viabilizar o desenvolvimento sustentável, conciliando proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica (RADAR RIO+20, 2015).

A partir do final da década de 1960, observa-se uma evolução nos debates e preocupação mundial, sobre a velocidade com que o ambiente natural vem sendo degradado em razão do crescimento econômico. Desta forma, ocorreram várias conferências internacionais que estabeleceram metas de desaceleração do consumo dos recursos naturais e seus impactos. Além das já mencionadas, pode-se citar: a Rio+5 (Nova York,

1997); Protocolo de Kyoto (1997); Rio+10 (Joanesburgo, 2002); Rio+20 (Rio de Janeiro, 2012).