“A arquitetura eterniza e glorifica alguma coisa. Por isso não pode haver arquitetura onde não há nada a glorificar” Ludwig Wittgenstein
Barueri está situada na zona oeste da Região Metropolitana da Grande São Paulo [RMSP], distante 26,5 km da Praça da Sé (marco zero de São Paulo). Barueri contêm uma área de 64km² e uma população fixa de aproximadamente 240.749 habitantes e estimada para 2018 de 271.306 habitantes (censo IBGE 2010), está entre os dez municípios com maior crescimento populacional de São Paulo e é um município sem zona rural, concentrando toda a população na zona urbana. Em setembro de 2015 a cidade de Barueri foi indicada pela Revista Isto é como a 37º melhor cidade para se viver, e 35º melhor cidade entre as cidades de grande porte, está na 6º posição como cidade mais rica do Brasil, entre 2010-2014 conforme divulgado pelo IBGE no estudo de PIB médio de 31. 935, 46, e classificada como a 4º melhor cidade a se investir em negócios segundo dados levantados em 2011 pelo Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal. (Lei nº415, 2017).
Possui quase sua totalidade de vias com pavimentação asfáltica (99,9%) e uma extensão de 420 quilômetros de rede de água, abrangendo todo o município, 95,4% de esgotamento adequado e 72,7% de arborização das vias públicas (Barueri, 2019a; IBGE, 2019b).
A zona oeste da RMSP contempla os municípios Carapicuíba, Barueri, Jandira, Itapevi, Osasco, Pirapora do Bom Jesus e Santana de Parnaíba conforme Figura 15. Teve sua urbanização desenvolvida por meio dos eixos das rodovias Castelo Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencourt, transformando segundo Reis Filho (2006) essas rodovias em avenidas urbanas de grande escala, com fluxo de veículos sobrecarregados, uma característica dinâmica das cidades metropolitanas.
Figura 15. Caracterização da Região Metropolitana de São Paulo e da Cidade de Barueri Fonte: Elaborado pela autora a partir de EmplasaSP (2019)
A existência de extensas áreas urbanizadas com loteamentos irregulares, cumprem a função de cidades-dormitórios para Meyer, Grostein e Biderman (2004), cidades estas muitas vezes desprovidas de condições básicas de infraestrutura, e por muitas vezes ocupado áreas ambientalmente frágeis e irregulares (Coelho & Amancio, 2013).
Alguns documentos comprovam, segundo Guerra (2013), que a origem do aldeamento de Barueri surgiu provavelmente da doação de uma sesmaria de seis légua em quadra doada anteriormente aos índios da aldeia de Pinheiros e Barueri pelo governador Jeronymo Leitão em 1580. Os padres que administravam o aldeamento, eram os principais detentores da terra e da produção de trigo tão cobiçada, e por isso a Câmara Municipal Paulista invadiu e expulsou os religiosos do aldeamento alegando o impedimento por parte dos padres ao acesso a mão de obra indígena e contrariando a finalidade inicial dos aldeamentos. A posse efetiva dos aldeamentos a partir do século XVIII passou a ser um importante instrumento da posse legal da terra, e desta forma os colonizadores avançaram sobre as terras indígenas e consequentemente reduzindo o contingente populacional e a miscigenação. Em 1739 a família Penteado adquire dos Beneditinos, religiosos que administravam a área após a expulsão dos jesuítas o direito ao título do aldeamento de Barueri.
A comercialização da Fazenda Tamboré da família Penteado para a Construtora Alburquerque & Takaoka S.A. ocorreu na década de 1970, através de um regime de enfiteuse,
uma divisão abstrata segundo Guerra (2013) do regime de propriedade, onde 17% do imóvel pertencem à União e os outros 83% pertencentes ao titular do aforamento, neste caso a Construtora que depois repassou este direito aos compradores dos lotes. Portanto a construtora passa a ter o direito de posse e não de propriedade, sendo necessário pagar anualmente o foro (uma taxa de 0,6% sobre o valor de avaliação do imóvel) e o pagamento do laudêmio (taxa de 5% sobre o valor de avaliação do imóvel), além dos pagamentos dos impostos e ônus convencionais. Estes pagamentos de taxas vêm sendo muito questionados pelos moradores de Alphaville, tendo muitas ações judiciais contra o pagamento.
A cidade de Barueri emancipou-se em 1948 da cidade de Santana de Parnaíba. O município é cortado transversalmente pelo Rio Tietê e longitudinalmente pela linha ferroviária da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos [CPTM] e pela Rodovia Castelo Branco. Boa parte da porção do território à margem direita do rio Tietê é majoritariamente ocupada por loteamentos fechados pelo setor industrial de Alphaville, a outra margem do rio Tietê encontram-se áreas industriais ao longo de toda rodovia Castelo Branco. As demais áreas da cidade observam-se cursos d’água existentes como os rios Barueri-Mirim e Cotia (Coelho & Amancio, 2013).
A partir de 1973 ocorreu um crescimento significativo no desenvolvimento econômico de Barueri com a aprovação da Lei de Zoneamento Industrial, surgindo os pólos empresariais Alphaville, Tamboré e Jardim Califórnia. A cidade de Barueri possui, segundo censo 2010, um IDHM de 0,786 em 2010, ocupando a 47º posição dentro do Estado de São Paulo. Seu IDHM tem uma evolução dentro dos últimos 3 censos elaborados, apresentando um quadro de evolução de 23% de 1991 ao atual 2010, conforme Figura 16, subindo da 118º posição dentro do estado de SP em 1991, para 47º em 2010 em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] (IBGEb, 2019).
Figura 16. Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano em Barueri Fonte: Adaptado pela autora de (IBGE, 2019b).
Conforme IDHM dentro da cidade de Barueri apresentado pelo ranking Atlas Brasil (2019), identificados como o melhor classificado o bairro Tamboré/Alphaville com um IDHM de 0.936, ocupando a posição de 280º dentro do ranking geral, e como último classificado o bairro Jardim Silveira em um quadrante contemplando a Escola Municipal de Educação Infantil Rogélio Lopez Recarey, a escola municipal de ensino fundamental Benedito Adherbal Farbo Nastureles e o núcleo de corte e costura de Barueri com um IDHM de 0.729, ocupando a posição de 6636º dentro do ranking geral conforme Tabela 9. Apenas como referência e comparação, o bairro com melhor classificação dentro do filtro de Unidade de Desenvolvimento Humano, é o trecho Berrini e Vila Funchal, contemplando a estação de trem da CPTM Berrini localizado na cidade de São Paulo, com um IDHM 0.965, que também é a primeira posição no ranking se comparado o Brasil como um todo. E a última posição no ranking segundo Atlas Brasil (2019) é o trecho localizado na área rural de Petrolina Juazeiro com um IDHM de 0.493 e a posição de 11.994º. Se o foco for fechado apenas região metropolitana de São Paulo, a classificação desses dois pontos passam a ser 44º para a região de Tamboré/Alphaville e 1772º para o Jardim Silveira.
Tabela 9. Ranking de Desenvolvimento Humano em Barueri
Posição Descrição Lugares IDHM
280º Tamboré / Alphaville Barueri 0.936
655º Ribeirão As Pombas: Munir José Professor Instituto Tecnico de Barueri 0.903
2056º Cruz Preta / Barueri 0.846
2056º Centro: Estação Barueri 0.846
2056º Barueri: Escola Municipal de Educação Infantil Leonardo Augusto Marcelo dos Santos / Escola Municipal de Ensino Fundamental João de Almeida Lemos / Comando de
Policiamento Metropolitano
0.846
2799º Faculdade de Tecnologia Fatec 0.824
2799º Centro Cultural de Barueri 0.824
2799º Califórnia: Centro de Ensino Superior Barueri / Hospitalis 0.824
4922º Boa Vista: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Puc Barueri) 0.766
6339º Engenho Novo: Instituto Técnico de Barueri / Escola Municipal de Educação Infantil Takechi Takau Camargo / Escola Municipal de Educação Infantil Engenho Novo II /
Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Luiz de Oliveira Andrade
0.735 6590º Jardim Silveira: Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Lênio Vieira de
Moraes / Escola Municipal de Educação Infantil João Fernandes / Escola Municipal de Ensino Fundamental Fioravante Barletta / 1º Distrito Policial de Barueri e Delegacia de
Proteção ao Idoso
0.730
6636º Jardim Silveira: Escola Municipal de Educação Infantil Rogélio Lopez Recarey / Escola Municipal de Ensino Fundamental Benedito Adherbal Farbo Nastureles /
Nucleo de Corte e Costura de Barueri
0.729 Fonte: Elaborado pela autora a partir de AtlasBrasil (2019).
Dentro do mapeamento realizado pela AtlasBrasil (2019), baseado no Censo 2010 algumas informações dos Censos 2000 e 2010 foram obtidas conforme Tabela 10, já separando apenas as duas amostras a serem estudadas no Capítulo 4 deste trabalho.
Tabela 10. Recorte Amostral da Pesquisa
2000 2010
Estudo 1 Estudo 2 Estudo 1 Estudo 2
IDHM 0,902 0,616 0,936 0,729
Renda Per Capita R$ 4.811,32 R$ 432,51 R$ 6.459,24 R$ 556,04
População Total 10.643 hab. 11.496 hab. 15.156 hab. 16.432 hab.
Taxa de Envelhecimento 5,94 1,52 10,25 2,62
Razão de Dependência (% população abaixo
de 15 anos ou acima de 65 anos) 32,22% 57,10% 34,10% 41,31%
Educação (Pessoas com Fundamental
Completo) 80,53% 37,46% 89,78% 59,38%
Educação (Pessoas com Nível Superior
Completo) Não identificado 60,39% 5,38%
Habitação – (população em domicílios com água encanada)
99,98% 99,81% 99,92% 99,96%
Habitação – (população em domicílios com
energia elétrica) 100% 99,82% 100% 100%
Habitação – (população em domicílios com
coleta de lixo) 99,68% 98,52% 99,86% 100%
Vulnerabilidade – (crianças extremamente
pobres) 0,6% 5,23% 1,06% 3,99%
Vulnerabilidade – (população vulneráveis à pobreza)
3,78% 43,71% 0,48% 25,23%
Fonte: Elaborado pela Autora a partir de AtlasBrasil (2019).
Segundo Censo, observa-se uma grande desigualdade financeira com uma diferença de mais de 91% no ano de 2010 entre os dois estudos, bem como 24,75% a diferença de vulnerabilidade da população a pobreza, apontando, que o bairro do Estudo 1 apresenta melhor qualidade em relação a renda per capita, porém dentro destes índices não pode-se dizer que a qualidade do espaço urbano tenha essa mesma discrepância em relação a renda, devido as porcentagens de domicílios apontados com água encanada, coleta de lixo e energia elétrica serem muito próximas. Durante o estudo em campo, foi verificado quais diferenças reais existem dentro do espaço urbano projeto.
Ainda caracterizando a cidade de Barueri, segundo o Ranking da Connected Smart Cities de 2018, que tem por objetivo indicar as cidades com maior potencial de desenvolvimento no Brasil, analisando a partir de 70 indicadores as cidades com mais de 50 mil habitantes, sendo dividido em Geral, por Eixo Temático, Região e por Faixa Populacional, a cidade de Barueri apresentou a melhor classificação em empreendedorismo com 6,732 pontos e ficando em 19º no ranking geral com 27,578 pontos, e em 2017 atingiu o primeiro lugar no setor de governança com 7,747 pontos (UrbanSystems, 2019).
A classificação positiva em 2018 no setor de empreendedorismo se dá pela cidade de Barueri ser um polo de empregos, sendo 94,8% empregos em setores produtivos, ou seja, fora da gestão pública. Em 2017 o sucesso no setor da governança se dá pelas boas ações públicas e um ótimo gerenciamento das despesas, além e boas pontuações em educação, economia e
empreendedorismo que são resultantes de uma boa gestão pública, e ainda em 2017 a cidade apresentou a melhor pontuação no setor da economia graças a grande empregabilidade e o maior PIB per capita das cidades analisadas (UrbanSystems, 2019).
Dentro dos anos 2013 a 2016 o município de Barueri passa a integrar o PCS, e cria o Comitê Barueri cidade Sustentável [CBC], porém neste primeiro momento apresentou-se pouco expressivo sua participação e impactos. A partir do ano de 2017 os gestores da cidade desenvolvem como lema da cidade “Barueri Cidade Inteligente”, e neste mesmo ano é assinada a Carta Compromisso do Programa Cidades Sustentáveis indicando assim o compromisso da cidade com um desenvolvimento urbano inteligente em todas as esferas municipais. No caso da cidade de estudo Barueri, a Carta de Compromisso foi assinada em 2012 e posteriormente em 2017 com a nova gestão, estando no Apêndice A (PCS, 2018).