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4. Análise e Discussão dos Resultados

4.5 Entrevistas Semiestruturadas

4.5.2 Objetivos Desenvolvimento Sustentável e o Programa Cidades Sustentáveis

“A Terra tem o suficiente para todas as nossas necessidades, mas somente o necessário” Mahatma Gandhi

Os ODS são uma agenda global, então é importante a transposição dos objetivos para uma escola municipal, adequando as necessidades de cada localidade, este é um dos primeiros desafios que a gestão pública enfrenta ao assumir o compromisso de seguir os ODS dentro de seu mandato, em como adequá-los ao Plano de Metas do governo. Como própria exemplificação, a entrevistada A diz quanto à adequação dos ODS “não vamos trabalhar em Barueri o ODS de mares limpos, mas vamos atuar mais na política de consciência e educação ambiental por exemplo, os ODS vieram de forma mais alinhada em todos os eixos, e também introduz as ações participativas que o ODM não tinha”, para a entrevistada B “os ODS são a agenda mais ambiciosa e ampla dos ODMs”, já para a entrevistada D “Os ODS te trazem uma reflexão e um olhar para o outro e recebendo os objetivos já prontos e pensados lá pela ONU, os municípios conseguem trabalhar em como eu vou me adaptar para atender isso”.

Uma primeira dificuldade enfrentada dentro da gestão pública e dos próprios cidadãos pelas entrevistadas é justamente esse convencimento da importância dos ODS e da real conceituação de sustentabilidade como já citado anteriormente, pois ainda existe aquela visão errônea de que falar de sustentabilidade é coisa do pessoal do meio ambiente, “a gente vai plantar árvore”, é necessário então mostrar que ter grandes índices de trânsito, ou mesmo a diferença social discrepante também não é ser uma cidade sustentável. segundo a entrevistada B 73% das prefeituras atuantes dentro da plataforma do PCS possuem estruturas enxutas, por muitas vezes a secretaria de meio ambiente e agricultura estão na mesma secretaria.

“Os bairros não são homogêneos, ainda mais em Barueri, a gente tem que sair dessa ideia de que o território é único e que tem uma política que sirva para o município inteiro, as vezes você tem que trabalhar melhor temas específicos em bairros específicos” entrevistada A

Os ODS, em especial o ODS 11, auxilia no pensamento e no planejamento das cidades, permite organizar e refletir a melhor forma de propor as metas e objetivos do governo, a fim de

buscar por um desenvolvimento mais sustentável e a força internacional que este pensamento do desenvolvimento sustentável ganhou com a Agenda 2030 permitiu uma pressão muito maior dentro da gestão pública, pois o desenvolvimento sustentável ganhou os olhares da sociedade civil organizada e não organizada, a internet e o acesso mais rápido da informação para as entrevistadas permitiu a amplitude no conhecimento, como também a agilidade no contato e nas relações entre as pessoas.

De um modo geral, criou-se uma abertura por parte das prefeituras e empresas no geral dentro do Brasil para uma visão e preocupação quanto ao desenvolvimento sustentável como um todo, isso graças aos ODS e principalmente na “obrigatoriedade” em atender ao programa, uma vez que o governo federal em conjunto com outros países aderiram a Agenda2030, muitos municípios segundo a entrevistada C melhoraram em diversos aspectos por conta do atingimento de metas. Quando se coloca a palavra obrigatoriedade com aspas, é justamente para frisar que por mais que o governo federal tenha se comprometido em seguir a Agenda 2030, não existe uma exigência que os municípios façam a aderência em conjunto e apresentem os resultados de melhorias, isso é algo optativo e voluntário, mesmo os municípios que aderem de forma voluntária ao PCS não possuem um obrigação em apresentar resultados e melhoria.

“hoje não tem no Brasil metas para o município, hoje nós temos metas globais, nacionais que o IPEA desenvolveu, mas a gente não tem metas do município .... a gente tem que saber quais são as realidades dos nossos municípios ... quais são as metas municipais, não adianta se você não pensar um território você não vai ter um impacto na meta nacional, então qual é o papel da cidade pra avançar essas metas” entrevistada B

O Programa Cidade Sustentável, para as entrevistadas A, B e C, oferece um suporte dos números e indicadores de cada localidade, norteando os gestores, portanto não sendo necessário adivinhar o que a população e a cidade precisa naquele momento, isso porque muitas vezes a percepção tanto da população como dos gestores pode ser errônea; a exemplo disso muitas vezes às pessoas reclamam quanto a segurança e fazem passeata, porém quando se analisa os dados e os números gerado pelos indicadores, talvez aquele bairro em questão não tenha esse problema de segurança como maior agravante, mas sim a falta de vagas nas escolas, portanto naquele bairro o correto seria direcionar ações com relação à maior disponibilidade de vagas, ou com remanejamento de salas ou na construção de outras unidades educacionais. Acaba-se com isso perdendo tempo e investimento dentro da gestão pública focando em ações de segurança naquele trecho que não é necessário, apenas utilizando o “achismo”, é importante

sim ouvir as solicitações da população segundo a entrevistada B, porém se abarcar de informações reais numéricas permite ter a concreta necessidade de investimento e as ferramentas dos indicadores vêm justamente para isso, os bairros como as cidades não são homogêneos, então permite trabalhar uma política pública adequada para cada bairro, mas isso exige uma maturidade política que nós não temos segundo todas as entrevistadas, isso não é só em Barueri e sim é uma questão cultural do país e dos gestores em questão.

“O Programa Cidades Sustentáveis vem como uma ferramenta de a gente pegar números, pegar indicadores, e trabalhar para fazer o planejamento da cidade. Infelizmente o que a gente percebe é que os tomadores de decisão não usam essas ferramentas no seu potencial... a gente tem uma ferramenta muito boa, que traz números muito bons, que apontam pra gente, olha tá vendo, aqui está melhorando, essa ação deu resultado” entrevistada A

“o indicador é isso, é concreto... a gente tenta sempre trabalhar com a indicação da transversalidade das políticas públicas...um indicador de mobilidade urbana, tem tudo a ver com saúde, e o indicador aponta muito isso” entrevistada B

A prefeitura de Barueri conforme informação da entrevistada A possui muitos dados levantados, todavia não existe um banco de dados único, os mesmos estão muito separados, por mais que existe a alimentação do banco de dados da plataforma do PCS, não são todos os funcionários da prefeitura que tem senha de acesso, portanto sua alimentação é mais restrita. É muito mais fácil mapear dados da saúde e da educação por exemplo, pois são dados muito utilizados e medidos na esfera federal, já os dados relacionados à segurança normalmente são mais fechados por questão de receio em sua disponibilização, os dados de construção e urbanismo existe uma dificuldade muito grande em se obter. Entretanto mesmo com as dificuldades tanto na coleta, como no emprego dos indicadores, após sua adoção em 2013, houve uma percepção positiva de seu emprego dentro do planejamento da cidade, pode-se direcionar de forma correta os recursos públicos, como também para as entrevistadas B e C permitiu uma abertura maior com relação às parcerias público privadas [PPP], envolvendo as empresas dentro do pensamento e da construção da cidade, utilizando dos seus recursos tanto financeiros como tecnológicos e de conhecimento, criando justamente uma rede de parcerias, juntando os três setores (poder público, empresas e terceiro setor). Dentro especificamente do eixo 5 de planejamento e desenvolvimento urbano, as entrevistadas tiveram a percepção de um melhor direcionamento após o emprego do PCS, algumas leis e decretos foram criados dentro

desta visão, de buscar um desenvolvimento urbano mais sustentável, incentivando tanto internamente na adoção de metodologias construtivas verde, bem como incentivando também a população em sua adoção, exemplo disto é o IPTU Verde.

Uma dificuldade apontada durante as entrevistas é trabalhar o indicador dentro das prefeituras. As entrevistadas A, B e C apontaram observar grandes dificuldades no usar ferramentas de gestão de projetos, pois os técnicos e funcionários não estão acostumados a essa metodologia, por muitas vezes não possuem o conhecimento, ou não tem acesso aos recursos para utilizá-los. Outra dificuldade apontada pelas 3 entrevistadas é quanto a troca dos contatos iniciais, como boa parte das pessoas direcionadas pela prefeitura a ficarem a cargo da implantação e alimentação do PCS são funcionários comissionados, ao mudar a gestão esses funcionários ou são demitidos ou são remanejados de secretaria, perdendo então todo o trabalho já desenvolvido. A mudança de gestão e não continuidade dos projetos é outra problemática apontada pelas entrevistadas, uma vez que o programa PCS fica com “a cara do antigo gestor” é abandonado pelo atual mandato com um certo preconceito do uso da ferramenta, sendo necessário todo um trabalho de convencimento novamente do uso da ferramenta como benefício a cidade.

“Na hora da decisão de se a gente vai construir um parque ou abrir um shopping, aí o emprego fala mais alto, vai gerar renda pro município, vai gerar imposto para o município, vai ter mais emprego para as pessoas, e isso pesa mais em qualquer número e indicador que você possa fazer” entrevistada A “não é uma gestão que era nossa, eles não conseguem entender que os ODS não é uma agenda de um governo é do estado brasileiro, então se a gente continuar com essa visão a gente não vai conseguir avançar em nada” nada entrevistada B

“hoje a gente vê um problema que em muitos municípios têm, que é a descontinuidade de projetos e a descontinuidade de uma gestão anterior, esse tipo de cuidado, cada vez mais as políticas públicas têm que ser um caminho de incorporar a participação popular que pode fortalecer esse processo de continuidade” entrevistada C

Para todas as entrevistadas, é necessário disseminar o conceito que, para a formação de uma cidade, é necessário um plano de metas a longo prazo, onde apenas 4 anos não necessariamente é tempo suficiente para se resolver questões de infraestrutura de uma cidade, seria fundamental se pensar como a agenda urbana internacional, um pensamento a longo prazo,

neste caso 15 anos da proposta dos ODS, onde, a partir da adoção dos ODS por parte da federação, as cidades devam se adequar e propor um plano de governo para esses mesmos 15 anos, não permitindo ser alterado se não com uma formalização conceitual.

“nosso sistema é muito complicado, porque a gente tem eleição de 4 em 4 anos, e aí você não tem continuidade das políticas, mesmo que alguma política tenha apontado melhorias na cidade...quando você muda uma gestão o que acontece hoje no Brasil é que a maioria dos gestores acabam com aquela política, porque aquela política era do antecessor e que ele não vai dar continuidade” entrevistada B

“É difícil, quando você tem que trabalhar com o aluno questões que ele não enxerga e vislumbra fora, mas quando você enxerga fora com uma prefeitura atuante, trazer isso para a academia fica mais fácil, pois está incorporado ao seu meio e aqui o aluno somente reflete sobre o porquê da importância” entrevistada D

Também tem a necessidade da importância de em conjunto com o indicador a utilização da meta, tanto para as entrevistadas A, B e C é necessário se projetar metas, tanto quantitativas, como qualitativas. A entrevistada B salientou que além do indicador, cada vez mais se incentiva o uso de pesquisas de percepção como complementação, isso segundo a entrevistada já está sendo trabalhado em São Paulo, o próprio mapa das desigualdades apresentado pela Rede Nossa São Paulo no início do mês de novembro de 2019 se trata disso, da junção entre os dados encontrados através dos indicadores e das pesquisas de percepção do cidadão “às vezes o indicador por si só não reflete a realidade” entrevistada B.

Na visão empresarial, para a entrevistada C, o desenvolvimento urbano sustentável e o emprego dos ODS e de ferramentas como o PCS podem beneficiar o setor empresarial de diversas formas, desde a facilidade de escoamento de produção, funcionários muito mais motivados trabalhando ou próximo de suas residências ou utilizando de um transporte público de qualidade. Dentro das horas vagas as pessoas possam contemplar com sua família em um espaço relaxante e incentivador também é uma forma de motivar o funcionário a ir trabalhar mais feliz e por consequência produzir muito mais, dando maior lucro para a empresa.

Como síntese das opiniões e sensações das entrevistadas, a Figura 52 traz a relação dos ODS e do PCS empregado dentro do planejamento urbano de forma mais integrada.

Figura 52. Fluxograma síntese do ponto de vista do uso dos ODS e do PCS dentro da cidade Fonte: Elaborado pela autora a partir das entrevistas semiestruturadas

Durante as entrevistas, além das questões levadas através das perguntas semiestruturadas, surgiram ao longo das falas das entrevistadas diversos temas e pontuações já descritos ao longo do texto e das Figuras 51 e 52, e foram compilados dentro na Tabela 23.

O resultado dos apontamentos da Tabela 23 nos mostra uma força no discurso quanto a necessidade da equiparação social quanto as desigualdades mostradas nos dois bairros, como na cidade de Barueri em si, bem como a necessidade na resolução dos problemas de mobilidade urbana e planejamento integrado dos espaços, além da questão da continuidade sistêmica dentro da gestão pública, que por meio desta é fundamental um plano de metas a longo prazo e não apenas dentro de uma gestão partidária de 4 anos.

Efetuar processo de convencimento Envolvimento entre os envolvidos? Não Sim Participação Popular Parcerias Público Privadas Sim Dar correto treinamento? Não Sim

Bom retorno do uso da ferramenta e atingimento das metas

Baseado nos ODS e no Relatório de Aalborg

Utilizado de forma unificada dentro das

secretarias? Não Sim PCS Falta de treinamento e conhecimento técnico da equipe da Prefeitura Atingimento ou

proximidade das metas estabelecidas Melhoria na qualidade de vida da população Retornar treinamento Continuidade em seu uso?

Não Efetuar processo de convencimento Falta de continuidade do

plano de governo e do uso do PCS

Bom retorno do uso da ferramenta e atingimento das metas

Tabela 23. Principais falas apresentadas durante a entrevista semiestrurada

Entrevistada A Entrevistada B Entrevistada C Entrevistada D

D es en h o U rb an o Desigualdades Sociais X X X X Desigualdades Econômicas X X X X

Problemas com mobilidade X X X X

Divisão Física da cidade (através do rio e da rodovia) X X

Pensar em melhoria nas entradas e saídas do bairro de Alphaville, atualmente criando

um funil nestes acessos. X X

Cada um faz sua calçada, causando desordenamento na construção X X

Necessidade de descentralização das cidades X

Falta de planejamento urbano integrado X

Falta de orçamento regionalizado e participativo X

Necessidade de Parcerias entre empresas e poder público. X X X X

G es tã o do P C S e d o O D S

Melhor capacitação técnica dos funcionários X X X X

Problema de troca de funcionários, o contato é normalmente com um comissionado,

e não um concursado X X X

Problema com a continuidade na gestão X X X X

Correta interpretação do conceito de sustentabilidade X X X X

Maior motivação para cumprir as metas do PCS, ser uma forma “obrigatória” para apresentar os resultados, e não apenas voluntária

X X X

Tomadores de decisão não utilizam os indicadores X X

Falta fiscalização da população X X X X

Processo inverso na gestão, primeiro se cria a meta e depois se utiliza o indicador X Medo de transparência do PCS, os indicadores negativos podem prejudicar a

campanha

X X X

Entende-se por consenso das entrevistadas que até 2030 existe uma perspectiva positiva com relação ao uso dessas ferramentas dentro da gestão pública, uma maior qualificação e profissionalização, permitindo por consequência o atingimento em boa parte dos ODS, as tecnologias estão aí surgindo para isso, para auxiliar nessas ações, o uso do PCS é visto sim como um instrumento de pressão dentro do governo e principalmente um instrumento de gerenciamento e aplicabilidade dos conceitos do desenvolvimento sustentável de forma clara e técnica, a junção da agenda 2030 dentro do PCS possibilitou o elo da pressão mundial relacionada ao assunto, transformando como pensar e como construir a cidade de forma mais consciente e mais sustentável, permitindo seu desenvolvimento na atualidade e nas gerações futuras. O envolvimento e participação da população dentro da gestão pública e do pensar a cidade é fundamental para o sucesso de um desenvolvimento urbano sustentável segundo as entrevistadas.