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A circulação dos conteúdos sonoros: formas para atingir a comunicação

Editais culturais

Foto 1. CONIC área externa; Foto 2 CONIC área interna; Foto 3 Loja Pro Vinil; Foto 4 CDs de RAP separados por sessão (RAPs de outros estados, RAP do DF e Gospel RAP); Foto 5 Discos de Vinil de RAP;

3.6. A circulação dos conteúdos sonoros: formas para atingir a comunicação

No período atual, com a globlização das técnicas, cada etapa do circuito configura eventos solidários pelo valor unitário. A junção desses eventos forma parcelas de situações geográficas que resultam localmente do acontecer solidário (SANTOS, 1996; 2002). O acontecer solidário apresenta-se de modo homologo, complementar e hierarquico189 funcional aos circuitos de produção ligando o mundo e a metrópole. Para Maria Adélia de Souza (2005, p. 253), estas “solidariedades definem usos e geram valores de múltiplas naturezas: culturais, antropológicos, econômicos, sociais, financeiros”.

Os sistemas de eventos que atualizam o circuito permitem reconhecermos a coexistência de ações e materialidades tradicionais que convivem sincronicamente com elementos da modernidade que buscam romper com a rigidez imposta pelo circuito midiático, publicitário e fonográfico hegemônicos. Notadamente, ocorre a “integração entre o universal e

189 De acordo com Milton Santos (2005, p. 257) “O acontecer homólogo é aquele das áreas de produção [...]

urbana, que se modernizam mediante uma informação especializada e levam os comportamentos a uma racionalidade presidida por essa mesma informação que cria uma similitude de atividades, gerando contigüidades funcionais que dão os contornos da área assim definido. O acontecer complementar é aquele das [...] relações entre cidades, conseqüência igualmente de necessidades modernas da produção e do intercâmbio geograficamente próximo. Finalmente, o acontecer hierárquico é um dos resultados da tendência à racionalização das atividades e se faz sob um comando, uma organização, que tendem a ser concentrados e nos obrigam a pensar na produção desse comando, dessa direção, que também contribuem à produção de um sentido, impresso na vida dos homens e na vida do espaço”.

o individual” (SANTOS, 1996, p. 164), e sobrevém o conflito, acontradição e a solidariedade entre verticalidades e horizontalidades.

Presenciamos até aqui, um maior vigor das densidades técnica, informacional e normativa diante a produção, distribuição e circulação fonográfica do RAP no Distrito Federal. Vimos que os coneúdos das densidades alteraram os elementos que configuram as etapas da produção e, sobretudo as relações sociais entre os agentes do circuito local, no que diz respeito às formas de conduzir o capital (social, cultural e financeiro) e o trabalho.

Entretanto, as produções advindas das dinâmicas horizontalizadas do lugar (SILVA, 2005) transmitem maneiras de se comunicar essencialmente simbólicas (ANTONGIOVANNI, 1996) que nem sempre será condicionado pela atividade fonográfica hegemônica, o que nos permite como afirmou Santos (2002, p. 162), pensar em “possibilidade de ação comunicativa”.

No Circuito RAP o momento da circulação - que também podemos definir como sendo a divulgação - é uma etapa estruturante do processo produtivo. Nela ocorre a comunicação entre os agentes do circuito e os conteúdos produzidos. Na ótica dos selos, observamos que há uma relação de dependência dos meios com auxílio da internet, tanto para distribuir como para fazer circular comunicando-se através dos projetos sonoros.

Identificamos a partir da densidade comunicacional uma parcela da espessura da circulação em torno do circuito local, ao sintetizarmos as características operacionais dos elementos que contribuem para promover os selos e artistas (antigos e novos) que fomentam a dinamização dos fixos e fluxos no consumo cultural do RAP na econômica lugarizada do Distrito Federal (Ver Quadro 11).

O panorama da divulgação é composto por radialistas/locutores e seus respectivos programas de radiodifusão e radio web; pela criação de revistas impressas e eletrônicas em sites e redes sociais para diacronicamente manterem os agentes atualizados das “notícias” do Circuito RAP; e por meio de canais audiovisuais na televisão ou em streamings ao produzirem conteúdos específicos sobre a cultura das ruas.

Quadro 13 – Circulação dos Fonogramas e Fluxo comunicacional no Circuito RAP do Distrito

Federal.

Tipologia Topologia

(localização) Nome/Empresa Agente-Função

Ano de atuação Programas de rádio tradicional Setor Comercial SUL - Asa Sul,

Brasília Se Liga na Fita (Rádio Nacional AM 980 khz) Lidiane Lélis (locutora) 2017

Asa Sul Cultura Hip Hop (Radio Cultura FM)

DJ Chokolaty

(locutor) -

Ceilândia Espaço do RAP (Radio Comunidade) DJ Nelson Ramos (locutor) 2015 Programas de rádio web Programas de rádio web

Ceilândia Movimento Hip Hop DF (Radio MH2)

DJ Nego Gilson

(locutor) 2012

- Rádio West Side

(radiowestside.com.br)

Matheus Gustavo, Ruan Barbosa e Giovane Silva (gerentes e programadores)

2016

Cruzeiro Clap Yo Hands - Agitando as Quebradas

(radiodffm.com.br)

Kym Castro

(locator) 2017

Espaço do RAP Gospel DJ Nelson Ramos

(locutor) 2017

Ceilândia Smurphies Disco Club DJ Markynhos (locutor) -

Ceilândia O som da Favela - -

Várias localidades do Distrito Federal Mixmania 100 (programas e DJs) 2017

Black Beat Corello DJ (RJ)

Black Total Claudinho DJ

CharMix Claudinho DJ Clube do Charme DJ Jacson Kleber

Disco Black DJ Grandy

É o Bicho O Som

dos Bailes DJ Woolfang

Estação Hip-Hop DJ Pudão Flash Total Claudinho DJ

Gilmastermix DJ Gilmar

In Da Mix DJ Smoogg Love & Songs DVJ Lula

Megadance DJ Roberto Memories Of The

Past DJ Myka

Monster Jam DJs Freire; Myllero; Soulto; e Orlando Mixer O Balanço da Way DJ Johnnis

Old School Mix DJ Pex

Produção Dehco

Wanlu DJ Dehco Wanlu

Produção Dehco

Wanlu DJ Dehco Wanlu

Rap é Nacional DJ Jamaika Studio Mix DJ Luizinho

Volt Mix DJ Alexandre Lee

Televisão Brasília Vídeo Black Mix DJ Chokolaty

(apresentador) 2006 Canais

audiovisuais na web

Brasília Brasília é RAP Rosana Jesus

(jornalista e apresentadora) 2015 Ceilândia No Comando Dos

Pratos

Clenio da Mata (apresentador e chefe de

conzinha)

- RAP Brasília Sergio Medeiros

(gerente) 2014

- Rap na Cena Inando Souza

(apresentador) 2015 Ceilândia Minha Quebrada Max Maciel (RUAS) 2016

Brasília Meleca Vídeos MC Meleca e Catarina Maltezo

(gerentes e videomakers) 2006

Mídia impressa Brasília Revista Estilo

D

Saulo Vitorino

(diretor e editor) 2016

Sites

Ceilândia Brasília Hip Hop Alan Jones Runaway 2010

Samambaia Correria RAP Marcelo Silva 2008

Ceilândia Jornal do RAP

Jéfferson Nobrega e Israel Souza

(gerentes)

2009

Redes Sociais

Planaltina Rap Nacional DF

@rapnacionaldf Gabriel Alencar 2013

Brasília RAP DF

@RapDFOficial Matheus Milk 2016

Brasília RAP Brasília

@rapbrasiliaoficial Martinelli Silva 2012 Fonte: Trabalho de Campo, maio de 2017 e secundárias vinculadas à internet. Elaboração própria, 2018.

A presença da radiodifusão ainda é um meio de transmissão eficiente e fiel para a divulgação dos projetos sonoros, além de inserir o artista no cotidiano do seu público a partir das ondas sonoras. Identificamos três programas que compõem a etapa da divulgação no circuito do RAP local. Destacamos os programas “Cultura Hip Hop” apresentado pelo reconhecido DJ e produtor Chokolaty na Rádio Cultura FM e o “Se Liga na Fita” transmitido pela Rádio Nacional e apresentado por Lidiane Lélis. Com público variado, o programa conta com entrevistas e execução de músicas de múltiplos segmentos musicais do Distrito Federal e Entorno, fato que amplia os horizontes para os artistas do Circuito RAP local.

No entanto, as rádios comerciais ainda são muito rígidas para aceitarem a música RAP em suas programações. Com o maior acesso a internet, surgiram inúmeras rádios web, cuja formação é similar aos programas realizados nas rádios comerciais, porém possuem menor densidade técnica-tecnológica e normalmente são transmitidos nas residências de seus produtores.

Inventariamos sete programas ativos na web, todos funcionando 24 horas na rede. Em sua maioria as locuções são realizadas por DJs, cujos formatos variam basicamente na execução em fluxo direto de sonoridade com RAPs do Distrito Federal e outras partes do país e do mundo; e programações com espaços para apresentações de set list de outros DJs e entrevistas com agentes do movimento.

Destacam-se os programas “Movimento Hip Hop DF” do DJ Nego Gilson (Imagem 28) e “Espaço do RAP Gospel” apresentado pelo DJ Nelson Ramos, ambos

especializados na cena Gospel do RAP, e o programa “Clap Yo Hands - Agitando as Quebradas” do locutor Kim Castro, este último sendo um dos mais influentes no circuito na atualidade por apresentar diversas cenas do RAP e blocos de entrevistas com agentes do circuito do DF.

Imagem 28 – DJ Nego Gilson transmite o programa “Movimento Hip Hop DF” via radio web.

Foto: autoria própria, 2017.

E por fim, enfatizamos os programas que mantém as músicas tradicionais dos tempos da Juventude Black quem confluiu anos 1980, com o surgimento do Hip Hop e RAP no Distrito Federal. Destacam-se os programas: “Smurphies Disco Club” da equipe de baile/lazer de Ceilândia, apresentado pelo seu criador DJ Markynhos; e o “Mixmania 100” criada para homenagear o DJ Celsão, grande difusor sonoro do RAP do Distrito Federal e da música Funky. A “Mixmania 100” é mantida por um coletivo de nove parceiros, dentre eles DJs, cerimonialista, promotores de eventos, servidores públicos e dançarinos amantes do estilo Flashback e se mantém com recursos próprios e de parceiros comerciais.

As rádios web são a forma mais democrática para se divulgar/promover os artistas, os fonogramas e outras atividades relacionadas ao circuito, pois não há critérios rígidos para a transmissão dos conteúdos e preenchem uma lacuna aberta pelo monopólio das rádios comerciais.

Há somente um programa vinculado à comunicação de massa via televisão no Distrito Federal. É o “Vídeo Black Mix” dirigido e apresentado pelo DJ Chokolaty e conta com entrevistas, cobertura de eventos, matérias e videoclipes de hip-hoppers do circuito local. O programa é exibido na TV Comunitária “Cidade Livre” pelo Canal 12 da NET (rede de TV a Cabo). O “Vídeo Black Mix” é uma sequência do projeto idealizado pelo produtor audiovisual Claúdio Chandelle que o mantinha ao lado do DJ Chokolaty, mas com o nome de

“Hip Hop na Tela” na TV Apoio e ficou no ar por mais de 5 anos com “muita informação ligada ao Hip-Hop” (CHANDELLE, 2008).

O baixo vínculo das empresas de televisão com os agentes do Circuito RAP local abre margens para a busca de alternativas pelos agentes para exporem suas ideias na tela. Em vista disso, da mesma forma como ocorre nas rádios comerciais os conteúdos não televisionados são exibidos na internet, predominantemente em canais no YouTube, onde ocorre os lançamentos de músicas e videoclipes de rappers com ou sem o consentimento dos artistas ou selos, mas que difundem os conteúdos produzidos no circuito.

Para além, há canais cuja peculiaridade é realizar entrevistas com artistas do RAP, tais como os canais: “Brasília é RAP” apresentado pela jornalista Rosana Jesus e conta com o apoio da Faculdade Anhanguera de Brasília; “Minha Quebrada” do agente cultural Max Maciel (RUAS) que realiza entrevistas com moradores do DF percorrendo a metrópole em um carro Opala/Chevrolet; e o irreverente “No Comando Dos Pratos” apresentado por Clenio da Mata que mistura RAP e gastronomia.

Para concluir os elementos midiáticos de divulgação destacamos ainda, os conteúdos dos sites e redes sociais, a exemplo do informativo “Correria RAP” administrado por Marcelo Silva, e o “Jornal do RAP” gerenciado pelos jovens Jéfferson Nobrega e Israel Souza. Ambas as iniciativa perduram por quase 10 anos, e que buscam manter a simultaneidade dos eventos ao noticiarem o público consumidor sobre as “novidades” do Circuito RAP. Nesse sentido, é relevante a circulação da revista “Estilo D”, distribuída de mão em mão e vendida em lojas e eventos, mesmo com um site percorre contra a tendência ao dispor de uma versão impressa.

Como parte fundamental para divulgação no Circuito RAP, os eventos musicais são pontos de encontros para a difusão da comunicação e produção de informação das cenas e os agentes correlacionados com a música RAP. Nos eventos musicais ocorre a circulação dos projetos sonoros, as trocas e vendas dos produtos gerados (CDs, DVDs, camisetas, bonés, livros, entre outros), as mediações de novos contatos, firmam-se as cooperações e projeta-se a visão para perspectivas futuras pelos agentes (selos e artistas) do circuito, além de movimentar a economia local.

Conferimos a existência de diferentes tipos de eventos musicais (shows, festivais, bailes) que transitam pelo circuito hegemônico com estruturas e densidades técnicas, informacionais e normativas realizadas em praças públicas e ginásios de esportes; e contra- hegemônico com investimentos e estruturas menores, porém que agregam pelo fluxo comunicacional realizados em pontos de cultura.

São presentes, os eventos musicais com bilheteria realizados por agentes privados em clubes/casa de shows e pontos correlacionados. Porém, em sua maioria os eventos do Circuito RAP do DF são gratuitos, dado à veemência dos projetos vinculados às políticas públicas para cultura por meio dos mecanismos da Secretaria de Cultura e as emendas parlamentares (como vimos no item 3.3.3.) destinadas pelos deputados distritais.

Destacam-se os eventos com atrações de artistas do Hip Hop e RAP locais e de outras localidades do país e também internacionais (Ver Quadro 14), realizados nas quebradas ou no Plano Piloto. O público é composto sobremaneira, por agentes ligados diretamente ao circuito, a título de exemplo, produtores fonográficos, artísticos e de eventos, rappers e hip- hoppers e também, admiradores e transeuntes.

Outro momento da circulação e comunicação no Circuito RAP do DF são as premiações para o reconhecimento do trabalho realizado na cultura das ruas. Tais como, o “Hip Hop Zumbi” existente desde 2010, é organizado de forma independente pelos coletivos ArtSam e Família Hip Hop, cujo valor é simbólico; e o “Hip Hop DF” criado em 2016, é promovido pela Secult por meio dos editais do FAC em parceria com a Subsecretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC-DF) do GDF, onde são distribuídos R$ 15.000,00 para os artistas indicados.

Quadro 14 – Eventos musicais de maior destaque no Circuito RAP do DF.

DF Gangsta

Local Ano Organização Apoio Bilheteria

Guará 2015 Noiz na Missão Marola Discos/Pro Vinil; GDF, BSB Criativa Não Atrações

Port Ilegal Rappers Atitude Consciente Cahegi

Apologia do Gueto Ideologia e Tal

Sacramento (São Paulo) Lauren (São Paulo) Reação (São Paulo) Siistema Negro (São Paulo) Sonorização:

DJ Markinhos (Smurphies Disco