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2 PRINCÍPIOS, INTERPRETAÇÃO E DIREITOS FUNDAMENTAIS

2.2 PRINCÍPIOS

2.2.3 Classificação dos princípios e das regras

7. Prosseguindo, CANOTILHO adota a seguinte classificação em relação aos

princípios: princípios jurídicos fundamentais, princípios políticos constitucionalmente conformadores, princípios constitucionais impositivos e princípios-garantia.

Os princípios jurídicos fundamentais são os que foram historicamente realizados e evolutivamente incutidos na consciência jurídica e que foram acolhidos de forma expressa ou implícita no texto constitucional. Eles têm uma função “negativa”, de evitar que os atos do poder público impliquem “excesso de poder” (função de limitação, por exemplo, com o princípio do Estado de Direito, do Estado Democrático). Mas também apresentam funcionalidade positiva, informando os atos do Poder Público (por exemplo, com o princípio da publicidade dos atos públicos) 48.

Já os princípios políticos constitucionalmente conformadores refletem a ideologia política fundadora da constituição. Eles representam limites materiais ao poder de revisão e são os mais visados em situações de alteração da ordem política. São exemplos os

47 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1163- 1164. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 187-188. 48

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1165. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 220; GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. Op. Cit. p. 93.

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princípios referentes à estrutura de Estado (unitário, federativo) e ao regime político (democracia, república) 49.

Em sequência, os princípios constitucionais impositivos concernem aos princípios que impõem aos órgãos estatais o cumprimento de “fins” e a efetuação de “tarefas”. Como exemplo pode ser citado o princípio da correção das desigualdades sociais50.

Enfim, em relação à classificação proposta, os princípios-garantia aludem a situações de imediata e direta garantia aos cidadãos. São os princípios do nullum crimen sine lege e de nulla poena sine lege, ou, ainda, os princípios do non bis in idem e in dubio pro reo51.

8. Dando seguimento, há que se mencionar a classificação no que tange às regras.

As regras podem ser jurídico-organizatórias ou jurídico-materiais.

As regras jurídico-organizatórias se subdividem em: regras constitucionais de competência, que se referem a atribuições conferidas a órgãos estatais; regras de criação de órgãos, concernentes à concepção de órgãos; e regras de procedimento, relativas ao processo de “formação da vontade política” e da execução de atribuições confiadas a órgãos públicos52.

As regras jurídico-materiais, por sua vez, podem ser classificadas em: regras de direitos fundamentais, que aludem a preceitos relativos ao “reconhecimento, garantia ou conformação” de “direitos fundamentais”; regras de garantias institucionais, que têm como finalidade a tutela de instituições; regras determinadoras de fins e tarefas do Estado, que, como o próprio nome sugere, são normas relacionadas com os princípios impositivos, e dizem respeito a prescrições constitucionais que determinam “os fins e as tarefas” estatais; enfim, as regras constitucionais impositivas, que são intimamente atreladas aos princípios impositivos e às regras determinadoras de fins e tarefas do Estado, mas que se referem a

49 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1166. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 220-221; GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. Op. Cit. p. 93.

50 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1166- 1167. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 221; GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. Op. Cit. p. 93.

51 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1167. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 222; GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação e crítica. Op. Cit. p. 93-94.

52 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1168- 1170. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 222-224.

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“imposições de caráter permanente e concreto”, mais especificamente a imposições legiferantes (imposição ao legislador de estabelecimento de leis pertinentes a tarefas materiais) e a ordens de legislar (obrigação do legislador de criar leis de estruturação e o funcionamento de órgãos públicos) 53.

9. No que concerne ao sistema interno de regras e princípios, CANOTILHO

denomina de princípios estruturantes aqueles que indicam diretrizes básicas da constituição. Como exemplos, são citados os princípios do Estado de Direito, o democrático, o republicano. Tais princípios são materializados, densificados, concretizados por meio de outros, os princípios constitucionais gerais. De forma elucidativa, o princípio democrático pode ser materializado pelo princípio da democracia econômica, social e política. Em seguida, os princípios constitucionais especiais, que, no caso, seriam exemplificados com o princípio da democracia econômica, social e política sendo concretizado pelo princípio da “socialidade”. Contudo, não são somente os princípios que concretizam outros princípios, mas as regras também podem ter essa função. É o caso das regras constitucionais que proclamam direitos econômicos, sociais e culturais, que densificam o princípio da socialidade54.

Logo, poder-se-ia fazer o seguinte esboço: princípios estruturantes → princípios constitucionais gerais → princípios constitucionais especiais → regras constitucionais. Mas este esquema não se desenrola em uma única direção, e sim mediante um relacionamento recíproco ou biunívoco55.

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CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1170- 1173. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 225-226. 54 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1173- 1175. No mesmo sentido, vide: BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição: fundamentos de uma dogmática constitucional transformadora. Op. Cit. p. 155-161. De forma mais detalhada sobre o princípio da socialidade, vide: NOVAIS, Jorge Reis. Os Princípios Constitucionais Estruturantes

da República Portuguesa. Op. Cit. p. 291-344: nessa obra o autor traz arestos da Suprema Corte Portuguesa

envolvendo a aplicação do princípio da socialidade.

55 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 1175. No mesmo sentido, vide: ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceito de princípios constitucionais: elementos teóricos para uma formulação dogmática constitucionalmente adequada. Op. Cit. p. 229-230.

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