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2 PRINCÍPIOS, INTERPRETAÇÃO E DIREITOS FUNDAMENTAIS

2.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS

2.4.7 Titulares dos direitos fundamentais

49. Titulares dos direitos fundamentais são aquelas pessoas que figuram como

sujeitos ativos de certas relações jurídicas, em que eles podem exigir de outrem (destinatários) o devido respeito e observância a posições jurídicas fundamentais217.

Os direitos humanos, que se distinguem dos direitos fundamentais, como visto alhures, são posições jurídicas pertinentes a qualquer ser humano, pelo simples fato de sua condição humana (princípio da universalidade). Assim, a titularidade dos direitos humanos é de qualquer ser humano (titularidade universal) 218.

Conquanto a Constituição pátria não tenha previsto expressamente o princípio da universalidade, esta é a concepção doutrinária, não obstante a própria Carta Magna estabeleça tratamento diferenciado, em alguns aspectos, da titularidade dos direitos fundamentais, o que não implica violação do princípio da isonomia. Diferenças, aliás, que concernem, por exemplo, à titularidade de direitos políticos, que, em alguma medida, destinam-se aos brasileiros natos e naturalizados e não aos estrangeiros219.

No que concerne ainda à titularidade dos direitos fundamentais, não há consenso firme em relação à titularidade dos direitos sociais. Os direitos sociais são decorrentes de reivindicações dos movimentos sociais. Estes movimentos em suas manifestações e ações exerciam os direitos de liberdade de expressão, reunião, associação e greve, que não são direitos exclusivamente coletivos, mas “direitos individuais de expressão coletiva” 220

.

O próprio Supremo Tribunal Federal vem entendendo que o direito à saúde tem titularidade individual e coletiva, reconhecendo, ainda, um direito subjetivo a prestações

217 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Op. Cit. p. 208. Sobre a titularidade dos direitos fundamentais, vide: DIMOULIS, Dimitri e MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Op. Cit. p. 82-100; HESSE, Konrad. Significado dos Direitos Fundamentais. In: ALMEIDA, Carlos dos Santos; MENDES, Gilmar Ferreira; e COELHO, Inocêncio Mártires (seleção de textos e tradução). Temas

fundamentais do Direito Constitucional. Op. Cit. p. 57-59. De forma detalhada sobre a titularidade dos

direitos fundamentais, vide: BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Direitos Fundamentais: tópicos de teoria geral. In: MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de

Direito Constitucional. Op. Cit. p. 305-317; FREIJEDO, Francisco J. Bastida et al. Teoría General de los Derechos Fundamentales en la Constitución Española de 1978. Op. Cit. p. 83-102.

218

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Op. Cit. p. 209.

219 Ibid., p. 210. Vide, ainda: DIMOULIS, Dimitri e MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos

Fundamentais. Op. Cit. p. 82-90. Sobre o princípio da universalidade e suas exceções, no que concerne à

Constituição da República Portuguesa, vide: CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e

Teoria da Constituição. Op. Cit. p. 416-425.

220 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Op. Cit. p. 215.

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nesta área221.

Pode-se dizer, então, que

os direitos sociais não são sociais pelo fato de serem, em primeira linha, ou mesmo exclusivamente, direitos coletivos, no sentido de sua titularidade ser eminentemente coletiva. Os direitos sociais assim foram e têm sido designados por outra razão, mesmo no âmbito da superada distinção entre direitos individuais e direitos sociais, visto que tal distinção não repousa na titularidade coletiva dos direitos sociais, mas na natureza e objeto dos direitos, como, aliás, já frisado. Os direitos sociais, ou foram como tal designados por serem direitos a prestações do Estado na consecução da justiça social, mediante a compensação de desigualdades fáticas e garantia de acesso a determinados bens e serviços por parte de parcelas da população socialmente vulneráveis, ou mesmo, como é o caso dos direitos dos trabalhadores (que incluem uma série de direitos típicos de liberdade e de igualdade, no sentido de proibições de discriminação), a qualificação de tais direitos como sendo também direitos sociais está diretamente vinculada à garantia de tutela de uma determinada classe social (os trabalhadores) no âmbito de relações no mais das vezes marcadas por níveis de manifesta assimetria — e desequilíbrio — de poder econômico e social. Ainda que não estejamos aqui a esgotar — e nem é esta a pretensão — as justificativas para a designação ainda hoje praticada (embora não isenta de críticas, dada a substancial equivalência entre os diversos direitos fundamentais) — dos direitos sociais, o que importa é que se tenha presente que o fator distintivo não é em si a sua titularidade coletiva, em contraposição aos direitos civis e políticos, que seriam de titularidade individual222.

221 Ibid., loc. cit. O autor cita o seguinte caso: “O direito à saúde — além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas — representa conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional. (...) O reconhecimento judicial da validade jurídica de programas de distribuição gratuita de medicamentos a pessoas carentes, inclusive àquelas portadoras do vírus HIV/AIDS, dá efetividade a preceitos fundamentais da Constituição da República (arts. 5º, caput, e 196) e representa, na concreção do seu alcance, um gesto reverente e solidário de apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada têm e nada possuem, a não ser a consciência de sua própria humanidade e de sua essencial dignidade”. BRASIL. Supremo Tribunal Federal.

Recurso Extraordinário (RE) n. 271.286. Rel. Min. Celso de Mello, j. 02.08.00. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24.SCLA.+E+271286.NU ME.%29&base=baseMonocraticas>. Acesso em 25 abr. 2011, 13:19:32.

222 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. Op. Cit. p. 217-218.

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2.4.8. A questão da eficácia dos direitos fundamentais: terminologias e concepções