• Nenhum resultado encontrado

Classificação dos segurados Posicionamento da doutrina e da jurisprudência

4 DA DIFICULDADE DO ENQUADRAMENTO DO BÓIA-FRIA ENQUANTO

5.2 Classificação dos segurados Posicionamento da doutrina e da jurisprudência

O conjunto é composto, pela subclasse dos segurados obrigatórios de um lado; na outra subclasse, segurado facultativo. Aqui o elemento de identificação é o custeio da Previdência Social: Quem contribui é segurado da Previdência Social.

São segurados obrigatórios todos que exercem atividade remunerada, de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo empregatício, e podem ser divididos em subclasses: empregado (esta sub classe dividida em empregado em sentido strito, e trabalhador eventual),

121 CARDONE, Marly A. Previdência social e contrato de trabalho-relações. São Paulo: Editora Saraiva, 2011,

2ª edição, p. 85.

empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial. É o rol do artigo 11, da Lei 8.213/91.

Conforme esquema lógico:

Marisa Ferreira dos Santos, leciona que:

O rol dos segurados obrigatórios na condição de empregados está contido no inciso I, a a j, do art. 11 da Lei n. 8.213/91, e no art. 12,1, a a j, da Lei n. 8.212/91: a) Aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à

empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação (destaquei) e

mediante contribuição, inclusive como diretor empregado.

O art. 9o, § 4o, do RPS considera o serviço prestado em caráter não

eventual como aquele relacionado direta ou indiretamente com as atividades normais da empresa.

O trabalhador rural foi incluído na categoria dos segurados obrigatórios empregados. Não era assim no regime jurídico anterior à Lei n. 8.213/91, em que os rurícolas não eram segurados obrigatórios e, por isso, tinham dificultada a proteção previdenciária.

...

Especial atenção merece a situação dos trabalhadores rurais denominados bóias- frias, até hoje excluídos do emprego formal. Para fins previdenciários, a jurisprudência os tem qualificado como “segurados empregados.123

Do ponto de vista lógico, surge , assim, uma nova classificação, sendo adicionado mais um item, em relação ao trabalhador volante.

123 SANTOS, Marisa Ferreira. Direito previdenciário esquematizado. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 126-

127. Empregados Trabalhador Eventual Em Sentido

Assim, nos termos do artigo 11, a classe dos segurados obrigatórios se subdivide em cinco:

a) empregados (subdividido em empregado em sentido estrito, e trabalhador eventual);

b) empregados domésticos; c) contribuintes individuais; d) trabalhadores avulsos; e) segurados especiais.

Porém, face a toda orgumentação desenvolvida, dos princípios e das regras estudados, corroborada pelas decisões da Jurisprudência, o item a, se subdivide.

a) Trabalhador empregado

b) Trabalhador eventual (exerce , na realidade, atividade laborativa de forma continua, para si , e em relação ao tomador de serviços, de forma eventual)

Assim , classifica-se o trabalhador volante: trabalhador eventual que faz parte do sub classe empregado, que esta comprendido no conjunto maior , de segurados obrigatórios, exercentes de atividade remunerada:

Neste mesmo sentido, doutrina Wladimir Novaes Martinez:

O rurícola, conhecido como bóia fria, é empregado, convindo verificar, em cada caso, para quem são prestados os seus serviços: se para o agenciado ou pra o empreendedor rural. Em princípio, presumidamente, é para empresa rural, e só na cisrcunstancia de o intermediário possuir idoneidade comercial – hipótese rara – o vínculo se estabelece.

Caso o intermediário não detenha personalidade jurídica, entende a Orientação Normativa SPS 2/4 que: ele e os trabalhadores são empregados do tomador de serviços. Tal inteligência é simplificação de problema complexo. O agenciador nem sempre se subordina ao proprietário da fazenda.124

Há posicionamento doutrinário que classifica o bóia-fria como contribuinte individual, posição esta que discorda-se nesta monografia:

Carlos Alberto Pereira de Castro e Joao Batista Lazzari, são desta corrente:

Boias-frias: trabalhadores volantes que são contratados por um “agenciador” de mão de obra rural para fazer serviçoes típicos de relação de

emprego rural; se o trabalho for de natureza não eventual e o agenciador não estiver constituído como pessoa jurídica, entender-se-á o vínculo de emprego com o tomador dos serviços, para fins de aplicação das normas de arrecadação e benefícios, inclusive na condição de safrista (contratação por prazo determinado); se a prestação laboral do bóia-fria for eventual, o enquadramento previsto é o de contribuinte individual. 125

Como referido no Capitulo 4, a Jurisprudência não tem se preocupado em classificar o trabalhador volante, se é como empregado, ou com contribuinte individual, ou ainda como segurado especial. Pensa apenas em sua proteção, em ampará-lo, sem levar em consideração a Ciência do Direito e a Metodologia Jurídica.

Interessante é o posicionamento do Juiz Paulo Ricardo de Arena Filho, quando foi titular na Turma Nacional de Uniformização, ao julgar o PEDILEF 201072640002470, (DOU 20/09/2013 pág. 142/188), criando uma nova classificação, para o trabalhador volante: segurado especial individual

O trabalho individual que possibilita o reconhecimento da qualidade de segurado especial é, primeiramente, aquele realizado por produtor que trabalha na propriedade em que mora e não possui família. Isso porque a legislação não poderia prejudicar ou punir, de forma desarrazoada, aquele que não pertence a grupo familiar algum, excluindo-o da possibilidade de ser abrigado pelo Regime Geral de Previdência na qualidade de segurado especial. Também se caracteriza como segurado especial individual o trabalhador avulso, conhecido como “bóia-fria” ou “volante”, que independentemente de não possuir produção própria, é absolutamente vulnerável, encontrando proteção na legislação de regência. 126

Na realidade, o trabalhador rural volante, do ponto de vista dogmático, não pode ser classificado como segurado especial por fugir totalmente a essa definição. É, conforme visto acima, trabalhador eventual que faz parte do subclasse empregado, que está comprendido no conjunto maior de segurados obrigatórios, por exercer atividade remunerada.

Face aos princípios constitucionais já delineados, e levando sempre em consideração o princípio da dignidade da pessoa humana, tem-se como acertada, a posição majoritária do Tribunal Regional Federal da Terceira Região.

A posição majoritária do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, é no sentido de reconhecer o trabalhador volante, como empregado, como tem feito a autarquia previdenciária, no âmbito administrativo, conforme visto no tópico anterior.

125 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. LTr, São

Paulo: 5ª edição, p. 149.

126 Juiz Paulo Ricardo de Arena Filho, quando foi titular na Turma Nacional de Uniformização, ao julgar o

Neste sentido, já decidiu o preclaro Desembargador Walter do Amaral:

Verifica-se que a legislação previdenciária obrigou os contratantes do lavrador diarista a recolherem as contribuições previdenciárias correspondentes, em substituição ao trabalhador bóia-fria, certamente tendo em vista as peculiaridades desta espécie de labor. V. Por essas razões, mesmo no tocante ao labor posterior a 31-12-2010, não se exige do lavrador diarista a comprovação do recolhimento de contribuições previdenciárias para a obtenção de benefício previdenciário, uma vez que a legislação atribuiu essa obrigação aos contratantes de seus serviços, cujo descumprimento não pode prejudicar o trabalhador bóia-fria. VI. O cômputo do labor do trabalhador rural diarista posterior a 31-12-2010, para fins de aposentadoria por idade, requer tão somente a comprovação da prestação de serviço de natureza rural, em caráter eventual, a um ou mais contratantes. Admite-se a comprovação dessa circunstância mediante apresentação de início razoável de prova material, corroborado por prova testemunhal, conforme o disposto nos artigos 55, § 3º, 106 e 108 da Lei nº 8.213/91 e de acordo com jurisprudência pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça em circunstâncias análogas (AgRg no REsp n.º 1083346/PB, Processo nº 2008/0195662-9, 6ª T., Rel. Min. Og Fernandes, D: 27/10/2009, DJe 16/11/2009).127

No mesmo sentido, agora como juíza, cumprindo seu mister de julgadora, e defensora da aplicação dos desígnios Constitucionais, a Desembargadora Marisa Ferreira dos Santos já decidiu que :

Quanto ao cumprimento do período de carência e à condição de segurado da Previdência Social, os trabalhadores rurais que exerçam atividade na qualidade de empregado, diarista, avulso ou segurado especial da Previdência Social não necessitam comprovar o recolhimento das contribuições previdenciárias, mas sim o exercício da atividade laboral no campo por período superior a doze meses (arts. 39, 48, § 2º, e 143 da Lei 8.213/91). V - Era entendimento antigo que a atividade do "bóia-fria" não caracterizaria relação de emprego formal, melhor se enquadrando às disposições do art. 11, V, da Lei nº 8.213/91 (contribuinte individual), obrigado a comprovar as contribuições. Porém, como o próprio INSS, na regulamentação administrativa ON2, de 11.3.94, artigo 5º, "s" e ON8, de 21.3.97, considera como empregado o trabalhador volante (ou bóia-fria), para fins de concessão de benefício previdenciário, deve ser assim considerado, razão pela qual não lhe cabe comprovar o recolhimento das contribuições previdenciárias, que constitui ônus do empregador, cabendo- lhe, tão somente, a comprovação do exercício da atividade laboral no campo por período equivalente ao da carência exigida por lei. 128

127 TRF3 AC 00275587820124039999, 10ª Turma, Rel. Desembargador Walter do Amaral, v.u, j. em 12.03.

2013, in e-DJF3 Judicial 1 DATA:20/03/2013.

128 TRF3 AC 00041332920014036112 ,9ª Turma, Rel. Desembargadora Marisa Santos, v.u, j. 28.02.2005 ,

6 PROPOSIÇÃO DE ENQUADRAMENTO DO TRABALHADOR RURAL BÓIA-