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Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

4 DA DIFICULDADE DO ENQUADRAMENTO DO BÓIA-FRIA ENQUANTO

4.3 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência

4.3.2 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

O Superior Tribunal de Justiça adotou como metodologia e critério de aplicação da legislação federal, fazendo uma conjugação entre o princípio da reserva do possível com a regra do mínimo existencial, conforme lemos abaixo:

[...] a partir da consolidação constitucional dos direitos sociais, a função estatal foi profundamente modificada, deixando de ser eminentemente legisladora em pró das liberdades públicas, para se tornar mais ativa com a missão de transformar a realidade social. Em decorrência, não só a administração pública recebeu a incumbência de criar e implementar políticas públicas necessárias à satisfação dos fins constitucionalmente delineados, como também, o Poder Judiciário teve sua margem de atuação ampliada, como forma de fiscalizar e velar pelo fiel cumprimento dos objetivos constitucionais91

Fundamentando-se neste pensamento, acima noticiado, já está assentado o entendimento, através de sua Terceira Seção, de que:

[...] considerada a condição desigual experimentada pelo trabalhador volante ou bóia-fria nas atividades rurais, é de se adotar a solução pro

misero para reconhecer como razoável prova material o documento novo,

ainda que preexistente à propositura da ação originária92

O precedente citado é o voto proferido pelo Ministro Paulo Galotti, na AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2.515 - SP (2002/0108260-5)93, assim transcrito:

No que diz com o mérito, a matéria inúmeras vezes posta ao crivo desta Terceira Seção resultou no entendimento de que, considerada a condição

91 Resp 1.041.197/MS, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 16.9.2009.

92 Voto proferido pelo Ministro Paulo Galotti, na AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2.515 - SP (2002/0108260-5”). 93 IDEM

desigual experimentada pelo trabalhador volante ou bóia-fria nas atividades rurais, é de se adotar a solução pro misero para reconhecer como razoável prova material o documento novo, ainda que preexistente à propositura da ação originária. No caso, como se vê à fl. 87, o documento novo, consubstanciado na certidão de casamento da autora, expedida em 26 de abril de 1979, da qual consta que seu marido tinha a profissão de lavrador, circunstância corroborada pela prova testemunhal, torna certo o exercício do labor agrícola.

Há precedentes:

A - PROCESSUAL E PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO RESCISÓRIA. RURÍCOLA. APOSENTADORIA. CERTIDÃO DE CASAMENTO COM A PROFISSÃO DE LAVRADOR DO MARIDO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. CARACTERIZAÇÃO. DOCUMENTOS NOVOS. ART. 485, VII, DO CPC. DOCUMENTOS PREEXISTENTES AO ACÓRDÃORESCINDENDO. SOLUÇÃO PRO

MISERO. ADOÇÃO.

1. Certidão de casamento constando a profissão de lavrador do marido caracteriza documento novo capaz de atestar o início de prova material da atividade rurícola.

2. Nos termos da assentada jurisprudência da Corte, considerando as condições desiguais vivenciadas pelo trabalhador rural, e adotando a solução pro misero, a prova, ainda que preexistente à propositura da ação originária, deve ser considerada para efeito do art. 485, VII, do CPC.

3. Ação procedente.

(AR nº 1.268/SP, Relator o Ministro GILSON DIPP, DJU de 7/11/2000)

B – "PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. ART. 485, VII, DO CPC. DOCUMENTO NOVO. TRABALHADOR RURAL.

A certidão de casamento da autora referindo-se ao marido desta como lavrador atesta, documentalmente, a atividade de rurícola, o que afasta a aplicação da Súmula nº 149/STJ.

Esta Seção, considerando as condições desiguais vivenciadas pelo trabalhador rural e adotando a solução pro misero , entendeu que a prova, ainda que preexistente à propositura da ação, deve ser considerada para efeitos do art. 485, VII, do CPC. Precedentes.

Ação rescisória procedente.

(AR nº 1.062/SP, Relator o Ministro FELIX FISCHER , DJU de 24/4/2000)

Ante o exposto, julgo procedente a presente ação para, rescindindo o acórdão proferido no REsp nº 212.519/SP, não conhecer do recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.

Afere-se deste acórdão, e da posição que o Superior Tribunal de Justiça adotou, da falta de técnica científica, e da adoção de parâmetros incorretos, para o reconhecimento do

direito do trabalhador volante. O acórdão fala em bóia-fria, mas não define o que é, se está ou não enquadrado no artigo 11, da Lei 8.213/91. Simplesmente adota o princípio in dubio

pro-misero, que é incompatível com a Previdência Social, conforme visto acima.

Uma vez decidido em um determinado sentido, repete-se o entendimento, sem se pensar na cientificidade da decisão, na construção dogmática, de acordo com a melhor doutrina.

Como repetição, temos ainda o entendimento de que, considerada a condição desigual experimentada pelo trabalhador volante ou bóia-fria nas atividades rurais, é de se adotar a solução pro misero, para reconhecer como razoável prova material o documento novo, ainda que preexistente à propositura da ação originária.

O Tribunal preocupa-se em dar o direito ao caso concreto, com questões processuais, como início de prova material, mas não vai a fundo na conceituação do direito a ser tutelado. Esquece, por completo, no entanto, que Seguro Social depende de custeio: não se preocupa com este importante aspecto.

Como exemplo de interpretação e aplicação de direito processual, o Superior Tribunal de Justiça considera como aptas como início de prova material as certidões de nascimento dos filhos da autora, que revelariam que seu marido era lavrador, constituindo prova material suficiente do exercício da atividade agrícola, a teor do disposto no art. 485, VII, do Código de Processo Civil, uma vez que "a qualificação profissional do marido como rurícula, constante de atos do registro civil, se estende à esposa, assim considerada como razoável início de prova material complementado por testemunhos94

Critica-se a falta de cientificidade da decisão, mas podemos extrair desse posicionamento:

1) O bóia-fria, ou trabalhador volante, é segurado obrigatório da previdência social, pois, uma vez provado este fato, preenchido os requisitos legais, tem direito ao beneficio previdenciário. À evidência, somente segurado da previdência social tem direito ao seguro social. Este fato, o STJ reconheceu.

2) Levou-se em consideração o conceito para se determinar o que seja trabalhador rural, não o conceito do Direito do Trabalho, em relação ao empregado, mas sim à atividade desenvolvida pelo trabalhador rural.

4.3.3 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência dos Tribunais Regionais