• Nenhum resultado encontrado

Para o enquadramento correto do trabalhador volante, parte-se das seguintes premissas:

1. Tem-se como ponto de partida, o Artigo 193, da Constituição Federal: “A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais.”129

2. A República Federativa do Brasil fundamenta-se aindam ressaltando o princípio da dignidade da pessoa humana, e os valores sociais do trabalho

3. Dos objetivos fundamentais da República faz parte construir uma sociedade solidária .

De posse destes fundamentos, e considerando que a Previdência Social é seguro obrigatório, devendo ser incluídos, entre outros, todos aqueles que trabalham de um lado, equalizando a necessidade do custeio e contribuição de cada participante, enquadra-se o trabalhador volante como empregado: artigo 11, I, “a” e “b” (rural temporário), e nunca como contribuinte individual, pois não presta serviços para empresas, e sim para diversas propriedades rurais, que não podem ser consideradas empresas.

Foi enfrentada a questão do artigo 15, da Lei 8212/91, que dá o conceito de empresa, mas, por maior que seja o elastério e amplitude que se dê, não pode fugir do conceito do Código Civil atual. Pequenos fazendeiros, arrendatários e outros pequenos sitiantes, que são tomadores de serviços, não se enquadram no conceito de empresa, sendo aberração jurídica a alegada equiparação, para fins previdenciários, o parágrafo único do artigo 15, da Lei 8.212, repetido no artigo 14, da Lei 8.213/91.

Com efeito, regime contributivo exigível no sistema previdenciário brasileiro, (CF/88, art 201. caput) deve ser interpretado e orientados pelos principios elencados no item 2, como o princípio da solidariedade, a obrigatoriedade de filiação de todos aqueles que exercem atividade laborativa, a uniformidade de tratamento entre trabalhadores rurais e urbanos, balanceados de outro lado com a princípio da equidade da fonte de custeio, e com a aplicação de um lado com a regra do mínimo existencial e da regra da contrapartida.

Chegar-se-á à conclusão de que os trabalhadores volantes são filiados obrigatórios à

Previdência Social.

Sua classificação foi desenvolvida no sentido de ser trabalhador eventual que faz parte da subclasse empregado, que esta comprendido no conjunto maior, de segurados obrigatórios, exercentes de atividade remunerada

Essa estrutura calcada na solidariedade e na igualdade tem como traços mais marcante os ideais de universalidade e uniformidade. Já a uniformidade da Previdência Social brasileira, a igualdade buscada pela Constituição, em termos de proteção social, é aquela que busca promover equiparação na concessão de benefícios e serviços às populações urbanas e rurais, estendendo aos trabalhadores rurais a proteção previdenciária já existente para os tra- balhadores urbanos

Ocorre que a mencionada extensão do campo de aplicação da Previdência Social aos trabalhadores rurais pressupõe não apenas a possibilidade de contribuição para a seguridade social como condicionante para a cobertura previdenciária correspondente, mas todo um processo de educação e cultura, para aqueles trabalhadores que desempenham suas atividades rurais na mais pura informalidade e que se encontram distantes das informações que lhe são caras, mesmo para reivindicar direitos assegurados por lei.

A melhor posição não é eximir o trabalhador volante da contribuição previdenciária, mas sim, considerá-lo como trabalhador eventual que faz parte do subclasse empregado, que está comprendido no conjunto maior: de segurados obrigatórios, exercentes de atividade remunerada. Esse encargo deveria ser passado ao tomador de serviços, como se tem feito a nível administrativo; já reconhecido pela Jurisprudência dominante.

Um caminho a trilhar é criar um Cadastro Nacional de Trabalhadores Volantes a ser gerido pela Receita Federal do Brasil, que possibilita ao tomador de serviços o recolhimento da contribuição previdenciária do trabalhador volante, mesmo se este trabalhasse um curtíssimo período, com incentivos fiscais ao Tomador, como isenção de Imposto de Renda, como acontece com os empregadores domésticos. Deve-se, portanto, em pleno século XXI, dispor dos meios tecnológicos disponíveis e aumentar a fiscalização; com isso a autarquia previdenciária poderá cumprir seu mister, através agora da Receita Federal do Brasil.

Diante dessa argumentação, pode-se extrair a proposição de que o trabalhador rural volante, comumente chamado de bóia-fria, faz jus aos benefícios por incapacidade, salário- maternidade, pensão por morte, auxílio-reclusão e, independentemente do período em que completar o requisito etário, aposentadoria por idade. Para tanto, deve, apenas, provar a atividade rural; o recolhimento de contribuição para a seguridade social deverá ser feito pelo tomador de seus serviços, cabendo à autarquia previdenciária, através da Receita Federal do

Brasil, a fiscalização deste recolhimento, de molde a se assegurar ao mais hipossuficiente dos rurícolas a satisfação de seu direito fundamental à previdência.

CONCLUSÕES

O direito da seguridade social deve buscar a realidade: a previdência social formal é inapta para cumprir sua finalidade de proteção da sociedade contra os riscos de subsistência a que estão expostos seus integrantes mais vulneráveis. Cumpre ao intérprete do direito da seguridade social a desafiadora missão de tornar efetiva a proteção previdenciária, destacadamente aos trabalhadores que sempre foram e continuam sendo excluídos do raio de preocupação do legislador ordinário.

A Jurisprudência tem cumprido o seu papel protetor, mesmo de forma atécnica, fazendo justiça ao trabalhador volante, reconhecendo-o como segurado empregado, para fins de Previdência Social. Por sua parte, a própria autarquia previdenciária encontra mecanismos e enquadra o trabalhador volante, como segurado emprego.

Quando se toma em conta a realidade do campo, percebe-se que a via hermenêutica que faz sopesar valores fundamentais de nossa Constituição é a única hábil a responder, satisfatoriamente, as questões ligadas à sobrevivência dos que se encontram com a subsistência ameaçada, sem que tal operação constitua rejeição aos mais caros valores de nossa dogmática .

A solução, de lege ferenda, é criar um Cadastro Nacional de Trabalhadores Volantes, a ser gerido pela Receita Federal do Brasil, que possibilita-se ao tomador de serviços o recolhimento da contribuição previdenciária desse trabalhador, mesmo se esse trabalhasse um curtissimo período, com incentivos fiscais ao tomador, como isenção de Imposto de Renda, como acontece com os empregadores domésticos.

Do ponto de vista lógico, classifica-se o trabalhador volante: trabalhador eventual que faz parte do subclasse empregado, que está comprendido no conjunto maior, de segurados obrigatórios, exercentes de atividade remunerada

Assim, tanto do ponto de vista humano como do legal e pecuniário, conclui-se pelo enquadramento do trabalhador volante, como segurado da Previdência Social.

REFERÊNCIAS

ABBAGNAMO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BARATA, Júlio. Apresentação – Barros Jr, Cássio de Mesquita. Previdência Social- Urbana

e Rural. São Paulo: Editora Saraiva, 1981.

BALERA, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário. São Paulo: Quartier Latin., 2. ed., 2010.

________. Conceitos Previdenciários e Direito do Trabalho in Doutrinas Essenciais – Direito do Trabalho e Direito da Seguridade Social. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, Vol V. 2012.

BALERA, Wagner; MUSSI, Cristiane Miziara. Direito Previdenciário. São Paulo: Editora Método, 2009.

BARCELLOS, Ana Paula. A Eficácia Jurídica dos Princípios Constitucionais. Rio de Janeiro: Renovar, 3.ed, 2011.

BARROSO, Luís Roberto. “O começo da História. A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro”. In: Temas de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Renovar. Vol. III, 2 ed., 2008.

BERNANDES, Hugo Gueiros. Direito do trabalho. São Paulo: LTr, 1989.

BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Previdência rural: inclusão social. Curitiba: Juruá editora, 2. ed., 3ª Reimpressão, 2011.

CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 7. ed., 2007.

CARDONE, Marly A. Previdência social e contrato de trabalho-relações. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, 2ª edição.

CARRAZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. São Paulo: Malheiros Editores. 26 ed., 2010.

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. São Paulo: Editora Saraiva, 36 ed. 2011.

_________. Nova jurisprudência em direito do trabalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1982.

_________ . Nova jurisprudência em direito do trabalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1987.

_________. Nova jurisprudência em direito do trabalho. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais. 1988.

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. São Paulo: Editora Noeses, 4. ed. , 2011.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito

previdenciário. São Paulo: LTr, 5ª edição. 2007.

COIMBRA, J.R. Feijó. O trabalhador rural e a previdência social. Rio de Janeiro: Editora José Konfino, 1968.

CONCEIÇÃO, Eva Regina Turano Duarte da. “Aspectos da Previdência Social Rural”. In: Revista de Direito Social, ano 1, 2001, número 1, RS: Editora Notadez.

COPI, Irving M. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Meste JOU, 3ª ed. 1981.

CORDEIRO, Marcel. Previdência social rural. São Paulo: Millenium Editora Campinas, 2008.

CUNHA, Sérgio Sérvulo. Princípios constitucionais. São Paulo: Editora Saraiva. 2. ed., 2013. FERRAZ JR, Tércio Sampaio. “Sistema Tributário e princípio federativo”. In: Direito

Constitucional. São Paulo: Editora Manole, 2007.

FORTES, Simone Barbisan; PAULSEN, Leandro. Direito da seguridade social. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2005.

HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 8. Ed., 2010.

______. Dicionário analítico de previdência social. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

KOLENDO, Jerzy. “Il contadino”. In: L´uomo romano: a cura di Andrea Giardina. Roma: Editori Laterza. 1996.

MANIGLIA, Elisabete. “O Trabalhador Rural perante a Jurisprudência”. In: Trabalhador

Rural: uma análise no contexto sociopolítico, jurídico e econômico brasileiro, em Homenagem a Fernando Ferrari. Curitiba: Juruá Editora, 2007.

MARTINEZ, Vladimir Novaes. Princípios de direito previdenciário. São Paulo: Editora LTr, 1983.

___________. Curso de direito previdenciário. São Paulo: LTr, Tomo II, 2ª edição, 2003. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 29. ed. 2012.

MOLINA, Juan Antonio Maldonado. La proteccion de la vejez em España. Valencia: Editora Tirant lo banche, 2002.

MORTARI, Cesar A. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Editora Saraiva. 19 ed. 2004.

______. Iniciação do direito do trabalho. São Paulo: LTr, 25ª edição, 1999.

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos Sociais. Teoria jurídica dos direitos sociais enquanto direitos

fundamentais. Coimbra: Coimbra Editora, 2010.

PINTO, Almir Pazzianotto. “O Trabalhador Rural Volante”. In: Revista LTr ´Legislação do

Trabalho e Previdência Social. São Paulo: Ano 48, nº 06, junho, 1984.

PERSIANI, Mattia. Direito da previdência social. Quartier Latin, São Paulo: 14ª edição, 2008.

RAEFFRAY, Ana Paula Oriola de. O bem estar social e o direito de patentes na seguridade

social. Florianópolis: Conceito Editorial, 2011.

ROCHA, Daniel Machado. O Direito Fundamental à Previdência Social na perspectiva dos

princípios constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro. Porto Alegre:

Livraria do Advogado Editora, 2004.

RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à consolidação das leis do trabalho. Rio de Janeiro: José Konfino Editor, Vol. I, 3 ed., 1955.

______. O empregado e o empregador no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 7 ed,

1984.

______.Comentários ao estatuto do trabalhador rural. 2. ed., Editora Revisa dos Tribunais,

São Paulo: 1969, vol. 1.

SANTOS, Marisa Ferreira. Direito previdenciário esquematizado. São Paulo: Editora Sariava, 2011.

SAVARIS, José Antonio. “Aposentadoria por idade ao trabalhador rural independente – A questão do bóia fría”. In: Revista de Previdência Social –RPS – Ano XXX, nº 309, agosto de 2006.

SILVA, Laura Vasconcelos Neves da. “Os Direitos Fundamentais dos Trabalhadores Rurais da Cana-de-Açúcar”. In: Revista Magister de Direito Trabalhista e Previdenciário. Ano V, Número 26, Setembro – Outubro/2008.

SILVA, Vicente Ferreira da. Lógica simbólica. São Paulo: Realizações Editora, 2009.

SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito constitucional do trabalho. Rio de Janeiro: Renovar. 4.ed. 2010.

VENTURI, Augusto. I fondamenti scientifici della sicurezza sociale. Milano: Dott. A. Giuffrè Editore, 1954.