• Nenhum resultado encontrado

Conceito de trabalhador rural volante no âmbito administrativo A autarquia

4 DA DIFICULDADE DO ENQUADRAMENTO DO BÓIA-FRIA ENQUANTO

4.4 Conceito de trabalhador rural volante no âmbito administrativo A autarquia

No âmbito administrativo, a autarquia previdenciária, através da INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 45, DE 6 DE AGOSTO DE 2010 - DOU DE 11/08/2010, em seu artigo 3º 109, reconhece o trabalhador rural volante, como segurado obrigatório.

Atenta-se para o artigo 3º, da IN 45/2010:

Art. 3º É segurado na categoria de empregado, conforme o inciso I do art. 9º do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999:

...

IV – o trabalhador volante, que presta serviço a agenciador de mão-de-obra constituído como pessoa jurídica, observado que, na hipótese do agenciador não ser pessoa jurídica constituída, este também será considerado empregado do tomador de serviços (destaquei)

Já o Regulamento da Previdência Social – Decreto nº 3.048 - de 06 de maio DE 1999 - DOU de 7/05/1999110, repete os dizeres do art. 11, da Lei 8.213/91:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:

I – como empregado:

a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural a empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado;

109 INSTRUÇÃO NORMATIVA INSS/PRES Nº 45, DE 6 DE AGOSTO DE 2010 - DOU DE 11/08/2010,

artigo 3º.

...

V-como contribuinte individual:

j) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego;

Em função didática, o Ministério da Previdência Social elaborou o “Manual de Orientação da Previdência Social na Área Rural”111, que traz o entendimento no âmbito

administrativo, aduzindo que empregado rural é todo aquele que trabalha de forma não eventual na atividade rural para empregador rural sob sua subordinação e mediante remuneração. Confunde conceitos, pois se trabalha de forma não eventual, não pode ser bóia- fria ou trabalhador volante. Logo, na realidade, o trabalhador volante, é considerado empregado do tomador de serviço, sendo este equiparado a empregador, dono da terra, arrendatário, dando uma característica própria para o conceito de empregador.

Sendo empregado, caberá, então, ao tomador do serviço (empregador lato sensu, o recolhimento da contribuição previdenciária devida). No âmbito administrativo, reconhece- se a existência do trabalhador volante, e se enquadra o mesmo como segurado empregado.

A Administração Previdenciária cria uma nova figura de empregado (surgindo assim uma nova classificação, no inciso a, do artigo 11: empregado em stricto senso e trabalhador eventual) por ato infralegal e Instrução Normativa, quando afirma que ambos – trabalhador volante e agenciador – quando este não estiver constituído como pessoa jurídica- serão considerados empregados, e, portanto, deverá o tomador de serviços recolher a contribuição previdenciária devida pelo empregado. Uma visão pragmática, para um tentativa de resolver este impasse, do trabalhador volante, considerando-o como empregado do tomador de serviços.

Concluindo este capítulo, na análise crítica da jurisprudência, em especial o STJ, os Tribunais Federais reconhecem o trabalhador rural volante, conhecido como bóia-fria, como segurado da previdência social.

O Tribunal Regional Federal da Terceira Região, de maneira mais científica, classifica-o com contribuinte empregado. O Superior Tribunal de Justiça não se preocupa com esta classificação, e, muitas vezes, como no caso da 4ª Região, misturam conceitos, como trabalhador rural em economia familiar e trabalhador rural volante.

111 Disponível em:

<http://www3.dataprev.gov.br/sislex/paginas/77/senar/2006/cidadania_rural.htm> Acesso em 18 de novembro de 2013.

O que preocupa os Tribunais é a situação de fato, o caso concreto, em dizer o Direito e proteger o mais desvalido, o mais desfavorecido, na aplicação do princípio in dubio pro

misero. Não há preocupação com o custeio, ao se agir assim.

5 ENQUADRAMENTO DO BÓIA-FRIA DENTRO DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Uma vez equacionado o problema de que o bóia-fria, ou trabalhador volante, é segurado da Previdência Social, apesar de, em alguns casos, não recolher a contribuição previdenciária, conforme tem decidido a Jurisprudência, reiteradamente, sem se preocupar com o custeio, pois a Jurisprudência cria a norma individual e concreta. Com isso ela confere e reconhece que o trabalhador volante tem a proteção estatal; sendo, portanto, segurado da previdência social, busca-se, visando ao não disvirtuamente do seguro social, mecanismos que resolvam esta problemática de falta de recolhimento.

Mas, utilizando-se de um critério científico, deve-se buscar a classificação dos segurados, e onde podemos inserir o bóia-fria nesta classificação.

5.1 Classificação dos segurados

Classificar é uma operação lógica. Serão dados alguns conceitos básicos das Teoria das Classes, também denominada Teoria dos Conjuntos, com fundamentos nas lições de Irving Copi112, Cesar A. Mortari113 e Vicente Ferreira da Silva114

Para entender-se o que é uma classe, deve-se partir do raciocínio de que os objetos individuais isolados são conhecidos como indivíduos, têm-se as Classes que são os agrupamentos desses objetos individuais em conformidade com determinada propriedade. As classes são estudadas pela Lógica através da Teoria das Classes.

Em outras palavras, a Classe é o conjunto de indivíduos que preenchem alguns requisitos de admissão e que fazem com que entre eles haja identidade em determinado aspecto. É a liçao de Irving M. Copi.115

Deve-se deixar claro que a lógica admite que toda função proposicional que possua uma variável livre represente uma classe, que terá por elementos somente os objetos que satisfaçam a função proposicional dada. A classe que corresponde a esta função conterá, pois, como elementos, todos os objetos possuidores da citada propriedade e nenhum outro. Desta

112 COPI, Irving M. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Meste JOU, 3ª ed. 1981, p.140 e ss. 113 MORTARI, Cesar A. Introdução à lógica. São Paulo: Editora Unesp, 2001, p. 40 e ss.

114 SILVA, Vicente Ferreira da. Lógica simbólica. São Paulo: Realizações Editora, 2009, p. 96 e ss. 115 COPI, Irving M. Introdução à Logica. São Paulo: Editora Meste JOU, 3ª ed. 1981, p.140.

forma, a toda propriedade de objetos poderá corresponder a uma classe univocamente determinada. Agora, também é verdade a recíproca: toda a classe pode assinalar uma propriedade constituída exclusivamente pelos elementos da referida classe; a propriedade de pertencer a ela. Por isso não é necessário, na opinião de muitos lógicos, distinguir os conceitos de classe e propriedade; em outras palavras, uma “teoria de propriedades” em especial seria desnecessária, sendo suficiente a teoria de classes.

Conforme Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano:

Classe : (...) Pode-se definir uma classe enumerando os membros que a compõem (definição extensiva) ou indicando a propriedade comum de todos os seus membros (definição intensiva), como quanto se fala “gênero humano” ou dos “habitantes de Londres”. Russell considerou fundamental a definição intensiva porque a extensiva pode ser reduzida a ele, sem que ocorra o inverso.

Portanto, reduziu a C. a uma função proposicional (v.), ou seja, a um predicado ou a um atributo. (grifos no original)”.116

Ao se tentar definir o que é subclasse e se as normas jurídicas são subclasses das normas morais, também se as normas individuais são subclasses das normas gerais, a própria teoria das classes traz a noção de subclasse, como sendo um conjunto inserto em outro conjunto de maior dimensão, conjunto maior esse que abrange todos os elementos do conjunto menor.

A classe envolve todos os elementos que compõem as subclasses nela insertas. Entre duas classes arbitrárias K e L, podem existir diversas relações. Pode ocorrer, por exemplo, que todo elemento da classe K seja, ao mesmo tempo, um elemento de classe L; dizemos, então, que a CLASSE K é uma SUBCLASSE DA CLASSE L ou está incluída na CLASSE L ou que tem a RELAÇÃO DE INCLUSÃO com a CLASSE L; e dizemos que a CLASSE L inclui a CLASSE K como SUBCLASSE. Expressaremos com fórmula:

K c L ou L 3 K:

As normas morais e as normas jurídicas são subclasses da Classe “normas”, todavia, são disjuntas. Da mesma forma, as normas individuais também não são subclasse das gerais, todavia não é o caso de afirmar que são disjuntas e sim que elas se interseccionam, pois ambas colhem o mesmo acontecimento no mundo, a diferença é que na norma geral esse acontecimento é chamado de evento e na norma individual é fato, e produz seus efeitos.

Sintaticamente, as normas jurídicas e as normas morais formam classes disjuntas. Pelo ponto de vista semântico, as normas morais e as normas jurídicas são classes cruzadas (veja- se que a norma que prescreve: “não matarás” é tanto jurídica quanto moral).

Feita esta introdução de classes, podemos classificar a Seguridade Social como sendo constituída pela Sáude, Assistencial Social, e Previdência Social, nos termos da Constituição da República, nos termos do artigo 194, caput.

Temos o seguinte esquema lógico: