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A origem da obrigatoriedade da filiação está no próprio surgimento do Seguro Social, que se deu na Alemanha, a seguir na Inglaterra; posteriormente, alastrou-se por todos os

32 HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, São Paulo: Quartier Latin, 8. Ed., 2010, pp. 81-82. 33 BERWANGER, Jane Lucia Wilhelm. Previdência rural: inclusão social. Curitiba: Juruá editora, 2. ed., 3ª

países que têm um seguro social. Está ligada à própria origem da Previdência Social. Noticia Augusto Venturi que “Na Alemanha, e um pouco mais tarde, em proporções menores, na Inglaterra, foram constituídos, portando, os lugares de origem, da Previdência Social Obrigatória.”34

A obrigatoriedade é fundamental para a própria existência da Previdência Social, transferindo para o Estado a gestão e manutenção do sistema protetivo, levando-se em consideração que o trabalhador, que vende sua mão de obra, não tem, em sua maioria, possibilidade material de poupar, não prevendo as contingências, riscos e a necessidade futura. Vende sua mão de obra para a manutenção do dia a dia. Quando, na terceira idade, a saúde definha, o mesmo ficará desamparado se não contar com o seguro social.

Sobressai este fenômeno, em relação ao trabalhador rural volante.

Observa Miguel Horvath Júnior que o princípio da obrigatoriedade da filiação “fundamenta-se na necessidade do cálculo atuarial e do caráter cogente da relação jurídica previdenciária em relação aos segurados que desenvolvem relação de trabalho. A obrigatoriedade é essencial para caracterização do seguro social, que é custeado por contribuições dos trabalhadores, empregadores e Estado (fórmula tripartite de custeio). A adoção do princípio da obrigatoriedade de filiação ao sistema surge em decorrência da convicção de que as formas voluntárias de seguro resultaram inadequadas para a solução dos problemas decorrentes dos riscos fisiológi- cos e econômicos que atingiam os trabalhadores. A obrigatoriedade de filia- ção decorre da natureza do seguro social como forma de garantir a todos a proteção social no momento da ocorrência dos eventos geradores das neces- sidades sociais. É necessária a formação de um lastro contributivo que ga- ranta segurança ao sistema.35

Complementando a ideia de necessidade e da própria natureza humana, Daniel Machado da Rocha observa que:

[...] a maior parte das pessoas retira o necessário para a sua sobrevivência do seu trabalho. Como esses rendimentos são, em geral, consumidos na sua totalidade para a satisfação de necessidades materiais prementes, pouco sobra para ser poupado, não sendo possível a constituição de reservas para o enfrentamento dos riscos sociais. Outros, embora pudessem separar parte do salário para a constituição de um fundo, preferem consumir imediatamente tudo o que auferem. Caso as pessoas pudessem optar por se

34 VENTURI, Augusto. I Fondamenti Scientifici dela Sicurezza Sociale. Milano. Dott.A. Giuffrè Editore, 1954,

pp. 97/98: “la Germania e, se pure assai piü tardi e in proporzioni minori, l’lnghilterra, costituirono quindi i luoghi di origine dell’assicurazione sociale obbligatoria. Da questi paesi essa prese il cammino del suo incessante sviluppo in tutto il resto del mondo e soprattutto il sistema tedesco acquistò, per la durata della sua esperienza e per l’accuratezza tecnica che lo caratterizzava, un immenso prestigio, cosicchè esercitò una predominante, anche se non esclusiva, influenza sulle successive legislazioni straniere. Questo elemento comune originário è rilevabile a qualsiasi esame dello svolgimento delia legislazione comparata dell’assicurazione sociale, nella quale si riscontra nei diversi paesi 1’esistenza di una particolare identità di principí e di metodi, anche quando i paesi stessi appartengono a sistemi giuridici difíerenti”

filiarem ou não na previdência social, essa não teria se consolidado. Uma das razões que propiciou o êxito da iniciativa com os trabalhadores subordinados, indubitavelmente, foi a possibilidade de repassar o dever do desconto e do recolhimento das contribuições para os empresários - mediante o emprego da técnica da substituição tributária - pois seria materialmente impossível fiscalizar o cumprimento dessa obrigação por parte de cada um dos trabalhadores36

Destarte, visando à proteção do trabalho, em lenta evolução legislativa, mas desde sua origem, foi instituída a obrigatoriedade de filiação, direito cogente.

De acordo com toda a evolução histórica da Previdência Social, o único modo de tornar viável o gigantesco seguro social é pela compulsoriedade da filiação e, por ser seguro, o outro lado do binômio, o dever de contribuir que dela decorre, operada pela intervenção estatal, a qual permite a transferência dos riscos individuais para toda a coletividade.

Esse fato é confirmado pela análise da situação dos países europeus e latinos desde o final do Século XIX, sobressaindo a necessidade premente de ser obrigatório, a partir do término da Segunda Guerra Mundial.

Atualmente, de lege lata, o fundamento constitucional encontra-se no caput do artigo 201, da Constituição Federal:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial37

Se o regime é obrigatório, de caráter contributivo, sobressai que o trabalhador rural, denominado volante, é necessariamente filiado ao mesmo, em decorrência de sua atividade laborativa, e a falha ocorre justamente no recolhimento de sua contribuição. Cabe saleintar que, no binômio filiação obrigatória e caráter contributivo, reside, justamente, o ganho da qualidade de segurado, no caso de todos aqueles que exercem atividade laborativa.

No caso dos segurados facultativos – outro é o princípio atendido –, que é o da universalidade do seguro social e dá-se ênfase à contribuição previdenciária, para que a pessoa se torne segurado da Previdência, visando a universalidade do seguro social, sem se ater à atividade laborativa desenvolvida, como autônomos, e aqueles que não exercem tal atividade.

36 ROCHA, Daniel Machado. O direito fundamental à previdência social na perspectiva dos princípios

constitucionais diretivos do sistema previdenciário brasileiro. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora,

2004, p. 152.

37 BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil, art. 201, caput.. São Paulo:

Para atender ao caráter contributivo do Seguro Social, e face à pouca cultura do trabalhador rural volante ou bóia-fria, não tendo este consciência do dever de recolher a contribuição social, pois mal ganha para o seu sustento diário, estando mais assemelhado ao trabalhador empregado, caberia à pessoa que se beneficia do trabalho do mesmo, o tomador de serviços, o recolhimento da contribuição previdenciária, sendo, portanto, o trabalhador volante, face a obrigatoriedade de filiação, vinculado ao regime geral da Previdência Social. Essa é a posição majoritária da Jurisprudência dominante e o entendimento da autarquia previdenciária. Cabe, no aperfeiçoamento do sistema previdenciário, à autarquia previdenciária, por meio da Receita Federal do Brasil, aprimorar a fiscalização do recolhimento destas contribuições previdenciárias, como já tem decidido a jurisprudência.

Neste sentido, confira acórdão de lavra do Desembargador Sérgio Nascimento:

A trabalhadora designada “bóia-fria” deve ser equiparada à empregada rural, uma vez que enquadrá-la na condição de contribuinte individual seria imputar-lhe a responsabilidade contributiva conferida aos empregadores, os quais são responsáveis pelo recolhimento das contribuições daqueles que lhe prestam serviços . 38

O princípio da obrigatoriedade da filiação atende à universalidade de cobertura do seguro social. E sobressai, assim, a primeira classificação que se faz, entre os segurados da Previdência Social:

a) segurados obrigatórios – todos aqueles que trabalham, e, em tese, recolhem a contribuição previdenciária, incidindo o princípio da obrigatoriedade de filiação b) Segurados facultativos – dar-se ênfase a contribuição previdenciária, para que a

pessoa se torne segurado da Previdência, sem se ater a atividade laborativa desenvolvida, como autônomos, e aqueles que não exercem atividade laborativa, incidindo no caso o princípio da universalidade da cobertura.