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Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência dos Tribunais Regionais

4 DA DIFICULDADE DO ENQUADRAMENTO DO BÓIA-FRIA ENQUANTO

4.3 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência

4.3.3 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência dos Tribunais Regionais

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região segue à risca a orientação do Superior Tribunal de Justiça.

Pode-se conferir o seguinte julgado:

Reconhecimento de tempo de serviço prestado na condição de trabalhador rural exige início razoável de prova material. É inadmissível prova exclusivamente testemunhal. 2. Requisito etário: 18.11.2003 (nascimento 18.11.1943). Carência: (11 anos). 3. A carteira de filiação ao sindicato rural desprovida de homologação e a certidão do cartório eleitoral não constituem início de prova material. 4. CNIS no qual consta que o autor exerceu atividade rural no período 09/10/2000 a 18/10/2000, corroborado pelo depoimento pessoal e testemunhal no sentido de que o autor exerce atividade rural de diarista é início de prova material suficiente, uma vez que é cediço que o trabalhador volante ou bóia-fria experimenta situação desigual em relação aos demais trabalhadores (STJ, AR2515 / SP) uma vez que, em regra, ou não tem vínculos registrados ou os tem por curtíssimo período, como ocorreu na espécie, devendo ser adotada solução pro misero. 5. A prova oral produzida nos autos confirma a qualidade detrabalhador rural da parte autora.95

O Tribunal Regional Federal da Segunda Região tem o mesmo posicionamento, seguindo jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Atesta-se no seguinte acórdão:

A condição de diarista, bóia-fria ou safrista está enquadrada no conceito de trabalhador rural para efeitos previdenciários.

– Os documentos acostados aos autos consubstanciam o início de prova material a que alude a lei para fins de comprovação do exercício atividade rural pelo falecido.

– A jurisprudência do Colendo Superior Tribunal de Justiça, no tocante à comprovação da condição de rurícola, é assente no sentido de que a certidão de casamento que atesta a condição de lavrador do segurado constitui início razoável de prova documental para fins de comprovação de tempo de serviço, desde que a prova testemunhal amplie a sua eficácia probatória, de modo que a prova testemunhal, aliada à Certidão de Casamento, é considerada apta a comprovar a atividade rural, inclusive pelo período de carência, considerando que a lei previdenciária não exige que o início de prova material se refira precisamente ao período de carência do art. 143 da Lei 8.213/91, diante da dificuldade do rurícola na obtenção de prova escrita do exercício de sua profissão, servindo apenas para convalidar a prova oral, que deve, no entanto, ampliar a sua eficácia probatória ao

95TRF-1ª, AC APELAÇÃO CIVEL – 200701990274217, 2ª Turma, Rel. Juiz Federal convocado Cléberson

tempo da carência, entendimento este também aplicado ao trabalhador volante ou bóia-fria (STJ, 3ª Seção, AR3005, Rel. Min. PAULO GALLOTTI, DJ de 25/10/2007). Ademais, foi juntada CTPS do falecido constando vínculo de 12/11/1990 a 15/09/1992 em Fábrica de Aguardente/Fazenda Côrrego D’Água e de 17/09/1997 a 30/09/1997 como trabalhador rural, com remuneração de R$ 4,00 (quatro reais) por dia na Fazenda Vida Mansa; certidão de óbito, constando a profissão de lavrador do de cujus e CTPS da autora na qualidade de safrista, com remuneração de R$ 3,00 (três reais) por dia de 01/05/2004 a 05/07/2004.

– Os depoimentos das testemunhas que foram uníssonos no sentido de que o falecido sempre trabalhou na roça nas atividades de capina e colheita de café e também como bóia-fria e que também a autora sempre trabalhou na roça, sendo, portanto, claros e precisos o suficiente para firmar a convicção do Juízo acerca da qualidade de trabalhador rural do de cujus96.

Depreende-se que o acórdão já parte de um conceito pré-determinado: “A condição de diarista, bóia-fria ou safrista está enquadrada no conceito de trabalhador rural para efeitos previdenciário”97, mas sem fundamentar e dizer o motivo pelo qual o diarista, ou trabalhador

bóia-fria, ou o safrista, estaria no conceito de trabalhador rural para fins previdenciários, e deveriam estar como segurados obrigatórios.

Em relação ao safrista, há determinação legal expressa, em decorrência da Lei 11.718/2008. Mas, em relação ao diarista e bóia-fria, advém de interpretação constitucional, integradora com os princípios e regras acima deduzidos. Depreende-se que o Tribunal considera como segurado obrigatório da Previdência Social, o trabalhador volante ou bóia- fria.

Rica e criativa é a jurisprudência do Tribunal Regional Federal da Terceira Região, que engloba São Paulo e Mato Grosso do Sul que, no julgamento dos Embargos Infringentes nº 0048493-18.2007.4.03.9999/SP, Relator Desembargador Federal Sérgio Nascimento, a Terceira Sessão do Tribunal Regional Federal da Terceira Região, deixou assentado que:

VIII – O próprio INSS considera o diarista ou bóia-fria como empregado. De fato, a regulamentação administrativa da autarquia (ON 2, de 11/3/1994, artigo 5, item "s", com igual redação da ON 8, de 21/3/97), considera o trabalhador volante, ou bóia-fria, como empregado. Destarte, não há como afastar a qualidade de rurícola da demandante e de segurada obrigatória da Previdência Social, na condição de empregada, nos termos do disposto no artigo 11, inciso I, a, da Lei nº 8.213/91.

IX – A responsabilidade pelo recolhimento das contribuições previdenciárias relativa à atividade rural exercida pela autora, na condição

96AC 201302010039006, Relator Desembargador Federal Messod Azulat Neto, 2ª Turma, E-DJ2R, de

09/07/2013, v.u.

de empregada, cabia aos seus empregadores, não podendo ter seu direito ao benefício cerceado em face de erros cometidos por outrem.98

Assim, o Tribunal Regional Federal da Terceira, que é composta pelos juízes integrantes das quatros Turmas especializadas em Direito Previdenciário (da 7ª a 10ª Turmas), à unanimidade, entendeu que trabalhador volante ou bóia-fria é segurado empregado, dando ênfase ao trabalho desenvolvido pelo obreiro e afastando a definição de relação empregatícia, utilizada pelo Direito do Trabalho que – repita-se – dá ênfase à definição, levando em conta o trabalho não eventual desenvolvido pelo trabalhador, junto ao empregador.

Neste mesmo sentido, já vinha decidindo a Desembargadora Vera Jucovsky, da 8ª Turma, dando um conceito do que se entende por trabalhador rural bóia-fria:

Trabalhador rural que desenvolve seu mister como diarista, quer-se dizer, aquele que, a cada dia, exercia atividade campestre em local diferente, via de regra, arregimentado em praças públicas, casas do trabalhador ou outros logradouros quaisquer, de comum conhecimento dos moradores da localidade, por parte dos chamados "gatos", v. g., mediadores entre os proprietários rurais e os rurícolas propriamente ditos. Não obstante isso, cite-se, o próprio Instituto Previdenciário tem o bóia-fria como segurado empregado, de acordo com as Instruções Normativas INSS/DC 68/2002 (art. 27), 71/2002 (alínea c, inc. I, art. 4º) e 95/2003 (alínea c, inc. I, art. 2º). De forma semelhante, não se confunde com a hipótese daqueles pequenos proprietários que, juntamente com o núcleo familiar, exploravam a terra (segurados especiais) e dela obtinham seu sustento.99

No mesmo sentido do decidido pelo TRF da 2ª Região é o entendimento do Tribunal Regional Federal da 4ª Região em Acórdão prolatado pelo Juiz Federal Hermes Siedler Conceição Júnior, que reflete o posicionamento daquela Corte:

Procede o pedido de aposentadoria rural por idade quando atendidos os requisitos previstos nos artigos 11, VII; 48, § 1º; 106; 142 e 143, todos da Lei nº 8.213/91. 2. Comprovado o implemento da idade mínima (55 para a mulher e 60 anos para o homem), e o exercício de labor rural em regime de economia familiar, ainda que de forma descontínua, por tempo igual ao

98 TRF3- 3ª Sessão. Embargos Infringentes nº 0048493-18.2007.4.03.9999/SP Rel, Desembargador Sérgio

Nascimento, vu., j. em 27.09.2012, DE de 09.10.2012.

99TRF3–EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM REEXAME NECESSÁRIO CÍVEL Nº 0023545-

90.1999.403.9999/SP- Rel. Desembargadora Federal Vera Jucovsky, 8ª Turma, j. em 22.03.2010, DJ-E 28.04.2010.

período de carência exigido, é devido o benefício de aposentadoria rural por idade. 3. Considera-se comprovado o exercício de atividade rural havendo início razoável de prova material contemporânea ao período laboral, corroborada por prova testemunhal idônea e consistente, sendo dispensável o recolhimento de contribuições. 4. Tratando-se de trabalhador rural conhecido como bóia-fria, diarista ou volante, considerando a informalidade da profissão no meio rural, dificultada é a comprovação documental da atividade, de modo a ensejar o início de prova a que se refere a lei. Seguindo a orientação adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, o entendimento desta Corte é no sentido de que a exigência de início de prova material deve ser abrandada. Precedente do STJ.”100

A crítica deste acórdão é que cai na vala comum o segurado especial, que trabalha em regime de economia familiar, e o trabalhador volante.

No mesmo sentido, é a posição do Tribunal Regional da 5ª Região:

Comprovado o exercício do labor rural, no período que se pretende ver reconhecido, através de início de prova material idôneo e contemporâneo (Certidão de Casamento no ano de 1974, constando a qualificação do esposo como agricultor, fl 11; Cópia do cartão bancário referente ao benefício percebido pelo esposo da autora, por aposentadoria especial, fl. 144; Declaração de exercício de atividade rurícola, fls. 08 ), corroborado pela prova testemunhal, há de se reconhecer o tempo de serviço pleiteado. 2. Está consolidado, no Superior Tribunal de Justiça, o entendimento de que, considerada a condição desigual experimentada pelo trabalhador volante ou bóia-fria nas atividades rurais, há de ser suavizada a incidência da súmula 149 do STJ, de modo a se admitir, para a comprovação da atividade campesina, o início de prova material idôneo e contemporâneo aliado à prova oral harmônica e sem contradita.101

Depreende-se da Jurisprudência dominante dos Tribunais Regionais Federais que o Superior Tribunal de Justiça tem, efetivamente, uniformizado o entendimento, pois, praticamente, todos seguem a sua orientação, no sentido in dubio pro misero, e o TRF3, por outros fundamentos, mais aprimorados, também.

100 TRF4 – Rel Juiz Federal Hermes Siedler da Conceição Júnior. Remessa de Oficio 200670990006236, 5ª

Turma, vu, j, em 04.05.2010, DE 10.05.2010.

101TRF AC 00011549620134059999, 4ª Turma, Rel. Desembargador Federal Hélio Sílvio Ourem Campos,vu,

4.3.4 Conceito de trabalhador rural volante na Jurisprudência da Turma Nacional de