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Coélet em elo com os livros Proféticos

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1. A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA EXISTENCIALISTA A PARTIR

2.4 Fontes que inspiraram Coélet

2.4.2 Coélet e a produção bíblica

2.4.2.6 Coélet em elo com os livros Proféticos

Com relação aos profetas80, “Coélet é herdeiro da religião pré-exílica hebrai- ca, como proeminentemente se ensina na Lei e nos Profetas” (GORDISapud VÍL- CHEZ LÍNDEZ 1999, p. 82); posto isto, o pensamento coeletiano está enraizado na tradição judaica, especificamente, no que concerne à dimensão da denúncia quando se considera o dado contextual da composição do texto sapiencial.

Entre o Eclesiastes e os livros Proféticos, vê-se Coélet em afinidade com os livros de Oséias e Jeremias:

No livro Profético: Oséias No livro do Eclesiastes Efraim alimenta-se de vento e corre o dia inteiro

atrás do vento do oriente; ele multiplica mentira e violência. Eles concluem um pacto com a Assíria e levam óleo para o Egito (Os 12,2).

Examinei todas as obras que se fazem debaixo do sol. Pois bem, tudo é vaidade e correr atrás do vento! (Ecl 1,14).

No livro Profético: Jeremias No livro do Eclesiastes E Iahweh disse: Porque eles abandonaram a

minha Lei, que eu lhes dera, e não escutaram a minha voz e não a seguiram; mas seguiram a obstinação de seu coração e os baals que os seus pais lhes fizeram conhecer (Jr 13-12).

Para rir faz-se um banquete, o vinho alegra a vida, e o dinheiro responde a tudo (Ecl 10,19).

Tu és justo demais, Iahweh, para que eu entre em processo contigo. Contudo, falarei contigo sobre questões de direito: Por que prospera o caminho dos ímpios? Por que os apóstatas estão em paz? (Jr 12,1s).

Há uma vaidade que se faz sobre a terra: há justos que são tratados conforme a conduta dos ímpios e há ímpios que são tratados conforme a conduta dos justos. Digo que também isso é vaidade (Ecl 8,14).

Nestas passagens, há questionamentos a quem se ampara no poder do di- nheiro, no ato acumular bens materiais e no senso de que a embriaguez é capaz de provocar o prazer. Há uma crítica a quem vive a vida sem sapiencialidade.

Coélet seguramente se dirige ao Ptolomeu II Filadelfo e à família dos Tobía- das; em um gesto profético inspirado na tradição profética; ele se volta para o pre-

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Três ideais coeletianos são observadas: o anúncio da felicidade do homem, a denúncia da domina- ção dos reis ptolomeus e a celebração da vida pelos frutos do trabalho. Estes são atos proféticos inspirados na profecia da religião pré-exílica hebraica.

sente e percebe que os que controlam a política e a economia da Palestina do III século aC. se negam a exercitar o seu ser sapiencial, e a não usufruírem da obra fruto do próprio trabalho, pois “[para rirem] faz-se um banquete, o vinho alegra a vi- da, e o dinheiro responde a tudo” (Ecl 10,19).

2.4.2.7 Coélet em elo com o livrodos Salmos

Havendo uma influência direta das sentenças salmistas ao pensamento coe- letiano, consequentemente, também, há uma inovação na compreensão sobre a re- lação entre Deus e o homem.

É comum Deus ser colocado como iniciador da relação Deus e homem. Em Coélet isto se inverte. Quem inicia esta relação é o homem.

É o homem quem busca Deus e não Deus que o busca81 mesmo quando es- tão em jogo os feitos do sábio ou do insensato ou o ato de pensar a própria ação de Deus face ao homem, ao animal e às coisas deste mundo82ou nas situaçõesem que a morte deseja participar da existência humana. Obviamente, o salmista, aqui, é reli- do por Coélet, é o que acusam as seguintes passagens:

No livro dos Salmos No livro do Eclesiastes Ora, ele vê os sábios morrerem e o imbecil pere-

cer com o insensato, deixando sua riqueza para outros (Sl 49,11).

Não há lembrança durável do sábio e nem do insensato, pois nos anos vindouros tudo será esquecido: o sábio morre com o insensato (2,16).

Sobremaneira, é com os livros de sabedoria que Coélet mantém maior afini- dade; ambos possuem pensamentos sapienciais conciliatórios em favor da realiza- ção humana.

Ademais, marcado por um pensamento independente e inconformista, a res- peito do contexto sócio-político-econômico-religioso da metade do séc. III aC.,Coélet difere da sabedoria tradicional.

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Esta discussão tem a ver com as reflexões realizadas no primeiro capítulo. Nela se compreendeu que o mundo, e neles os objetos, e até Deus e o outro são seres em positividades os quais para se- rem conhecidos precisam ser nadificados; precisam ser negados em sua aparência ou na ideia da sua existência para se chegar ao que realmente são em essência.

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2.4.2.8 Coélet em elo com o livro dos Provérbios

O pensamento coeletiano está à altura da sabedoria autêntica e da conclusão de que as “tarefas tradicionais, não diz, porém, que livros consultou. Provérbios não lhe era desconhecido [...] evidentemente conheceu os ditos dos sábios, e pode-se pôr Provérbios bastante amiúde em paralelo com suas sentenças” (BARUCQ apud VÍLCHEZ LÍNDEZ 1999, p. 83).

Para citar as sentenças próximas ao teor proverbial teria que ser um sábio clássico e, Coélet o faz muito bem; eis três sentenças em comparação,

No livro de Provérbios No livro do Eclesiastes Também entre risos chora o coração, e a alegria

termina em pesar (Pr 14,13).

Eu disse a mim mesmo: Pois bem, eu te farei experimentar a alegria e conhecer a felicidade! Mas também isso é vaidade (Ecl 2,1).

Há o que finge ser rico e nada tem, e o que pa- rece pobre e tem grandes bens (Pr13,7).

Que vantagem tem o sábio sobre o insensato, ou sobre o pobre aquele que sabe conduzir-se dian- te dos vivos? (Ecl 6,8).

Os lábios do justo conhecem o favor, mas a boca dos ímpios, a perversidade (Pr 10,32).

As palavras do sábio agradam, o insensato se arruína com os lábios (Ecl 10,12).

Provavelmente, estas passagens, do livro dos Provérbios, colaboram com Coélet para situar-se no contexto dominado dos reis Ptolomeus.

Se para o livro dos Provérbios a alegria do insensato, se acaba em choro, se entre risos o seu coração chora, para Coélet, quando o insensato -Ptolomeu II Filafe- ldo - se alegra, esta própria alegria é causa de vaidade. Insensatez, neste sentido, é uma ação individual do homem indiferente à existência próprio do mundo e do outro; o sábio é passivo à insensatez, basta, portanto, estar despossuído da própria sapi- encialidade.

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