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4. ANÁLISE DOS DADOS

4.1. Coleção Para Viver Juntos, Edições SM

Antes de começarmos nossa análise, é necessário entendermos como é a coleção

Para Viver Juntos, da Edições SM, portanto, sem o objetivo de analisá-la novamente, para

fins de contextualização, trazemos dados da resenha feita pelo Guia do PNLD 2014. Segundo o Guia, a coleção privilegia o trabalho com os gêneros textuais e “as propostas contemplam o modo organizacional e as condições de produção desses gêneros” (BRASIL, 2013, p. 74). Sobre os OEDs, logo no começo, a resenha já diz que a coleção apresenta somente OEDs nos eixos dos conhecimentos linguísticos e da leitura, o que foi confirmado em nosso levantamento. Cada volume possui nove capítulos, organizados nas seguintes seções:

 “Página de abertura” – textos verbais ou imagéticos relacionados aos gêneros a serem estudados, com duas subseções: “o que você vai aprender” e “Converse com colegas”.

 “Leitura 1” e “Leitura 2” – textos dos gêneros explorados nos capítulos, com uma subseção, “o que você vai ler” (dados de contextualização).

 “Estudo do texto” – atividades de leitura, com as subseções “Para entender o texto”, “O contexto de produção”, “A linguagem do texto”, “O texto e o leitor”, “Comparação entre os textos” e “Sua opinião”.

 “Boxe de valores” – questões sobre convivência e valores.

 “Produção de texto” – com as subseções “Aquecimento”, “Proposta”, “Planejamento e elaboração do texto” e “Avaliação e reescrita do texto”.  “Reflexão linguística” – tópicos sobre conhecimentos linguísticos, com a

subseção “Na prática”.

 “Língua viva” – ampliação de conceitos linguísticos.  “Questões de escrita” – ortografia, acentuação e pontuação.

 “Entreletras” – atividades lúdicas associadas ao contexto do capítulo.

 “Para saber mais” – indicação de livros, filmes e sites relacionados ao tema dos textos.

 “Atividades globais” – retomada de conteúdos linguísticos.

 “O que você aprendeu neste capítulo” – síntese de conteúdos trabalhados.  “Autoavaliação” – verificação da aprendizagem.

 “Oralidade” – encaminhamento da produção de gêneros orais.  “Caixa de ferramentas” – técnicas de estudo.

 “Projeto” – proposta de trabalho em grupo.

 “Anote” – síntese e sistematização dos conceitos fundamentais abordados.

 Os DVDs da coleção exibem objetos educacionais digitais (OED) vinculados, principalmente, aos eixos de leitura e de conhecimentos linguísticos. (BRASIL, 2013, p. 74-75; Guia de Livros Didáticos PNLD/2014).

No eixo dos conhecimentos linguísticos, o Guia afirma que a coleção assume uma perspectiva textual e discursiva, com o estudo a partir do texto e com foco para os efeitos de sentido produzidos. No entanto, considera-se que algumas atividades são essencialmente voltadas para a aprendizagem de nomenclaturas e taxonomias da gramática. Uma consideração importante é que, apesar da perspectiva discursiva no livro impresso,

nos DVDS, é frequente a exploração de conhecimentos linguísticos de caráter gramatical, em paralelo aos que são abordados em cada volume. Tais atividades tendem a não destacar o papel dos recursos linguísticos quando empregados em determinados gêneros textuais. O tratamento dado aos OEDs perde, nesses casos, o caráter reflexivo assumido pelo conjunto da coleção, pois se limitam a fornecer conceitos e regras referentes ao emprego dos elementos linguísticos trabalhados. (BRASIL, 2013, p. 78; Guia de Livros Didáticos PNLD/2014)

Essa característica dos OEDs é considerada como ponto fraco da coleção, em contraposição ao caráter discursivo da coleção impressa, que é considerado um ponto forte.

No eixo da leitura, o Guia afirma que a “coletânea textual favorece experiências significativas para a formação do leitor” (BRASIL, 2013, p. 76; Guia de Livros Didáticos PNLD/2014), já que envolve contextos culturais diversos e se mostra como um bom instrumento para o letramento do aluno. Afirma-se que as atividades focalizam diferentes estratégias como “ativação de conhecimentos prévios, formulação e verificação de hipóteses, localização e retomada de informações, produção de inferências e compreensão global” (BRASIL, 2013, p. 77; Guia de Livros Didáticos PNLD/2014). Segundo a resenha, os OEDs contribuem para a leitura, pois retomam algumas características da forma de composição dos gêneros e seus recursos linguísticos, como as sílabas poéticas e assonância, em poemas, por exemplo.

Já no eixo da produção de textos, as propostas “destacam os usos sociais de distintos gêneros e explicitam seu contexto de produção no que concerne a destinatário, suporte e esfera de circulação” (BRASIL, 2013, p. 77; Guia de Livros Didáticos PNLD/2014).

Embora, não tenha OEDs neste eixo, a resenha considera que os objetos de leitura, por retomarem características estruturais dos gêneros, podem colaborar para a produção de textos.

Por fim, no eixo de oralidade, o Guia considera que houve duas formas de tratamento na coleção. A primeira está nas seções “Converse com os colegas”, “Sua opinião” e “Boxe de valores”, em que os alunos devem expressar opiniões e interagir oralmente com a classe. Já a outra forma consiste no estudo de gêneros orais formais, em que há a sistematização da produção oral e recursos próprios de cada gênero. Assim como no eixo da produção de textos, a resenha afirma que os OEDs podem colaborar indiretamente para a oralidade, pois trazem insumos sobre características de gêneros que também abordados nesse eixo, pelo livro impresso.

Já com relação à nossa análise, no levantamento, para o 6º ano, identificamos que, dentre os 10 OEDs disponíveis, com relação ao eixo de ensino, 6 OEDs são de conhecimentos linguísticos e 4 de leitura. Já sobre o tipo de OED, objetivo do OED e interatividade, todos os 10 são audiovisuais, de complementação conceitual e não possuem interatividade, respectivamente. Os gráficos a seguir, nas figuras 18, 19, 20 e 21, ajudam a visualizar a porcentagem de cada um desses itens no total:

Figura 18. Gráfico Para Viver Juntos – 6º ano, Eixo de Ensino. 60% 40% 0% 0% Eixo de Ensino Conhecimentos linguísticos Leitura Produção de Texto Oralidade

Figura 19. Gráfico Para Viver Juntos – 6º ano, Tipo de OED.

Figura 20. Gráfico Para Viver Juntos – 6º ano, Objetivo do OED.

Figura 21. Gráfico Para Viver Juntos – 6º ano, Interatividade. 100% 0% 0% 0% Tipo de OED Audiovisual Infográfico Jogo Simulador 100% 0% 0% Objetivo do OED Complementação conceitual Complementação temática Atividades práticas 0% 100% Interatividade Sim Não

Como é possível concluir a partir dos gráficos, a coleção Para Viver Juntos, para o 6º ano, apresentou pouca diversidade de OEDs, pois todos são audiovisuais, para complementação conceitual e sem interatividade. A única variação foi que 60% eram do eixo de conhecimentos linguísticos, enquanto 40% do eixo da leitura, no entanto, ainda com predomínio para o primeiro. Os gráficos, em conjunto, apontam para uma perspectiva bastante tradicional: a gramática ensinada de forma transmissiva (sem interatividade), o foco é o conceito e a forma de apresentação a mais próxima da aula, o audiovisual.

Esta coleção se inseriu em apenas uma tipologia que estabelecemos para análise, a de OEDs para complementação conceitual ou temática.

OEDs para complementação conceitual ou temática

Devido ao fato de os objetos serem semelhantes entre si, escolhemos apenas um OED desta tipologia para análise, que representa o que foi feito para a coleção. Em geral, verificamos que, ao contrário do que considera a resenha de avaliação do PNLD, mesmo que pertencentes ao eixo da leitura, os OEDs desta coleção abordam somente aspectos linguístico- gramaticais, como adjetivos, verbos, acentuação, sílabas tônicas, sílabas poéticas, pessoas do discurso, pronomes, argumentação e retextualização, não se caracterizando como objetos que abordam a leitura em si.

O OED escolhido se chama Notícias boas, notícias ruins: o uso do adjetivo e pertence ao capítulo 4 do livro, Notícia. Ele é do tipo audiovisual, para o eixo dos conhecimentos linguísticos e foi selecionado pois demonstra bem uma característica da coleção: em audiovisual motion graphics, explicar ou retomar conteúdos gramaticais abordados no capítulo. Embora o livro seja dividido pelo estudo de gêneros, os OEDs nunca são sobre um deles. O capítulo aborda o estudo, leitura, interpretação e produção de texto do gênero notícia. No eixo dos conhecimentos linguísticos, são trabalhados os adjetivos, abordando os conceitos de locução adjetiva, classificação (simples, compostos, primitivos, derivados e pátrios), além das flexões de gênero, número e grau. Esse estudo pertence à seção

Reflexão linguística, que se intercala com outras de Leitura e Produção de texto. Ora o estudo

é feito com textos do gênero notícia, ora são trazidos textos de outros gêneros, não havendo uma relação tão direta entre o estudo do gênero e os aspectos linguísticos. Isso ocorre mais claramente somente na subseção Língua Viva “O adjetivo na notícia”, em que se mostra o papel do adjetivo ao caracterizar o que está sendo relatado e ao poder acrescentar mais

detalhes ao fato noticiado. O OED, mais especificamente, surge em outra subseção Língua

Viva “O valor semântico da flexão dos adjetivos”, com a pequena e quase não perceptível

indicação no final da página: “Veja também o conteúdo multimídia ‘Adjetivo’” (MARCHETTI et al, 2012 p. 147). A seção, com apenas 3 exercícios, tem o objetivo de demonstrar que a flexão de grau do adjetivo expressa “ideia de tamanho, carinho, afeto, intensidade da qualidade, valor negativo, etc.” (MARCHETTI et al, 2012, p. 147).

A primeira constatação a ser feita é que o nome do OED na referência do livro impresso não é idêntico ao do objeto digital, que se chama “Notícias boas, notícias ruins: o uso dos adjetivos”, o que ocorre com outros objetos da coleção, também. No entanto, ao digitar “Adjetivo”, na busca da Galeria de Recursos do site da editora, é este OED que é encontrado, não havendo outro similar. O nome mais extenso aqui utilizado é o que dá abertura ao objeto digital e o que foi publicado em materiais de divulgação da editora em razão do PNLD 2014, como podemos conferir no quarto item do primeiro quadrante, na figura 22:

Figura 22. Material de divulgação da coleção Para Viver Juntos. Fonte: Edições SM. Disponível em:

http://www.edicoessm.com.br/images/catalogo/estaticas/pnld/oeds_lista/vj_portugues.jpg. Acesso em 01 jun 2015.

Acessando o OED, podemos ver que alguns personagens de uma família, em uma sala, assistem a duas notícias na televisão e comentam sobre elas, em seguida, fazendo um pequeno diálogo familiar. Após cada notícia e após o diálogo, há uma narração, acompanhada de textos explicativos na tela sobre a função dos adjetivos na notícia e nos comentários, abordando, por exemplo, o valor semântico da flexão de grau ou do posicionamento na oração

(antes ou após o substantivo). Portanto, podemos dizer que o objeto de ensino são os adjetivos. Para analisá-lo, vamos seguir nossos critérios já expostos.

Projeto gráfico-editorial

Os OEDs desta coleção apresentam um layout padrão que é iniciar sempre com uma tela vermelha, com o nome do OED em branco, em destaque. O player dos OEDs da coleção permite pausar, avançar ou retroceder o vídeo, aumentar ou diminuir o volume do som, além do recurso de acessibilidade de legendas, que também podem ser aumentadas ou diminuídas. Os objetos possuem o logo da coleção como marca d’água sempre presente na parte superior do vídeo, o que se trata de uma marca explícita do direito autoral e da relação com a coleção Para Viver Juntos, como pode ser visto na figura 23.

Figura 23. Captura de tela OED Notícias boas, notícias ruins: o uso do adjetivo: Layout do player. Fonte: Edições SM.

O objeto é feito na técnica motion graphics, conforme pode ser visto na figura 24, uma técnica prevista pelo Edital, que se trata da manipulação de camadas de imagens de vários tipos diferentes, como fotos, textos, formas, ilustrações, objetos 3D, vídeos etc. O conceito mistura técnicas de design e cinema e hoje é muito encontrado em vídeos digitais e aberturas de programas televisivos19.

19 Mais informações sobre a técnica podem ser encontradas no vídeo disponível em <https://vimeo.com/54689225>. Acesso em 01 jun 2015.

Figura 24. Captura de tela do OED Notícias boas, notícias ruins: o uso do adjetivo: Exemplo da técnica motion graphics. Fonte: Edições SM.

Há também, no OED, videografismos ora em fundo colorido, ora em fundo com fotografias sobre o assunto, como no caso da notícia de ruas alagadas, em que parte da explicação é alternada com fotos de ruas nessa situação. Outra característica é uma música de fundo que acompanha o objeto.

A multissemiose do objeto é própria do conteúdo audiovisual e da técnica utilizada. Embora ela seja um diferencial em relação ao livro impresso (no livro, são apenas textos ou imagens estáticas), não podemos dizer que ela significa um ganho, como veremos adiante, pois se trata de uma animação descontextualizada em que se traduzem os tópicos gramaticais que já haviam sido estudados no impresso, em outra linguagem, a audiovisual.

Apesar de ser digital, o projeto gráfico-editorial não traz nenhuma característica do novo ethos (LANKSHEAR; KNOBEL, 2007), pois não há colaboração, compartilhamento (nem mesmo o objeto pode ser compartilhado), não há nem mesmo paradigma do ambiente digital, já que o paradigma do impresso é evidenciado através da exposição do conteúdo, muito semelhante ao layout do livro didático impresso, como ilustrado na figura 25:

Figura 25. Captura de tela do OED Notícias boas, notícias ruins, o uso do adjetivo: Paradigma do impresso. Fonte: Edições SM.

Interface digital

A usabilidade (NIELSEN, 1993; NASCIMENTO, 2005) do objeto permite que o usuário avance o vídeo como desejar, assim como é possível adequar o volume do som conforme o desejado. A música de fundo é apenas acessória e não pode ser desligada e, assim como em outros OEDs da coleção, não tem qualquer relação com o conteúdo do objeto. A possibilidade da acessibilidade com legendas é um ponto positivo. As telas em que há os videografismos são coloridas ou compostas por fotos de fundo clareadas artificialmente, fazendo com que elas não atrapalhem a legibilidade do texto, que sempre se encontra em tamanho grande e adequado na tela.

Quanto à interatividade, conforme Silva (1998), não há, pois não há biredicionalidade de informação no objeto, nem intervenção do usuário e escolha de caminho hipertextual, o que já adiantamos, é muito próprio do tipo de mídia audiovisual.

Proposta pedagógica de língua portuguesa

As notícias não são textos autênticos, mas feitas para o objeto. Também não são completas, trazendo apenas o trecho de texto que interessa para a explicação seguinte sobre adjetivos. Como exemplo, podemos ver a primeira notícia, que é sobre ruas alagadas, narrada no OED: “Um forte temporal no final desta tarde provocou enchente em diversos pontos da cidade. Nas ruas alagadas é possível ver carros encobertos pelas águas. Moradores desesperados tentam salvar os últimos pertences e lamentam esse triste dia.” (MARCHETTI

Em seguida à cena da família vendo e comentando a notícia, o narrador do vídeo explica, paralalemante a videografismos na tela, contendo o texto anteriormente narrado, representado na figura 26, a função dos adjetivos na notícia, dizendo que eles servem, nesse gênero, para ajudar o leitor ou expectador a visualisar os aspectos da cena.

Figura 26. Captura de tela do OED Notícias boas, notícias ruins: o uso do adjetivo: videografismo com destaque para os adjetivos. Fonte: Edições SM.

É interessante observar o quanto essa atividade está totalmente descontextualizada, visto que, além de não se usar um texto autêntico, mistura conceitos da notícia televisiva com a notícia impressa, que embora possuam algumas semelhanças, na notícia televisiva, como abordado no OED, os adjetivos não servem exclusivamente para “ajudar o leitor ou expectador a visualisar os aspectos da cena”, pois a cena já está sendo visualizada. Ele pode servir, dentre outros motivos, para caracterizar a situação e explicitar posicionamentos discursivos acerca do fato noticiado, o que não é considerado. É visível que a situação de TV na sala é apenas pretexto para o estudo do pequeno texto de notícia criado.

Em seguida, há também, sem qualquer narração, somente com videografismos sobre fundo de tela com foto de rua alagada, a análise dos comentários feitos pela família, mostrando quais são adjetivos. Dentre os comentários estão, por exemplo, “Nossa que situação difícil!” e “Olha a rua alagada!”. Prosseguindo, há outra cena em que mãe e filha comentam uma notícia sobre o nascimento de um tigre raro, com olhos azuis, pelos brancos e listras cinza. Elas fazem alguns comentários, como “Ai, que tigre lindinho!”, no qual é abordada a flexão dos adjetivos, em que adjetivos no diminutivo podem também expressar afetividade. Por fim, o OED é encerrado com um dialógo em que o pai da família comenta

sobre a visita de um amigo seu que “não é grande, mas é um grande amigo”, contexto no qual se aborda sobre a diferença de sentido no posicionamento do adjetivo, antes ou depois do substantivo.

Analisando esse conteúdo, podemos dizer que essa atividade se distancia do embasamento teórico e conceitual da coleção impressa, que tem um caráter mais discursivo e textual, conforme afirma o Guia. A perspectiva de língua(gem) do OED desconsidera que textos são sócio-historicamente situados e que seus interlocutores são dialógicos, o que não corresponde aos exemplos usados no OED para tratar dos adjetivos. Assim, o objeto se distancia de uma perspectiva de língua como interação e se aproxima de uma perspectiva de instrumento de comunicação, em que basta os falantes combinarem certas regras gramaticais para obterem uma comunicação eficiente.

A partir disso, é possível deduzir que, como conteúdos complementares digitais, apesar de não terem sua autoria explicitada, eles possivelmente não foram feitos pelos mesmos autores do livro impresso, além de não terem recebido a devida atenção pedagógica. Talvez designers instrucionais e não professores é que façam as atividades de objetos digitais, o que leva a possíveis inadequações conceituais, por falta de conhecimento na área. No entanto, ainda assim, foram aprovados pelo PNLD, o que causa certo estranhamento, visto que, é possível ver que a situação se repete em outros objetos da coleção.

Quanto à perspectiva pedagógica, exposta por Cope e Kalantzis (2012), podemos ver que, no caso deste objeto, não se trata nem da synthesis, que considera o conhecimento empírico (isto é, situado), muito menos de reflexividade, já que não há qualquer consideração também sobre os conhecimentos prévios dos alunos, sua multiculturalidade e suas questões identitárias, muito menos sobre a multiplicidade de linguagens20. Ele se aproxima, então, da abordagem da mimesis, em que a repetição, a transmissão e a reprodução de saberes são valorizadas. O OED se assemelha a uma aula expositiva de gramática, em que a partir de frases soltas e descontextualizadas, analisa-se um aspecto gramatical.

A multissemiose não é tomada como objeto de ensino, mas sim o adjetivo, o qual não traz nenhuma novidade, já que se trata de um conteúdo de ensino comum, embora não menos importante. O novo ethos (LANKSHEAR; KNOBEL, 2007) também não é evidenciado na atividade, pois não há quebra de hierarquias de inteligência, visto que o OED, por ser extremamente transmissivo, substitui uma explicação que poderia ser feita pelo professor, não havendo muitas contribuições ou ganhos ao aluno acessar o objeto.

20 Não temos a pretensão de que os OEDs tenham todas essas características ao mesmo tempo, mas assim consideramos para poder verificar que contribuições o OED traz.