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4. ANÁLISE DOS DADOS

4.4. Discussão dos resultados

A coleção Para Viver Juntos, para o 6º ano, apresentou 10 OEDs e todos pertenciam apenas a uma tipologia, a de OEDs como complementação conceitual ou

temática. A predominância foi para objetos do tipo audiovisual, do eixo dos conhecimentos

linguísticos, para complementação conceitual e sem apresentar interatividade. Foi possível identificar, através do levantamento, que havia um enfoque para objetos de ensino que

privilegiavam aspectos linguístico-gramaticais, o que foi confirmado na análise do OED

Notícias boas, notícias ruins: o uso dos adjetivos.

Com relação ao projeto gráfico-editorial, alguns pontos de destaque foram observados na análise, como o uso de cores similares às da coleção impressa, no caso, vermelho e branco, e de um logo da Para Viver Juntos e da Edições SM, que marcam o direito autoral e a identidade visual da coleção. Houve a presença constante de trilhas sonoras, muitas vezes apenas acessórias e pouco relacionadas com o conteúdo do objeto. Os vídeos, como foi observado no OED analisado, claramente eram multissemióticos, pois utilizavam textos, imagens e videografismos diversos, porém não apresentaram possibilidades permitidas pela Web 2.0, como compartilhamento, edição, colaboração, entre outras. Houve um evidente paradigma do impresso, ao exibir telas explicativas em esquemas semelhantes à lousa ou ao livro didático, o que os distanciaram da cultura digital e os aproximaram da cultura escolar e impressa.

A interface digital da coleção, com relação à usabilidade, apresentou boa legibilidade gráfica, no entanto, seu ponto fraco esteve na impossibilidade de desligar apenas a trilha sonora do restante do som do objeto, o que se tornou incômodo para o aluno-usuário. Com relação à interatividade, não houve, pois a coleção, para o 6º ano, apresentou apenas objetos audiovisuais, isto é, animações ou vídeos para serem assistidos, sem qualquer interação ou caminho hipertextual/multilinear.

Por fim, com relação à proposta pedagógica, o OED analisado evidenciou o uso de texto não autêntico, o que é um problema grave para o ensino de língua portuguesa. A perspectiva de língua privilegiou a aprendizagem de regras e estruturas gramaticais, evidenciando uma visão da língua como instrumento de comunicação. Já a perspectiva pedagógica foi a de mimesis, pois não houve qualquer relação com o conhecimento empírico, conhecimentos prévios ou identidade do aluno, com a valorização apenas da transmissão de saberes, de maneira expositiva. Nesse sentido, é como se o objeto digital fosse uma vídeoaula em forma de animação. Assim, não houve o trabalho nem com os multiletramentos, nem com os novos letramentos.

Já a coleção Português Linguagens, para o 6º ano, apresentou 15 OEDs, com 11 OEDs da tipologia de OEDs como complementação conceitual ou temática e 4 OEDs

como atividades práticas. Apesar de haver maior diversidade do que a coleção anterior,

também houve o predomínio de objetos do tipo audiovisual, do eixo dos conhecimentos linguísticos, para complementação conceitual e sem interatividade. A coleção apresentou

alguns diferenciais, como objetos híbridos de complementação conceitual/atividade e o trabalho para além da gramática.

Os dois OEDs analisados, o vídeo O hip hop e outras linguagens e o jogo

Exposição Walter Beach Humphrey, com relação ao projeto gráfico-editorial, evidenciaram o

uso de cores mais variadas e sem a presença do logo da coleção, mostrando uma preocupação menor com os direitos autorais. Como pontos importantes a serem destacados, identificamos a presença de trilha sonora que, no primeiro objeto analisado, se mostrou mais acessória, enquanto no segundo pareceu mais relacionada ao contexto. Os botões variaram de acordo com o tipo de objeto, como “play” e “pause” para o vídeo e outras opções para o jogo, como “home”, “regras”, “seguir” e “voltar”, além da contagem de pontos. Os objetos eram intrinsicamente multissemióticos, pois traziam uma ampla quantidade de imagens e textos de maneira conjunta, no primeiro caso, através de exposições do tipo “slideshow” para explicação da atividade, além da entrevista e, no segundo caso, com a presença da metáfora de um museu e suas pinturas expostas, com questões a serem respondidas. No entanto, em nenhum dos dois houve o favorecimento de práticas letradas do novo ethos. O paradigma do livro impresso foi menos evidenciado, mas ainda assim houve maior aproximação da cultura escolar que da cultura digital, por apresentar, nos dois casos, atividades tipicamente escolares que deveriam ser feitas no próprio objeto ou a partir dele.

Na interface digital, com relação à usabilidade, os dois OEDs apresentaram boa legibilidade de texto e cores adequadas, no entanto, assim como na coleção anterior, havia impossibilidade de desligar a trilha sonora separadamente de outros sons do objeto. Apenas um dos objetos, o jogo, apresentou interatividade, pois permitia o usuário escolher qual obra clicaria e em qual ordem, porém, ainda assim, percebemos que a interface digital era limitada para um “jogo”, pois não apresentava maiores desafios, apenas a contagem de pontos de questões a serem respondidas. Muitos objetos para o ensino de língua portuguesa tenderam a considerar “jogos” atividades de pergunta/resposta e, nesse caso, embora com uma proposta um pouco diferenciada – a leitura de pinturas – não foi diferente.

Já com relação à proposta pedagógica de língua portuguesa, percebemos, novamente, o uso de texto não autêntico no primeiro objeto analisado, devido ao tom simulado que a entrevista transpareceu. No primeiro OED, tivemos uma perspectiva de língua como instrumento de comunicação, pois se privilegiou o estudo do hip hop como apenas “mais uma linguagem”, dentre outras várias, desconsiderando seu contexto sócio-histórico. O segundo OED, apesar de ter inovado na proposta de leitura de pinturas, errou na perspectiva escolhida para abordagem. Ao limitar a interpretação e fazer perguntas do tipo “o que o autor

quis dizer?”, privilegiou uma perspectiva de língua como expressão do pensamento. Por fim, a perspectiva pedagógica, no primeiro, foi de synthesis, por propor uma atividade de conhecimento empírico para o aluno, enquanto, no segundo, foi de mimesis, pois apenas propôs uma atividade do tipo pergunta/resposta, com reforçadores positivos e negativos, próximos a uma abordagem behaviorista. Assim, é possível perceber que, apesar dos dois objetos terem tentado trabalhar com linguagens não verbais, não favoreceram os multiletramentos, pois apresentaram uma perspectiva cultural fraca e não situada. Também não apresentaram atividades coerentes com o novo ethos e a cultura digital, perdendo boas oportunidades de trabalho, como a construção de um painel digital ou uma visita virtual a um museu.

Por fim, a última coleção, Universos, para o 6º ano, apresentou 10 OEDs, divididos nas duas tipologias, 7 OEDs como complementação conceitual ou temática e 3

OEDs como atividades práticas. A coleção apresentou um diferencial: não houve o

predomínio de objetos de conhecimentos linguísticos e sim de leitura. Assim, a maior parte dos objetos eram audiovisuais, para o eixo da leitura, para complementação conceitual e sem interatividade. Ainda houve, também, um maior número de objetos para complementação temática. Foi evidenciada, no levantamento, a tentativa de trabalho, em alguns objetos, para além da gramática tradicional.

Os OEDs analisados, o vídeo Pedro Malasartes e a sopa de pedras e o jogo

Editando os três porquinhos, com relação ao projeto gráfico-editorial, apresentaram o

predomínio das cores vermelho, branco e verde, semelhante aos livros impressos e o logo da

Universos e da Edições SM, marcando a identidade visual da coleção. Como pontos a serem

destacados, primeiramente, está o fato de que houve maior flexibilidade de formatos que nas coleções anteriores. O primeiro objeto apresentou gráficos semelhantes aos de outras coleções: vídeo, com videografismos, trilha sonora e multissemiose devido à presença de imagens ilustrativas, sons e textos. No entanto, o segundo objeto não apresentou trilha sonora constante e era caracterizado por um formato totalmente diferente: o editor de vídeos, em que era possível fazer seleção de cenas e depois visualizar a sequência narrativa. Assim, o segundo OED favoreceu os multiletramentos e novos letramentos, pois trabalhou o letramento multissemiótico dos alunos, na tarefa da edição de cenas, e com o novo ethos, na interface que permitia a criação de um remix.

Na interface digital também houve novidades. No primeiro objeto, temos problemas semelhantes aos das outras coleções, boa legibilidade, mas impossibilidade de desligar a trilha sonora, além de não ter interatividade. Porém, no segundo objeto, o editor de

vídeos permitiu uma interface muito intuitiva para o aluno, como clicar e arrastar e fazer diversos caminhos hipertextuais, o que configurou uma boa interatividade, diferente de qualquer outro objeto visto no levantamento.

Já com relação à proposta pedagógica, no primeiro OED, embora a proposta de trabalho da escuta de uma declamação de cordel fosse muito interessante, ela ficou prejudicada pelo tom simulado da declamação e seus possíveis estereótipos. Assim, ao privilegiar que a oralidade é apenas uma combinação de estruturas que levam a determinada maneira de expressão, temos uma perspectiva de língua apenas como instrumento da comunicação. Já o segundo OED permitiu uma proposta nova e interessante para a escola, com a possibilidade de remix, paródia e quebra de hierarquia autor/leitor. O aluno deveria entender a negociação de sentidos envolvida na coesão e coerência textual, que eram obtidas pela combinação da estrutura textual e visual, com a entonação da narração. Além disso, ele também deveria se basear em possíveis outras estruturas de contos que já tenha lido, evidenciando uma visão dialógica da língua, o que configurou uma perspectiva de língua como interação. Com relação à perspectiva pedagógica, ambos apresentaram paradigmas de

synthesis, pois propunham atividades empíricas para os alunos, no primeiro caso, a

declamação de um cordel e, no segundo, a edição de uma história. O primeiro OED favoreceu apenas a perspectiva das múltiplas linguagens dos multiletramentos, mas assim como em outros objetos analisados, deixou a desejar na perspectiva cultural do cordel, além de não ter trabalhado com novos letramentos. Já o segundo OED, favoreceu também os multiletramentos por trabalhar bem o letramento multissemiótico, mas não abordou aspectos multiculturais. Porém, foi destaque o seu trabalho inédito com os novos letramentos, apresentando-se como o único objeto analisado que se aproximou mais da cultura digital que escolar e impressa.

Portanto, concluimos que a coleção Para Viver Juntos foi a que apresentou a proposta mais limitada de OEDs, enquanto a Português Linguagens e Universos tentaram inovar de alguma maneira, pelo menos explorando a multissemiose dos textos. No entanto, ainda assim, observamos que apenas a Universos tentou aproveitar as especificidades da mídia digital, oferecendo até mesmo uma atividade coerente com o novo ethos.