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Em busca de respostas às questões norteadoras, definidas no estudo, o instrumento de coleta que o pesquisador utilizou foi o roteiro de entrevista semiestruturada, cujas perguntas tiveram como referencial teórico a Figura nº 1 (o Modelo de Baugh e Fagenson-Eland, de um programa de mentoria formal). Também como instrumento o pesquisador fez uso dos cartões- fichário (Anexo A) de autoria da Prof.ª Doutora Mônica Gueiros (GUEIROS, 2007), baseado em Kram (1985).

Foram utilizados 3 (três) roteiros de entrevista: um roteiro para cada um dos representantes dos diversos níveis de participantes do e-mentoring do Ponto Cidadão: Mentorados (Apêndice C), Mentores (Apêndice D), e, Coordenadores do Programa (Apêndice E).

3.5.2. Processo

A técnica utilizada pelo pesquisador foi a entrevista qualitativa semiestruturada, com questões abertas que foram gravadas e depois houve a transcrição das entrevistas. Houve casos que também fez uso da aplicação das questões e a anotação das respostas dos entrevistados.

Na medida em que entrevista pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa situação “face a face” e em que uma delas formula questões e a outra responde (GIL, 2007), a decisão foi por utilizar essa metodologia por apresentar aderência aos objetivos de pesquisa. Esse método de pesquisa é um excelente instrumento porque permite a interação entre o pesquisador e o entrevistado. Por se tratar de um instrumento que facilita a obtenção de descrições detalhadas sobre o objeto pesquisado. Esse método permite o aprofundamento do entrevistador nos questionamentos a partir do conteúdo que venha a surgir. Por essa flexibilidade, possibilita a emissão de pareceres considerados adequados para um maior aprofundamento nos questionamentos (LOPES, 2006; OLIVEIRA, 2010). A entrevista faculta um processo de interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de informações por parte do outro, o entrevistado (MARTINS, 2002). As entrevistas são consideradas como uma das mais importantes fontes de informação para o estudo de caso, assim como uma ferramenta essencial para tratar de questões humanas YIN (2005).

A entrevista qualitativa é uma metodologia de coleta de dados amplamente empregada. Ela fornece os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. Para o mesmo autor, as entrevistas qualitativas são conduzidas sob três formatos: semiestruturada, que pode ser em profundidade com um único respondente; fortemente estruturada, que apresenta questões predeterminadas; e a entrevista de conversação continuada, que é a menos estruturada, onde a ênfase é maior na absorção do conhecimento local e da cultura (GASKELL, 2002).

As entrevistas semiestruturadas são consideradas as fontes de evidências mais importantes nos estudos de casos pela amplitude, riqueza de detalhes e foco. Nela, os depoimentos dos sujeitos ocupam posição de destaque na coleta de dados por se mostrarem relevantes e significativos e poderem ser comprovados no decorrer de outras entrevistas (YIN, 2005; LAKATOS, 2003). Por tratar-se de uma pesquisa qualitativa, a entrevista torna-se rica ao incrementar a reflexão sobre o conteúdo, pela análise pragmática da conversação (MATTOS, 2006).

Para dar início ao presente estudo, o pesquisador inicialmente fez diversas visitas ao Ponto Cidadão, realizando encontros com a Coordenadora Geral do Projeto (Srª Roberta Cavalcanti), com a Presidente e Mantenedora do Ponto Cidadão (Srª Maria Amélia) e com o Coordenador do e-mentoring (Sr. Ernandes Rodrigues). Nessas ocasiões foi esclarecido qual seria o objetivo do estudo, ao mesmo tempo em que foi firmado o compromisso de que seria entregue ao Ponto Cidadão uma cópia do documento final da dissertação. Houve grande receptividade e estímulo por parte de todos para a realização da pesquisa.

Após os contatos preliminares, o pesquisador obteve as relações nominais com os dados (nomes, e-mails, telefones) de mentores e de mentorados, tendo iniciado os contatos para os agendamentos da pesquisa em Fevereiro/2013 após o carnaval, prolongando-se por todo o mês de Março e Abril. O número de contatos foi muito maior do que as entrevistas que foram realizadas. Foram diversas viagens para Igarassu e outras cidades da Região Metropolitana, às vezes agendada para entrevistar apenas uma pessoa. E, muitas vezes ocorreram insucessos porque as entrevistas não aconteciam porque os jovens não compareciam. Muitas foram agendadas para acontecer na FACIG (Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Igarassu), ou no próprio Ponto Cidadão, por se tratar de locais mais centrais e com estrutura para viabilizar as entrevistas. Sem contar as horas aguardando para conseguir entrevistar os mentores em seus locais de trabalho. Ocorreram alguns imprevistos devido aos envolvimentos dos mentores com suas tarefas cotidianas ou com outras inesperadas, que acarretavam atrasos para as entrevistas, e até cancelamentos com novos agendamentos.

As entrevistas foram realizadas com os principais atores do e-mentoring do Ponto Cidadão: mentores, mentorados, coordenador e administrador do programa. Tiveram uma duração média de 30/40 minutos. Algumas foram gravadas digitalmente, transcritas e classificadas, outras foram respondidas por escrito, cujas anotações também se encontram preservadas e arquivadas.

O pesquisador não interferiu nas respostas dos entrevistados, limitando-se a ouvir e gravar suas falas, apenas intervindo quando havia necessidade de esclarecimentos para melhor entendimento sobre o tema. As entrevistas foram realizadas pessoalmente e individualmente com cada um dos entrevistados, sempre pautada em um roteiro pré-elaborado que cumpriu a necessidade da coleta dos dados para responder às questões norteadoras e satisfação dos objetivos específicos.

Os cartões-fichário (GUEIROS, 2007) foram utilizados para pesquisar sobre as funções de mentoria. O pesquisador mostrou e leu de forma pausada junto com o entrevistado, sempre começando pelas funções de carreira e em seguida pelas funções psicossociais. Em seguida solicitou que cada respondente escolhesse e organizasse por ordem decrescente, a partir da função que foi mais evidenciada na relação vivenciada de mentoria, até a que menos foi enfatizada, ou, descartando as que não ocorreram.

Por se tratar de pesquisa qualitativa, quando ocorreu a saturação, o pesquisador considerou desnecessário realizar mais entrevistas. A saturação é ferramenta comumente utilizada nos relatórios de investigações qualitativas para o estabelecimento do término ou fechamento da coleta de dados para o estudo, quando se interrompe a captação de novos componentes (GODOY, BANDEIRA-DE-MELO e SILVA, 2006).

Nessa seção o pesquisador explicou sobre os instrumentos e o processo utilizado para a coleta de dados. A próxima seção explanará sobre os métodos e a técnica de análise utilizada nesse trabalho de pesquisa.

3.6. Métodos de Análise

Como técnica de análise para tratamento dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo, através de inferências básicas a partir do texto, objetivando descrever sistematicamente o teor da comunicação (MARCONI; LAKATOS, 2010).

A escolha decorreu da premissa de que análise de conteúdo oferece uma técnica para produzir conclusões de um texto focal para seu contexto social. Isso ocorre de maneira objetivada, sendo, em última análise, uma categoria de procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social (BAUER e GASKELL, 2002). Segundo Bardin (2006), a análise de conteúdo engloba um conjunto de técnicas de análise das comunicações, ou seja, um único instrumento, mas possuidor de uma grande quantidade de formas diversas e adaptáveis ao campo de aplicação das comunicações. Desde mensagens linguísticas em forma de imagens, até comunicações em três dimensões podem ser realizadas, o que significa que quanto mais complexo, instável, ou mal explorado for o código, maior terá de ser o esforço do analista, no sentido de uma inovação com vistas a uma elaboração de novas técnicas. Assim, quanto mais o objeto de análise e a natureza das suas interpretações forem incomuns ou excepcionais, maior será a dificuldade do analista em colher elementos nas análises já realizadas, que possibilitem a inspiração nelas. Em última análise, qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de significações de um emissor para um receptor controlado ou não por

este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo (BARDIN, 2006)

Por ser uma das autoras mais respeitada na literatura, para o presente estudo, o pesquisador escolheu a técnica de Bardin. Na perspectiva dessa autora a análise de conteúdo consiste em descobrir “núcleos de sentido” que compõem a comunicação. Seguindo essas orientações, o pesquisador realizou uma análise temática, buscando descobrir os “núcleos de sentido”. A presença ou frequência de aparição destes “núcleos de sentido” podem significar elementos que consigam responder aos objetivos específicos escolhidos. Partindo de cada objetivo específico como tema-eixo, construiu-se uma estrutura de etapas para cada um deles, separadamente e em sequência.

3.7. Limites e Limitações 3.7.1. Limites

Primeiramente, pelo fato de tratar-se de um estudo de caso único: O Programa e- mentoring do Ponto Cidadão, que por si só, já possui os limites inerentes ao método que pode ser visto como um exame detalhado de um único exemplo de uma classe de fenômeno. Analisado dessa forma, pode ser útil nos estágios preliminares de uma investigação uma vez que fornece hipóteses, que devem ser testadas sistematicamente com um grande número de casos. O estudo de caso é parte da metodologia científica. Ele ajuda a refinar a teoria, sugerindo insights para investigações posteriores.

O propósito final não é representar o mundo, mas representar o caso. Há ainda muitas críticas quanto aos métodos de análise qualitativos, pois os mesmos estão sujeitos a generalizações que podem ser um processo inconsciente, tanto do pesquisador como do leitor. Principalmente no que se refere a sua falta de objetividade e rigor científico, uma vez que dependem em grande parte da intuição do investigador, estando, portanto, sujeito a sua eventual subjetividade. De qualquer maneira, subjetividade é algo inerente ao ser humano. O que mais importa é o rigor metodológico e o grau de identificação e interesse pelo tema escolhido.

Outro fator que limitou foi pertinente ao próprio conceito de mentoria, pois existem poucos estudos empíricos sobre o fenômeno no Brasil, o que dificultou a pesquisa. O termo mentor é usado muitas vezes com a conotação diferente da proposta no trabalho, por isso este construto não faz parte do vocabulário de vários dos entrevistados. Acarretou que alguns dos entrevistados não possuíam a exata dimensão do conceito de mentoria, faltando o

conhecimento teórico sobre os relacionamentos de mentoria. Mas, como não se pretende que as conclusões que o presente estudo trouxe, sejam verdades únicas, o estudo apresenta suas contribuições para a academia e para a sociedade.

3.7.2. Limitações

As principais limitações referiram-se aos entrevistados. O primeiro ponto a notar foi a dificuldade para atingir o número de respondentes até a saturação. Isso foi um pouco surpreendente dado que o pesquisador realizou previamente várias reuniões com as pessoas responsáveis pelo Programa e-mentoring do Ponto Cidadão. Nessas ocasiões, apresentou um escopo do trabalho que pretendia empreender, tendo obtido, aparentemente, êxito em termos de receptividade, aprovação e pré-disposição para colaboração. Foram, então, fornecidas algumas relações nominais com dados como telefone e e-mails, tanto de jovens que passou pelo projeto quanto de mentores. As maiores dificuldades surgiram, no entanto, na busca de contato e de aceitação para participar de entrevista. Esta situação fez-se presente tanto em relação a mentores quanto a mentorados. Com frequência, mentores cancelaram a entrevista na última hora. Mentorados muitas vezes marcaram a entrevista no Ponto Cidadão e não compareceram nem justificaram. Também muitos dados de telefone e e-mail de alguns jovens estavam desatualizados, o que dificultou a localização. A partir dessas dificuldades o pesquisador buscou fazer o maior número de contato possível e passou a usar o efeito “bola de neve”, quando a escolha dos próximos entrevistados se deveu a pessoas indicando outras. O pesquisador contou com relevante colaboração de uma mentorada que buscou em sua lista de contatos pessoais e passou a viabilizar novos agendamentos para entrevistas. Outra alternativa encontrada pelo pesquisador foi de participar dos eventos do Ponto Cidadão, para buscar contato com jovens que pudessem indicar outros que já tivessem passado pelo e- mentoring. Participou também de um evento de confraternização com a turma de mentores e mentorados de 2012, ocasião em que fez contato pessoal com os mentores e conseguiu dados valiosos (telefones pessoais e e-mails atualizados) para os agendamentos das entrevistas.

Ocorreu ainda outra limitação, o pesquisador percebeu que para alguns tópicos do modelo referenciado (Baugh e Fagenson-Eland) não haveria ressonância no Programa e- mentoring do Ponto Cidadão. A percepção deu-se pelo conhecimento do pesquisador da estrutura do modelo que serviu para a investigação do relacionamento de mentoria formal desse estudo de caso. Foi notado por ocasião das entrevistas preliminares com a Presidente do Ponto Cidadão (Srª Maria Amélia) e com o Coordenador do e-mentoring (Sr. Ernandes

Rodrigues). Para minorar essa limitação, o pesquisador realizou mudanças nas perguntas do roteiro original de entrevistas. Isso com o objetivo de não ficar perguntando o que antecipadamente sabia-se não resultaria dos achados, mantendo o foco nos objetivos específicos desse estudo.

Algumas entrevistas foram improdutivas e descartadas, porque houve dificuldade de entendimento por parte do jovem e/ou falha de comunicação. No contato preliminar ele entendeu que a entrevista seria para quem fez parte do Ponto Cidadão, quando a amostra buscada seria apenas para os atores que participaram do e-mentoring. Como nem todos os jovens do Ponto Cidadão participaram do e-mentoring, ocorreu essa falha de comunicação (em duas situações). Houve ainda o extravio das três primeiras entrevistas realizadas (duas moças e um rapaz). Para corrigir essas falhas o pesquisador buscou contato com outros jovens para complementar a realização desse estudo.

Por ocasião das entrevistas, outra dificuldade com a qual o pesquisador se deparou foi a respeito das gravações, isso porque alguns entrevistados se sentiram desconfortáveis com a gravação preferindo por não gravar. Ocorreram situações onde o ruído do ambiente externo interferia e inviabilizava sobremaneira para que a gravação ocorresse. Houve ainda problemas técnicos com o gravador (micro cassete) com percas de gravações, apesar de que não houve perca total, considerando o que ficou na memória do pesquisador, todavia não o suficiente para fazer análise de conteúdo. A solução foi fazer mais entrevistas, continuar pesquisando até obter a saturação, desta feita, o pesquisador utilizou o telefone celular para fazer as gravações. A título de conselhos a quem estiver começando a fazer pesquisa: não confiem em ter um gravador só e reproduzam backups (cópias de segurança) imediatamente após as seções de entrevistas.

É importante destacar a disponibilidade e colaboração dispensada por parte dos que são responsáveis no Ponto Cidadão pelo Programa de e-Mentoring, bem como, pelos mentores e mentorados entrevistados. Esta colaboração permitiu a conclusão do presente trabalho, não obstante as limitações aqui evidenciadas, que trouxe uma realidade bem local sobre um Programa Formal de Mentoria aplicado para jovens em situações de riscos sociais.

Neste capítulo tratou-se sobre a metodologia, o delineamento da pesquisa; o locus; a população e amostra; a instrumentação das variáveis; os instrumentos e o processo da coleta de dados; o método de análise; e, finalmente, os limites e limitações. O próximo capítulo tratará da análise e discussão dos resultados encontrados nas entrevistas realizadas com os stakeholders do Programa e-Mentoring do Ponto Cidadão.

4. Análise e Discussão dos Resultados

Nesse capítulo serão analisados e discutidos os resultados obtidos nesse estudo, seguindo-se a ordem dos objetivos específicos propostos no capítulo 1, item 1.5.

4.1. Objetivo Específico 1 – Conhecimento sobre o construto mentoria.

No documento O Programa de E-Mentoring do Ponto Cidadão (páginas 54-61)