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Começaria pelo arresto preventivo previsto no art 228.º do Cód Proc Penal que traduz uma modalidade das medidas de garantia patrimonial previstas neste Diploma:

No documento Direito Penal e Processual Penal (2012-2015) (páginas 190-193)

Parte II A Direcção Material da Investigação Criminal

VALORAÇÃO DA PROVA NA CRIMINALIDADE ECONÓMICO-FINANCEIRA

N. º 2 No caso de verificação simultânea dos pressupostos de aplicação da alínea d) e da alínea f) do número anterior, a avaliação indirecta deve ser efectuada nos termos dos n.os 3 e

3.1. Começaria pelo arresto preventivo previsto no art 228.º do Cód Proc Penal que traduz uma modalidade das medidas de garantia patrimonial previstas neste Diploma:

Embora no seu desenho legal surja com alguma dependência da caução económica (o Ministério Público pode requere-la “havendo fundado receio de que faltem ou diminuam substancialmente as garantais de pagamento da pena pecuniária, das custas, ou de qualquer outra dívida para com o Estado (art. 227.º, n.º 1), da mesma forma que o lesado, quando exista “fundado receio de que faltem ou diminuam substancialmente as garantais de pagamento da indemnização ou de outras obrigações civis derivadas do crime (art. 227.º, n.º 2), dela pode autonomizar-se.

Como o menciona o seu lacónico n.º 1, é decretada nos termos da lei do processo civil, o que segundo o Prof. Pinto de Albuquerque, Comentário do Código de Processo Penal, Universidade Católica Editora, 2.ª Ed.º, pág.ª 628, que “depende da comprovação de um justificado receio da

perda da garantia patrimonial”.

Ou seja, em primeira linha, a remissão funciona em termos de requisitos de aplicação.

O problema aqui, reside na circunstância da Doutrina e Jurisprudência civilista, de forma quase unânime, juntarem ao mencionado receio também a probabilidade da existência do crédito. E porque é que isto é importante?

É que se tiver sido anteriormente fixada e não prestada caução económica, o arresto pode ser decretado sem mais (hipótese em que seria quase automático).

A exigir-se aquele segundo requisito, este terá de ser invocado e apreciado.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (2012-2015)

Valoração da prova na criminalidade económico-financeira

Propendo para a solução que os englobe a ambos.

A menor exigência probatória em relação este instituto facilmente se compreenderá de onde deriva:

Mesmo nos termos da lei processual civil (art.ºs 406.º e segts., actuais art.ºs 391.º e segts.), basta-se com o receio da perda da garantia patrimonial, o que quer dizer que aquele não tem que ser certo, mas tão só provável, da mesma maneira que em relação à existência do crédito, é suficiente a sua probabilidade e não a correspondente certeza.

Uma outra condicionante que interfere nesta matéria, é a circunstância de estarmos numa jurisdição processual penal e que o arresto preventivo é uma medida de garantia patrimonial. Logo ser-lhe-ão também aplicáveis as condições gerais de aplicação previstas no art. 192.º, o que não coloca grandes dificuldades, e bem assim os princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade (art. 193.º), que poderão quadrar menos bem com o quadro civil de exigências para aquele procedimento.

Neste domínio, uma das questões que já se nos colocou, foi a saber da exigência da prévia audição do arguido para o seu decretamento, já que numa leitura imediatista dos respectivos preceitos, é o que parece decorrer dos n.ºs 1 e 3 do art. 194.º Cód. Proc. Penal.

Concomitantemente, foi suscitada a respectiva nulidade insanável, fundada no art. 119.º, al. c), do mesmo Diploma.

Posto que o Prof. Pinto de Albuquerque18 dê nota da defesa dessa posição por parte do Dr.

Rodrigo Santiago, em nome de um princípio irrestrito do contraditório, não foi essa a posição que defendemos.

Convocamos antes, a Doutrina já desenvolvida pelo acórdão da Rel. de Coimbra de 25/09/2013, no processo 559/12.0JACBR-A.C2 (também ele consultável no endereço electrónico www.dgsi.jtrc.pt), que basicamente entendeu:

“ (…), sendo o arresto preventivo decretado nos termos da lei civil, não se vê por que razão há-

de, neste particular, divergir do art. 408.º, n.º1 do CPC.

Aliás, o arresto não (…) envolve ou contende directamente com a liberdade pessoal e com direitos fundamentais pessoais, mas tão só direitos patrimoniais ou económicos, não se descortinando razões para afastar o regime da lei processual civil que a própria lei processual penal manda observar.

Citando Paulo Pinto Albuquerque in Obra e local citados, “(…) só o sigilo da providência protege os interesses do requerente do arresto preventivo. É esse o sentido tradicional e histórico do arresto preventivo no direito Português. É, por isso, que o art. 228.º, in fine, distingue como

18 Comentário do Código de Processo Penal, Universidade Católica Editora, 2.ª Ed, pág. 628.

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uma das hipóteses do arresto preventivo o caso em que a caução foi previamente fixada e não prestada. A especificação da lei (“se tiver sido”) não faria sentido se esse fosse o único caso admissível”.

Este posicionamento foi ratificado pelo acórdão do Tribunal Constitucional n.º 714/2014, de 28/10/2014, no processo n.º 224/14, que afastou todas as críticas de desconformidade com a nossa Lei Fundamental que haviam sido apresentadas.

Da respectiva fundamentação gostaria de deixar consignados dois argumentos principais: “Não obstante tratar-se de um meio de garantia patrimonial inserido num processo penal – e

não um arresto „civil‟ no quadro de um processo civil com fins distintos – este instituto cautelar não tem em vista as finalidades próprias do processo penal mas antes visa assegurar preventivamente a garantia de um direito de crédito do lesado (in casu, assistente que deduziu nos autos um pedido de indemnização civil pelo valor dos créditos alegados – cfr. fls. 2 e 15). A conexão que possa existir entre o processo criminal, por um lado, e o direito de crédito e a responsabilidade civil fundada na prática de crime (artigo 71.º do CPP) que convocam o uso do meio cautelar em causa, por outro lado, não é de molde a influir diretamente sobre os elementos que possam integrar o tipo legal de crime, não se projetando o decretamento da providência cautelar de arresto sobre a responsabilidade criminal (pessoal) do arguido.

(…) tendo em conta as finalidades da providência cautelar em causa – o arresto preventivo –, considera-se justificado e razoável o desvio ao princípio do contraditório (prévio) em face do perigo de desvirtuamento e de inutilidade da própria medida, pondo assim em risco a tutela efetiva (eficaz) dos direitos que se tentam proteger, em termos que não merecem uma censura constitucional.”

Outra questão que assume alguma relevância diz respeito à extensão que o perigo da perda da garantia do crédito deve revestir nas situações em que o património tenha uma composição heterogénea.

No caso, uma valiosa colecção de veículos antigos, mas também depósitos e participações em sociedades.

Naturalmente que a garantia que aqui se tem em vista referir, é o património global do Requerido, considerado civilisticamente como garantia geral das obrigações.

Em relação à referida colecção o propósito do arguido de dela se desfazer era público e notório, em face não só da sua remoção já efectivada para o exterior, como até da existência publicitada de um leilão internacional para a sua alienação.

No que respeita aos bens de fungibilidade imediata, não temos quaisquer dificuldades em entender que em face da sua iminente possibilidade de movimentação devem ser objecto de deferimento do arresto existindo o receio fundado de alienação em relação a outros elementos patrimoniais.

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Valoração da prova na criminalidade económico-financeira

A situação das participações sociais tem uma natureza mais complexa. Não se perca todavia de referência, a capacidade que os entes colectivos possuem para transitar e fazer escoar fluxos financeiros, da mesma forma que a têm, para inabilitar o seu alcance por parte das autoridades.

3.2. Um outro arresto que seguramente terão ouvido falar numa destas sessões, é o previsto

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