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Inquirição de Testemunhas

No documento Direito Penal e Processual Penal (2012-2015) (páginas 162-165)

Parte II A Direcção Material da Investigação Criminal

2. O Início da Investigação

3.5. Inquirição de Testemunhas

Tendo em consideração a especialidade da matéria que nos ocupa entendo ser de fazer uma breve referência a situações em que eventuais testemunhas estão sujeitas a dever de sigilo previsto em legislação avulsa.

3.5.1. Revisores Oficiais de Contas

Em face do regime de Buscas absolutamente excepcional supra exposto não é de estranhar que o Legislador tenha consagrado no artº 72º, nº 1, do DL 224/2008, que aprovou o Estatuto dos Revisores Oficias de Contas o Sigilo Profissional.

Dispõe essa norma que: “Os revisores oficiais de contas não podem prestar a empresas ou outras entidades públicas ou privadas quaisquer informações relativas a factos, documentos ou outras de que tenham tomado conhecimento por motivo de prestação dos seus serviços, excepto quando a lei o imponha ou quando tal seja autorizado por escrito pela entidade a que diga respeito”.‖

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DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (2012-2015)

A Direcção da Investigação Criminal na Criminalidade Tributária

Deste preceito resulta que havendo necessidade de, no decurso da investigação, proceder à Inquirição de Revisor Oficial de Constas, seja legítimo prever que o mesmo irá invocar o Sigilo Profissional.

Em face do teor da norma transcrita afigura-se que a escusa será via de regra legítima pelo que não tem lugar o disposto no artº 135º, nº 2, do Código de Processo Penal.

Desse modo, a prestação de depoimento só poderá ser autorizada pelo Tribunal Superior àquele onde se tiver suscitado o incidente, devendo ser ouvido o organismo representativo da profissão – artº 135º nºs 3 e 4º, do Código de Processo Penal.

3.5.2. Técnicos Oficiais de Contas

A Inquirição de Técnicos Oficiais de Contas é muito frequente no âmbito deste tipo de criminalidade e raros são os casos é que é invocado Sigilo Profissional.

Em face das disposições aplicáveis é lícito questionar se os mesmos estão ou não obrigados a Dever de Sigilo e se sim, qual o seu alcance?

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Sobre esta matéria rege o artº 54º, do DL 310/2009, de 26 de Outubro, que aprovou o Estatuto da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas.

Esta norma refere-se expressamente aos deveres para com as entidades a que prestem serviço e dispõe que:

Artigo 54.º

Deveres para com as entidades a que prestem serviços

“1 − Nas suas relações com as entidades a que prestem serviços, constituem deveres dos técnicos oficiais de contas (…):

c) Guardar segredo profissional sobre os factos e documentos de que tomem conhecimento no exercício das suas funções, dele só podendo ser dispensados por tais entidades ou por decisão judicial, sem prejuízo dos deveres legais de informação perante a Direcção-Geral dos Impostos, a Inspecção-Geral de Finanças e outros organismos legalmente competentes na matéria”.‖

Desta norma resulta sem margem para qualquer dúvida a consagração de um dever de sigilo profissional dos TOC’s do qual só podem ser dispensados por decisão judicial.

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A questão que se coloca é a de saber se tal decisão tem de ser proferida pelo Tribunal Superior ou se pode ser proferida pelo Tribunal de Instrução Criminal.

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Afigura-se que, havendo recusa de depoimento a mesma, diferentemente do que sucede com os ROC’s deve ser apreciada pelo JIC.

Assento este entendimento na comparação dos dois regimes.

Enquanto para os ROC’s há uma proibição absoluta de prestar informação perante qualquer entidade pública ou privada, tal não se verifica nos TOC´s em que, a par do dever de sigilo existe o dever de colaborar com a Administração Fiscal.

Tal dever consta não só do artº 54º como também do artº 55º que dispõe:

“1 − Nas suas relações com a administração fiscal, constituem deveres dos técnicos oficiais de contas:

a) Assegurar que as declarações fiscais que assinam estão de acordo com a lei e as normas técnicas em vigor;

b)Acompanhar, quando para tal forem solicitados, o exame aos registos e documentação das entidades a que prestem serviços, bem como os documentos e declarações fiscais com elas relacionados;

c) Abster-se da prática de quaisquer actos que, directa ou indirectamente, conduzam a ocultação, destruição, inutilização, falsificação ou viciação dos documentos e das declarações fiscais a seu cargo;

d) Assegurar, nos casos em que a lei o preveja, o envio por via electrónica das declarações fiscais dos seus clientes ou entidades patronais.

2 − A violação dos deveres referidos no número anterior é, além da responsabilidade disciplinar a que haja lugar, punível de acordo com as normas do Regime Jurídico das Infracções Fiscais não Aduaneiras, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 20-A/90, de 15 de Janeiro, ou de um regime que o venha a substituir”.

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Nestes termos, penso que caso algum Técnico Oficial de Contas se recuse a depor invocando sigilo profissional o Ministério Público, após ouvir a Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e caso esta emita – como tem vindo a ser o caso – parecer favorável, deverá promover, sendo o caso, que o MMº JIC ordene a prestação de depoimento.

Havendo parecer negativo da Ordem penso que, para salvaguarda da investigação, deve ser suscitada a intervenção do Tribunal Superior.

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A Direcção da Investigação Criminal na Criminalidade Tributária

3.5.3. Outras questões no âmbito da Prova Testemunhal

Uma última nota em sede de Prova Testemunhal prende-se com a necessidade de localizar testemunhas que conheçam a realidade da sociedade atenta a manifesta dificuldade em efectuar a imputação subjectiva da responsabilidade penal.

Haverá pois que aferir se há trabalhadores da empresa cuja Inquirição seja de concretizar o que pode ser feito através das bases de dados da Segurança Social não ao nível dos descontos mas ao nível das entidades contributivas, designadamente apurando se a entidade sob investigação efectuou descontos e relativamente a quem.

4. O Recurso a Métodos Indirectos de Prova

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