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Durante o inquérito, o juiz determina, a requerimento do Ministério Público, a transcrição e junção aos autos das conversações e comunicações indispensáveis para fundamentar a

No documento Direito Penal e Processual Penal (2012-2015) (páginas 125-129)

A DINÂMICA DA INVESTIGAÇÃO EM SEGMENTOS CRIMINAIS ESPECÍFICOS – A INVESTIGAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO DE ESTUPEFACIENTES

7. Durante o inquérito, o juiz determina, a requerimento do Ministério Público, a transcrição e junção aos autos das conversações e comunicações indispensáveis para fundamentar a

aplicação de medida de coacção ou de garantia patrimonial, à excepção do termo de identidade e residência.

8…

9. Só podem valer como prova as conversações ou comunicações que:

a)O Ministério Público mandar transcrever ao órgão de polícia criminal que tiver efectuado a intercepção e a gravação e indicar como meio de prova na acusação;

b) O arguido transcrever a partir das cópias previstas no número anterior e juntar ao requerimento de abertura de instrução ou à contestação; ou

c) O assistente transcrever a partir das cópias previstas no número anterior e juntar ao processo no prazo para requerer a abertura da instrução, ainda que a não requeira ou não tenha legitimidade para o efeito.

Temos assim como formalidades essenciais impostas por este normativo as seguintes:

O juiz ao autorizar a escuta deve identificar os alvos e fixar um prazo para a mesma até ao limite de 3 meses.

Por sua vez o órgão de polícia criminal que efectuar a intercepção e a gravação deve lavrar o correspondente auto e elaborar relatório indicando as passagens tidas por relevantes para a prova, descrevendo, resumidamente, o seu conteúdo e alcance para a descoberta da verdade - artº 188º nº1:

O OPC leva ao conhecimento do Mº Pº, de 15 em 15 dias, contados desde o início da intercepção, os correspondentes suportes técnicos e os respectivos autos e relatórios (artº 188º nº 3).

Após o que, o MP, no prazo de 48 horas contado a partir da apresentação e até ao 17º dia contado a partir do início da intercepção, apresenta-os ao JIC.

Por sua vez o juiz aprecia as escutas sem que, para a prolação do subsequente despacho, exista prazo fixado na lei.

Nesse despacho, o JIC, deve apreciar e pronunciar-se sobre a eventual existência de alguma das situações referidas no nº 6 do art.º 188º e, caso, tal lhe tenha sido requerido, determinar, caso concorde, a transcrição e junção aos autos das conversações e comunicações mencionadas no nº 7.

Ainda em relação às intercepções telefónicas impõe-se ter presente que:

Após o anterior artº 190º do CPP ter alargado, o âmbito de aplicação do regime das escutas telefónicas à intercepção das comunicações entre presentes e às conversações e comunicações transmitidas por meio diferente do telefone designadamente correio electrónico ou outras formas de transmissão de dados por via telemática o actual artº 189º do CPP, – correspondente àquele preceito – veio, na parte final, incluir a transmissão de dados por via telemática – “mesmo que se encontrem guardadas em supor te digital”.

Na verdade, a Lei 59/98, de 25/8, já tinha alargado o âmbito de aplicação do regime das intercepções acrescentando-se no artº 190º do CPP o correio electrónico ou outras formas de transmissão de dados por via telemática, bem como as comunicações entre presentes.

• Agora, o normativo em apreço (art.º 189º), submeteu aos pressupostos e formalismos previstos nos artºs 187º e 188º não só, o correio electrónico ou outras formas de transmissão de dados por via telemática, mas também os suportes materiais em que esses dados se encontrem registados.

Adiante-se, desde já, que, segundo refere Paulo Pinto de Albuquerque (2ª Ed. In anotações ao artº 189º do CPP), ao fazê-lo, veio evitar que, a estes suportes, seja aplicado o regime das apreensões.

Acresce que, tal como resulta do normativo em causa, a lei submeteu as conversações entre presentes ao regime previsto nos artºs 187º e 188º do CPP sendo certo que não distingue entre as conversações privadas mantidas no interior do domicílio ou fora dele.

O que nos leva a colocar a questão de saber se é ou não admissível a escuta ambiente no interior de domicílio e se as conversações, em voz off, captadas na sequência de intercepção telefónica legalmente autorizada pelo JIC, são (ou devem ser) equiparadas àquela e se são ou não legais.

Face à redacção do normativo, podíamos ser levados a concluir pela validade da prova obtida em ambos os casos, já que, aparentemente, a lei não distingue entre as conversações tidas, quer em casa habitada, quer na via pública ou em qualquer outro edifício ou local de acesso público ou restrito.

Mas será assim?

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (2012-2015)

A dinâmica da investigação em segmentos criminais específicos – a investigação do crime de tráfico de estupefacientes

Tal como se pode ver no CPP de Paulo Pinto de Albuquerque (2ª Ed, pág. 526) em anotações ao artº 189, este autor, apesar de nos dar conta de que a lei não distingue entre as conversações privadas, ditas entre presentes no domicilio ou fora dele, incluindo, portanto, quer as conversações tidas em casa habitada quer as tidas em qualquer outro edifício ou local de acesso público ou restrito, salienta que:

“O núcleo do direito constitucional à privacidade (arts 26º e 35º da CRP) impõe restrições a estas interferências.

Assim, a intercepção das comunicações entre presentes no domicílio é inconstitucional se for mantida com pessoas da especial confiança do suspeito, como seja a sua mulher, filhos, pais ou irmãos e incluir expressões pertencentes ao núcleo do modo de vida privada do suspeito. Ou seja, fora deste condicionalismo ficariam para este autor, a meu ver, as situações em que, tal como ocorre no caso das conversações mantidas em voz off, o “alvo” de uma intercepção legalmente autorizada fala da sua actividade ilícita relacionada por exemplo com o tráfico de estupefacientes com um terceiro que se encontra junto a si, enquanto aguarda que o destinatário da chamada telefónica que está a efectuar atenda.

Em defesa desta posição pode ainda argumentar-se com o seguinte:

No que diz respeito à intercepção das conversações entre presentes, prevista na lei, trata-se, tal como referido em recente parecer do Conselho Consultivo da PGR, de uma alteração que não constava da proposta de lei apresentada pelo Governo (Proposta de Lei nº 157/VII, publicada no Diário da Assembleia da República, II Série - A, nº 27/VII/3, de 29/1/1998, págs. 481-517) tendo sido aditada pela Comissão de Assuntos Constitucionais Direitos Liberdades e Garantias em sede de discussão e votação na especialidade - cfr Diário da Assembleia da República, II Série-A, nº 53/VII/3- Suplemento, de 23/5/1998, págs. 1160-2 a 1160-46.

Acresce que, “nada consta dos trabalhos preparatórios da aludida Lei sobre as razões determinantes de tal aditamento e do seu grau de abrangência.”

Ou seja, nesta parte, ao intérprete apenas lhe é dado verificar que:

- A lei admite a intercepção das comunicações entre presentes, mandando aplicar-lhe, subsidiariamente, o regime das intercepções com as necessárias adaptações;

- Não faz qualquer alusão à possibilidade, por parte das entidades a quem compete a perseguição penal, da entrada, não consentida, no domicílio dos suspeitos ou arguidos, a fim de, aí, procederem à intercepção/gravação das comunicações entre as pessoas que ali se encontrem.

Assim, impõe-se apurar se, no âmbito da aplicação do aludido regime subsidiário das escutas telefónicas – arts 187º a 190º do CPP, existe alguma disposição que permita a entrada não consentida no domicílio para efeito da realização de escutas entre presentes.

Ora, da análise dos preceitos antes citados, resulta claramente que, aqueles, em parte alguma permitem a entrada no domicílio do suspeito a fim de, aí, ser instalado aparelho que permita a intercepção e subsequente gravação de comunicações entre presentes.

Daí que, estando em causa direitos fundamentais, “as leis restritivas (como o é a presente) não possam ser interpretadas com recurso à interpretação extensiva ou à analogia, devendo ser, claras, consentidas pela Constituição, e aterem-se exclusivamente aos fins para que legalmente foram estabelecidas”.

Assim, no que tange à entrada no domicílio de um suspeito a fim de, aí, ser efectuada a intercepção/ gravação de comunicações entre presentes a mesma, inexistindo lei que o permita, traduzir-se-ia, por força do artº 126º nº 3 do CPP, num método proibido de prova sendo nulas as provas obtidas.

Já no que se refere às conversações mantidas, em voz off, pelo visado, que forem captadas e transmitidas através do seu telefone cuja intercepção foi legalmente autorizada, a prova daí resultante, é, a meu ver, válida e legal nos mesmos termos em que o podem ser as demais provas que forem obtidas por essa via – cfr. artº 188º nºs 1, 6, 7 e 9, do CPP.

De facto, a intercepção telefónica do aparelho em causa foi legalmente autorizada.

Não existe qualquer introdução ilegal na residência do suspeito a fim de interceptar ou gravar as conversações.

Conversações essas que são mantidas voluntariamente pelo “alvo” visado sem que, por qualquer modo, seja ou tenha sido induzido em erro por quem procede à intercepção e gravação das comunicações.

Acresce que, como é sabido, a operação de intercepção é levada a cabo pela operadora, mediante autorização judicial, nas respectivas instalações enquanto que, a subsequente gravação das conversas efectuadas, é levada a cabo nas instalações da PJ.

Assim, salvo melhor opinião, a prova obtida por esta forma, é tal como a restante prova obtida através da intercepção autorizada pelo JIC, legalmente admissível.

Entregas controladas;

Trata-se de uma das formas de cooperação judiciária na investigação dos crimes de tráfico de estupefacientes, envolvendo mais do que um país, que tem vindo a permitir resultados eficazes e extremamente relevantes.

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL (2012-2015)

A dinâmica da investigação em segmentos criminais específicos – a investigação do crime de tráfico de estupefacientes

Para proceder às entregas controladas, necessário se torna que, muitas vezes, se encontrem meios desburocratizados que possibilitem em tempo útil tal cooperação privilegiando-se, numa primeira fase, os contactos informais que, posteriormente, o mais rapidamente possível, serão documentados nos processos.

O Regime das Entregas Controladas consta do artº 160-A da Lei144/99, de 31 de Agosto.

Prescreve este normativo que:

1. Pode ser autorizado caso a caso, pelo Ministério Público, perante o pedido de um ou mais Estados estrangeiros, nomeadamente se previsto em instrumento convencional, a não actuação dos órgãos de polícia criminal, no âmbito de investigações criminais transfronteiriças relativas a infracções que admitam extradição, com a finalidade de proporcionar, em colaboração com o Estado ou Estados estrangeiros, a identificação e responsabilização criminal do maior número de agentes da infracção.

2. O direito de agir e a direcção e controlo das operações de investigação criminal conduzidas no âmbito do numero anterior cabem às autoridades portuguesas, sem prejuízo da devida colaboração com as autoridades estrangeiras competentes,

3. A autorização concedida nos termos do nº1 não prejudica o exercício da acção penal pelos factos aos quais a lei portuguesa é aplicável e só é concedida quando:

a) Seja assegurada pelas autoridades estrangeiras competentes que a sua legislação prevê as sanções penais adequadas contra os agentes e que a acção penal será exercida;

b) Seja garantida pelas autoridades estrangeiras competentes a segurança das substâncias ou bens em causa contra riscos de fuga ou extravio.

c ) As autoridades estrangeiras competentes se comprometam a comunicar, com urgência, informação pormenorizada sobre os resultados da operação e os pormenores da acção desenvolvida por cada um dos agentes da prática das infracções especialmente dos que agiram em Portugal.

4. Ainda que concedida a autorização mencionada anteriormente, os órgãos de policia criminal intervém se as margens de segurança tiverem diminuído sensivelmente ou se se verificar qualquer circunstância que dificulte a futura detenção do agente ou apreensão das substâncias ou bens; se esta intervenção não tiver sido comunicada previamente à entidade que concedeu a autorização, é-o nas 24 horas seguintes, mediante relato escrito.

5. Por acordo com o país de destino, quando se estiver perante substâncias proibidas ou

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