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2.6 O SISTEMA INTERNACIONAL DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO E RESGATE DE CRIANÇAS VÍTIMAS DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL

2.6.3 O COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA (“COMMITTEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD”)

O Comitê sobre os Direitos da Criança (CDC) é o principal órgão temático de direitos humanos para a infância, mantendo estreito vínculo com o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

O CDC foi instituído pelo art. 43 da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e sua função primeira consiste em “examinar os progressos realizados pelos Estados partes no cumprimento das obrigações que lhes cabem nos termos da presente Convenção” (Art.

331 As conclusões das atividades do CCACR ocorridas durante a 102ª Conferência Internacional do

Trabalho estão disponíveis em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---ed_dialogue/--- actrav/documents/meetingdocument/wcms_217141.pdf

111 43, § 1o). Aliás, após a adoção dos Protocolos Opcionais à Convenção de 1989332, o Comitê também monitora não apenas a implementação da Convenção de 1989, assim como relata o progresso de implementação dos seus Protocolos Opcionais.

Previamente composto por 10 peritos de notório saber jurídico e autoridade moral reconhecida (art. 43, § 2o), atualmente é integrado por 18 peritos independentes, nomeados pelos Estados partes, mas escolhidos por escrutínio secreto, tendo em conta a distribuição geográfica equitativa (art. 43, § 3o). Entre os 18 peritos, atualmente figura o brasileiro

Wanderlino Nogueira Neto, eleito em dezembro de 2012, para exercer mandato de 2013 a 2017333.

As reuniões do CDC ocorrem frequentemente na sede da ONU, mas é possível que os peritos determinem outro local conveniente (art. 43, § 10o). Aliás, a Convenção de 1989 dispõe sobre a disponibilidade de as Nações Unidas e seu Secretário Geral facilitarem e apoiarem o trabalho do CDC ao cederem pessoal qualificado e instalações para o desempenho de suas funções (art. 43, § 11o).

Os Estados partes são obrigados a apresentar ao CDC, por intermédio do Secretário Geral da ONU, um relatório atualizado sobre a efetivação dos direitos da criança consagrados na Convenção de 1989 (art. 44, § 1o), mas também identificar pontos críticos e violações detectadas (art. 44, § 2o).

Após o primeiro relatório do Estado parte, entregue em até dois anos após a entrada em vigor da Convenção de 1989 para os Estados partes, os demais relatórios devem ser encaminhados quinquenalmente, sem repetir as informações anteriores (art. 44, § 3o). A

Convenção sobre os Direitos da Criança ainda estipula que, após entregues ao Secretário

Geral, os relatórios dos Estados sejam divulgados no âmbito doméstico, a fim de se garantir publicidade e transparência (art. 44, § 6o).

A cada dois anos, os peritos do CDC são responsáveis por redigir e entregar à Assembleia Geral da ONU o relatório abrangente das atividades desempenhadas no período (art. 44, § 4o). O CDC poderá “solicitar aos Estados partes informações complementares relevantes para a aplicação da Convenção” e para o cumprimento da função de relatoria (art. 44, § 4o e § 5o). Ademais, a Convenção autoriza o Comitê a expor

332

Um é o Protocolo Adicional à Convenção sobre os Direitos da Criança acerca do Envolvimento de

Crianças em Conflitos Armados (2000). O outro é o Protocolo Adicional à Convenção sobre os Direitos da Criança acerca da Venda de Crianças, Prostituição Infantil e Pornografia Infantil (2000). 333

Nogueita Neto é Promotor de Justiça aposentado, tendo recebido, em 2011, o mais importante prêmio nacional, o Prêmio de Direitos Humanos, na categoria Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente. De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, a eleição de Nogueira Neto reflete o reconhecimento internacional da liderança internacional e do compromisso brasileiro de erradicar o trabalho infantil de modo sustentado, assegurando, para tanto, prioridade absoluta e proteção integral à criança e ao adolescente. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Eleição de Wanderlino Nogueira Neto ao Comitê de Direitos da Criança. Nota n. 343, de 18 de dezembro de 2012.

112 sugestões e recomendações gerais a partir das informações recebidas nos relatórios dos Estados partes e complementá-las com comentários dos próprios Estados (art. 45, “d”)334.

Em 2012, o CDC recebeu 76 relatórios sobre a implementação da Convenção e seus dois protocolos adicionais. Além disso, desde 2011 o CDC tem esboçado o terceiro protocolo adicional sobre um possível mecanismo de comunicação direta entre os interessados. Note-se que o CDC é o único órgão de direitos humanos que ainda não recebe petições diretamente de indivíduos335.

Observa-se, por fim, que apesar da relevância informativa, recomendatória e fiscalizatória do CDC, não há obrigatoriedade nem vinculação jurídica dos Estados partes às suas recomendações e sugestões, embora estejam, por sua vez, obrigados a cumprirem a

Convenção sobre os Direitos da Criança. Porquanto não vinculantes, suas recomendações

têm força moral e podem encorajar ou constranger os Estados a aplicarem efetivamente essa Convenção.

334

Todos os documentos bienais e relatórios de países estão disponíveis para consulta pelo website

oficial do Comitê dos Direito da Criança:

http://www.ohchr.org/EN/HRBodies/CRC/Pages/CRCIndex.aspx

335 COMMITTEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD. Report of the Committe on the Rights of the

Child to the General Assembly on its 67th session. Document n. A/67/41. New York: United Nations, 2012.

113 3.

A PLATAFORMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA DE PROTEÇÃO À PESSOA HUMANA E DE PROMOÇÃO DO TRABALHO DIGNO: A DIGNIDADE HUMANA

114 3. A PLATAFORMA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA DE PROTEÇÃO À PESSOA HUMANA E DE PROMOÇÃO DO TRABALHO DIGNO: A DIGNIDADE HUMANA REFLETIDA NA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL

No presente capítulo, pretende-se introduzir noções centrais para o entendimento doméstico sobre o conteúdo da dignidade humana, conteúdo esse que dialoga com o entendimento jurídico da dignidade humana, no âmbito do Direito Internacional. Em seguida, será apresentada a plataforma nacional de direitos da criança e do adolescente, que inclui as vertentes de proibição do trabalho infantil, de tutela do trabalho de adolescentes e de proteção, prevenção, resgate e reintegração sócio-familiar das crianças vítimas das piores formas de trabalho infantil.

A plataforma doméstica foi edificada pela CF/88, pelo ECA e pela CLT, com destaque, ainda, para a lista das piores formas de trabalho infantil, publicada pelo Decreto

Presidencial n. 6.481, em 2008. Por isso, prestigia-se a análise desses instrumentos, no

âmbito brasileiro.

Atente-se para o fato de que a plataforma doméstica está, ainda, alinhada às convenções internacionais sobre os direitos da criança e do adolescente, já ratificadas pelo país (art 5o, §2o, CF/88)336.

Observe-se que a plataforma doméstica voltada à proteção do menor de 18 anos e à proibição do trabalho infantil reflete, direta ou indiretamente, a Doutrina da Proteção Integral no cenário jurídico brasileiro.

Para além do cenário jurídico, o presente capítulo pretende apontar importantes políticas, planos e mecanismos nacionais que sustentam a Doutrina da Proteção Integral, contribuindo tanto para a concretização dos direitos da criança e do adolescente quanto para a redução do trabalho infantil, em especial em suas piores formas.

3.1 A PLATAFORMA NACIONAL DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DA DIGNIDADE DA

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