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2.6 O SISTEMA INTERNACIONAL DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO E RESGATE DE CRIANÇAS VÍTIMAS DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL

2.6.1 O CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS

O Conselho de Direitos Humanos (CDH) foi criado pela Assembleia Geral da ONU, pela Resolução 60/251, de 15 de março de 2006, em substituição à antiga Comissão de Direitos Humanos. A mesma resolução determinou a criação do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU), como um dos procedimentos especiais do CDH, com o fito de monitorar a situação e relatar as violações de direitos humanos em todos os países. Dessa forma, o RPU tornou-se um instrumento voltado a incentivar os Estados a cumprir com suas responsabilidades na proteção e garantia dos direitos humanos e liberdades fundamentais321.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (“United Nations

Office of the High Commissioner for Human Rights” - OHCHR) esclarece que o RPU ocorre

durante as sessões do CDH322. Seu funcionamento foi planejado de modo que, uma vez a cada quatro anos, cada Estado seja submetido à sessão de revisão.

Durante as sessões, os Estados são encorajados a cumprir seus deveres e responsabilidades internacionais assumidas. Em seguida, são apontados os principais desdobramentos e progressos em matéria de direitos humanos do Estado sob análise, mas também são indicadas situações críticas, grupos vulneráveis e denúncias quanto às violações de direitos humanos.

Cada revisão de Estado é facilitada pela tríade (“troika”), um grupo de três Estados responsáveis por apurar os principais temas, situações e violações de direitos no Estado sob análise pelo Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU). A tríade é responsável pela relatoria da revisão, assim como guia as discussões entre os membros do Conselho e as autoridades do Estado.

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UNITED NATIONS OFFICE OF THE HIGH COMMISSIONER FOR HUMAN RIGHTS. Human Rights Council: Universal Periodic Review. Fact sheet. Geneva: OCHA, 2008. Disponível em: http://www.ohchr.org/EN/HRBodies/UPR/Documents/UPRFactSheetFinal.pdf

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OHCHR website. Universal Periodic Review. Disponível em:

107 Durante o procedimento do RPU, ocorrem sessões informativas nas quais se contextualiza a situação de direitos humanos do Estado em revisão. Nesse momento, autoridades do Estado e delegações presentes no CDH podem fazer exposições ou discursos oficiais, nos quais apontam situações críticas, tecem comendários ou apresentam recomendações para o Estado sob análise.

Durante as sessões, são ouvidos os Relatores Especiais do Secretário Geral e Representantes Especiais em temas específicos, relevantes para o Estado ou grupo de Estados revisados em determinada sessão do CDH.

Assim, o objetivo do RPU é tanto o de oferecer assistência técnica por parte da ONU e dos Estados membros de modo a que situações críticas sejam superadas e progressos sejam realizados, quanto o de apresentar um guia para o Estado analisado contendo a compilação das principais recomendações dos membros do Conselho que tomaram parte na revisão323.

O RPU fiscaliza o cumprimento da Carta da ONU, da DUDH, dos tratados e dos instrumentos internacionais ratificados pelo Estado em revisão. Fiscaliza, ainda, compromissos, planos, políticas e metas voluntárias formuladas pelo Estado, bem como o cumprimento dos dispositivos do Direito Internacional humanitário.

Nesse sentido, o RPU torna-se importante mecanismo de fiscalização e notificação para os Estados que ratificaram as Convenções n. 138 e n. 182 da OIT, bem como a

Convenção sobre os Direitos da Criança. Desta forma, durante a revisão, os Estados

precisam prestar contas da situação doméstica quanto aos direitos humanos das crianças e recebem comentários e recomendações para superar situações de violação ou de garantia parcial e insuficiente dos direitos humanos e liberdades fundamentais da criança.

E, como forma de prestação de contas para a sociedade internacional, há uma rede de documentação sobre o primeiro e o segundo ciclo do RPU para cada país. São apresentados os Relatórios Nacionais324, uma compilação das informações feita pela ONU, abarcando perguntas submetidas antecipadamente e recomendações, além de um documento final integrado com os resultados do RPU.

O Brasil foi avaliado pelo segundo ciclo do RPU, em março de 2012, tendo expedido o segundo relatório nacional sobre o RPU. Em setembro de 2013, o CDH lançou a versão

323 Mais informações no site oficial do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos

Humanos (ACNUDH ou OHCHR), referente ao Mecanismo de Revisão Periódica Universal, disponível em: http://www.ohchr.org/en/hrbodies/upr/pages/BasicFacts.aspx

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O Brasil possui boa reputação, tendo entregado os Relatórios Nacionais do primeiro e do segundo ciclo no prazo, com informações precisas e afastando tentativas de encobrir situações de violação de direitos humanos. O Relatório Nacional submetido pelo Brasil para o segundo ciclo do RPU encontra- se na Resolução do Conselho de Direitos Humanos n. A/HRC/WG.6/13/BRA/1, de 7 de março de 2012: http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G12/116/18/PDF/G1211618.pdf?OpenElement

108 final do relatório, contendo os pontos principais em direitos humanos avaliados pelo mecanismo e a compilação das recomendações encaminhadas ao Brasil.

No documento final lançado em 2013 sobre a revisão do Brasil no segundo ciclo pelo Mecanismo de Revisão Periódica Universal, o País expôs seus esforços no sentido de eliminar o trabalho infantil e o trabalho escravo. Já as principais denúncias de violações de direitos humanos não se referiram ao trabalho infantil, mas ao uso exagerado da força por agentes policiais e às condições desumanas de sobrevivência em penitenciárias e centros de detenção325.

De modo comparativo, por exemplo, em 2009, a Arábia Saudita recebeu recomendações para eliminar o trabalho infantil, principalmente via ratificação de instrumentos internacionais sobre os direitos humanos da criança. Desde então, o Estado proibiu o trabalho de menores de 15 anos, definiu estratégias para reduzir o tráfico de pessoas, implementou legislação que designa criança como toda a pessoa menor de 18 anos e desenvolveu estratégias tanto para retirar das ruas as crianças vítimas da mendicância forçada quanto para afastar o uso de crianças em experiências médicas326.

Em 2013, por exemplo, o relatório final do RPU referente à revisão do Uzbequistão denunciou a persistência dos trabalhos forçados de aproximadamente 1,5 milhão de adultos e crianças em plantações de algodão. O país ratificou as Convenções n.138 e 182, tendo legislação de proteção especial para trabalhadores adolescentes, menores de 18 anos e maiores de 15. Desse modo, o Relatório Final do RPU indica que as próximas fiscalizações e visitas ao país envolverão a distinção entre o trabalho infantil e as piores formas de trabalho infantil, assim como haverá monitoramento da mobilização dos ministérios do país e o acompanhamento do processo criminal e sanção penal aos perpetradores do trabalho infantil327.

Já a Colômbia recebeu notificações devido às denúncias de recrutamento de crianças para envolvimento em milícias e em outros grupos armados não estatais. Nesse sentido, a recomendação 118.17 do relatório final do CDH sobre o segundo ciclo do RPU da Colômbia abordava o tema de cooperação internacional doméstica com vistas a findar o

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Human Righst Council Resolution A/HRC/21/11. 21rst session of the Human Rights Council. Agenda item 6: Universal Periodic Review. Report of the Working Group on the Universal Periodic

Review: Brazil. Available at: http://daccess-dds-

ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G12/151/15/PDF/G1215115.pdf?OpenElement

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O Relatório Nacional da Arábia Saudita para o Segundo período do RPU foi adotado como a Resolução do Conselho de Direitos Humanos n. A/HRC/WG.6/17/SAU/1, de 5 de agosto de 2013: http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G13/160/88/PDF/G1316088.pdf?OpenElement

327 Human Rights Council Resolution A/HRC/24/7. 24th session of the Human Rights Council. Agenda

item 6: UPR. Report of the Working Group on the Universal Periodic Review: Uzbekistan. http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/G13/154/79/PDF/G1315479.pdf?OpenElement

109 recrutamento de crianças-soldado por grupos paramilitares e seu envolvimento em conflitos armados328.

2.6.2 A COMISSÃO DE PERITOS PARA A APLICAÇÃO DAS CONVENÇÕES E

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