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1.1 PANORAMA GERAL E ESPECIFICIDADES DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL

1.1.4 TRÁFICO DE CRIANÇAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO

O Protocolo para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, em especial de

Mulheres e Crianças (2000) é um dos três protocolos adicionais78 à Convenção da ONU

contra o Crime Transnacional Organizado, conhecida como Protocolo de Palermo (2000).

De acordo com seu art. 3o, o crime de tráfico de pessoas pode ser definido como:

a) o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extração de órgãos.

b) O consentimento dado pela vítima do tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrita na alínea ´a` do presente artigo deverá ser considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea ´a`.

c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração deverão ser considerados tráfico de pessoas mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos na alínea ´a` do presente artigo.

d) Por criança entende-se qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos79.

77 ILO. Behind the figures: faces of forced labour. Geneva: Communication and Public Information,

jun 2012.

78

O segundo é o Protocolo Adicional contra o Contrabando de Imigrantes por Terra, Mar e Ar (2000) e o terceiro é o Protocolo Adicional contra a Manufatura e o Tráfico de Armas (2000).

79 CENTRO PARA A PREVENÇÃO INTERNACIONAL DO CRIME. Guia Legislativo para a

Implementação do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças: Resolução da Assembleia Geral n.

34 O Protocolo Adicional compromete os Estados partes a prevenir e combater o tráfico de pessoas e a identificar, a resgatar, a proteger e a providenciar assistência às vítimas, além de encorajá-las a cooperar de modo a alcançar objetivos comuns. Notadamente, seu art. 5o criminaliza o tráfico de pessoas, devendo cada Estado adotar as medidas legislativas adequadas para tipificar as infrações e suas penas ou sanções correspondentes. De acordo com o Protocolo Adicional, é preciso considerar também enquanto infrações penais: a tentativa de se praticar, de se participar como cúmplice ou de se organizar a prática ou mandar outra pessoa cometer infração relacionada ao tráfico de pessoas80.

O tráfico humano é motivado por fatores econômicos e favorecido pela pobreza ou situação de vulnerabilidade das vítimas. Os mais frequentes destinos das vítimas são o tráfico de pessoas para fins de trabalho forçado ou escravo (36%) e a exploração sexual (58% das vítimas de tráfico humano)81. Algumas vítimas são conduzidas à atividade de mendicância forçada (1,5% do total) ou mesmo submetidas à remoção de órgãos ou tecidos humanos, atividade detectada em ao menos 16 países, com maior incidência no Continente Africano e no Oriente Médio (0,2% do total)82. Há ainda o caso do tráfico de pessoas com

vistas à venda de crianças, à adoção ilegal ou a se viabilizar o casamento infantil83. Particularmente, no continente africano, ocorre o tráfico de pessoas motivado, via de regra, para o recrutamento e engajamento de crianças em grupos paramilitares, milicianos ou guerrilhas e, por conseguinte, sua atuação em conflitos armados84 (Anexos 9 e 10).

Anualmente, as organizações criminosas transnacionais movimentam cerca de 32 bilhões de dólares americanos, rentabilidade elevada que justifica o fato de ser complexa a tarefa de eliminação do tráfico de pessoas85.

Outro fator que dificulta essa tarefa é a falta de legislação específica sobre o tema. Em dezembro de 2012, 16 países africanos, 4 países sul americanos, 5 países do leste e sul asiáticos e 3 ilhas nas regiões do Oceano Pacífico e Caribe ou não possuiam legislação a

55/25, de 15 de novembro de 2000. Viena: Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), março de 2003, p. 21.

80 CENTRO PARA A PREVENÇÃO INTERNACIONAL DO CRIME. Guia Legislativo para a

Implementação do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada Transnacional relativo à Prevenção, Repressão e à Punição do Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças: Resolução da Assembleia Geral n. 55/25, de 15 de novembro de 2000. Viena: Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), março de 2003, p. 21.

81

UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME (UNODC). Global Report on Trafficking in Persons 2012. Viena & New York: UNODC, 2012, p. 7.

82

Idem, p. 36. 83 Idem, p. 38. 84 Idem, p. 7. 85

UNODC website. UN and global migration agency agree to step up efforts to combat human trafficking (17 April 2012).

35 respeito ou apresentavam legislação doméstica insuficiente para prevenir, reprimir e punir o tráfico de pessoas86.

Por um lado, quanto ao tráfico doméstico nas regiões da África e do Oriente Médio, a proporção de crianças entre as vítimas do tráfico de pessoas chega a 68%. No Sul e Sudeste Asiáticos e no Pacífico, a 39%. Nas Américas, as crianças compõem 27% do total, enquanto na Europa, 16%87.

Por outro lado, em média, o tráfico intrarregional corresponde a 45%, o tráfico entre regiões vizinhas corresponde a 4% e o tráfico transoceânico corresponde a 24% do total88. No âmbito do tráfico internacional, foram identificados aproximadamente 460 rotas de tráfico entre 2007 e 2010. As vítimas do tráfico internacional procedem de, ao menos, 118 países e, entre elas, há titulares de, no mínimo, 136 nacionalidades distintas89 (Anexo 11).

Na distribuição global, 10% das vítimas são meninos, 14% homens, 17% meninas e 59% mulheres90. Mulheres e meninas correspondem a 75% das vítimas91. As crianças correspondem, em media, a um terço do total (27%)92. Observe-se que o tráfico de pessoas atinge especialmente meninas e mulheres devido à predominância da modalidade de exploração sexual das vítimas. Por esse motivo, o Protocolo Adicional ao Protocolo de

Palermo (2000) destina-se à prevenção, supressão e punição do tráfico de mulheres e crianças, em especial.

Devido à multidimensionalidade do tráfico de pessoas, o Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov, explica que o combate a essa prática deve ocorrer mediante cooperação e articulação entre Estados, organizações, agências e parceiros93. A coordenação deve aprimorar a capacidade de se desvendar e obstruir as diversas rotas do tráfico humano e de se identificar, resgatar e oferecer assistência às vítimas94.

A tarefa de assistência às vítimas é disciplinada pelo art. 6o do Protocolo Adicional

para Prevenir, Suprimir e Punir o Tráfico de Pessoas, em Especial de Mulheres e Crianças

(2000). A assistência é abrangente, inclui cuidados imediatos, provisão de alojamento; aconselhamento e informação judicial; assistência médica, psicológica e material; assim

86 UNODC. Global Report on Trafficking in Persons 2012. Viena & New York: UNODC, 2012, p. 83. 87 Idem, p.10. 88 Idem, p.13. 89 Idem, p. 83. 90 Idem, p.10. 91 Idem, p. 7. 92

UNODC website. Children account for almost a third of all people trafficked globally – new UN Report. 12 December 2012.

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Atualmente, duas das mais importantes frentes de atuação integrada são o Grupo de Coordenação Interagências contra o Tráfico de Pessoas (“Interagency coordination group against Trafficking in Persons – ICAT”) e a Iniciativa Global das Nações Unidas contra o Tráfico de Pessoas (UN-GIFT).

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UNODC website. UN and global migration agency agree to step up efforts to combat human trafficking. 17 April 2012.

36 como assistência que viabilize a recuperação e reintegração da vítima e que traga oportunidades de emprego, educação e formação. Nesta seara, enfatiza-se que o art. 6o, § 4o do Protocolo Adicional dispõe sobre a garantia de prioridade de assistência à criança e o respeito às suas necessidades especiais.

De acordo com uma interpretação cabível do Protocolo Adicional, em particular nos países menos desenvolvidos e naqueles em que há legislação, políticas públicas ou infraestrutura insuficiente, a assistência às vítimas seria tarefa conjunta a ser desempenhada pelos Governos com o auxílio de parceiros dos diversos setores da sociedade civil, de organizações não governamentais (ONG) e mesmo de organizações e órgãos regionais e internacionais95.

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