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3.4. SISTEMA DE GARANTIA DOS DIREITOS INFANTO-JUVENIS: FISCALIZAÇÃO E EXECUÇÃO DA PLATAFORMA NACIONAL DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO, RESGATE E

3.4.4. O CONSELHO TUTELAR

As atribuições dos Conselhos Tutelares foram previstas no art. 136 do ECA. Esse artigo proibe a criação de novas atribuição por ato de quaisquer autoridades do Poder Judiciário, Ministério Público, do Poder Legislativo ou do Poder Executivo municipal, estadual ou distrital.

A Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente n. 139, de 17 de março de 2010, “dispõe sobre os parâmetros para a criação e funcionamento dos Conselhos Tutelares no Brasil e dá outras providências”. A Resolução de 2010 indica, em seu capítulo IV, que os Conselhos Tutelares são autônomos e devem articular-se com os demais órgãos, instituições e agentes públicos ou privados com o fito de garantir os direitos da criança e do adolescente.

571

Cf. os websites oficiais do Ministério Público do Rio de Janeiro, do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, do Ministério Público do Rio Grande do Sul, do Ministério Público de Alagoas, por exemplo.

572

Público na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil/ Conselho Nacional do Ministério Público. – Brasília: CNMP, 2013, p. 75.

176 Por conseguinte, os Conselhos Tutelares são agentes de articulação e interlocução com as escolas, professores e de prepare para o exercício da cidadania573.

Observa-se que a função dos Conselhos Tutelares apresenta caráter resolutivo, ou seja, conforme o art. 25 da Resolução n. 139 de 2010, sua atuação está orientada “à solução efetiva e definitiva dos casos atendidos, com o objetivo de desjudicializar, desburocratizar e agilizar o atendimento das crianças e dos adolescentes”. E suas decisões têm eficácia plena, sendo passíveis de execução imediata (art. 26)574.

Compete aos Conselhos Tutelares “prestar serviço à sua comunidade na prevenção, apuração e encaminhamento aos órgãos competentes de toda forma de violação dos direitos infanto-juvenis, entre elas o trabalho infantil”575.

Essa atuação e o atendimento às crianças e aos adolescentes deve obedecer normas, princípios e cautelas constitucionais, as estabelecidas no ECA, na Convenção das Nações Unidas sobre os Direito da Criança e as contidas nas resoluções do CONANDA (art. 31, Resolução n. 139 de 2010), como dispostas nos artigos 31 a 35 da Resolução n. 139 de 2010. A título de ilustração, citam-se as seguintes diretrizes:

a condição da criança e do adolescente como sujeitos de direitos; a proteção integral e prioritária aos direitos da criança e da família; (…) a intervenção precoce, logo que a situação de perigo seja conhecida; a intervenção minima das autoridades e instituições na promoção e proteção dos direitos da criança e do adolescente; a proporcionalidade e atualidade da intervenção tutelar; a intervenção tutelar que incentive a responsabilidade parental com a criança e o adolescente; (…) a oitiva obrigatória e participação da criança e do adolescente, em separado ou na companhia dos pais, responsável ou de pessoa por si indicada, nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e de proteção, de modo que sua opinião seja devidamente considerada pelo Conselho Tutelar”576. Quanto ao funcionamento, os Conselhos Tutelares são acionados mediante denúncia feita pessoalmente ou por telefone. Não obstante, a função dos Conselhos Tutelares não se limita ao recebimento de denúncias. Devem apurar e levantar fatos, provas e elementos sobre a exploração do trabalho infantil ou irregularidades quanto ao trabalho de adolescentes. Essas informações devem ser detalhadas e precisas, redigidas pelo Conselheiro tutelar, contendo os seguintes fatos apurados: horário de trabalho, função desempenhada pela criança ou adolescente, local onde desempenha o trabalho e demais

573

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO (MPSP). Conselho Tutelar e Educação. São Paulo: Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva, 2012, pp. 7, 18.

574 Idem, p. 18.

575 INSTITUTO RECRIANDO. Pauta Especial: O papel do Conselho Tutelar no Combate ao trabalho

Infantil. Aracaju: Instituto Recriando, 2013.

576

177 condições de trabalho. Além disso, uma das informações mais relevantes é a identificação completa da empresa, empreendimento e/ou pessoa que explora a criança ou o adolescente, além da vítima explorada, porque a ausência dessas informações dificulta a avaliação da denúncia pelo MPT577.

Quando obtido relatório completo, o Conselheiro Tutelar deve encaminhá-lo ao MPT. A omissão ou sonegação de informações enseja a responsabilização do Conselheiro, de acordo com o art. 6º, da Lei nº 7.347/1985 e arts. 135 e 136, IV, da Lei nº 8.069/1990578.

Nota-se ainda que os Conselhos Tutelares têm a função de mapear o trabalho infantil nas cidades; também devem liderar a atuação proativa que identifique atividades econômicas e locais de risco às crianças e aos adolescentes, com base na Lista TIP. Ou seja:

É importante que os conselheiros identifiquem as áreas econômicas do município (comércio, serviços, mineradoras, construção civil etc.) e/ou os problemas sociais mais graves e recorrentes (lixões, venda a varejo em ruas, praças, estádios, evasão escolar). A partir daí, os conselheiros podem requerer audiência com o procurador do Trabalho responsável pela área de atuação, apresentando as propostas que julgarem mais eficazes579.

Ademais, os Conselhos Tutelares estão encarregados de contribuir com as ações da campanha nacional de proteção integral de crianças e adolescentes, no sentido de mobilizar a sociedade, a fim de garantir os direitos infanto-juvenis e prevenir as situações de abuso, violência e trabalho infantil580.

Os Conselheiros Tutelares atuam de forma independente, visitando escolas, estabelecimentos empresariais, comerciais, projetos sociais e outros locais ou espaços públicos. Em especial, visitam e mantêm interlocução frequente junto às escolas, de modo a identificar e investigar se os estudantes afastados da escola, que não mantêm a frequência escolar, estão envolvidos com o trabalho infantil ou expostos à situação de abuso ou violência. Nessa matéria, são autorizados a advertir ou notificar pais ou responsáveis que descumprem o direito à educação de criança ou adolescente sob sua guarda581.

577

RODRIGUES, Jefferson Luiz Maciel. Trabalho Infantil: Manual de Atuação do Conselho Tutelar. Brasília: MPT, 2013, pp. 21-28.

578 Idem, pp. 21-28. 579

Idem, p. 28.

580

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊCIA DA REPÚBLICA. Equipagem de Conselhos Tutelares: Orientações aos Gestores Locais – Fortalecimento do Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente. Brasília: Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) & Sistema de Informações para a Infância e Adolescência (SIPIA), 2012.

581

INSTITUTO RECRIANDO. Pauta Especial: O papel do Conselho Tutelar no Combate ao trabalho Infantil. Aracaju: Instituto Recriando, 2013.

178 Refletindo a Doutrina da Proteção Integral, estes mecanismos domésticos contam com a contribuição dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação e Saúde; Secretarias Estaduais e Municipais de Assistência Social, Educação e Saúde e dos Conselhos de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente como parceiros para a prevenção e erradicação do trabalho infantil e garantia de direitos fundamentais infanto- juvenis. Portanto, esses mecanismos buscam concretizar a diretriz jurídica e discursiva sobre políticas sociais voltadas às crianças e aos adolescentes582.

582

FONSECA, Dirce Mendes. O discurso de proteção e as políticas sociais para infância e juventude. In: Revista Jurídica, Brasília, v. 9, n. 85, jun./jul, 2007.

179 4.

A CONSTRUÇÃO DA PERSPECTIVA QUADRANGULAR ENQUANTO LENTE DE ANÁLISE DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL: DIREITO, EDUCAÇÃO, PROTEÇÃO SOCIAL E COOPERAÇÃO TRANSVERSAL PARA A PROTEÇÃO,

PREVENÇÃO, RESGATE E REINTEGRAÇÃO DAS VÍTIMAS DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL

180 4. A CONSTRUÇÃO DA ABORDAGEM QUADRANGULAR ENQUANTO LENTE DE ANÁLISE DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL: DIREITO, EDUCAÇÃO, PROTEÇÃO SOCIAL E COOPERAÇÃO TRANSVERSAL PARA A PROTEÇÃO, PREVENÇÃO, RESGATE E REINTEGRAÇÃO DAS VÍTIMAS DAS PIORES FORMAS DE TRABALHO INFANTIL

"Há em olhos humanos, ainda que litográficos, uma coisa terrível: o aviso inevitável da consciência, o grito clandestino de haver alma." Livro do Desassossego. Fernando Pessoa.

4.1 A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ENTENDIDA A PARTIR DA PERSPECTIVA

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