3.4. SISTEMA DE GARANTIA DOS DIREITOS INFANTO-JUVENIS: FISCALIZAÇÃO E EXECUÇÃO DA PLATAFORMA NACIONAL DE PREVENÇÃO, PROTEÇÃO, RESGATE E
3.4.1. O MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
A atuação do MTE concentra-se em quatro linhas principais: a empregabilidade, o fomento ao trabalho, as relações de trabalho e a proteção e benefícios ao trabalhador547.
O MTE destaca-se, em acréscimo, por deter funções e desempenhar ações relacionadas à cooperação internacional; à tecnologia da informação; ao desenvolvimento científico; à inserção produtiva do trabalhador no mercado de trabalho e ao Seguro- Desemprego, quando for o caso; aos programas de qualificação profissional prioritaramente voltados aos grupos socialmente vulneráveis; à oferta de linhas especiais de crédito, notadamente para pequenos empreendedores, cooperativas e associações de produtores; à normatização e à fiscalização548.
O art. 21, XXIV, da CF assegura competência à União para organizar, manter e executar a inspeção do trabalho549.
547
OLIVEIRA, Camila Almeida Peixoto Batista de. Ministério do Trabalho e Emprego: agente de efetivação e defesa do Direito Material e Processual do Trabalho. In: DELGADO, Gabriela Neves; NUNES, Raquel Portugal; SENA, Adriana Goulart de. Dignidade humana e inclusão social: caminhos para a efetividade do Direito do Trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2010, pp. 372-387, pp. 374-375.
548
Idem, ibidem.
549 Conforme o art. 626, da CLT, o MTE tem as competências de editar atos normativos sobre
condições e regulamentações trabalhistas e de impôr o cumprimento das normas trabalhistas de forma preventiva ou inibitória. NETO, Edgar Audomar Marx. Saúde e Segurança no Trabalho: a atuação do Ministério do Trabalho e do Emprego. In: DELGADO, Gabriela Neves; NUNES, Raquel Portugal; SENA, Adriana Goulart de. Dignidade humana e inclusão social: caminhos para a efetividade do Direito do Trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2010, pp. 329-331.
169 O MTE tem o poder de fiscalizar, embargar, interditar estabelecimentos e aplicar penalidades a empregadores que descumpram os requisitos de segurança, saúde e medicina no trabalho ou que se neguem a cumprir direitos empregatícios, conforme prevê o art. 201 da CLT.550
Em verdade, essas atribuições devem ser desempenhadas pelos Auditores Fiscais do Trabalho do MTE, em consonância com o art. 1o do Regulamento da Inspeção do
Trabalho (RIT).
O RIT foi aprovado pelo Decreto n. 4552 (2002) e dispõe sobre as competências, atribuições e finalidades do Sistema Federal de Inspeção do Trabalho, que cobrirá “todas as empresas, estabelecimentos e locais de trabalho, públicos ou privados, estendendo-se aos profissionais liberais e instituições sem fins lucrativos, bem como às embarcações estrangeiras em águas territoriais brasileiras (art. 9o)” 551.
De acordo com o art. 18 do RIT, compõem o Sistema Federal de Inspeção do Trabalho (SFIT) as autoridades de direção nacional, regional ou municipal, os Auditores Fiscais do Trabalho e os Agentes de Higiene e Segurança no Trabalho. Estas autoridades devem aplicar as disposições legais pátrias e aquelas contidas nas convenções internacionais ratificadas pelo país, os atos e as decisões tomadas por autoridade competente e, por fim, as convenções e acordos coletivos de trabalho que tratem de direitos sociotrabalhistas, proibição do trabalho infantil e proteção do adolescente trabalhador552.
No âmbito infraconstitucional trabalhista, a Instrução Normativa da Secretaria de
Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (SIT/MTE) n. 102, de 28 de
março de 2013, complementa o RIT.
A SIT/MTE n. 102/13 dispõe sobre a atuação da inspeção do trabalho no combate ao trabalho infantil e proteção ao trabalhador adolescente. Em seu art. 2o, a IN n. 102/2013 estipula que todos os Auditores Fiscais do Trabalho têm competência institucional de fiscalizar os locais de trabalho, almejando combater o trabalho infantil e proteger o trabalhador adolescente. Em seu art. 3o, a IN 102/2013 espelha a Doutrina da Proteção Integral ao dispor sobre a prioridade absoluta conferida à inspeção e às ações fiscais, nos casos de denúncias envolvendo trabalho infantil e trabalhador adolescente. Da mesma forma, esse artigo provoca os Auditores Fiscais do Trabalho a planejarem fiscalizações específicas para combate do trabalho infantil e do trabalho irregular de adolescentes.
550
NETO, Edgar Audomar Marx. Saúde e Segurança no Trabalho: a atuação do Ministério do Trabalho e do Emprego. In: DELGADO, Gabriela Neves; NUNES, Raquel Portugal; SENA, Adriana Goulart de. Dignidade humana e inclusão social: caminhos para a efetividade do Direito do Trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2010, p. 335.
551
Idem, pp. 329-330.
552
170 Em seu art. 4o, reverberando a noção de complementariedade intrínseca à Doutrina da Proteção Integral, é previsto que as chefias de fiscalização devem:
buscar, junto ao Superintendente Regional do Trabalho e Emprego, garantir a infraestrutura necessária para a execução das ações do projeto de combate ao trabalho infantil, incluindo a designação de recursos humanos, técnicos e administrativos, bem como a disponibilização de materiais permanentes e outros que se fizerem necessários.
Em seu art. 5o, os Auditores Fiscais do Trabalho ficam incumbidos de fortalecer a rede de proteção de crianças e adolescentes. Dessa forma, detêm responsabilidades adicionais durante a ação fiscal, conforme o art. 6o da IN n. 102/2013.
Os Auditores Fiscais do Trabalho devem preencher a Ficha de Verificação Física referente à criança ou adolescente encontrado em situação irregular e notificar o empregador sobre a situação, exigindo o afastamento da criança encontrada em situação de trabalho e a regularização do trabalho do adolescente. Segundo o art. 7o, essas vítimas devem ser encaminhas à rede de proteção especial.
Os Auditores Fiscais do Trabalho devem, ainda, encaminhar informações relativas a crianças em situação de risco social ou laboral à coordenação do projeto de combate ao trabalho infantil e proteção do trabalhador adolescente da Secretaria de Inspeção do Trabalho.
No mesmo sentido, os artigos 8o e 9o da IN 102/2013 estipulam o pagamento das verbas rescisórias pertinentes, a exemplo do saldo de salário para o período trabalhado, o aviso prévio indenizado, o décimo terceiro salário proporcional ou integral; e as férias proporcionais e vencidas, acrescidas do terço constitucional, conforme o caso.
Já o art. 10 informa que ao adolescente trabalhador serão garantidos os mesmos direitos trabalhistas assegurados aos empregados com mais de 18 anos e que, encontrando-se em situação irregular ou proibida, o adolescente verá a rescisão indireta de seu contrato de trabalho e terá sua Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada. Por fim, o art. 13 trata da transparência e publicidade dos relatórios elaborados após a atuação das inspeções do trabalho. Sendo assim, as informações levantadas serão inseridas no Sistema de Informação sobre Focos de Trabalho Infantil (SITI).
Dessa forma, o MTE exerce papel relevante no combate ao trabalho escravo; no combate à discriminação – inclusive pela promoção da inserção sociolaboral dos portadores de deficiências-, na prevenção e erradicação do trabalho infantil e no controle da legalidade das relações trabalhistas553.
553
OLIVEIRA, Camila Almeida Peixoto Batista de. Ministério do Trabalho e Emprego: agente de efetivação e defesa do Direito Material e Processual do Trabalho. In: DELGADO, Gabriela Neves;
171 Para tanto, o MTE atua mediante iniciativas de prevenção e ações educativas, procede a mediações de conflitos individuais e coletivos e promove ações afirmativas. Também criou os Grupos Especiais de Fiscalização Móvel (GEFM), em 1995, e o Grupo Executivo de Repressão ao Trabalho Forçado (GERTRAF).
Quanto ao combate ao trabalho infantil e à proteção do trabalhador adolescente, central é a responsabilidade do MTE pela manutenção do Cadastro Nacional de
Aprendizagem, estabelecido pela Portaria n. 615 (2007) e pela Auditoria Fiscal do
Trabalho554, inclusive a partir da atuação dos GMF. De acordo com a CLT, os Auditores Fiscais do Trabalho devem dar atenção especial para a identificação, notificação e retirada das crianças e adolescentes da situação de trabalho proibido.
O MTE é responsável pela coordenação e supervisão do Plano Nacional de
Erradicação do Trabalho Infantil, além da administração e atualização do SITI.
O MTE coordena, ainda, a CONAETI, a instituição responsável por aplicar e fiscalizar, a partir de uma gestão quadripartite, as disposições das Convenções da OIT n.
138 (1973) e n. 182 (1999). Também coordena as Superintendências Regionais do Trabalho
e Emprego (SRTE), que fiscalizam o cumprimento da legislação trabalhista e mediam conflitos laborais nos Estados federados555.