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3.2 A PLATAFORMA NACIONAL DE PROTEÇÃO DA PESSOA HUMANA: A DIGNIDADE HUMANA NO DIREITO DO TRABALHO E A PROIBIÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

3.2.5 A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO ECA

Como visto, no Brasil, a Doutrina da Proteção Integral foi adotada na CF/1988, mas regulamentada no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Isso significa que o ECA regulamentou e delineou expressamente o sistema da proteção integral, elegendo como diretrizes o princípio absolutista, o princípio do melhor

interesse da criança e o princípio da municipalização, com vistas à efetivação e à

concretude da Doutrina da Proteção Integral.

459 Sobre a proteção do trabalho de adolescentes, cf. os capítulos 5 a 8 da obra: OLIVA, José Roberto

Dantas. O Princípio da Proteção Integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil: com as alterações promovidas pela Lei n. 11.180, de 23 de setembro de 2005, que ampliou o limite da idade nos contratos de aprendizagem para 24 anos. São Paulo: LTr, 2006.

460

DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. Tratado Jurisprudencial de Direito Constitucional do Trabalho. Vol. II. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, pp. 708-711.

461

Idem, p. 708.

462

139 Como explica Cristiana Maia,

O ECA é regido por três princípios orientadores: o princípio absolutista, que trata da primazia em favor da criança; o princípio do melhor interesse, que veio a ganhar maior amplitude com o advento da Constituição de 1988, passando a ser aplicado a todo público infanto-juvenil, o que não ocorria à época da doutrina da situação irregular; e por último o princípio da municipalização, que trata da descentralização somada com a aplicação das políticas assistências, simplificando assim a fiscalização das implementações e cumprimento das metas determinadas nos programas do poder público por aqueles que encontram-se mais próximos dos cidadãos, os municípios” 463.

Segundo o ECA, a proteção integral deve ser aquela que viabiliza o pleno desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, envolvendo, assim, prestação de assistência material, moral e jurídica464, inclusive cabendo demandar ao Estado a prestação desses direitos e, quando necessário, o acesso à justiça465.

O ECA define como direitos fundamentais da criança e do adolescente o direito à vida e à saúde, à liberdade466, ao respeito e à dignidade, à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, à profissionalização e à proteção no trabalho, assim como à convivência familiar e comunitária467. Todos esses direitos são tidos como requisitos para o desenvolvimento

completo e harmonioso da personalidade das crianças e dos adolescentes.

463

MAIA, Cristiana Campos Mamede. No limite do progresso: proteção e direitos da criança e do adolescente. In: Conjur: Consultor Jurídico, 8 de abril de 2010.

464

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. 3a Ed. 2a Tiragem. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 2.

465

Idem, p. 160 e ss.

466

Os direitos à liberdade e à convivência familiar e comunitária no ECA trouxeram positiva inovação para os direitos da criança e do adolescente. Após a Lei n. 8.069/90, em seu Capítulo IV sobre as medidas sócio educativas, quando for verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente têm diversas opções de atuação, podendo aplicar medidas de advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, inserção em regime de semiliberdade, internação em estabelecimento educacional e aquelas dispostas no art. 101, I a VI. Contudo, observa-se que a restrição da liberdade e o afastamento familiar deve ocorrer apenas em casos de “cometimento de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa ou, então, por reiteração de outras infrações graves, (…) ou por descumprmento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta” (ELIAS, 2009, p. 134-135). Em detrimento dos dispositivos sobre restrição de liberdade dos Códigos do Menores de 1927 e 1979, a retirada da criança do seio familiar e o cerceamento de sua liberdade no ECA são medidas executadas apenas como o último recurso ou opção, sendo utilizadas apenas em casos de ato infracional grave ou em situações específicas. Em todo caso, os regimes de semiliberdade (art. 120 e 121) e internação (art. 122 a 125) devem ocorrer de modo a garantir obrigatoriamente atividades pedagógicas e que o cumprimento seja executado em entidade exclusiva para adolescentes, obedecendo-se a separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração (art. 122 e 123). Tal disposição sobre medidas socioeducativas corroboram a transição do antigo Código de Menores de 1979 para a Doutrina da Proteção Integral.

467

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. 3a Ed. 2a Tiragem. São Paulo: Saraiva, 2009, pp. 9-64.

140 Notadamente, há responsabilidade compartilhada da família, da sociedade e do Estado no sentido de respeitar os direitos das crianças e dos adolescentes, “pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”468 (art. 18o, ECA).

Josiane Rose Petry Veronese ressalta a importância do ECA no sentido de regulamentar a Doutrina Jurídica da Proteção Integral e, por conseguinte, acelerar a construção de uma sociedade cidadã.

O ECA instituiu responsabilidades partilhadas, fomentou a participação e o engajamento dos sujeitos de direitos e ofereceu ferramentas para a reivindicação de direitos infanto-juvenis, almejando, nesse processo, contar com a colaboração e atuação da sociedade civil e dos municípios nas políticas de atendimento e na garantia de direitos infanto-juvenis, em particular mediante os Conselhos de Direitos e Fóruns da Criança e do Adolescente469.

Aliás, os dispositivos sobre acesso à justiça e à tutela jurisdicional dos interesses difusos de crianças e adolescentes, advoga a autora, constituem outra transição de paradigma, considerando que a Doutrina da Proteção Integral requer “a efetivação dos direitos sociais, que, se não cumpridos mediantes políticas e instrumentos adequados e eficazes, podem ser reclamados perante o Poder Judiciário”. Para Veronese, “tal fato não implica somente uma defesa adequada perante o órgão juridicamente competente; constitui, também, um processo de construção de um novo modelo, que ultrapasse o que é oferecido pelos tribunais tradicionais, qual seja, o de construir um sistema jurídico e procedimental mais humano”470.

Conforme lição de Tânia da Silva Pereira, no ECA, os diplomas internacionais ratificados pelo Brasil e as salvaguardas contidas particularmente nos artigos 5º e 227, da CF, são reafirmados mediante o princípio do interesse maior da criança, associado à previsão de que a criança e o adolescente sejam tratados com prioridade imediata e absoluta471.

O ECA inova ao instituir a adoção da ampla defesa e do contraditório e estabelecer o princípio da presunção da inocência. Além disso, disponibiliza uma equipe interprofissional, em atuação permanente junto ao sistema da Justiça da Infância e da Juventude, assim

468

ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. 3a Ed. 2a Tiragem. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 19.

469

VERONESE, Josiane Rose Petry. Temas de Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: LTr, 1997, pp. 45-47.

470 Idem, p. 83. 471

PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Renovar, 1996, pp. 22-39.

141 como proíbe o trabalho infantil, ao mesmo tempo em que determina a oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente trabalhador472.

Então, alinhado à CF/88, o ECA estipula a proibição do trabalho de menores de 14 anos e a regulamentação necessária do trabalho de adolescentes entre 14 e 18 anos incompletes (artigos 60 a 64). Dispõe expressamente sobre a Doutrina da Proteção Integral (artigos 1º e 4º), indicando que sua realização exige a promoção da dignidade, da integridade e da solidariedade em relação a todos os menores de 18 anos473.

Ensina Maurício Godinho Delgado que, à luz da dignidade humana e do princípio da proteção integral, o sistema jurídico brasileiro privilegia a educação, e não o trabalho, como instrumento de formação da personalidade do jovem474. A proibição do trabalho infantil tem, pois, por finalidade possibilitar o desenvolvimento da criança, o acesso à escolarização e à educação, bem como preservar sua integridade física e moral, protegendo-a contra os riscos da mercantilização da mão de obra.

Segundo André Custódio, ao sistematizar a Doutrina da Proteção Integral, o ECA configurou amplo repositório jurídico para efetivar os direitos fundamentais da criança e do adolescente, “reconhecendo a condição peculiar de pessoas em desenvolvimento e a articulação das responsabilidades entre a família, a sociedade e o Estado, para a sua realização por meio de políticas sociais públicas”475.

Acrescenta Felício Pontes Junior que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos universalmente reconhecidos, não apenas de direitos comuns aos adultos, mas, além desses, de direitos especiais, provenientes de sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, que devem ser assegurados pela família, Estado e sociedade476.

No ECA, a educação é reiterada como direito fundamental. Em adição, por intermédio do ECA, os Conselhos Tutelares passam a monitorar e auxiliar famílias e crianças, em especial no caso de elevados índices de repetência, evasão escolar, reiteração de faltas injustificadas e outros problemas familiares, inclusive de violência doméstica.

472

PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo: Renovar, 1996, pp. 31-35.

473 A promoção do trabalho digno domesticamente é amparada não apenas no nível constitucional,

mas no nível infraconstitucional. No âmbito da vedação ao retrocesso social e à proibição ao trabalho infantil, destacam-se a Consolidação das Leis do Trabalho, o Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

474

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11ª Ed. São Paulo: LTr, 2012, p. 810.

475

CUSTÓDIO, André Viana. A doutrina da proteção integral: da exploração do trabalho precoce ao ócio criativo. In: Boletim Jurídico, 13 de novembro de 2006. Acesso em: 6 setembro 2012.

476 PONTES JUNIOR, Felício. Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente – uma modalidade

de exercício do Direito de Participação Política, 1992, apud PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da Criança e do Adolescente. São Paulo; Renovar, 1996, pp. 24-25.

142 O ECA informa que a criança e o adolescente “têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição Federal e nas Leis” (art. 15). O art. 16 dispõe sobre o direito à liberdade, que compreende o direito a brincar, ao lazer, à diversão, à prática de esportes, a participação da vida familiar e comunitária. Já o art. 17 explora o direito ao respeito, isto é, o direito à preservação e à inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, exigindo, portanto, o resguardo de sua imagem, honra, identidade, autonomia, valores e padrões culturais e seus pertences pessoais.

A dignidade, em especial no que tange à integridade da criança e do adolescente, é afetada negativamente pelo trabalho infantil, pois prejudica o desenvolvimento completo da pessoa, ferindo, por exemplo, os artigos 3º, 5º, 6º e 18 do ECA, que tratam da tutela da integridade e da segurança de todas as crianças e adolescentes. Em detalhe, o art. 3º consagra à criança e ao adolescente todos os direitos fundamentais para o seu desenvolvimento integral, em condições de liberdade e de dignidade477, bem como prevê

oportunidade e facilidade de acesso a esses direitos. O art. 5º visa a defender a criança e o adolescente da violência e da negligência478, assim como faz o art. 18 ao protegê-los do constrangimento e tratamento desumano479.

Por fim, vincula-se o Direito da Criança e do Adolescente à dimensão da solidariedade, principalmente porque o tema trabalho infantil está diretamente relacionado à pobreza e à evasão escolar. Constata-se que o trabalho infantil afasta a criança da escola e do convívio familiar, favorecendo ainda a manutenção do ciclo da pobreza intergeracional, pelo que se verifica o descumprimento da norma de solidariedade e de progressividade social aplicada ao Direito da Criança e do Adolescente, conforme expressa no art. 4º do ECA, no qual está previsto que:

Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

477 Art 3º. “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa

humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.

478

Art. 5º. “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.”

479

Art. 18. “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

143 convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

Em sentido correlato, e com relação aos princípios constitucionais da liberdade, respeito e dignidade, o trabalho infantil, em especial as piores formas de trabalho infantil, fere direta e expressamente os artigos 15 ao 17480 do ECA, atentando contra as dimensões de integridade pessoal, bem como a dimensão da solidariedade, ao inviabilizar ou dificultar a inclusão e participação familiar e comunitária da criança. De modo abrangente, o ECA identifica os crimes praticados contra crianças e adolescente (art. 225 em diante).

Ressalva-se, apenas, que o ECA prevê condições legais para o trabalho educativo e o trabalho de aprendizagem (artigos 60 a 65 e 91)481. Nas demais circunstâncias, a vedação ao trabalho infantil justifica-se porque ele expressa uma direta violação aos direitos fundamentais da criança.

Registre-se, novamente, que o trabalho infantil é uma das principais causas de impedimento, retirada ou prejuízo da frequência e rendimento escolar do aluno. Por vezes, a prestação do trabalho infantil expõe crianças e adolescentes a situações de violência, exploração, opressão e acidentes de trabalho, obstruindo as chances de pleno desenvolvimento da pessoa e violando seu direito específico de não trabalhar, o direito a estudar e o direito ao lazer, que, no caso específico da infância, desdobra-se no direito de brincar.

Para Chiarelli, essa realidade pode ser abordada da seguinte forma:

Em termos trabalhistas, à luz das regras jurídicas e dos objetivos maiores de bem comum e de bem-estar social, em função do dever ser, de nossos

480 Art. 15. “A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como

pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI - participar da vida política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação. Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”.

481

O trabalho de estágio é regido pelo Decreto n. 87.497/82 e pela Lei 11.788, de 25 de setembro de 2008.

144 compromissos de consciência coletiva e de obrigação solidária, nada autoriza a que se entregue a criança ao mercado de trabalho competitivo, difícil, muitas vezes explorador, porque egoisticamente individualista482. O ECA tipifica como delituosa a privação da liberdade da criança e do adolescente (art. 230), como pode ocorrer na modalidade do trabalho infantil doméstico ou do trabalho forçado. Do mesmo modo, também tipifica como crime a promoção ou auxílio de crianças ao exterior, sem a observância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro (art. 239), assim como a condução (tráfico doméstico ou internacional) de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual, de prostituição ou pornografia (artigos 240, 241, 241-A, 241- B, 241-C, 241-D, 241-E, 244-A e 244-B).

Para além da dimensão violadora do trabalho infantil, existe ainda a dimensão da discriminação por gênero, condição social, raça e nacionalidade, pelo que se observa a frequente exploração de crianças e adolescentes pertencentes a grupos sociais vulneráveis, como os de classes desfavorecidas economicamente, imigrantes, deficientes, moradores de rua, entre outros.

Frequentemente o trabalho infantil relaciona-se aos fluxos migratórios domésticos ou interestatais e às redes de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual e para fins de exploração do trabalho de crianças e adolescentes em diversos âmbitos: no comércio, nos serviços, na agricultura e na construção civil. Além disso, esses fluxos também se referem ao deslocamento de crianças e adolescentes para desempenharem o trabalho infantil doméstico, inclusive pela própria família ou responsáveis, ou para a mendicância forçada, casamento forçado, doação de órgãos ou tecidos e para serviços de guerrilha ou milícia no caso das crianças-soldado, embora possa ocorrer ainda o recrutamento de crianças soldado pelo próprio Estado, não somente por particulares.

Em razão de articular ampla gama de violações aos direitos da criança e do adolescente, sugere-se que o trabalho infantil seja visto, também, mediante a dimensão da segurança nos Estados. Haveria uma dimensão de securitização do compromisso em prol da abolição do trabalho infantil, motivo pelo qual sua prevenção e erradicação seriam prioritários, executados de modo articulado aos demais pontos sensíveis da segurança nacional. Aliás, o art. 18 do ECA dispõe sobre a responsabilidade partilhada pela integridade e dignidade da criança ao estabelecer que, “é dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

482

CHIARELLI, Carlos Alberto Gomes. Trabalho na Constituição. Volume I: Direito Individual. São Paulo: LTr, 1989.

145 Em síntese, o trabalho infantil configura-se como um problema multidimensional. A vedação ao trabalho infantil e a vigência da Doutrina da Proteção Integral dedicada à criança e ao adolescente promovem, simultaneamente, sua dignidade e solidariedade. Pode-se inferir que, junto aos direitos à educação, à proteção social e ao engajamento da sociedade, o Direito pátrio tem legislado com o intuito de perseguir a meta de abolição do trabalho infantil. Aliás, dispositivos semelhantes encontram-se, ainda, na Consolidação das Leis do Trabalho.

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