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4.1 A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL ENTENDIDA A PARTIR DA PERSPECTIVA QUADRANGULAR: INTERVENÇÕES INTEGRADAS E MULTISETORIAIS PARA EFEITOS QUADRANGULAR: INTERVENÇÕES INTEGRADAS E MULTISETORIAIS PARA EFEITOS

4.1.2 O VÉRTICE DA EDUCAÇÃO

O direito à educação foi consagrado desde os primeiros instrumentos internacionais dos direitos da criança e do adolescente, motivo pelo qual sua centralidade é clara. O desenvolvimento pleno da criança, físico, psicológico, moral e sua capacitação dependem do direito efetivo à educação de qualidade, gratuita e obrigatória623.

Conforme prevê o art. 28 da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (1989), o direito à educação contém cinco diretrizes.

Art. 28, §1o. Os Estados partes reconhecem o direito da criança à educação e tendo em vista assegurar progressivamente o exercício desse direito na base da igualdade de oportunidades:

a) Tornam o ensino primário obrigatório e gratuito para todos;

b) Encorajam a organização de diferentes sistemas de ensino secundário, geral e profissional, tornam estes públicos e acessíveis a todas as crianças e tomam medidas adequadas, tais como a introdução da gratuidade do ensino e a oferta de auxílio financeiro em caso de necessidade;

c) Tornam o ensino superior acessível a todos, em função das capacidades de cada um, por todos os meios adequados;

d) Tornam a informação e a orientação escolar e profissional e públicas e acessíveis a todas as crianças;

e) Tomam medidas para encorajar a frequência escolar regular e a redução das taxas de abandono escolar.

623

HORTA, José Silvério Baia. Direito à Educação e obrigatoriedade escolar. Caderno de Pesquisa da Universidade Federal Fluminense, n. 104, Rio de Janeiro, p. 5-34, julho 1998.

194 Posiciona-se Ari Cipola no sentido de que haveria quatro determinantes principais da oferta de mão de obra infantil, quais sejam: a pobreza, o sistema cultura-tradicional, a “necessidade” de as crianças trabalharem cedo como forma de emancipação financeira e a ineficiência do sistema educacional brasileiro624. Em outras palavras, fatores estruturais, como a pobreza, as desigualdades sociais e regionais, a discriminação, a oferta insuficiente e o parco acesso à educação pública de qualidade, além da concentração de pobreza rural, favorecem a manutenção do círculo vicioso do trabalho infantil625. Sólido é o vínculo entre

pobreza, evasão escolar e negação do direito à educação626.

Nos últimos 20 anos, estes determinantes foram apontados em conferências internacionais. Na Conferência Mundial de Educação para Todos (1990), ocorrida na Tailândia, os países participantes se comprometeram a erradicar o analfabetismo e a universalizar o acesso à educação básica. O documento final da Conferência, intitulado

Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), colabora com a elevação do direito à educação como direito público subjetivo627 de todos e como instrumento chave para a cidadania ativa orientada pela justiça e pela equidade.

Em 2000, em Dakar, no Senegal, ocorreu o Fórum Mundial sobre Educação, após Conferências Regionais Preparatórias. O documento final, chamado Marco de Ação de

Dakar sobre Educação para Todos: Cumprindo Nossos Compromissos Coletivos (2000)

reitera o direito à educação para todos e em todas as sociedades, reafirmando a garantia desses direitos nos documentos da Cúpula Mundial para a Infância (1990); na Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992); na Conferência Mundial de Direitos Humanos (1993); na Conferência Mundial sobre Necessidades Especiais da Educação: Acesso e Qualidade (1994); na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social (1995); no Encontro Intermediário do Fórum Consultivo Internacional de Educação para Todos (1996); na

624

Ari Cipola, 2001, p. 30-31, apud OLIVA, José Roberto Dantas. O princípio da proteção integral e o trabalho da criança e do adolescente no Brasil: com as alterações promovidas pela Lei n. 11.180, de 23 de setembro de 2005, que ampliou o limite de idade nos contratos de aprendizagem para 24 anos. São Paulo: LTr, 2006, pp. 139-140.

625 MATRIZ INTERSETORIAL DE ENFRENTAMENTO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E

ADOLESCENTES. Panorama Geosocioeconômico do Brasil: o retrato social da criança e do adolescente. Maria Lúcia Pinto Leal; Maria de Fátima Pinto Leal (coords). Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, 2012.

626 SCHNEIDER, Edith Oliveira. Educação Formal e Pobreza: Causa, Efeito ou Determinação

Recíproca? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social do Instituto de Ciências Humanas como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profa. Dra. Silvia Cristina Yannoulas. Brasília: Universidade de Brasília, 2011.

627 Cf: OLIVEIRA, Romualdo Portela de. O direito à educação. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de;

ADRIÃO, Theresa. Gestão, financiamento e direito à Educação: análise da Constituição Federal e da LDB. 3. ed. São Paulo: Xamã, 2007, pp. 15-41.

195 Conferência Internacional de Educação de Adultos (1997) e na Conferência Internacional sobre o Trabalho Infantil (1997)628.

Em seu art. 6º, o Marco de Dakar afirma que:

a educação é um direito humano fundamental e constitui chave para um desenvolvimento sustentável, assim como para assegurar a paz e a estabilidade dentro de cada país e entre eles e, portanto, meio indispensável para alcançar a participação efetiva nas sociedades e economias do século XXI afetadas pela rápida globalização. Não se pode mais postergar esforços para atingir as metas de EPT. As necessidades básicas da aprendizagem podem e devem ser alcançadas com urgência. De modo a garantir essa disposição, o art. 7º do Marco de Dakar firma a responsabilidade de governos, organizações, agências, grupos e associações participantes do Fórum Mundial de Educação assegurarem a oferta de educação primária obrigatória, gratuita e de qualidade até 2015; expandir os cuidados e a educação infantil, principalmente para as crianças mais vulneráveis; assegurar a igualdade de gênero; reduzir desigualdades no acesso e na qualidade da educação primária e secundária; elevar a qualificação e a autoestima dos professores; incluir novas tecnologias de comunicação e informação no ensino e monitorar sistematicamente o progresso dos compromissos assumidos. Já os artigos 8º e 10º convidam os participantes a mobilizarem vontade política nacional e internacional e significativos investimentos em educação básica, assim como engajar a sociedade civil na formulação e execução das estratégias para o desenvolvimento e administração da educação.

Nesse sentido, registrou-se no Marco de Dakar que os planos nacionais e regionais e as estratégias setoriais para a concretização dos compromissos de Dakar no âmbito da educação para todos devem ser acompanhados por políticas públicas integradas e medidas de redução da pobreza e desenvolvimento equitativo, assim como monitorado pela participação e engajamento da sociedade civil, de representantes do povo, líderes comunitários, pais, educandos e organizações não governamentais (art. 9º). Pede-se ainda a dinamização dos mecanismos para a imediata consecução dos objetivos (art. 15º), a firmeza na elaboração e emprego de financiamentos concretos para a educação nacional (art. 21º) e a inserção do tema como prioridade nas agendas políticas de organizações internacionais, não governamentais e nos fóruns regionais e internacionais (art. 13º).

No âmbito nacional, são fundamentos do direito à educação os artigos 6o, 22, XXIV, 23, V, 24, IX, 30, VI, 205 a 214, 227 e art. 60 (Ato das Disposições Constitucionais

628 UNESCO. Educação para todos: o compromisso de Dakar. Texto adotado pelo Fórum Mundial de

Educação, ocorrido em Dakar, Senegal, de 26 a 28 de abril de 2000. Brasília: UNESCO, CONSED, Ação Educativa, 2001. 70p.

196 Transitorias - ADCT), assim como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDBE)629.

No Brasil, houve coincidência entre a Declaração Mundial de Educação para Todos, o Marco de Dakar e a formulação do Plano Nacional de Educação (2001 a 2010), no qual a educação aparece como direito público subjetivo. O Plano Nacional de Educação dispõe sobre a “I.2.1. garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos”; “I.2.2. garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram”; assim como “I.2.3, ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino – a educação infantil, o ensino médio e a educação superior” 630.

Como objetivos do Plano Nacional de Educação (2001 a 2010) configuram justamente “a elevação global do nível de escolaridade da população, a melhoria da qualidade de ensino em todos os níveis de ensino; a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”.

O Plano Nacional de Educação (2011 a 2020) foi aprovado na Câmara dos Deputados, em 2012, mas não tinha sido aprovado pelo Senado. Por um lado, lutou-se para que o Plano seja adotado como política de Estado. Por outro lado, devido aos dispositivos que garantem até 10% do PIB nos próximos dez anos para a educação, inclusive considerando 50% dos recursos e dos royalties do Pré-sal para a educação brasileira, o financiamento da educação era ponto polêmico, atrasando a adoção do plano decenal. Contudo, em 18 de dezembro de 2013, o Senado aprovou o Plano Nacional de Educação para os próximos dez anos, garantindo a meta de 10% do PIB para a educação, a erradicação do analfabetismo e o atendimento escolar, assegurando repasses ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e às instituições de ensino especial. Além disso, a meta do PNE objetiva estimular a produção científica e a inovação.

629 Outras leis essenciais sobre a educação básica e profissional brasileira estão resumidas em

MPSP: Conselhos Tutelares e Educação. São Paulo: Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva do Ministério Público do Estado de São Paulo, 2012, pp. 9-11.

630

ESTADO DE SÃO PAULO (SP). Plano de Educação Avança com mudanças. Governo consegue aprovar no Senado texto que fixa metas para o setor até 2020. 18 de dezembro de 2013. Notícia de Ricardo Brito. Conferir: GAZETA DO POVO (PR). Senado aprova Plano Nacional de Educação. Projeto que estabelece metas de investimento em ensino para os próximos dez anos volta agora para a Câmara dos Deputados. 18 de dezembro de 2013. Notícia de: Agência Estado.

197 Entretanto, a proposta original aprovada pela Câmara em 2012 sofreu diversas modificações, entre elas, a alteração sobre o percentual dos recursos e royalties do pré-sal para a educação, mas também a rejeição do critério custo aluno qualidade (CAQ), que seria um padrão mínimo e visaria superar desigualdades na educação, aprimorando sua qualidade. Dadas essas alterações, o projeto voltou ao Senado, motive pelo qual, em maio de 2014, o Plano Nacional de Educação (2011 a 2020) ainda não foi aprovado.

Importa notar, contudo, que o direito à educação e a superação da pobreza, isoladamente, não serão capazes de erradicar o trabalho infantil. A eliminação do trabalho infantil requer ação internacional e nacional de governos e parceiros, mas também apoio comunitário e conscientização social, isto é, educação da população para que utilize corretamente os meios de denúncia, a fim de se “desnaturalizar” o trabalho infantil.

Infelizmente, segmentos populacionais no Brasil e no mundo aceitam com naturalidade o trabalho infantil, ou porque não compreendem o prejuízo à saúde e ao desenvolvimento físico, cognitivo e pessoal trazidos pelo trabalho infantil, frequentemente associado à evasão escolar, ou porque, nos casos de trabalho intrafamiliar, a família e a criança precisam trabalhar para sobreviver, embora em condições precárias.

A ênfase na educação e na garantia do direito à educação631 está positivada constitucionalmente, no Capítulo III, artigos 205 a 214632. Por conseguinte, sugere-se que as escolas sejam o epicentro de irradiação da educação que conscientiza não apenas os alunos, mas também as famílias, sobre uma cultura de proteção e garantia de direitos humanos. Uma educação para a paz633, voltada para o desenvolvimento da personalidade humana e das potencialidades da criança, alinhada à cultura de direitos humanos, como disposto no art. 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)634.

631

Sobre o histórico do Direito à Educação no Brasil e às especificidades da educação após a CF/88, cf.: OLIVEIRA, Romualdo Portela de. O direito à educação. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de; ADRIÃO, Theresa. Gestão, financiamento e direito à Educação: análise da Constituição Federal e da LDB. 3. ed. São Paulo: Xamã, 2007, pp. 15-41. LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira de, TOSCHI, Mirza Seabra. Elementos para uma análise crítico-compreensiva das políticas educacionais: aspectos sociopolíticos e históricos. In: LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira de, TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2007, pp. 127 – 149. CORRÊA, Flávia Soares. Educação e trabalho na dimensão humana: o dilema da juventude. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade Mineira de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Direito do Trabalho. Orientador: Dr. Maurício Godinho Delgado. Belo Horizonte: 2010.

632 Sobre o Direito Internacional à educação, especificidades e desafios, cf: BUEREN, Geraldine Van.

The International Law on the Rights of the Child. The Hague: Martinus Nijhoff Publishers, 1998, pp.232-256.

633

FOUNTAIN, Susan. Peace Education in UNICEF. New York: Education Sector of UNICEF, 1999.

634 UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION (UNESCO).

UNESCO´S Work on Education for Peace and Non-Violence: Building Peace Through Education. Paris: Division for the Promotion of Basic Education of the Section for the Promotion of Rights and Values in Education of UNESCO, 2008.

198 Para o processo de inclusão escolar e de permanência da criança na escola, é preciso a participação das famílias nas atividades escolares e seu contato frequente com a escola, que seja ao mesmo tempo participativo e democrático. Dessa forma, sugere Marcelia Costa que se oportunizem encontros entre as escolas e as famílias, com vistas a lhes conceder autonomia e transmitir conhecimento sobre seus direitos, bem como incentivar que se acompanhe o desempenho das crianças sob sua responsabilidade e que se concretize um trabalho colaborativo, no qual seja estreito o relacionamento entre a família e a escola. Tal aproximação seria capaz de agregar valor ao direito à educação635.

Ademais, destaca-se a importância da formação dos atores que lideram o movimento, os planos e mecanismos domésticos contra as piores formas de trabalho infantil. É preciso, ainda, investir na capacitação dos profissionais de redes de atendimento e escolas para que sejam agentes capazes de desenvolver a cultura de direitos, mas também de provocar as instituições adequadas – os Conselhos Tutelares, os Ministérios Públicos Estaduais, o MPT, o MTE, os sindicatos, por exemplo, - no caso de ser observada violência, abuso ou exploração do trabalho de crianças e de adolescentes. Logo, agentes como líderes comunitários, pais ou responsáveis, Professores, Conselheiros Tutelares, Juízes da Infância e da Juventude, Juízes do Trabalho, Procuradores do Trabalho, Promotores de Justiça e Auditores Fiscais do Trabalho, assim como assistentes sociais e policiais, precisam manter diálogo e receber treinamento específico quanto à proteção e cuidados dispostos no sistema de direitos da criança e do adolescente636.

A formação dos referidos atores precisa ainda repercutir no âmbito da sociedade, contribuindo para a mudança da mentalidade cultural ou das tradições que aceitam o trabalho infantil em qualquer de suas formas. Tal mudança, por exemplo, contribuiria, a médio ou longo prazo, para a redução e supressão da demanda por mão de obra infantil. Além da formação crítica dos profissionais e da conscientização das famílias e comunidades, é preciso investir em educação de qualidade para crianças e adolescentes.

De acordo com o teor da Convenção dos Direitos da Criança (1989), em seu art. 29637, educação de qualidade seria aquela que promove o desenvolvimento harmonioso e

635 COSTA, Marcelia Alvarenga. A importância da parceria da família e da escola no processo de

inclusão escolar. Programa Universidade Aberta do Brasil. Monografia apresentada ao Departamento de Psicologia Escolar e Desenvolvimento da Universidade de Brasília como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialização em Desenvolvimento Humano, Educação e Inclusão Escolar. Orientadora: Profa. Dra. Mercedes Villa Cupolillo. Vitória: Universidade de Brasília, 2011, pp. 44, 48-50.

636

SAKAMOTO, Leonardo (coord.). Brasil livre de trabalho infantil: contribuições para o debate sobre a eliminação das piores formas do trabalho de crianças e adolescentes. Repórter Brasil: 2013, p.20.

637 Art. 29, §1o. “Os Estados partes acordam em que a educação da criança deve destinar-se a: a)

promover o desenvolvimento da personalidade da criança, dos seus dons e aptidões mentais e físicos na medida das suas potencialidades; b) inculcar na criança o respeito pelos direitos do homem e liberdades fundamentais e pelos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas; c) inculcar na

199 pleno dos dons, aptidões e capacidades físicas e mentais do menor de 18 anos, que resguarde sua identidade cultural, linguística e que o capacite quanto ao conhecimento e ao respeito dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Assim, a educação de qualidade prepararia a criança e o adolescente para assumirem responsabilidade por seus atos e lhes capacitaria para a tomada de decisões com autonomia e levando em consideração a dignidade e liberdade do outro.

Entretanto, a educação de qualidade deve abarcar as diferentes necessidades e características étnico-culturais das populações observadas nas localidades e Estados. Portanto, “a universalização da educação de qualidade implica pensar a educação nas áreas rurais, a inserção do estudante com deficiência, a educação indígena e quilombola”638. Em acréscimo, é preciso promover a redução das desigualdades regionais. Informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), consolidadas na Mariz Intersetorial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, revelam progressos e deficiências que tangenciam o direito à educação no Brasil.

Verifica-se que, nos últimos anos, subiu de 54,1% para 79,8% a porcentagem de crianças de 4 a 6 anos que frequentam a escola. Cresceu, ainda, de 86,6% para 97,9% o número de crianças de 7 a 14 anos que frequentam a escola. Também aumentou de 59,7% para 84,1% o número de adolescentes de 15 a 17 anos nos bancos escolares639.

Além disso, a PNAD indica melhora no progresso e conclusão do ensino fundamental e médio, embora persista a desigualdade regional quanto ao número médio de escolaridade. No Nordeste, a média é de 5,9 anos, enquanto no Sudeste, a média é de 7,7 anos. Também persistem disparidades entre as populações urbana e rural. Esta tem média de estudos de 4,5 anos, enquanto a população urbana apresenta média de 7,8 anos. Por fim, “o número médio de anos de estudo entre os negros é de apenas 6,5 anos, chegando a 8,1 entre os brancos”640.

Aliás, a prestação positiva em prol do direito à educação - seja pela responsabilidade primária do Estado, seja pelos parceiros privados e atores sociais - gera efeitos de

transbordamento positivo para o país, tais como a eliminação sustentada do trabalho infantil,

criança o respeito pelos pais, pela sua identidade cultural, língua e valores, pelos valores nacionais do país em que vive, do país de origem e pelas civilizações diferentes da sua; d) preparar a criança para assumir as responsabilidades da vida numa sociedade livre, num espírito de compreensão, paz, tolerância, igualdade entre os sexos e de amizade entre todos os povos, grupos étnicos, nacionais e religiosos e com pessoas de origem indígena; e) promover o respeito da criança pelo meio ambiente”.

638

MATRIZ INTERSETORIAL DE ENFRENTAMENTO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES. Panorama Geosocioeconômico do Brasil: o retrato social da criança e do adolescente. Maria Lúcia Pinto Leal; Maria de Fátima Pinto Leal (coords). Brasília: Secretaria de Direitos Humanos, 2012, p. 2.

639

Idem, pp. 1-2.

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