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Comparando as agendas de pesquisas: Brasileira versus Estrangeira, entre 2005 e 2009

Capítulo 4 A Agenda de Pesquisa em CALL: Afinal, qual é o estado da arte?

4.3 Comparando as agendas de pesquisas: Brasileira versus Estrangeira, entre 2005 e 2009

Ao avaliar e descrever as pesquisas, realizadas ao longo dos anos, acredito que as pesquisas brasileiras sobre CALL saíram de um foco mais tecnológico, marcado pelo entusiasmo e centrado nas vantagens e desvantagens do uso de tecnologias na sala de aula, conforme já discutimos no Capítulo 1 desta tese (ver, por exemplo, pesquisas de COLLINS; RAMOS, 1996; BRAGA, 1999a; 1999b, PAIVA, 2000, 2001; MOTTA-ROTH ET AL, 2000) para, a partir da segunda fase de pesquisa, incluir discussões sobre o ensino da linguagem como gênero e descrever diferentes contextos e gêneros digitais (ver no corpus de artigos brasileiros os trabalhos de REIS; SILVA, 2005; RIBEIRO, 2006; SOUZA; ALMEIDA, 2007; SILVA; LOMBARDI; PAULA, 2008; VETROMILLE-CASTRO, 2008; ARAÚJO, 2009) que podem auxiliar na aprendizagem de línguas quando o aluno se insere em tais contextos de prática social.

Conhecer esses resultados e organizá-los tematicamente foi uma maneira de delimitar a agenda de pesquisa brasileira e verificar nos estudos investigados as tendências teóricas e metodológicas que ainda precisam ser mais bem investigadas e implementadas em sala de aula, principalmente os estudos em CALL, na área de inglês como língua estrangeira precisam aprofundar o estudo da linguage]m produzida em contextos, gêneros e eventos virtuais realizáveis no ciberespaço. A análise do framework de pesquisas produzidas no exterior mostra que os temas centrais identificados são ainda pouco discutidos nos estudos brasileiros sobre CALL.

As contribuições já propostas por meio das pesquisas brasileiras ainda precisam ser tanto teórica quanto pedagogicamente implementadas nos Cursos de Licenciaturas de Letras em nosso país, pois essa área de pesquisa não tem um lugar próprio dentro dos departamentos de ensino nas universidades, ficando as discussões sobre CALL apenas no currículo como disciplinas optativas, de modo

que nem sempre é dado o aprofundamento teórico necessário a essa área de investigação.

Se compararmos os focos das pesquisas encontradas nas agendas de pesquisa brasileiras e nas estrangeiras, a partir do ano de 2005 até 2009, observamos que a área de CALL brasileira se mostra um pouco independente com relação às temáticas discutidas durante esse mesmo período no contexto internacional. Ao analisar as temáticas das pesquisas, observei que os temas discutidos no exterior nem sempre são discutidos no contexto brasileiro. Isso fica evidente se compararmos, por exemplo, os estudos produzidos no Brasil, entre os anos de 2005 e 2007, em que o foco está na discussão sobre gêneros textuais e digitais enquanto que nas publicações do exterior não há quase referência a investigações sobre o uso de gêneros digitais nesse mesmo período. As investigações no exterior se preocupam com o desenvolvimento de pesquisas na modalidade blending, na avaliação de atividades em contextos multimídias e no relato de experiências com ensino mediado por computador que trazem bons resultados para a área.

A independência das pesquisas brasileiras pode ter acontecido porque a área de CALL no Brasil talvez venha sendo influenciada mais por estudos da área de Linguística Aplicada realizadas no contexto brasileiro do que pelas discussões em nível internacional. Durante esse mesmo período, nas pesquisas realizadas em LA, as discussões giram em torno de estudos sobre gêneros textuais/discursivos no contexto acadêmico brasileiro. Consequentemente, a influência estrangeira não fica tão evidente nos estudos de CALL, principalmente com relação aos estudos sobre gêneros digitais, evidenciando-se, assim, a independência dos estudos na área de CALL no Brasil dentro dessa temática.

Por outro lado, é preciso admitir também que alguns estudos de CALL no Brasil são influenciados pela agenda estrangeira, principalmente porque nesta fase o foco está em avaliar atividades de línguas, propostas para o contexto digital e, principalmente, relatar experiências que já deram certo. Nesse sentido, as temáticas no exterior e no Brasil estão combinadas porque há vários estudos no exterior que também dão esse foco aos estudos da área, especialmente estudos que discutem a aprendizagem de vocabulários orientados na área de aquisição de línguas estrangeiras, outros influenciados pelos estudos de gêneros, que é uma área muito forte de investigação em nosso país, dentro da Linguística Aplicada

Capítulo 4 – A Agenda de Pesquisa em CALL

Ao longo do texto desta análise, descrevi os objetivos das pesquisas e mostrei os interesses dos pesquisadores da área de CALL. Acredito que os exemplos apresentados dão uma visão geral do que se investiga e dos resultados já obtidos na área que ajudam a delimitar o estado da arte e descrever ainda tópicos e temas que precisam ser melhor investigados.

As pesquisas descritas nesta tese sobre a área de CALL relatam diferentes experiências sobre o ensino de línguas em contextos mediados por computador. Como já foi mencionado na introdução desta tese, no início do ano 2000 algumas pesquisas davam ênfase à necessidade do estabelecimento de uma agenda de pesquisa na área (CHAPELLE, 2000; LEVY, 2000; DEBSKY, 2003). Em estudos recentes, conforme proposto por Felix (2008), algumas perguntas ainda persistem sobre a delimitação do escopo da área, mas, ao longo dos anos, alguns tópicos já têm sido definidos como centrais em investigações da área de CALL.

As pesquisas que investigam a agenda de pesquisa ou o estado da arte em CALL totalizam 14 estudos no corpus. Esse dado indica certa preocupação dos pesquisadores da área em investigar esse tópico ou em delimitar o que tem já sido investigado a partir de metapesquisas ou pesquisas de sínteses. Os trabalhos que são específicos sobre CALL discutem diferentes subtópicos, tais como: a) os direitos e responsabilidades dos pesquisadores da área de CALL; b) a evolução das tecnologias de comunicação; c) as tendências teóricas sobre o uso de tecnologias na aprendizagem de línguas estrangeiras ou segunda língua; d) as pesquisas e a prática pedagógica em ambiente de CALL e como integrar essas tendências nos processos de ensino e de aprendizagem; e) teorias que podem ser consideradas específicas da área de CALL.

Ao analisar os objetivos dos estudos nesta temática, observo que as pesquisas sobre o estado da arte delimitam o tópico investigado e o período da pesquisa realizada. O Exemplo 47 ilustra uma pesquisa que investiga como se entende e se avalia a eficiência das pesquisas em CALL. Esse estudo busca mostrar as dificuldades encontradas pelos pesquisadores da área em determinar com clareza como se avalia a eficiência das pesquisas.

Exemplo 47

This paper presents a comprehensive picture of what has been investigated in terms of

CALL effectiveness over the period 1981-2005 throwing light on why this question is still

No artigo #111 fica evidente o interesse do pesquisador em identificar necessidades pedagógicas em CALL. Para suprir essa necessidade, o pesquisador propõe a investigação da revisão da literatura com o objetivo de ampliar sua percepção sobre o que acontece na área de CALL com relação à avaliação pedagógica de certos recursos usados nessa área, bem como essa avaliação pode ser mensurada, tendo em vista o atual contexto sócio histórico e cultural que requer uma visão mais intervencionista do que positivista de avaliação.

Exemplo 48

This paper provides a critical review of the literature between 1980 and 2005 on the evaluation of resources for computer-assisted language learning (CALL) with a particular emphasis on elementary education (...).[A#111_CALICO]

É notável ainda o interesse dos pesquisadores em tentar delimitar uma teoria que seja específica da área de CALL. No Exemplo 49, o pesquisador apresenta que, embora os estudos de CALL possam ser orientados a partir de diferentes teorias oriundas da LA, da educação, da psicologia, etc., ainda não há uma teoria específica da área de CALL. Um levantamento feito sobre como a palavra “teoria” é referenciada nos artigos publicados nos artigos publicados no periódico CALICO, durante os últimos 25 anos, possibilitaram o pesquisador identificar uma lista de teorias que são citadas nos estudos de CALL e identificar que ainda não temos uma teoria específica nesta área.

Exemplo 49

This paper reports on the number and types of theories identified in the corpus, noting the wide range overall but exceedingly small number of references to what could be considered native CALL theories, as well as commenting on the value and limitations of this approach for reviewing scholarly work. [A#83_CALICO)

Levy e Stockwell (2006), ao discutirem sobre as teorias que orientam os estudos em CALL, afirmam que pesquisadores dessa área usam teorias para expandir conhecimento existente em certas disciplinas, tanto para construir quanto para refinar as teorias existentes. Na percepção desses pesquisadores, os designers de cursos e os professores usam teorias para ajudar decidir o foco do que ensinar e do que devem ignorar na prática pedagógica.

Para o pesquisador do artigo #83, a falta de uma teoria específica da área de CALL deixa a desejar por duas possíveis razões. Primeira, à área de CALL ainda é vista como um campo de conhecimento subordinado à área de aquisição de línguas estrangeiras, consequentemente se orienta a partir dessa área maior e não tem ainda emergido com uma área independente, não havendo necessidade de

Capítulo 4 – A Agenda de Pesquisa em CALL

desenvolver uma teoria específica da área. A segunda razão é que há uma crença, por parte de alguns dos pesquisadores de que CALL desparecerá quando atingir o grau de estágio de normatilização das tecnologias nos currículos de ensino de línguas, conforme já previsto por Bax (2003), o que permitiria que os estudos continuassem a ser influenciados e orientados apenas pela área de aquisição de L2. Outras pesquisas como no A#95, os pesquisadores buscam descrever as limitações pedagógicas na área de CALL, as experiências que dão certo, os esforços dos pesquisadores para desenvolver pesquisa na área com vistas a auxiliar os professores, os pesquisadores e os desenvolvedores de materiais didáticos de CALL para melhorar a qualidade dos produtos propostos.

Exemplo 50

This article provides (a) a brief historical overview of CALL, including a glimpse at both its pedagogical limitations and strengths; (b) a description of current issues that slow the implementation of CALL; and (c) a sketch of research and development efforts that will help teachers, researchers, and developers move CALL to the next level: A carefully crafted combination of teacher and technology with each contributing according to its comparative advantage.

[A#95_CALICO]

Uma crítica que faço à pesquisa proposta no artigo #95 é que o autor não descreveu e não sistematizou claramente os procedimentos para a coleta dos dados da pesquisa proposta sobre o estado da arte. Ao ler e analisar esse artigo, observo que o pesquisador se orienta por algumas perguntas de pesquisas com vista a evidenciar os avanços já feitos na área e sobre a necessidade de ter uma visão real do que já se tem feito e do que ainda precisa ser investigado na área de CALL.

Ao discutir os desafios futuros para os pesquisadores da área de CALL, o pesquisador conta a história do surgimento da aviação e relata a falta de crença de que alguns visionários daquela época tinham sobre a certeza ou incerteza se um avião poderia algum dia atravessar o Atlântico. Esse mesmo sentimento e crítica que os visionários daquela época tinham sobre a aviação, de modo semelhante, existem na área de CALL, especialmente sobre em que medida realmente ensinamos a língua quando usamos tecnologias digitais. Portanto, são os esforços dos pesquisadores que podem mudar essa visão e fazer com que alcancemos voos muito altos e mais distantes do que a realidade atualmente nos permite enxergar e alcançar.

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