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Fase 3 – Avaliação de atividades de línguas e relatos de experiências sobre o ensino no contexto

Capítulo 2 Concepções de linguagem, de Ensino e Aprendizagem em CALL

2.2 As fases de pesquisa sobre CALL: onde estamos?

2.2.4 Fase 3 – Avaliação de atividades de línguas e relatos de experiências sobre o ensino no contexto

A terceira fase de pesquisas em CALL, no Brasil, focaliza avaliação das atividades didáticas de línguas e dos procedimentos pedagógicos implementados em aulas mediadas por tecnologias ou em ambientes de aprendizagem disponíveis eletronicamente.

Ao fazer levantamento bibliográfico sobre os trabalhos publicados nos periódicos brasileiros, entre 2005 e 2009, verifiquei que os temas dos artigos são variados e enfatizam, geralmente, o ensino de leitura e de vocabulário em contexto digital (NORA DE SOUZA, 2006; 2007; RIBEIRO, 2006; BASTOS, 2007); discussões sobre a autonomia na aprendizagem de línguas por meio de narrativas digitais (PAIVA, 2006a; 2006b; 2007); o papel do computador como tutor ou ferramenta na realização de atividades informatizadas em LI (SOUZA; ALMEIDA, 2007); discussões sobre atividades realizadas em cursos de formação continuada a distância (MICCOLI, 2006); aplicações da teoria da complexidade na análise de atividades a distância (VETROMILLE-CASTRO, 2008; SILVA, 2008); discussões sobre teletandem online; avaliação de atividades de línguas ou de sites pedagógicos online (OLIVEIRA, 2009; ARAÚJO, A., 2009).

Tópico 7 – O ensino de leitura e de vocabulário em contexto digital

Entre os trabalhos publicados, parece importante destacar as discussões propostas por Nora de Souza (2006) sobre os princípios para a criação de ambientes hipermidiáticos de aprendizagem do léxico em LE. Nesse artigo, a autora discute que, embora haja na literatura um consenso de que o uso do computador pode ser um recurso valioso para a aprendizagem e que recursos da hipermídia podem favorecer essa aquisição “são poucos os estudos que procuram compreender como as múltiplas linguagens podem ser mais bem combinadas para a construção de aprendizagem mais eficiente e que favoreça o desenvolvimento, no aluno, de uma competência lexical” (NORA DE SOUZA, 2006, p. 143).

Em sua pesquisa, Nora de Souza (2006) propõe princípios para a construção de material hipermidiático para a aprendizagem do léxico. A autora (idem, p. 158- 159) enfatiza que há situações em que a hipermídia pode realmente impactar significativamente a aprendizagem, tanto a aprendizagem implícita quanto a explícita

do vocabulário. O ambiente multimídia constituído de vídeo (imagem + som) e da transcrição do texto verbal pode contribuir, principalmente, para a aprendizagem de palavras-chave. Além disso, a autora acredita que as diferentes mídias podem servir de apoio para a realização de inferências e de retenção do vocabulário novo. Com relação ao vocabulário explícito, a hipermodalidade mostrou-se eficiente para o ensino de colocações e de vários usos e significados das palavras.

Na pesquisa, Nora de Souza (2007) destaca que é cada vez mais evidente a importância do uso de hipermídia para o ensino e aprendizagem da LE, tendo em vista que a estrutura não linear de ferramentas hipermídias pode favorecer a aprendizagem, já que uma informação pode ser contemplada, reiterada e mesmo sintetizada ao ser apresentada ao aluno na forma de um complexo multimodal (NORA DE SOUZA, 2007, p.60; BRAGA, 2004b). Em seu artigo, Nora de Souza (2007, p.65) investiga a percepção de um grupo de alunos de Inglês instrumental, de uma universidade paulista, quanto à importância do papel da hipermídia no aprendizado implícito de vocabulário, no ensino de leitura em LE. Nos resultados obtidos nessa pesquisa, fica evidente que a avaliação dos materiais usados em aulas pelos participantes indicam que, de modo geral, os ambientes multimídias (vídeos + transcrição) podem contribuir significativamente tanto para inferência quanto para a retenção de vocabulário a curto prazo (idem, p.81).

Além disso, os resultados indicam que materiais hipermídia favorecem a criação de contextos variados, ricos em informação e podem promover um maior envolvimento do aluno no processamento da informação e, portanto, maior retenção de conhecimento lexical. Na percepção da autora (idem, ibidem), esse envolvimento pode ser proporcionado tanto para a inferência quanto para a retenção do significado, por meio da repetição da informação fornecida pelo uso das mídias: som + imagem (vídeo) + texto escrito (transcrição do vídeo).

Outro aspecto apontado nos dados da pesquisa realizada por Nora de Souza (2007) é que o som foi o componente que menos contribuiu para a lembrança do significado das palavras. Para 69% dos alunos, o som foi indicado como o menos relevante para a descoberta do significado das palavras desconhecidas (NORA DE SOUZA, 2007, p.79-80). Para a autora, a dificuldade de compreensão oral, isolada de outras pistas contextuais, tais como imagem e texto, fica evidente, “já que a cadeia linear da fala não marca os limites das palavras, o que dificulta o processo de compreensão desse tipo de insumo, se apresentado linearmente” (idem, ibidem).

Capítulo 2 – Concepções de Linguagem

A pesquisa de Bastos (2007) também discute o ensino de leitura instrumental, no entanto, dá um enfoque um pouco diferente do que Nora de Souza (2006; 2007). Na pesquisa sobre atividades pedagógicas de cunho instrumental feitas online, Bastos (2007) retoma discussões sobre o letramento digital e sua importância para a aprendizagem de LI. Nesse estudo, a autora relata a experiência com o ensino de LI e analisa a contribuição do letramento digital no desenvolvimento e na aprendizagem da LI; discute ainda os benefícios e as dificuldades encontradas nessa experiência (idem, p.18-19). O programa de curso, proposto pela autora, inclui a necessidade de letramento digital dos participantes e a leitura instrumental de gêneros diversos publicados em diferentes páginas virtuais. A escolha dos temas está relacionada à área de especialização de cada turma (idem, p.25). Nessa experiência, a autora reformula as atividades de leitura nos moldes propostos por Ramos (2004).

O programa de curso, elaborado por Bastos (2007), teve por objetivo desenvolver simultaneamente três habilidades: a navegação na Internet, a leitura hipertextual e a compreensão da web em língua Inglesa. Esses objetivos foram inspirados em estudos de Warschauer (2000, 2002) e se justificam pela crescente necessidade de os indivíduos desenvolverem novas competências e habilidades como a compreensão e a expressão nos meios eletrônicos em língua estrangeira. Nesse sentido, desenvolver letramentos que capacitem o aprendiz a interagir virtualmente parece ser uma maneira de possibilitar que os sujeitos possam ter uma atuação mais eficiente e participativa na sociedade atual e no contexto midiático que está à disposição de todos(idem, p. 33).

Tópico 8 – Avaliação dos cursos e das atividades propostas para o contexto digital

A preocupação em avaliar as atividades realizadas em contexto digital parece ser também foco das discussões de Vetromille-Castro (2008). Para o autor, estamos em um momento histórico dos estudos de CALL, no Brasil, em que propostas pedagógicas são colocadas à prova, o que confirma a proposta de terceira fase de pesquisa em CALL, elaborada nesta tese. Acredito que nessa terceira fase de pesquisas, os pesquisadores demonstram certa preocupação não só em avaliar, mas em relatar as experiências já realizadas na área. No entanto, para Vetromille-

Castro (2008) as propostas pedagógicas, elaboradas para o contexto digital somente persistirão se a interação social – aspecto necessário para a aprendizagem - se estabelecer, pois a interação se torna um fator essencial para ser observado e trabalhado dentro de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA).

De acordo com Vetromille-Castro (idem), quando os indivíduos interagem por meio de AVAs, os AVAs se constituem em sistemas complexos. Tendo por orientação a teoria da complexidade, o pesquisador discute os dados coletados por meio de um AVA e centraliza sua análise na interação que acontece nesse contexto. Ao discutir os dados de sua pesquisa, o pesquisador afirma que a interação interindividual tem papel essencial na formação e na manutenção dos grupos em AVA e entende que as mensagens dos fluxos interacionais são como o combustível, ou seja, como a energia do sistema complexo que cada grupo em AVA constitui (idem, p. 219). Na percepção do autor, “enquanto há mensagens sendo trocadas (logo, enquanto há energia), o grupo existe como um sistema. Quando os fluxos interacionais diminuem ou cessam, os participantes se dispersam e o sistema deixa de existir” (p.219). Essa dispersão pode levar à desordem, em decorrência da necessidade da interação para que o sistema seja mantido.

A investigação sobre o tema interação também é recorrente em estudos sobre o uso de gêneros digitais no ensino. Como mencionado na introdução desta tese, essa preocupação é central no livro publicado recentemente no Brasil, por Araújo (2007a). Considero importante destacar o que propõem Araújo e Costa (2007, p.32) sobre o gênero Chat Aberto. Para esse pesquisador, a organização composicional do gênero chat aberto deveria também ser estudada na escola. De acordo com Araújo, estudar não só a sua composição textual, mas também o seu funcionamento para que os alunos entendam como se realizam as interações nesse gênero.

O artigo de Motta-Roth, Reis e Marshall (2007) aponta alternativas pedagógicas de como o gênero página pessoal pode ser explorado na aula de inglês como língua estrangeira (ILE). Para as autoras,

os tipos de representações do “eu”, de papéis e relações sociais que se estabelecem tanto na linguagem das Páginas Pessoais quanto no conjunto de práticas discursivas que circulam na www (Killoran, 2002), oferecem possibilidades e desafios interessantes para o aluno de ILE”, pois a aprendizagem de ILE (inglês como língua estrangeira) com base em gênero digitais pode contribuir para a transformação da rede em uma mídia realmente pluralística e democrática (MOTTA-ROTH, REIS; MARSHALL, 2007, p. 141)

Capítulo 2 – Concepções de Linguagem

Os resultados dessas pesquisas mais recentes sugerem a necessidade de ensinar a LI com base em gêneros, pois, conforme proposto por Halliday (1994), a linguagem pode ser entendida como um processo de escolha pela qual os aprendizes serão capazes de usá-la no meio social em que estão inseridos. Inserir- se nesses ambientes possibilita promover a comunicação, a interação e a aprendizagem da língua-alvo (REIS, 2006).

Em estudos mais recentes, Reis (2006) discute que, embora o uso de gêneros digitais na sala de aula ofereça vantagens para o ensino, ainda é muito tímido o uso de recursos digitais na sala de aula, pois ainda há professores com baixo nível de letramento digital que não sabem como explorar tais recursos e tarefas em sala de aula (REIS; MOREIRA, 2007). Essas questões também ficaram evidentes na minha experiência pedagógica, a partir da aplicação de um curso de letramento digital oferecido por mim a professores da rede pública (REIS; MOREIRA, 2007). Nesse sentido, parece importante buscar na literatura experiências e estratégias que possam orientar tanto o professor quanto o aluno sobre como explorar diferentes gêneros digitais na sala de aula, de modo que a inserção dos participantes, em tais contextos sociais, os auxilie na aquisição e no compartilhamento de conhecimentos.

As discussões apresentadas neste capítulo ajudaram a conhecer melhor os interesses dos pesquisadores brasileiros com relação à área de CALL e o que se têm investigado para estabelecermos parâmetros de comparação com a agenda de pesquisa estrangeira. Ao que parece, os pesquisadores brasileiros vêm orientando suas pesquisas de acordo com o atual contexto histórico e cultural em que vivem e sendo orientados pelas necessidades pedagógicas que a prática começa apontar.

Iniciamos as investigações em CALL destacando a necessidade do uso da Internet na universidade e nas escolas, destacamos a necessidade de desenvolver o letramento digital. Partimos para investigações que focalizam a produção de material didático digital e a necessidade de formação de professor para esse novo contexto de interação, propondo alternativas que ajudem pensar na pedagogia online e em estratégias de intervenção pedagógica para a prática de ensino mediado por computador.

Como consequência da inserção de tecnologias no contexto universitário e escolar, começamos a pensar em atividades, em gêneros digitais, em objetos de aprendizagem mais adequados ao contexto virtual de interação. Chegamos à fase

da avaliação e da implementação, buscando adequar o que já descobrimos e alinhar a teoria e a prática, de acordo com estudos teóricos da linguagem, buscando certezas para poder propor mais generalizações sobre os resultados já obtidos. Por isso, no atual momento histórico e cultural, parece urgente descrevermos a atual agenda de pesquisa em CALL também realizada no contexto brasileiro, como forma de identificar tópicos que ainda precisam ser melhores investigados que merecem toda a nossa atenção.

No próximo capítulo, os dados coletados por meio da análise textual e de conteúdo dos artigos acadêmicos são resumidos no framework da agenda de pesquisa proposto nesta pesquisa, ao analisarmos os objetivos dos estudos publicados nos periódicos internacionais da área de CALL, os quais foram selecionados para esta investigação.

A importância de compararmos as agendas nos auxiliou identificarmos o que se investiga no contexto nacional e internacional na área de CALL, para temos mais clareza sobre os elementos primários de investigação nesta área de estudo.

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