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Em síntese, como essas concepções podem ser aplicadas ao ensino e à pesquisa?

Capítulo 2 Concepções de linguagem, de Ensino e Aprendizagem em CALL

2.1 Concepções de linguagem que orientam as pesquisas em CALL

2.1.5 Em síntese, como essas concepções podem ser aplicadas ao ensino e à pesquisa?

Neste capítulo, o objetivo foi apresentar discussões sobre o que se entende pelos processos de ensino e de aprendizagem dentro das perspectivas Socioculturais, dos Estudos de Gêneros, da Teoria da Atividade e da Teoria da Complexidade/Caos, visto que o conhecimento dessas teorizações tem orientado tanto a prática de ensino presencial quanto a modalidade mediada por tecnologias (ou a distância).

No entanto, é importante destacar que a escolha de uma dessas teorizações ou de várias delas na elaboração de materiais didáticos ou na prática pedagógica,

pode ajudar a desenvolver um trabalho mais efetivo e de acordo com as necessidades dos alunos, visto que todas valorizam o papel do aprendiz como sujeito ativo, histórico e cultural que, por meio da interação, pode desenvolver sua aprendizagem. Cada sujeito (participante do contexto escolar) tem um papel social a desenvolver na sociedade e, ao interagir, pode compartilhar conhecimentos variados e estabelecer trocas significativas que geram aprendizagem.

As discussões apresentadas, até este momento, ajudam perceber que a visão de linguagem como fenômeno social e cognitivo se amplia quando se percebe a necessidade de trabalhar em uma perspectiva de gêneros discursivos em que se podem investigar diferentes práticas sociais realizadas no contexto social. Ao entender que ensinar é uma prática social, amplia-se a visão de ensino de linguagem como regras e sistema para se conceber a linguagem como um evento discursivo, em que se consideram os textos, gêneros, contextos sociais, os papéis desenvolvidos pelos sujeitos nessas interações e nas ações, levando sempre em consideração a linguagem em uso e que se materializa em gêneros.

Outro aspecto comum entre essas teorizações é a importância que o conceito de atividade tem nos processos de ensino e de aprendizagem de línguas. Quando se analisa as teorizações propostas desde Vygostky, observa-se que o foco está na atividade. De acordo com Cole (1996, p.108 apud DANIELS, 2001, p.48), a tese central da escola cultural-histórica russa é que “a estrutura e o desenvolvimento dos processos psicológicos humanos surgem pela atividade prática, culturalmente mediada e de desenvolvimento histórico”. Sendo assim, a definição de atividades sociais em que os participantes se engajam é fundamental.

Essa afirmação permite inferir que a mediação por meio de atividades é um aspecto importante a ser considerado na aprendizagem de línguas, visto que é por meio da atividade que se pode desenvolver cognitivamente. Nos estudos sobre gêneros discursivos, novamente tem-se em foco as atividades sociais, os gêneros dinamicamente orientando as práticas sociais que os participantes se engajam. Nesse sentido, é possível inferir que ao fazer análise de gêneros se deve considerar o gênero em estudo com uma atividade, o que implica pensar nas ações realizadas por meio dele, quem participa, quais os papéis que assumem esses participantes, assim como qual é discurso materializado nesse gênero.

Além disso, a interação e a mediação, por meio de tecnologias, poderá contribuir para o desenvolvimento cognitivo dos alunos, uma vez que eles participam

Capítulo 2 – Concepções de Linguagem

de sistemas complexos, de diversos gêneros e de contextos que fazem parte do seu dia-a-dia. Como afirma Prabhu (1990), não há um melhor método (abordagem) de ensino, mas pode haver alguma verdade em todos eles que podem ajudar a melhorar a prática. Do mesmo modo, acredito que não há uma única e melhor concepção de linguagem que se aplique aos estudos de CALL, mas cada uma delas possibilita ver certas particularidades que são necessárias na prática pedagógica mediada por tecnologias. Devido a isso, conhecer essas concepções pode ser uma maneira de orientar com mais clareza as ações como professores de contextos mediados por tecnologias, a fim de que se possa possibilitar ao aluno o uso real da linguagem que os tornem sujeitos mais esclarecidos e atuantes na sociedade em que vivem.

Ensinar e pesquisar, nessas perspectivas previamente discutidas, implica investigar sobre como a linguagem se realiza nas diferentes práticas sociais, nos contextos, nos gêneros, no ciberespaço e na sociedade. No caso específico da área de ensino de línguas mediado por computador, algumas práticas sociais e discursivas também são realizadas. Como já citamos anteriormente, ensinar é uma prática social em que os pesquisadores estão cada vez mais tentando melhor entender e investigando como ela se realiza ou deve se realizar quando o ensino acontece por meio de tecnologias. Além dessas, a leitura e a escrita, seja no contexto virtual ou real, também são consideradas práticas a serem desenvolvidas, assim como outras que envolvem o aluno na produção, no consumo e na distribuição de gêneros diversos. Portanto, a partir da análise realizada nesta tese, observa-se que os estudos em CALL ainda precisam propor mais investigações que explorem diferentes práticas sociais no contexto virtual, já que cada vez mais a virtualização delas podem ser observadas no ciberespaço.

Uma questão que tem sido alvo de discussão na mídia e entre pesquisadores do ciberespaço é em que medida a escrita desenvolvida no contexto virtual pode influenciar nas produções realizadas pelas crianças na escola. Esse questionamento tem gerado diferentes opiniões entre os estudiosos. Acredito, porém, que ainda não há certezas sobre essa influência. Por outro lado, acredito que o questionamento deveria ser outro: em que medida se está explorando, em sala de aula, como essas práticas se realizam no ciberespaço?. Ou ainda, por que o uso da linguagem em contextos digitais se diferencia em relação ao seu uso em contextos específicos e institucionais? Quais são as diferenças entre a linguagem usada em gêneros

escolares, em gêneros divulgados na mídia impressa ou em gêneros institucionais? Será que não é minha responsabilidade, como pesquisadora da área de ensino mediado por computador, tentar melhor entender e discutir essas questões? Eis algumas questões para refletir.

O modo como essas teorizações previamente discutidas são exploradas nas pesquisas realizadas na área de CALL são apresentadas no Capítulo três, na análise dos dados. Tendo em vista entender um pouco mais sobre a prática de pesquisa, tanto no contexto estrangeiro quanto no contexto brasileiro, na próxima seção, a sistematização de resultados de pesquisas obtidos nesses contextos é apresentada.

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