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COMPETÊNCIAS GERÊNCIAIS E SAÚDE DO TRABALHADOR EM INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR

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COMPETÊNCIAS GERÊNCIAIS E SAÚDE DO TRABALHADOR EM INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR

Carolina Souza Nogueira

carols.nogueira@gmail.com Beatriz Queiroz Villardi Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) 1 INTRODUÇÃO

A importância da mútua influência entre saúde e trabalho parece ser reconhecida nos estudos e aplicações na sociedade contemporânea, com destaque para a saúde ocupacional, devido à necessária relação entre os envolvidos no trabalho. De um lado estão os trabalhadores inseridos no seu ambiente laboral permeado por relações sadias e nocivas, e de outro, seus gestores, guiando as práticas administrativas e de gestão destas relações junto às organizações, privadas e públicas.

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) mediante sua equipe de saúde do trabalhador, constituída pela Divisão de Atenção à Saúde do Trabalhador - DAST, uma organização regida também pelo Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS), atende um quadro de aproximadamente 3000 servidores. A DAST tem registrado um elevado índice de afastamento médico, como exemplo: em 2015, foram cerca de 244 servidores licenciados, 73 dos quais por doença mental, a maior parte caracterizada pelos profissionais da equipe em saúde como causadas por estresse, principalmente de cunho ocupacional.

Da mesma forma, outras doenças ocupacionais são manifestadas no consultório pelos trabalhadores e acompanhadas de afirmações recorrentes de sofrimento, muitas vezes atribuído pelos mesmos como originado no trabalho cotidiano pela (não) atuação dos respectivos gestores. Para elucidar, levantou-se a questão: como a competência gerencial dos servidores responsáveis pelo trabalho influencia na saúde do trabalhador?

Neste contexto, Gomes et al. (2013) alertam que o gerencialismo caminha cada vez mais para o aumento do sofrimento dos trabalhadores, incluindo os gestores. Esta realidade de trabalho com alto sofrimento é oriunda da cultura do alto desempenho, da produtividade, do clima de competição, da pressão do mundo organizacional, corroborando uma lógica positivista e utilitarista (GOMES, et al., 2013). Este fenômeno parece afetar também instituições públicas, no caso deste estudo a UFRRJ, visto que o setor público procura adotar o modelo de nova administração pública - NPA e reforma gerencial como proposto por Bresser-Pereira (1996; 2008). Para Dejours et al. (1997), tanto o prazer quanto o sofrimento, decorrentes do trabalho, têm uma relação direta com a carga psíquica que a tarefa apresenta e precisam estar em equilíbrio para minimizar a incidência de doenças ocupacionais.

Diante da percepção da necessidade de aprimorar os conhecimentos técnicos, habilidades e atitudes profissionais que englobam as competências dos gestores, às quais se consideram passíveis de serem desenvolvidas também em situações de estresse ocupacional, a autora deste estudo, médica perita da UFRRJ, decidiu cursar o Mestrado Profissional em Gestão e Estratégia também da instituição, iniciando a presente pesquisa junto da sua orientadora e coautora.

O estudo em questão busca, então, descrever a influência da aprendizagem e competência gerencial na saúde do trabalhador em IFES.

2 METODOLOGIA

A situação-problema desta pesquisa envolve todos os trabalhadores da UFRRJ, cerca de 3000 pessoas só de servidores, conforme consta nos dados estatísticos do site da Instituição (UFRRJ, 2016). Os sujeitos da pesquisa são os gestores dos Institutos da UFRRJ e suas equipes, visando a descrição e identificação da influência mútua e inter-relação das práticas de gestão do trabalho vigentes com a saúde ocupacional do trabalhador.

Figura 1: Mapa conceitual da posição dos gestores no contexto de uma IFES, 2016.

O estudo caracteriza-se como pesquisa qualitativa, documental e de campo, delineada como estudo de caso, que utilizará dados qualitativos obtidos mediante entrevistas com roteiro semiestruturado (VERGARA, 2012; 2015). As transcrições literais das entrevistas serão analisadas com softwares de análise de dados qualitativos como o QR NVivo e o ATLAS TI. As ferramentas de coleta e análise de dados serão validadas mediante piloto prévio.

Trata-se de uma pesquisa que reconhece a natureza subjetiva das dinâmicas humanas nas organizações, assumindo, portanto, uma epistemologia interpretacionista (VERGARA, 2005), focada na análise dos fenômenos da saúde ocupacional que envolvem gestores, demais servidores e trabalhadores e usuários.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nos atendimentos feitos pelo setor de saúde dos trabalhadores da UFRRJ, observa-se, assim como Delcor et al. (2004), que os processos de desgaste do corpo no ambiente de trabalho são determinados pelo tipo de trabalho e pela forma como o mesmo está organizado.

Sendo assim, mediante o mapeamento das interações entre a competência gerencial e a influência dos gestores na saúde dos trabalhadores da UFRRJ, uma centenária Instituição de Ensino Superior - IFES, a presente pesquisa buscará contribuir para propiciar uma cultura de aprendizagem organizacional e mudança das práticas gerenciais vigentes. Para atingir a proposta em questão, serão caracterizadas as principais formas de adoecimento laboral relacionadas ao ambiente de trabalho, bem como, as práticas vigentes da gestão e os

pressupostos da cultura organizacional da UFRRJ. Informações importantes para subsidiar a elaboração de políticas e ações relativas a saúde do trabalhador na instituição.

Neste contexto, o estudo torna-se relevante pois almeja aprimorar o conhecimento administrativo e subsidiar a capacitação gerencial dos servidores que atuam como gestores, desenvolvendo suas competências, orientando e conduzindo mudanças nas práticas de gestão, inclusive no que tange as relações interpessoais de trabalho e a saúde ocupacional dos mesmos ambientes.

Desta forma, dá-se sequência as diretrizes do MPOG (2014), ou seja que os órgãos da Administração Pública Federal invistam na formação de servidores que exercem atividades gerenciais, em nível estratégico e em nível operacional, para atuarem como mediadores de conflitos, fomentando uma mudança da cultura organizacional no âmbito das relações de trabalho nas organizações públicas brasileiras, criando uma rede de servidores públicos federais – da administração direta, autárquica e fundacional – capazes de atuar com competência profissional pertinente nos processos de relação do trabalho.

4 CONCLUSÕES

Dentro da realidade da UFRRJ contextualiza-se a situação problema a partir dos atendimentos dos trabalhadores da instituição pelos seus profissionais de saúde. Evidencia-se, pela percepção da equipe de saúde do trabalhador, a mútua influência e correlação entre as práticas de gestão de pessoas e cultura organizacional da Instituição com os processos de adoecimento de trabalhadores, destacando-se a importância da mediação de fatores gerenciais e administrativos que permeiam a saúde ocupacional.

Caracterizaram-se então, pressupostos sobre estes processos, que se pretende esclarecer ao final do estudo: práticas gerenciais vigentes (modelos de gestão e atuação de gestores); relações interpessoais nos ambientes de trabalho; diferentes tipos de trabalhadores na mesma instituição (docentes, técnicos administrativos, anistiados, terceirizados); classificação dos tipos e formas de adoecimento laboral; aplicação das exigências administrativas institucionais e nacionais.

Pretende-se, assim, que esta pesquisa caracterize os processos de adoecimento ocupacional dos trabalhadores frente à diversidade de gestores e à cultura organizacional da UFRRJ. Da mesma forma, intenciona-se descrever a influência da competência gerencial na saúde do trabalhador em IFES e disseminar tal conhecimento entre os diversos setores institucionais e nacionais; propor cursos gerenciais de capacitação pertinentes a cada realidade, formas de desenvolvimento de tais competências gerenciais mediante aprendizagem no quotidiano, por exemplo.

De posse de tais conhecimentos sobre as interações dos seus ambientes de trabalho, tanto o trabalhador usual, quanto os gestores poderiam se tornar e assumir postura de sujeitos ativos da realização da aprendizagem organizacional adquiridas ao longo de sua trajetória, estimulando ambientes de trabalho mais saudáveis, onde o bem-estar dos trabalhadores, e melhoria da qualidade de vida no trabalho prevaleçam.

REFERÊNCIAS

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GOMES, O.F.G. et al. Sentidos e Implicações da Gestão universitária para os Gestores Universitários. Revista GUAL, Florianópolis, v. 6, n. 4, p. 234-255, Edição Especial, 2013. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/gual/article/view/1983-

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_______. DAST - Divisão de Atenção à Saúde do Trabalhador. Site Institucional. c2016. Disponível em: <http://institucional.ufrrj.br/dast/>. Acesso em: 03 Maio 2016.

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