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COMUNICAÇÃO ORAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

Osvaldo Monteiro da Costa Filho

omcf@ufpa.br Universidade Federal do Pará (UFPA) 1 INTRODUÇÃO

A questão da qualidade de vida no trabalho está fortemente presente na sociedade contemporânea. A centralidade do tema e suas implicações políticas, econômicas, tecnológicas e culturais para seus distintos e contraditórios atores fundamentam a importância do debate sobre qualidade de vida no trabalho (FERREIRA, 2012, p. 89).

Em razão da globalização da economia e suas consequências para o mundo do trabalho os programas de qualidade de vida se tornaram indispensáveis no (pós) processo de reestruturação produtiva (GIDDENS, 1991, p.56)

Na esfera pública tem se enfatizado o custo humano do trabalho e suas implicações sociais, fisiológicas, psíquicas, físicas e econômicas para o indivíduo.

Segundo Ferreira (2012), a qualidade de vida no trabalho está associada a níveis de satisfação e motivação do trabalhador, mensuráveis por indicadores de bem-estar e mal-estar, geralmente associados às condições de trabalho e suporte organizacional; relações sócio- profissionais; reconhecimento e crescimento profissional; elo entre trabalho e vida social; e cultura organizacional, capaz de promover à saúde no ambiente de trabalho.

O estudo foi realizado nos Campi Avançados da UFPA, em razão das seguintes características: a) peculiaridades regionais que dificultam o acesso aos municípios; b) fragilidade da rede de atenção básica a saúde para operacionalização da Política de Atenção à Saúde e Segurança do Trabalho do Servidor Público Federal – PASS; c) infraestrutura institucional inadequada ao atendimento das demandas dos servidores da UFPA; e d) elevado índice de afastamento de servidores registrado pelo Setor de Pericia Oficial em Saúde por doenças crônicas não transmissíveis e transtornos mentais, no biênio 2014-2015.

O estudo procurou responder as seguintes questões norteadoras: em que medida as ações da PASS abrangem os servidores lotados nos municípios onde a UFPA possui Campi Avançados? Como garantir qualidade de vida no trabalho e atendimento a esses servidores nos eixos de perícia oficial, promoção e prevenção à saúde?

O estudo teve por objetivo investigar o nível de abrangência da PASS, especificamente dos programas de qualidade de vida e saúde no ambiente de trabalho, implantados nos Campi Avançados da UFPA.

Para tanto, especificamente foram analisadas: a) a relação existente entre as ações de qualidade de vida no ambiente de trabalho implantadas nos Campi Avançados e as normas regulamentadoras sobre o assunto e b) se as ações de qualidade de vida no ambiente de trabalho são condizentes com as reais necessidades dos servidores que atuam nos Campi Avançados da UFPA.

2 METODOLOGIA

O estudo fez uma abordagem qualitativa das diversas ações de qualidade de vida implantadas nos Campi Avançados da UFPA, no biênio 2014-2015. Procuramos descrever o modelo de atenção à Qualidade de Vida no Trabalho – QVT, implantado, e suas consequências práticas para o universo dos servidores da Instituição.

A pesquisa foi empírico-analítica tendo por base: a) o levantamento estatístico dos servidores que participaram dos programas de qualidade de vida e saúde no ambiente de trabalho nos Campi Avançados da UFPA; b) análise do material de divulgação utilizado nas ações que integram o modelo de QVT e c) aplicação de questionário junto aos servidores que participaram das ações de qualidade de vida e saúdem no ambiente de trabalho, com perguntas e respostas semiabertas, possibilitando, posteriormente, por método de filtragem, definir o nível de satisfação dos servidores quanto às ações de qualidade de vida no trabalho implantadas nos Campi Avançados da UFPA.

As respostas foram individuais, cabendo ao entrevistado expor sua percepção sobre o modelo de QVT. Foi mensurado o grau de satisfação de parcela da população envolvida no estudo quanto às ações de qualidade de vida no ambiente de trabalho. Foi observado principalmente o aspecto da motivação de cada um dos participantes quanto à adesão aos programas, no sentido de avaliar se a forma de comunicação apresentada e a abordagem de questões relativas à qualidade de vida e saúde eram eficientes no âmbito dos programas dessa natureza nos Campi Avançados da UFPA.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram entrevistados 345 servidores pertencentes aos Campi Avançados de Breves (Ilha do Marajó), Altamira (Sul do estado do Pará) e Tucuruí (Sudeste do estado do Pará), envolvidos nos programas de qualidade de vida e promoção à saúde nos anos de 2014 e 2015.

A tabela 1 traz o perfil dos participantes por natureza da ação de qualidade de vida no ambiente de trabalho nos Campi Avançados. No biênio 2014-2015, a maioria dos servidores optou por participar da ação de promoção à saúde do exame periódico, por tratar-se de processo convocatório e integralmente custeado pela União.

Tabela 1: Perfil dos participantes por natureza da ação de qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Natureza das ações de Qualidade de Vida e Saúde no ambiente de trabalho

Campus de Lotação

%

Altamira Breves Tucuruí

Docente Técnico- Administrativo Docente Técnico- Administrativo Docente Técnico- Administrativo M F M F M F M F M F M F Orientação Biopsicossocial 2 4 4 6 1 1 2 1 2 1 2 6 9%

Avaliação e Orientação Nutricional 2 8 0 14 2 3 6 10 5 8 15 18 26% Orientação em Fonoaudiologia 6 4 10 1 1 0 0 0 1 4 2 1 9%

Orientação em Enfermagem 0 1 2 1 0 0 1 1 6 3 1 2 5%

Mapeamento de Riscos Ambientais 8 12 8 4 2 1 8 8 6 8 2 1 20% Exame Periódico em Saúde 4 6 12 15 2 4 8 10 4 2 16 23 31%

Total 22 35 36 41 8 9 25 30 24 26 38 51

Fonte: Coordenadoria de Vigilância à Saúde do Servidor/ Unidade SIASS/UFPA, Dezembro, 2015.

Quando indagados sobre o conteúdo dos programas de qualidade de vida no ambiente de trabalho, 85% dos entrevistados afirmaram que as ações implantadas são frias e desvinculadas da realidade concreta dos servidores. São iniciativas de caráter geral sugeridas por órgãos de fiscalização, tais como Ministério do Trabalho e Emprego, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, centradas na abordagem de problemas relacionados ao mundo corporativo das empresas, sem a necessária adequação ao serviço público.

Com relação às iniciativas de promoção à saúde existentes nos Campi Avançados, 68% dos entrevistados afirmaram tratar-se de ações que refletem a transição demográfica da população brasileira, centradas no controle da obesidade e sobrepeso, doenças crônicas não transmissíveis e fatores modificáveis (colesterol, triglicérides, glicemia e pressão arterial),

mas que não refletem o perfil de adoecimento dos servidores, já que cada Campus tem características próprias condicionadas pelas especificidades locais e regionais.

Todavia, ao discorrerem sobre o real significado da qualidade de vida no trabalho (figura 1), os entrevistados confirmam o estudo proposto por Ferreira (2012), apontando na origem das representações de vivências de bem-estar e mal-estar no trabalho, fatores relacionados às condições de trabalho e suporte organizacional; organização do trabalho; relações socioprofissionais; reconhecimento e crescimento profissional; elo entre trabalho vida social e cultura organizacional (FERREIRA, 2012, p. 184).

Figura 1 - Nível de satisfação e tendências de bem-estar e mal-estar no ambiente de trabalho segundo as verbalizações dos servidores que atuam nos Campi Avançados da UFPA.

Questões como baixa produtividade, fadiga, desânimo, conflitos interpessoais, stress ocupacional e carência de infraestrutura, presente nas falas dos entrevistados, foram analisadas por um mapa psicométrico proposto por Ferreira (2012), mensurando o nível de satisfação dos servidores que atuam nos Campi Avançados e as tendências de bem-estar e ou mal-estar no ambiente de trabalho.

Em uma escala de 0 a 10 quanto maior a pontuação, maior a probabilidade da predominância de representação de bem-estar no trabalho. Se mantidas e consolidadas no seio organizacional resultam em ambiente salutar de promoção à saúde.

Por outro lado, quanto menor a pontuação, maior a predominância de elementos representativos de mal-estar no trabalho e que se não modificáveis podem resultar em risco de adoecimento para os servidores da UFPA. A cartografia psicométrica dos entrevistados se encontra na figura 2.

Discordo Concordo Totalmente Totalmente ↓ ↓ 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0,0 1 1,9 3 3,9 5 5,9 7 7,9 9 10 - - - - 0-0,9 - - - 1-1,9 - - 2-2,9 - 3-3,9 Tendência Negativa 4-4,9 Tendência Positiva 5-5,9 + 6-6,9 ++ 7-7,9 +++ 8-8,9 ++++ 9-10 Mal-Estar Intenso Mal-Estar Moderado Zona de Transição Bem-Estar Moderado Bem-Estar Intenso

Mal-Estar Dominante Bem-Estar Dominante

Resultado negativo que evidencia a predominância de representação de mal-estar no trabalho. Representações que devem ser transformadas no

ambiente organizacional. RISCO DE ADOECIMENTO Resultado mediano. Indicador de “situação limite”. Coexistência de mal-estar e bem-estar no trabalho. Estado de alerta.

Resultado positivo que evidencia a predominância de representação de bem-estar no trabalho. Representações que devem ser mantidas e consolidadas no ambiente organizacional.

PROMOÇÃO DE SAÚDE

Figura 2 - Nível de satisfação e tendências de bem-estar e mal-estar no ambiente de trabalho dos servidores que atuam nos Campi Avançados da UFPA.

4 CONCLUSÕES

Os programas de qualidade de vida no trabalho e saúde analisados nos Campi de Breves, Altamira e Tucuruí, são semelhantes aos existentes nas corporações do mundo empresarial. Em seu conjunto, retratam exigências das Normas Regulamentadoras – NR’s do Ministério do Trabalho e Emprego, sem a devida adequação à PASS.

Em grande parte são compostos por ações do tipo restauração “corpo e mente”, traduzidas em um cardápio de opções que varia da participação em eventos de integração social (dia das mães, confraternização natalina, dia do servidor público federal, funcionário padrão, etc.), atividades físico-corporais, até suporte psicossocial; porém sem adentrar no âmago das questões que envolvem o mundo do trabalho de nossa época. São iniciativas frias e desvinculadas da realidade concreta do quadro de funcionários que atuam nos Campi Avançados da UFPA.

Necessidades de autoestima, reconhecimento, desenvolvimento sócio profissional e ambiente de trabalho saudável são reivindicações latentes nas verbalizações dos entrevistados e que nunca poderão ser resolvidas por um pacote de soluções pré-elaborado do tipo assistencialista que ratifica o caráter hegemônico do trabalho.

Mesmo que o nível de satisfação dos entrevistados se encontre numa zona de transição que varia entre “situação limite” (com a coexistência simultânea de mal-estar e bem-estar no ambiente de trabalho) e “bem-estar moderado”, alcançando a média de 5,9 pontos, esperamos que o diagnóstico possa subsidiar a implantação de um modelo de atenção a qualidade de vida no trabalho nos moldes das diretrizes da PASS e condizente com as reais necessidades dos servidores da UFPA.

REFERÊNCIAS

DEJOURS, C., 1994. A carga psíquica do trabalho. In: Psicodinâmica do trabalho - FERREIRA, M. C., 2012. Qualidade de vida no trabalho: Uma abordagem centrada no olhar dos trabalhadores. Brasília: Paralelo.

FOUCAULT, M., 1988. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal Ltda. 7ª edição. GIDDENS, A., 1991. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP.

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