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Outro conceito dusseliano que foi introduzido como um dos

componentes chaves na operação histórica, que também foi assumida pelos cehilianos, foi o conceito teo-eclesiológico de cristandade. Este vocábulo liga- se ao modelo histórico de uma Igreja que investe no projeto de oferecer garantias para que se estabelecesse sua marca pela constante presença no cotidiano da vida seja política, seja social e assim assegure a expansão do seu poder na sociedade com a mediação dos instrumentos oficiais do Estado, que nada mais é do que um aparelho de manutenção dos interesses da classe dominante.

Quando Dussel fala em cristandade, se refere à Igreja

institucional, sob as mais variadas formas, que dá legitimação ao sistema de dominação tendendo a se organizar internamente a partir de uma lógica e racionalidade compatível com os ideais de dominação. Assim, para Dussel a constituição da cristandade pode ser entendida como as multi-relações de dominação da Igreja,357 nos eixos:

Figura 13 – Multi-relações de dominação da Igreja

357 HG, p. 173. IGREJA MUNDO ESTADO HISTÓRIA

A cristandade no eixo Igreja-Estado não intenciona conceder qualquer legitimidade ao Estado, mas tão somente lhe assegurar sua

existência por meio de uma inserção entre os grupos de oprimidos e busca organizar-se internamente segundo relações de fraternidade.358 A Igreja se

utiliza do Estado e seu aparato de poder para influenciar a vida, mas no fundo a própria Igreja centralizava em si o poder na conquista do Novo Mundo, despojando os povos autóctones de sua cultura e religiosidade, enfim do seu próprio direito de vida. Isso é a cristandade, não o Cristianismo, para Dussel.

Dussel demonstra o “tingimento” da cristandade sobre o Estado, o mundo e os povos dominados com um diagrama bem ilustrativo, que merece ser aqui apresentado, pois é um elemento fundamental para a compreensão da opressividade da Igreja contra o fiel-pobre e que influenciará a escrita da História.359

Figura 14 – O modelo de cristandade, segundo Dussel.

Para Dussel a cristandade é um modelo. Ele nomeia "cristandade"

à totalidade histórico-concreta, tanto política, ideológica e econômica que assume a Igreja como último fundamento de justificação do sistema, situação em que a Igreja se utiliza dos aparelhamento ou instituições do Estado de modo que elas sejam mediações para que ela possa cumprir seu papel

358 COUTINHO, 1999. 359 HG, p. 174ss.

Estrutura eclesiástica

da Igreja Aparelhos do Estado

Sociedade política Sociedade civil

Povo cristão – Classes dominadas (Leigos-massa) a b c c Totalidade histórico completa Classes dominantes

pastoral. Sendo assim, Dussel defende que seja a Igreja, seja sua cúpula,360 é estabelecida uma certa aliança com as classes dominantes dentro da sociedade política. Portanto, a sua presença sacramental se estabelece por essa aliança e por intemédio do aparelhamento do Estado. Dussel menciona que, durante a etapa dos mártires, a Igreja se localizava na sociedade civil e entre as classes dominadas, não podendo se valer do Estado como uma mediação em sua ação pastoral. Quando o Cristianismo se torna oficial pelo Estado, promove-se a unidade da totalidade concreta e o Estado passa a usar a Igreja como uma mediação para justificar a sua dominação sobre o povo (veja na Figura acima a flexa “c”). A coroação dos reis é feita sob a proteção da Igreja, dando ao ato uma significação divina. Assim, quem poderia se rebelar contra ele? Da parte da Igreja, sua estrutura e cúpula, há o uso do aparelhamento do Estado (flecha “b”) para concretizar sua obra. Por sua vez, o Estado levantará templos, basílicas, catedrais; colocará seus exércitos à disposição da Igreja para combater os hereges; pagará os gastos dos Sínodos e Concícilios da Igreja. Por seu lado, a cúpula da Igreja estabelecerá uma aliança com as classes dominantes. A partir desta posição hegemônica na sociedade política (flecha “a”) considerará o povo como uma ‘massa cristã’ de leigos que precisam de educação e manutenção, como um povo infantilizado que precisa ser dirigido, como objetos de doutrina e catecismo. Dussel entende que a constituição do modelo de cristandade não apenas define o povo como algo passivo, mas também concebe a Igreja em seu clericalato e a cúpula da Igreja, o clero, como identificado com a própria Igreja, como se fosse uma totalidade. A crise deste modelo se instala concomitante com o triunfo da burguesia na Idade Moderna, mas Dussel relembra que o modelo acaba renascendo em outros formatos em nossos dias.

Em contraposição ao modelo da cristandade, Dussel desenha o que seria a Igreja no período primitivo como um modelo de Igreja dos pobres. Veja a seguir:361

360 Considerando seus agentes pastorais hegemônicos, tais como bispos, sacerdotes, monjes,

etc.

Figura 15 – O modelo de Igreja dos pobres

A ação pastoral da Igreja é efetiva diretamente por intermédio (flecha “a”) dos pobres, daqueles cidadãos oprimidos, camponeses, escravos, marginalizados da sociedade e povos periféricos. A sua vivência comunitária se propaga mesmo diante da repressão do aparelhamento do Estado, sem contar com qualquer apoio dele. O que existe, em contraposição a isto, é uma oposição (flecha ”b”) do Estado contra a Igreja. Este estado de oposição proporcionou à Igreja, por intemédio dos pobres, um trabalho de evangelização perfeito, jamais realizado. Sobre isso, afirmou Dussel que

desde os oprimidos, brilhou o evangelho de Jesus de Nazaré como nunca. Foi um evangelizar aos pobres desde os pobres; foi uma Igreja dos pobres. Igreja dos mártires, Igreja oprimida, Igreja dos pobres, Igreja perseguida porque estava comprometida com a esperança utópica dos escravos, camponeses, marginalizados das cidades. Igreja modelo para a América Latina do final do Século XX e começo do Século XXI. Essa história é ‘história magistra vitae’ hoje mais do que nunca.362

O que é possivel deduzir é que, assim como o “pobre” se constitui numa categoria interpretativa, portanto, numa matriz hermenêutica. “Cristandade” para Dussel também se constitui numa categoria (em posição dialética) que contribui para fazer compreensível uma conversão profunda da

Igreja: da cristandade dominadora, cultura mais que religião, à opção profética

362 HG, p. 173.

A Igreja em sua totalidade, com sua cúpula

Aparelhos do Estado Sociedade política Sociedade civil b a Totalidade histórico completa Classes dominadas

pelo pobres.363

Desta forma, esse conceito de cristandade em Dussel é um componente para demonstrar como foi fabricada a vida durante a colonização- opressão suprimindo as mais variadas formas expressivas autóctones promovendo uma desorganização da vida do ameríndio em sua cultura e religiosidade. Assim

a ‘concepção da vida’ hispânica destrói os fundamentos últimos da ‘cosmovisão índia’. As elites índias – tanto astecas, como incas, como as de todos os povos conquistados pelos espanhóis – são convertidas à ‘visão hispânica do mundo’, ou relegadas a um posto secundário da sociedade, isto é, deixam de ser elites para transformar-se em elementos marginais.364

Dussel entende que a consciência índia não está guarnecida das instituições normais de modo a desenvolver seu próprio “Weltanschauung”365 de modo a ter produzido a sua morte como povo, nação, e mesmo como cultura.366 Este empreendimento vai ser desenvolvido pelas missões e as finalidades propriamente religiosas ou ‘missionárias’ são então concebidos

como uma parte integrante e necessária numa empresa em expansão – e, portanto, essencialmente mesclados com as finalidades políticas de um Reino Medieval Cristão –, ou livres de toda mescla ou ambigüidade e como fim em si mesmo, não de um reino em expansão, senão da própria Igreja Católica.367 Era

preciso “converter” o índio. Azzi ilustra bem o que significava essa conversão:

‘Converter’ significava basicamente tirar os índios de suas crenças errôneas e reconduzi-los à verdade católica. Não se tratava, portanto, de um diálogo, mas de um monólogo religioso. A teologia da conversão partia do princípio da exclusividade da fé católica, considerada como única verdadeira, e da necessidade de que todos os povos se submetessem à sua aceitação.368

363 Dussel em entrevista a Armando Lampe (LAMPE, 1995, p. 24) em 30 de abril de 1995.

Aspas do txto original.

364 HIP, p. 86.

365 Weltanschauung significa a apreensão do mundo ou da natureza, é a visão de mundo de

uma comunidade.

366 HIP, p. 86.

367 HIP, p. 50. As aspas são de Dussel. 368 AZZI, 1987, p. 73. Aspas do autor.

Assim, para Dussel, a história das missões na América Hispânica acaba se constituindo uma permanente crise entre um Estado que inclui as

finalidades da Igreja entre os seus ‘meios’ de expansão.369 Ele menciona que Bartolomé de Las Casas vai ser o primeiro a alertar a Igreja a substituir a evangelização pelas armas 370 pela evangelização pacífica, isto é, os missionários devem se dirigir aos índios em vez de ir a eles com as armas, que no fim dão apoio aos objetivos políticos. Dussel lembra também que foram os jesuítas que mostrariam sem equívocos um sentido exclusivamente missionário.371

Lampe, interpretando Dussel, entende que

o conceito de cristandade põe sob o tapete o tão difícil diálogo entre Teologia e História. É principalmente um conceito teológico, porque está baseado sobre a noção de como deve ser a verdadeira Igreja, que supostamente não pode cair na tentação do poder. Entre em contradição com as exigências da nova História [a ‘Outra’ História dusseliana para Lampe], de não isolar nenhum grupo eclesial do contexto social, e, portanto, tão pouco a chamada Igreja popular ficaria fora do jogo do poder. Falar da morte da cristandade sugere uma visão otimista de uma história de contínuo progresso. da evolução de uma Igreja aliada à classe dominante até chegar a ser uma Igreja comprometida exclusivamente com a causa das classes subalternas.372

Tanto o “pobre”, como o conceito da “cristandade” são categorias

hermenêuticas que operam como princípios de interpretação.373 Se o pobre é a matriz hermenêutica da “outra” História da libertação, a cristandade, então, se torna matriz hermenêutica da História oficial, mesmo porque essa matriz acaba sendo a impulsora da construção da história do cotidiano da vida na América Latina nos seus mais variados segmentos, por isso se torna um conceito de destaque no estudo da historiografia dusseliana, para quem será necessária

369 HIP, p. 50. As aspas são de Dussel.

370 Veja o conceito “evangelização guerreira” in: HOORNAERT, 1991, p. 31ss. 371 HIP, p. 50.

372 LAMPE, 1995, p. 67. O texto entre colchetes é meu. 373 HIAL, p. 6.

como que uma “morte” da Igreja374 sob este modelo. E isso seria mobilizado quando a igreja se comprometesse com os pobres, fazendo surgir assim um novo modelo eclesiológico: a Igreja popular.375 Assim, essa “nova cristandade” precisaria também de uma nova teologia, não acadêmica, mas sim militante; não diretamente política e sim dualista, em matéria de temporal-espiritual,

Estado-igreja como sociedades perfeitas cada uma em seu nível e não conflitantes.376 Para a construção de uma “outra” História, será preciso abandonar a matriz da cristandade para que seja adotada a matriz do “pobre”, sendo duas matrizes dialéticas na historiografia dusseliana na reinterpretação ou reconstrução da História da Igreja na América Latina.

O conceito de cristandade também introduziu uma importante alteração na trajetória na definição do conceito de Igreja de modo a promover a superação de sua ênfase institucional e clerical. Isso ocorreu por uma proposta de Eduardo Hoornaert durante o XX Simpósio da CEHILA377 para que houvesse a alteração da nomenclatura “História da Igreja na América Latina e Caribe” para “História do Cristianismo na América Latina e Caribe”, embora com isso não se quisesse olvidar o papel histórico da Igreja e seu embate no comprometimento com o poder colonial. É bom lembrar aqui, para registro histórico, que, embora a proposta para se utilizar a expressão “História do Cristianismo” tenha vindo de Hoornaert, o primeiro a mencionar esta expressão no ambiente de CEHILA foi o protestante Hans Jürgen Prien durante a I Conferência Geral de CEHILA.378 Só que no caso de Prien a nomenclatura deveria ser usada para indicar a produção de uma História ecumênica das

374 Sobre isso veja também o texto de RICHARD, 1982. Dussel faz referência sobre a influência

recebida deste texto de Richard em sua entrevista a Armando Lampe (LAMPE, 1995, p. 24 e 25).

375 COUTINHO, 1999. 376 TLPD, p.48.

377 XX Simpósio ocorrido entre 5 a 8 de outubro de 1993, na cidade de Assunção, Paraguai sob

o tema “Vinte anos de produção historiográfica da CEHILA: balanço crítico”.

Igrejas da América Latina.379

A PERIODIZAÇÃO DA “OUTRA” HISTÓRIA

380

O projeto histórico que propôs Dussel incluía a discussão de diversos temas fundamentais, tais como,

um conjunto de hipóteses, uma periodização, seus conteúdos essenciais, para abrir uma discussão a respeito do método que deva ser utilizado numa História da Igreja na América Latina. Essa História completa deve ser obra de equipes de historiadores, e por isso se tem trabalhado nestes anos para constituir uma equipe que possa escrever esta História Geral.381

Ao entender que a História que seria escrita sobre a Igreja na América Latina deveria tomar um rumo diferente ao da História escrita até aquele tempo, Dussel entendia que seria necessário partir de outras hipóteses, isso levaria à elaboração de uma periodização outra, além de outra equipe que pudesse seguir os mesmos ideias. Assim, entre os critérios a partir dos quais seria organizada a investigação e a escrita dessa “outra” História da Igreja temos a periodização e de fato, ao se operar a História não há como deixar de lado o tempo, as datas. E quando temos a linha do tempo diante de nós é possivel dividi-la em partes numa sucessão linear, daí temos a periodização. A primeira data a ser destacada na historiografia dusseliana é 1492382 que marca uma nova era na História Mundial e na História da Igreja, especialmente pela sua visão histórico-hermenêutica não eurocêntrica, de onde os povos ameríndios tiveram o seu lugar próprio.

379 Para conhecer toda argumentação de Prien veja PRIEN, Hans Jürgen. Problemas e

metodologia para uma História de Síntese da Igreja na América Latina. In: CEHILA, 1986, p. 75-92.

380 Sobre a periodização dusseliana, ver especialmente: CEHILA. Para una historia de la Iglesia

en América Latina, I Encuentro de CEHILA (1973), Quito, Barcelona: Nova Terra, 1975; CEHILA. Para una historia de la evangelización en América Latina, III Encuentro de CEHILA, Santo Domingo, 1975. Barcelona: Nova Terra, 1977; e a introdução de HG, pgs; 80-85.

381 HG, p. 80, 81. Veja também Hip, p. 12.

382 Mais à frente neste capítulo teremos uma parte dedicada especialmente para 1492,

Dussel lembra que

é sabido que toda periodização tem algo de ad placitum (artificial, segundo critérios diversos). Todavia, é necessario periodizar porque é impossivel uma descrição histórica sem ‘figuras’ (Gestalten, diria Hegel) ou momentos que nos permitam pensar no sentido dos acontecimentos demarcados por certos limites, para que se possa prosseguir na tarefa da descrição e expicação histórica. A periodização indica uma certa opção, certos critérios [...].383

Diferentemente dessa opção, o cehiliano Suess traz um outro procedimento, por acreditar que o trabalho historiográfico não começa com a periodização do tempo a ser estudado. Ele diz

O trabalho historiográfico não começa com a periodização do tempo a ser estudado, mas com a escolha de opções de fundo, o estudo das fontes e dos projetos históricos dos respectivos povos. Periodizações previamente estabelecidas são como óculos comprados antes da avaliação da miopia. As periodizações históricas e a compra de óculos exigem um prévio confronto com objetos reais. A periodização a ‘posteriori’ não está em contradição com opções de base e lugares preferenciais previamente estabelecidos.384

Mas tanto Dussel, quanto CEHILA, seguiram adiante buscando as

suas opções e critérios para estabelecer o que ficou conhecido como periodização da “História Geral”. Nesse percurso, em termos gerais, a periodização da “História Geral” teve a sua formulação iniciada por Dussel pela época do Concílio Vaticano II385 e depois melhor definida em 1972 na obra “Historia de la Iglesia en América Latina – coloniaje y liberación (1492-1972)”. Com mais detalhes, foi numa viagem a Paris que Dussel rascunhou pela primeira vez a sua periodização que tem sido modificada em toda sua vida. Em Münster, em seguida, começou a escrever o livro “Hipótesis“ com esta periodização. Os estudos com Robert Richard e Pierre Chaunu na Sorbonne foram úteis para isso. A primeira periodização devia ater-se a certos momentos já conhecidos, mas como era nova a hipótese interpretativa, haveria de conter modificações internas, tanto que, quando ele escreveu o primeiro volume da “História Geral”, indicava que a periodizacão de “Hipótesis” continha varias

383 HG, p. 80. Destaques e parêntesis de Dussel.

384 SUESS Paulo. A história dos Outros escrita por nós – apontamentos para uma autocrítica da

historiografia do cristianismo na América Latina. In: Boletim CEHILA, n. 47-48, encarte, p. 12, out.1993-mar. 1994.

limitações, tendo, nessa ocasião, citado três delas: (1) tratava apenas da América hispânica, sem incluir o Brasil e até mesmo de modo mais suficiente o Caribe; (2) não se levou em conta o Protestantismo; e, (3) periodização do Século XIX e XX era provisória e exigia melhorias.386

Voltando um pouco no tempo para poder acrescentar um critério fundamental no estabelecimento de sua periodização, será preciso também lembrar que, em 1963, sob a influência de Juan Luis Segundo e de seus estudos de Hegel e Kierkegaard no campo da Teologia e Filosofia, Dussel começou a manusear o conceito de cristandade, que já mencionei neste capítulo mesmo, e que, para Dussel, é uma categoria dialética em oposição à categoria do “pobre”, portanto, duas matrizes epistêmicas. O conceito de cristandade foi muito útil para confrontar uma Igreja latino-americana que, em seu conjunto, era uma Igreja sacramental, onde sua própria missão interna não era possível se realizar, além disso, a sua vida se inspirava por diretrizes anteriores ao Vaticano II, não tendo nenhuma visão histórica de si mesma, situações incompatíveis para uma Igreja européia e oriental que tem passado por contínua reinterpretações de sua história desde o Século I. É dessa maneira que a categoria de Cristandade contribuiu muito na historiografia de Dussel-CEHILA para tornar compreensível uma conversão profunda da Igreja: da cristandade dominadora, cultura mais do que religião, à opção profética pelos pobres. Antes de prosseguir, creio ser necessário ainda ilustrar com o seguinte diagrama as camadas constituintes da vida e da história na América Latina que acabaram influenciando a elaboração da periodização Dussel- CEHILA:

Figura 16 – Camadas constituintes da vida e história da América Latina

386 HG, p. 81.

Cristandade

cultura / relações de poder religião - espiritualidade

Assim, diferindo de outras propostas feitas pelos cientistas sociais para a América Latina, em geral construídas a partir da chave do colonialismo e da cristandade, para utilizarmos esta sua categoria historiográfica, o tema da periodização era fundamental para Dussel, pois a via como grande instrumento da História que se queria fazer, mesmo porque ao escolher o pobre como o

‘critério interpretativo’,387 tanto Dussel, quanto CEHILA indicaram o lugar

hermenêutico determinante para a periodização da História do Cristianismo, a escolha das fontes e o enfoque da perspectiva.388

Por isso mesmo, Dussel prosseguiu mais em sua trajetória na busca de um consenso sobre a periodização de seu empreendimento histórico. No mesmo ano que havia sido publicada “Hipótesis”, Dussel, entre os dias 26 a 29 de maio de 1972, se reuniu em Montevidéu com Juan Villegas, Herzan Mejía Methol Ferré e um servidor, e se propôs três épocas. Mas foi em 1973, por ocasião do encontro constitutivo de CEHILA, em Quito, diante de historiadores de todas as regiões latino-americanas que o assunto pôde ser discutido de modo a se chegar a uma conclusão mais definida para a elaboração da “História Geral”, ainda que, nesta ocasião, cada um dos

participantes cria ser difícil chegar a um acordo sobre as questões particulares, já que cada visão era preponderantemente nacional. 389 Nessa ocasião puderam apresentar suas colocações diversos historiadores, tais como Eduardo Hoornaert (Brasil); Frank Moya Pons (Área do Caribe); Francisco Miranda (México); Roberto Tinés (Área Colombiano-Venezuelana); Josep Barnadas (Área Andina-Incaica).390

Como foi possivel ver, o estabelecimento da periodização dusseliana ficou elaborado e mais definido em seus contornos desde a sua apresentação na fundação de CEHILA, a qual depois de discussões ficou proposta a condução da História Geral da Igreja na América Latina a partir da

387 HG, p. 70. Áspas de Dussel.

388 SUESS, 1995, p. 89. Veja também HG, p. 85. 389 HG, p. 81.

divisão em três grandes épocas:391

Épocas/Períodos Descrição Datas

Cristandade Americana Época colonial 1492-1808

Primeiro A evangelização