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Mi intención primitiva, cuando escrebí mi ‘Hipótesis’ (1964) que se publicó em 1967 era, en equipo, escribir una Historia de la Iglesia. 300

CEHILA pretende também, sob a inspiração de Enrique Dussel, produzir uma obra de História que ao mesmo tempo seja uma obra teológica.301

Dussel percebeu que lá pelo começo da década de 60 era impossível estudar a História da Igreja na América Latina em qualquer instituto de ensino, exceto em Roma ou em alguns poucos lugares, que contavam com

299 Para uma visão da História de CEHILA veja ANEXO III e os textos neste capítulo citados. O

ANEXO IV, demonstra que CEHILA tem se adaptado ao mundo contemporâneo do Planejamento Estratégico ao desenvolver sua declaração de Missão, Visão, Principios e Objetivos. O ANEXO V, ainda que longo, foi incluído pois é fundamental para que o leitor possa ter uma visão dos atuais projetos de CEHILA a partir de sua Asembléia Geral, realizada em Buenos Aires, entre os dias 29 a 31 de julho de 2006. Assim, o leitor também poderá fazer uma comparação do ideário de origem de CEHILA com Dussel e o ideário presente, sem Dussel. O ANEXO VI (Reunião do Grupo de Trabalho do Projeto de História Cultural de CEHILA em Lima, Peru, entre nos dias 22 e 23 de novembro de 2005), também um pouco longo, foi inserido para se ter uma idéia dos atuais caminhos de CEHILA com pesquisas no campo da História Cultural.

300 Dussel em entrevista a Armando Lampe, veja LAMPE, 1995, p. 27. 301 LAMPE, 1995, p. 66.

até alguma bibliografia, mas sem uma exposição de conjunto que pudesse ser útil para os estudantes.302 Esse era mais um dos sentimentos impulsores para Dussel, que, ao escrever “Hipótesis”, tinha a intenção de elaborar uma História da Igreja em equipe303 que pudesse ser útil ao historiador erudito, mas também ao homem contemporâneo, ao cristão comprometido por sua fé na Igreja, leigo,

estudante, professor, camponês, obreiro, presbíteros, pastores, religiosos e a todo aquele que se interrogue sobre a Igreja na América Latina, a todo o que queira se informar sobre a vida da Igreja.304 Assim, depois de alguns anos de intensa atividade dentro do Instituto Pastoral Latino Americano (IPLA) e em suas viagens, palestras, conferências e cursos, Dussel vai desenvolvendo e aperfeiçoando as idéias matriciais lançadas em “Hipótesis” de modo que, conforme já mencionei no capítulo anterior, em 1972 é publicada em Barcelona305 a primeira tentativa de síntese de sua História da Igreja na América Latina, intitulada “História de la Iglesia em América Latina – coloniaje y liberación (1492-1972)”. Assim, começa a surgir o desejo de concretizar a formação de uma equipe para escrever a História da Igreja na América Latina. O primeiro passo efetivo para isso se dá quando ele alimenta o desejo de entrar em contato com historiadores da Igreja na América Latina e formar dentro do Consejo Episcopal Latinoamericano (CELAM) uma Comissão para a História da Igreja na América Latina.306

Para isso, ele se ocupou em visitar todos os países latino- americanos, inclusive Caribe e América Central, para entrar em contato com os mais conhecidos historiadores no continente, propondo a criação de uma equipe de historiadores para este empreendimento. A antiga geração não se interessou pela tarefa, por entender que não seria possivel concretizá-la. Isso levou Dussel a começar pelos historiadores mais jovens. Recebendo ajuda no começo de Methol Ferré, pensaram os dois em organizar uma equipe no

302 Ibid., p. 66. 303 Ibid., p. 66. 304 HG, p. 11.

305 Veja também no capítulo anterior uma descrição das diversas edições desta obra e suas

alterações.

Instituto de Estúdios Políticos para América Latina (IEPAL) de Montevidéu e no Centro Intercultural de Documentación (CIDOC), até que finalmente, no IPLA, Jaime Diaz, Secretário Geral de uma Comissão de Estudos de História da Igreja na América Latina, em CELAM, se propôs em ajudar e aí Dussel acabou sendo nomeado Presidente da dita Comissão, pelo monsenhor Eduardo Pironio.307

Assim, o sonho de Dussel se concretiza por meio da criação em

Quito, Equador, 3 em janeiro de 1973, na Sala de reuniões da Conferência Episcopal Equatoriana,308 da equipe e fundação da Comisión para Estudios de la Historia de la Iglesia en América Latina (CEHILA). Entre os dias 3 a 7 de janeiro de 1973 ocorreu, então, o I Encontro da CEHILA, que no início tinha ligações de dependência com CELAM. Mas logo Dussel e sua equipe tiveram de abandonar a CELAM por imposição do Monsenhor López Trujillo, eleito para a CELAM. CEHILA se constituiu numa entidade eclesial, porém não eclesiástica, conforme Dussel mesmo insistia,309 com sua autonomia e movimento preservada a partir disso. Mesmo sem o apoio de CELAM, Dussel conseguiu que amigos europeus e norte-americanos apoiassem economicamente o trabalho. De tão importante seu papel no empreendimento, que acabou sendo mantido como presidente de CEHILA por durante vinte anos seguidos, desde a sua origem até 1993. Mesmo sem recursos suficientes, Dussel-CEHILA puderam realizar seus projetos, organizando cursos, seminários, assembléias em todos os países do continente latino-americano, publicando livros individualmente ou em co-edição, tudo feito gratuitamente, a partir do compromisso tríplice de um “cehiliano”: (1) com a Igreja; (2) com a ciência histórica; (3) e com as comunidades cristãs.310

Como é possivel observar, o seu projeto de vida e trabalho não foi

construído sem dificuldades, pois além dessa perseguição no início da CEHILA, ele ainda estava por passar por momentos mais traumáticos, uma vez

307 Em entrevista a Armando Lampe, veja LAMPE, 1995, p. 28, 29. 308 DCCL, p. 91.

309 DCCL, p. 29. 310 DCCL, p. 29.

que suas idéias estavam se destacando e sua liderança se evidenciado, não apenas no âmbito da Igreja, mas entre mesmo os intelectuais da época na América Latina, se transformando em meados da década de 70 em alvo de perseguição, tendo sua casa sido detonada por bombas, conforme já mencionei em sua biografia no capítulo 1, seguindo para seu exílio no México. Essa proximidade com a rica história do México forneceu a Dussel a

experiência que lhe faltava para mergulhar a fundo no mistério da América Latina. Também a liberdade no campo acadêmico mexicano possibilitou a ele, como cristão, ter um debate com a tradição literal e particularmente marxista na América Latina.311

CEHILA foi organizada por católicos, mas para ser autônoma, sem nenhum vínculo com a hierarquia da Igreja Católica, ainda que em sua primeira reunião alguns fundadores fossem do clero. Entre os objetivos da organizacão da CEHILA foi escrever uma História não institucional e não

corporativista da Igreja. Na primeira reunião, o projeto delineado era

ambicioso – escrever uma História Geral da Igreja na América Latina, concebida no início para ser em 12 volumes. Este projeto segundo Londoño312 teria as seguintes características:

o projeto supunha haver pela primeira vez na América um grande projeto continental;

sustentado numa divisão em oito áreas regionais (México, Caribe, América Central, Colômbia-Venezuela, Andino-Incaica, Cone Sul, Brasil e Hispanos nos Estados Unidos) que superassem os limites nacionais;

a obra seria organizada em torno de uma periodização comum, dando um sentido histórico dos fatos considerados;

o projeto deveria ser construído dentro de uma proposta historiográfica e teológica que fazia dos pobres o centro do Cristianismo – que seria a matriz epistêmica para a seleção e consulta das fontes, para trazer novas perguntas às fontes e um novo temário para a História.

Na primeira reunião, quando da fundação da CEHILA, o grupo

311 LONDOÑO, 1995, p. 41 e 42. 312 LONDOÑO, 1995c, p. 194.

imaginou que em 5 anos o empreendimento estaria concluído, embora Dussel pessoalmente pensava num tempo maior, cerca de 10 anos. Nunca, tanto ele, como sua equipe imaginou que levaria mais de 20 anos313 e que ainda, dos doze volumes projetados, dois tomos estejam faltando.314 Dussel pensava ainda em outro empreendimento, que seria escrever a História da Igreja no terceiro Mundo, esperando avançar a redação de mais dois tomos incluindo a África e a Ásia. O ideal mesmo era que a História Igreja pudesse ser construída em termos universais, em termos planetários, na linguagem de Dussel, não pela visão eurocêntrica, mas esta tarefa tem ele deixado na mão de CEHILA, especialmente nas mãos de Eduardo Hoornaert. Neste sentido ele acreditava que no Século XXI surgirá História da Igreja sem a visão eurocêntrica, começando a mostrar uma outra visão da Igreja desde a sua origem.315

O projeto original previa a produção dos seguintes volumes:

Tomo Assunto Publicado? Obs.

I Introdução Geral à História da Igreja na América Latina (em dois volumes)

Sim – 1983 Tomo I/1 por Enrique Dussel Editorial Sígueme, Salamanca Falta o tomo I/2

II Brasil Sim –

1977/1980

Tomo II/1 - 1ª Época: 1500/1808

Tomo II/2 - 2ª Época: Século XIX –Editora Vozes

III Brasil Não 3ª Época – Século XX

IV Caribe Sim – 1993 Editorial Sígueme, Salamanca

V México Sim – 1984 Editorial Sígueme, Salamanca

VI América Central Sim – 1985 Editorial Sígueme, Salamanca VII Colombia & Venezuela Sim – 1981 Editorial Sígueme, Salamanca VIII Área andina (Perú, Bolívia &

Equador) Sim – 1987 Editorial Sígueme, Salamanca IX Cone Sul (Argentina, Paraguai,

Uruguai & Chile) Sim – 1993 Editorial Sígueme, Salamanca X Latinoamericanos nos Estados

Unidos Sim – 1983 Fronteras: A History of the Latin American Church in the USA, since 1953, publicado pela Editora do MACC de San Antonio, Texas, EUA

XI Filipinas, Moçambique e Angola Não publicado

Quadro 11 – Coleção de “História Geral”

Ainda destacando destalhes de sua origem, é preciso lembrar que

313 Em entrevista a Armando Lampe, veja LAMPE, 1995, p. 26.

314 A segunda parte da Introdução Geral e o terceiro volume da História da Igreja no Brasil. 315 Em entrevista a Armando Lampe, veja LAMPE, 1995, p. 27 e 28.

Dussel-CEHILA não tinham um empreendimento diletantista de apenas cultivar a História como ciência, era mais do que isso, pois o desejo era influenciar a Igreja como totalidade, seja na sua estrutura hierárquica, tais como em seu episcopado, sacerdócio, mas também em sua esfera religiosa comunitária, para que a Igreja pudesse ter uma consciência histórica de seu próprio processo. Isto representava muito trabalho dentro das instituições eclesiais, mas também uma contínua luta para não perder espaços que a visão conservadora da Igreja desejava que fosse conquistado. É preciso notar que diversas conquistas foram obtidas desde o início, tais como a influência nos documentos finais de Puebla e São Domingos, que se tornaram os primeiros documentos eclesiásticos, segundo Dussel, que se iniciam com considerações históricas, diferentes até de documentos da Igreja primitiva e os concílios provinciais e ecumênicos de toda a Igreja. Nisso houve a colaboração de membros de CEHILA.

Além disso, segundo Dussel, houve avanço numa visão mais

institucional, sempre cultural e social, para uma visão interpretativa mais alinhada com a História das Mentalidades e dos problemas mais especíicos, nacionais, regionais, locais. De uma visão católica, para uma visão mais ecumênica.316 Para Londoño, temos nesse empreendimento o surgimento na América de um grande projeto continental sustentado numa divisão em oito

áreas regionais317 que superassem os limites nacionais, organizadas em torno

de uma periodização geral comum que devia outorgar-lhe um sentido histórico dos fatos considerados. Londoño também lembra que outro destaque sobre

essa obra foi o seu enfoque teórico-metodológico que parte da categoria do pobre como seu referencial de recorte historiográfico.318 Neste caso, o pobre é entendido não apenas no seu sentido técnico-teológico, mas se constitui um lugar tanto teológico quanto histórico. Este será o eixo hermenêutico que gerenciará a “História Geral” e o trabalho de Dussel-CEHILA na construção da

316 Ibid., p. 29 e 30.

317 Hoje as áreas de CEHILA são: Área Andina, Área Brasil, Área Centroamérica, Área Cono

Sur, Área Colombia, Área Protestante, Área Hispanos en USA, Área México. Veja <http://www.cehila.org/Asamblea_General.htm>, acesso em: 15/04/2007.

“outra” História do Cristianismo à luz do Outro – esquecido, oprimido, rejeitado.

Mais um detalhe importante quando se trata de fazer uma

radiografia historiográfica de um movimento operador da História é procurar saber como foi abordada a questão da divisão do conteúdo histórico ao se tratar de regiões distintas ao longo de um determinado tempo. Assim, quando CEHILA foi fundada em 1973 ficou decidido que a exposição da História da Igreja seria feita por regiões, como de fato tem se concretizado pelos volumes publicados, ficando para o futuro publicar uma História da Igreja Latino- Americana por períodos. Um empreendimento difícil, mas para Dussel, deve ser realizado. Há ainda outro projeto que Dussel lembra que precisa ser realizado, que é a construção da História das comunidades dos religiosos e das religiosas desde o Século XVI de todo o continente. Mas mais ainda, no sonho do fundador de CEHILA, seria preciso que a metodologia fosse transformada a fundo, para se chegar a um último projeto que era o de construir uma História das religiões ou da religiosidade na América Latina, desde os tempos remotos dos povos ameríndios até o presente, envolvendo a Igreja Católica, os protestantes e até mesmo as demais religiões do continente.319 Este intento já tem sido discutido por Coutinho em seu artigo em 1999 para demonstrar que, quando CEHILA estava completando seus 25 anos, já era possivel ver o trânsito de seu trabalho da História da Igreja à história do fenômeno religioso na América Latina.320 Mais à frente vou demonstrar esse movimento de preocupação temática na História dussel-cehiliana.

Ao longo de sua vida CEHILA concretizou inúmeras realizações,

319 Veja em MIGNOLO, 2003, p. 56, a diferença entre os ameríndios e o negros. Ele indica que

os ameríndios eram considerados vassalos do rei e servos de Deus; como tal não poderiam, teoricamente, ser escravizados. Deveriam ser instruídos e convertidos ao cristianismo. Os escravos africanos não pertenciam a mesma categoria: faziam parte do comércio atlântico e já estavam assimilados no imaginário cristão como descendentes de Ham, desprezado filho de Noé. Ele vai mais longe, indicando também que os negros não participavam da questão teológica sobre o grau de essência humana que Las Casas e Vitória estavam formulando em relação aos povos indígenas. Os africanos pertenciam à escala mais baixa do imaginário cristão. Seria preciso ouvir a reação que Dussel teria a esta última colocação de Mignolo, especialmente que para ele Las Casas é um herói histórico da libertação.

tais como:321

Uma História geral da Igreja latino-americana em maciços volumes, até mesmo a primeira História inclusiva da igreja hispânica nos Estados Unidos.

Mini-Histórias da igreja em países e regiões; Histórias populares em várias regiões; Histórias de denominações protestantes; Duas conferências gerais de História;322

25 Simpósios numa grande variedade de temas, inclusive mulheres, trabalhadores urbanos, pessoas indígenas, camponeses, moradores de regiões fronteiriças e imigrantes;323

CEHILA encorajou outros historiadores a desenvolver novas perspectivas da História das Igrejas, focalizando áreas e grupos negligenciados.

OS DEZ CRITÉRIOS DA HISTÓRIA DUSSEL-CEHILIANA