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2. Introdução à liderança

2.1. Conceito de Liderança

Para alguns autores, como é o caso de Senge (2000), os indivíduos confundem a definição de liderança com a de gerência. Neste contexto Senge (2000), afirma que as pessoas vêem um líder como um gerente de elevado nível e quando falam em desenvolver líderes, querem dizer o desenvolvimento de futuros executivos.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 45 Um dos primeiros estudos sobre liderança pensava-se que o líder detinha determinados traços de personalidade e carácter que o diferenciavam das pessoas comuns a chamada teoria dos traços, onde se destacavam as qualidades pessoais do líder, a partir das quais são nomeados e reconhecidos como heróis ou divindades.

Em conformidade com o que atrás foi referido, chegou-se a referenciar a existência de trinta e quatro traços fundamentais do carisma de liderança entre os quais se destacam: sociabilidade e habilidades interpessoais, autoconfiança, ascendência e domínio, participação nas trocas sociais, fluência verbal, equilíbrio emocional e controle, busca de responsabilidade (Bergamini, 1994). Contudo, estes aspectos referenciados não conseguiram explicar a existência de indivíduos fora deste perfil de líder. Deste modo, Stoner (1985) refere que:

embora as medidas de personalidade possam ficar um dia mais exactas e certos traços possam de facto ser associados à capacidade de liderança, o que sabemos até agora parece mostrar que as pessoas que as pessoas que se tornam líderes não possuem qualquer conjunto de traços que as diferencie claramente das que não se tornam líderes (p. 320).

De facto, os primeiros registos históricos de estudos sobre a temática da liderança, tais como líder e seus seguidores, remontam aos egípcios no longínquo ano 2300 AC. Neste escrito que é atribuído a Ptahhotep, a liderança é identificada como um fenómeno de índole transcendental ao próprio Homem, onde são evidenciadas as excepcionais qualidades do líder. Neste contexto, Lichtheim (1973) apud Bass (1990, p. 3) refere que de acordo com Ptahhotep, havia três qualidades atribuídas ao faraó: “o utterness competente nesta boca, a percepção está no coração, e a lingua é o santuário de justiça”.

2.1.1. Definição de liderança.

Quando se fala em liderança, esta é sistematicamente associada a poder, autoridade e influência, evocando inúmeros pensamentos que têm em consideração as causas, os sintomas ou efeitos de liderança. De facto, o poder na sua generalidade, a capacidade do indivíduo para mudar emocionalmente o meio ambiente, ou seja a capacidade de alterar intencionalmente juízos, atitudes e comportamento de outro indivíduo, havendo algum controle sobre os resultados e acções dos liderados.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 46 Por outro lado, a influência é a crença que o liderado ou indivíduo tem em estar submetido as forças externas ou internas que dirigem o seu pensamento, modelam-lhe os sentimentos e comandam os seus actos ou comportamentos. Deste modo a liderança contém três conceitos, definindo um papel de especialização dentro do grupo, processo que se verifica em contexto social e partilhado pelos membros do grupo. Logo qualquer membro do grupo ou da instituição poderá liderar em momentos ou matérias definidas.

Na realidade existem inúmeras definições sobre liderança, contudo neste trabalho serão apenas mencionadas aquelas julgámos mais relevantes. Assim, para Kouzes e Posner (1997), liderança é arte de mobilizar outros para que estes queiram lutar por aspirações compartilhadas. Estes autores afirmam que é fácil levar as pessoas a fazer uma tarefa, pois a partir de incentivos ou castigos, estes conseguirão os seus objectivos. O que se torna difícil, é mobilizar os liderados de forma voluntária a realizarem as suas acções atingindo altos níveis de desempenho e rendimento.

Para Crosby (1999), a liderança é entendida como uma extensão das convicções do líder, uma competência central e essencialmente individual, intrínseco a qualquer líder. O autor argumenta, que o líder deve ter sempre em mente uma dimensão que abranja: orçamentos e assuntos financeiros, a qualidade do produto, os serviços prestados, o atendimento aos clientes, aos colegas de trabalho, aos superiores e aos fornecedores, tendo sempre como objectivo que a liderança parte de dentro e, das relações que o líder cultiva.

Também Chiavenato (2000) faz referência ao conceito de liderança, como a capacidade de influência interpessoal exercida e dirigida por um processo de comunicação humana, tendo em vista objectivos específicos, e acontece em contexto social e grupos sociais. Este autor define liderança em torno de duas dimensões: a capacidade de motivar as pessoas e fazer aquilo que deve ser feito; e a tendência dos liderados seguirem aqueles que julgam satisfazer os seus próprios objectivos pessoais e necessidades.

De acordo com Kolasa (1978), o líder pode-se definir como aquele que se destaca em influenciar as pessoas na realização de objectivos. Afirma que, apenas serão considerados líderes, aqueles cuja influência no grupo é relevante e significativa, pois cada elemento do grupo exerce relevante e significativa influência, assim como cada elemento do grupo exerce sobre os demais elementos do mesmo grupo.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 47 A liderança é encarnada, portanto em pessoas diferentes que não “nascem” líderes, mas actuam diferentemente em situações e contextos distintos. Nem uma coisa nem outra definem cabalmente um líder.

Actualmente, a liderança não é entendida como uma atribuição individual ou ambiental. A liderança é entendida como uma função, um atributo e uma propriedade que reside no grupo e que dinamiza a organização.

De acordo comLorenzo Delgado (1996) a liderança é considerada como: • Uma função. Por isso falamos mais em liderança do que em líder;

• É estratégica para toda a organização: condiciona ritmos de trabalho, cria impulsos, orienta energias de todos para alcançar metas definidas, contruindo uma visão da organização; • É compartilhada no sentido que se distribui e se prolonga por todas as entidades organizativas: equipa directiva, coordenadores, chefes de seminários, tutores… sendo exercida de forma coloaborativa e colegial;

• Está ligada à cultura. É um dos valores que constituem a cultura da organização.

Encontra-se no grupo, mas os factores de exercício de influência e de qualidades pessoais, como a exactidão da percepção dos papéis e situações, assim como a formação pessoal, as expectativas gerais e dos valores que assumem. Outra ideia confirmadsa e aceite entre os estudiosos da liderança, é o seu carácter caleidoscópio Lorenzo Delgado (2004).

Significa que cada autor trabalha, enfatiza e ordenou os componentes ou partes da construção, isto é “vê” de uma forma diferente, originando uma visão, imagem ou metáfora pessoal da liderança. Deste modo podemos definir a liderança como uma função dinamizadora de um grupo ou organização para alterar o seu próprio crescimento em função de uma missão ou projecto compartilhado.

Para Heiftz (1999), o conceito de liderança é contextualizado sob o ponto de vista das mudanças, no qual o líder terá que comandar o trabalho de adaptação da instituição ou empresa, estando atento aos conflitos, crenças e realidades observadas. O autor salienta a dificuldade da liderança na adopção de um comportamento do tipo empresarial neste novo ambiente de grande competitividade das empresas e instituições.

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 48 Neste contexto, a figura do líder abarca relevância no sentido de interpretar a realidade do momento, mas também na previsão de um caminho mais adequado de ambiente futuro para a instituição. Bergamini (2002) refere que o mais importante neste contexto é a procura da credibilidade, assegurando autoridade e poder junto de quem autoriza para liderar. O líder procura uma habilidade interpessoal, capaz de perceber e diagnosticar os diferentes anseios e expectativas motivacionais dos liderados, possibilitando a satisfação das necessidades de auto-estima e auto-realização. Estudos afirmam, que os líderes credíveis, não mudam os comportamentos e estratégias, os seus objectivos são fazer inter-relação entre as individualidades dos seguidores e os próprios objectivos da instituição. O autor afirma, que quando o líder tem credibilidade, os seus seguidores estão mais predispostos, em investir tempo e energia, no envolvimento dos projectos dos líderes.

Segundo Sampaio (2004), a liderança aparece como um factor interpessoal de influência, ou seja com a possibilidade de transformar o conhecimento em acção, resultando um alto nível de desempenho. Para este autor, liderança é vista como um fenómeno social que ocorre somente em grupos sociais. É vista como um conjunto de traços de personalidade que fazem dele um líder, tendo em linha de conta esses mesmos traços e características em função da situação em que o líder de encontra. Neste sentido a liderança é um processo contínuo de escolhas, que irão permitir à instituição ou organização, conseguir atingir os seus objectivos, mesmo que seja num ambiente interno e externo hostil e em permanente alteração.

Os líderes são indivíduos que querem entrar no desconhecido, assumindo risco, procurando inovar através de experiências, objectivando identificar novas e melhores formas de realizar as tarefas. O líder é aquele que entende aquilo que está à sua volta, acompanhando as ideias dos seus liderados, sejam eles clientes, fornecedores, funcionários ou outros que de qualquer modo ou forma se relacionam com o processo de liderança.

A liderança pode ser entendida também como o processo de conduzir as acções ou de influenciar o comportamento e a mentalidade de outras pessoas. É a realização de metas por meio da direcção de colaboradores. A liderança ocorre nas estruturas formais onde o acto de influência para a consecução das metas organizacionais, pode ser considerado um acto de liderança, revelando especial interesse pelos comportamentos individuais que ultrapassam o desempenho quotidiano. Segundo Katz e Kahn (1974),

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 49 quando as pessoas são influenciadas para que se empenhem em condutas organizacionalmente relevante, ocorre liderança. Quando não é feita nenhuma tentativa de influência não há liderança. Desejamos comprar a efectividade de diferentes actos e estilos de liderança e, ainda, das diferentes pessoas como líderes (p. 351).

2.1.2. As teorias da liderança.

A liderança encontra-se em todos os lugares, mas ninguém consegue determinar ou compreender o que compõe uma óptima liderança. Podemos verificar nas culturas mundiais, inclusive nas primitivas, que a liderança se verifica em todas as pessoas, embora com culturas, raças ou convicções diferenciadas, ou seja, a liderança encontra-se no inconsciente colectivo.

Os primeiros escritos sobre liderança fazem referência às qualidades pessoais do líder, a partir das quais, são nomeados e reconhecidos como heróis ou divindades em diferentes momentos históricos.

As primeiras discussões sistematizadas sobre liderança podem ter sido as definidas pela obra de Maquiavel (1980), o príncipe, no século XVI. Entende Maquiavel (1980), que a liderança envolve comunicação de forma clara e transparente, onde as informações são observadas a partir de decisões válidas e eficazes, onde todas as alternativas são consideradas como válidas e, onde a exigência e qualidade do trabalho são um factor de relacionamento e envolvimento de todos os intervenientes.

A ideia do príncipe como grande homem, omnipotente, foi sistematizada durante o período do Renascimento italiano, tentando solucionar o problema da organização dos estados face a problemas específicos da época. Desta importância, Maquiavel (1980, p. 34) refere que aqueles que querem algo de novo terão de depender de si ou de outros “se para triunfarem na sua acção contam com o auxílio das preces ou da força. No primeiro caso, acabam sempre mal e não conseguem nada, mas quando só dependem deles próprios e podem usar a força, raramente são derrotados”.

Desta citação, podemos assumir que a única pessoa da qual o líder pode vir a depender de si próprio através da força empregada que significa a dominância do ponto de vista do líder, em detrimento de outros factores. Para consolidação destes argumentos, afirma que “Moisés, Ciro, Teseu e Rómulo, não teriam conseguido a respeitabilidade das suas organizações,

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 50 durante tanto tempo se as suas organizações não se encontrassem desarmada” (Maquiavel, 1980, p. 34).

Segundo Vergara (2003), o líder já nasce feito, ou seja, alguns indivíduos já nascem líderes, são possuidores de determinadas características, sendo físicas (aparência, estatura, força física, etc.), intelectuais (autoconfiança, entusiasmo, inteligência elevada, etc.) traços sociais (cooperação, habilidades administrativas e interpessoais) e traços relacionados com a tarefa (persistência, iniciativa, impulso de realização, etc.). Assim aqueles que não nascessem com algumas dessas características seriam liderados. Não se descarta a importância de certas características de personalidade para o exercício da liderança, porém não ficou evidenciado nesta teoria o sucesso da liderança. De acordo com estes princípios, existem estilos de liderança, que tem como factor fundamental, aspectos dependentes das características dos líderes:

Autocrático: o seu comportamento em relação aos subordinados é crítico e preconceituoso. O líder autocrático é centralizador, define os objectivos de seus subordinados e o método de trabalho, não dando oportunidade para participarem do processo decisório. O controlo é rígido e a avaliação de desempenho tende a não ser objectiva.

Democrático: o líder democrático tende a tomar decisões através do consenso do grupo incentivando a participação de todos, procura delegar autoridade e usa feedback. Aceita as decisões do grupo, mesmo que contrariem a sua própria opinião. A preocupação do líder é atender as aspirações e os pontos de vista dos subordinados que gozam de ampla liberdade para decidir, sugerir e implementar.

Liberal: também chamado de Laisse-Faire, este líder toma poucas decisões, deixando que a maior parte delas seja tomada pelos subordinados. Os subordinados gozam de ampla liberdade, em virtude de ausência de controlo ou avaliação do desempenho. Nesse estilo o líder procura deixar o grupo completamente «à vontade».

Pode-se verificar que nessa teoria enfatiza-se a relação entre líder e liderado uma vez que os líderes não podem liderar sem seguidores. Podemos observar essa relação, segundo Chiavenato (2005), na figura a seguir:

Universidade de Granada – Departamento de Didática e Organização Curricular 51 LIDERANÇA